Para Almeida Lima, frase de Graziano é segregacionista
Durante o debate sobre o voto de censura ao ministro extraordinário da Segurança Alimentar e Combate à Fome, José Graziano da Silva, o autor da proposta, senador Almeida Lima (PDT-SE), reafirmou nesta quarta-feira (12) que a declaração de Graziano, além de discriminatória, é segregacionista, já que o ministro se incluiu entre os brasileiros que precisam andar de carro blindado.
- A afirmação é pior que algumas práticas dos neonazistas da Alemanha que não admitem as migrações. Mas eles se remetem a povos de outras nações e não ao seu próprio povo. E o nordestino é povo brasileiro - disse o senador por Sergipe, ressaltando que Graziano não é nordestino e nasceu nos Estados Unidos.
Almeida Lima lamentou que o governo federal não tenha emitido -uma única palavra- sobre a declaração do ministro, -embora tivesse maculado inclusive a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como nordestino e retirante-. O presidente, disse ainda o senador, -não enveredou pelo caminho da marginalidade e dá um grande exemplo ao país-.
Atacando a discriminação com números, Almeida Lima sustentou que ser pobre não significa ter tendência para o crime. Ele apresentou estatísticas dos sistemas penitenciários apontando que 80% dos presos em São Paulo são originários do Sul e do Sudeste e apenas 19% vêm do Nordeste. Enquanto isso, em Sergipe é maior o percentual de presos com origem em São Paulo.
- A frase fora do contexto não tem outro significado. É uma frase conceitual. Por si só ela se explica. Muitas vezes o que fica para a história como ensinamento não são as obras inteiras, mas as frases - disse Almeida Lima.
Lando, em aparte, explicou a Almeida Lima sua posição a favor da abertura de oportunidades para que todos os cidadãos possam viver em paz na terra em que nascem. Como migrante, Lando (gaúcho radicado em Rondônia) disse que, se pudesse, voltaria ao lugar onde nasceu.
- Lá, eu conhecia cada caminho, cada pedra, cada vereda e, de repente, fui jogado em Porto Alegre e, depois, na imensidão amazônica, onde os valores eram outros e onde me disponho a viver agora. Eu quero desenvolver o Nordeste. O fim dos desequilíbrios regionais é um propósito nacional. Não sou contra as migrações, mas sou contra as desigualdades regionais - declarou Lando.
Ao final da discussão, Almeida Lima concordou com a retirada de pauta de seu requerimento e reiterou que ficou nervoso com a declaração de Graziano, assim como a Câmara de Vereadores de Recife que, no mês passado, aprovou voto de censura para o ministro, por ser nordestino.
- Estou nervoso também como (o escritor) João Ubaldo, que em artigo afirmou: -chega de agüentarmos calados a burrice, a insensibilidade e a agressão institucionalizadas. Não vou agüentar calado- - citou o senador, que se disse satisfeito pelo fato de o assunto ter sido objeto de debate pela CCJ. -Era preciso que isso fosse provocado-, declarou.
12/03/2003
Agência Senado
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