Para empresários, perda de participação da indústria na economia é preocupante



A participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que já foi de 35,9% em meados da década de 1980, caiu para 15,8% este ano. Os dados foram citados pelo diretor-executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Fernandes, em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), nesta quarta-feira (6), como prova de que o país passa por um processo de desindustrialização.

Outro participante da audiência, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, disse que as commodities já representam 71% das exportações brasileiras. A economia, em sua avaliação, passa por um processo de "reprimarização", ou seja, o retorno a uma época caracterizada pela exportação de matérias-primas e de importação de produtos elaborados.

Gerador de um terço dos empregos no país, em 1984, a indústria só emprega hoje 17,4% dos trabalhadores brasileiros - os demais estão em setores como serviços e agronegócios, que têm seguido uma rota inversa, de crescimento.

China

O grande obstáculo para a indústria nacional, além de juros, câmbio, carga tributária e produtividade, chama-se China. Pesquisa da CNI revela que 45% das empresas que concorrem com a China no Brasil perderam participação no mercado. No mercado externo, 67% das empresas do Brasil que competem com a China ficaram sem seus clientes.

Um dos setores que mais sofrem com a concorrência chinesa é o de vestuário, cujas importações cresceram 16 vezes de 2003 a 2011. O presidente do conselho de administração da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Aguinaldo Diniz Filho, estima em 200 mil o número de postos de trabalho que deixarão de ser criados no país, este ano, em função do déficit da balança comercial do setor.

- Esses empregos serão gerados na Ásia, e não no nosso país em benefício da nossa sociedade - disse.

Defesa

O presidente do conselho da Abit sugeriu uma série de medidas de defesa comercial, em busca de uma competição isonômica, como a aprovação do Projeto de Lei da Câmara 176/2008, que dispõe sobre a importação e o fornecimento de produtos sujeitos à regulamentação técnica federal.

O objetivo desse projeto é barrar, ainda nos portos, a importação de produtos que não passem nos testes de conformidade do Inmetro. Hoje, segundo Aguinaldo Diniz, o Inmetro só pode tomar alguma providência quanto a esses produtos depois que eles entram no mercado brasileiro.

Para demonstrar a importância dessa proposta, que se encontra na CAE, o presidente da Abimaq afirmou que a Alemanha barra tecnicamente a entrada de carros chineses no país, sob alegação de que eles não cumprem uma série de normas de segurança.

O relator do PLC 176/2008 na CAE é o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que pediu a opinião dos participantes da audiência antes de dar seu parecer. A Receita Federal já se manifestou contrária a sua aprovação.

Unificação

Um dos autores do requerimento para a audiência pública, o senador Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC) propôs a unificação dos movimentos em defesa da indústria nacional e do emprego. Ele sugeriu também a realização de campanhas publicitárias e de atos públicos, além de audiências com diversas áreas dos ministérios que possam ajudar a soerguer a indústria nacional.

O senador Armando Monteiro(PTB-PE), outro autor do requerimento, cobrou do Executivo medidas em busca da desoneração dos investimentos e uma agenda de desenvolvimento de competências, assentada na inovação e na educação.

Também o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) disse que um dos problemas da indústria nacional é a falta de um grande esforço de inovação e sugeriu a realização de audiências na CAE sobre o tema.

O presidente da comissão, senador Delcídio Amaral (PT-MS), informou que a competitividade do país está entre os grandes temas em debate na CAE até o fim do ano, além de outros problemas que afetam a indústria nacional, como as alíquotas interestaduais do ICMS.

Câmbio

O senador Blairo Maggi (PR-MT) disse que a política cambial vai acabar com a economia brasileira, se não forem adotadas novas medidas na área. Segundo ele, mesmo o agronegócio - que hoje lidera a pauta de exportações brasileiras - deixará de ser competitivo se o real continuar valorizado e o dólar chegar a R$ 1,20, como se prevê.

Blairo Maggi disse que uma de suas empresas adquiriu recentemente pás-carregadeiras da China por um terço do preço das similares nacionais, o que, segundo ele, mostra os efeitos negativos da política cambial.

- O governo usa o câmbio para segurar a inflação, mas, na verdade, está matando a economia nacional - disse.



06/07/2011

Agência Senado


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