Para FHC, Serra enfrenta o pior momento da campanha









Para FHC, Serra enfrenta o pior momento da campanha
Não dá para ser tão cordato assim com Lula, avalia presidente

O presidente Fernando Henrique Cardoso avalia que o pré-candidato tucano ao Palácio do Planalto, o senador José Serra, enfrenta o pior momento da campanha. Para FHC, esse período crítico, no qual há hipótese remota de Serra ser substituído, durará até 15 de junho, dia das convenções do PSDB e do PMDB para oficializá-lo como candidato da aliança.

A Folha apurou que, pela primeira vez em muito tempo, FHC está "soturno", "preocupado" e "abatido", segundo descrição de políticos com os quais se encontrou nesta semana. O presidente acha que Serra tem errado muito.

A um interlocutor, FHC disse: "A diferença entre mim e o Serra é que sou estratégico e ele é tático". Ou seja, o presidente prefere perder uma batalha se isso for importante para a guerra. Já Serra pensaria mais no curto prazo, comprando brigas menos importantes para chegar ao objetivo de longo prazo, como querer impor o nome do vice ao PMDB em vez de aceitar logo a indicação do partido para segurá-lo de vez.

Para FHC, Serra e auxiliares são de uma inabilidade ímpar, esvaziando o efeito das articulações do presidente para proteger o final de mandato e ajudar o pré-candidato a evitar que o fogo amigo se transforme na ruína de ambos.

Guerra suja
Na quarta-feira, o presidente ficou contrariado ao saber que serristas ameaçaram dinamitar os tucanos Tasso Jereissati, ex-governador do Ceará, e Aécio Neves, presidente da Câmara, em menos de 15 dias de campanha caso um dos dois venha a substituir Serra como candidato.

FHC disse a Serra que ele e auxiliares estavam dando um sinal de insegurança e de inabilidade política ao disparar tiros para dentro do PSDB no momento em que ambos estão acuados pelas suspeitas que pairam em torno da relação do tucanato com Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-diretor do Banco do Brasil.

Ricardo Sérgio arrecadou recursos para campanhas eleitorais de FHC (1994 e 1998) e de Serra (1990, 1994 e 1996).

Para FHC, é dificílimo e inconveniente trocar Serra porque a leitura seria de derrota pessoal sua. Desde que o ministro Pedro Malan (Fazenda) saiu do páreo presidencial, recusando-se a se filiar ao PSDB em tempo hábil para eventualmente ser candidato, FHC jogou todas as fichas em Serra.

O presidente insistiu tanto para Malan se colocar à disposição porque já avaliava que os atritos que Serra sempre criou em sua carreira política recomendavam uma saída de emergência.

Agora, sem poder recorrer a Malan, FHC não moverá uma palha para derrubar Serra. Muito pelo contrário. Quer viabilizá-lo. No entanto, o presidente já começa a manifestar dúvida em relação à chance de seu preferido.

Um sinal é a avaliação presidencial de que não dá mais para ser tão cordato assim com Luiz Inácio Lula da Silva, presidenciável do PT que disparou nas pesquisas. No governo e no PSDB, há quem tema uma vitória petista no primeiro turno.

Os tucanos Tasso e Aécio são um exemplo. Em almoço na quarta, concluíram que, no atual ritmo de campanha, Lula pode conquistar a Presidência na primeira fase.

Aécio e Tasso também julgaram que o clima de guerra suja é estimulado por serristas e que, nesse cenário, o PSDB tende mais a perder por ser governo federal.

O ex-governador do Ceará chamou de "aliados da onça" os serristas que espalharam que ele havia estimulado o irmão, Carlos Jereissati, a declarar à revista "Veja" que dera R$ 2 milhões para a campanha de Serra em 1994. À Folha, Carlos Jereissati disse que o valor era de R$ 700 mil. Serra, porém, disse que recebeu apenas R$ 95 mil, montante registrado na prestação de contas à Justiça Eleitoral.

A queixa de Tasso chegou a FHC, bem como uma manifestação de Aécio, outro tucano que entrou na mira dos serristas por ser uma alternativa presidencial.

Em relação a Aécio, serristas disseram que ele estimulara Paulo Renato Souza, ministro da Educação, a confirmar o suposto pedido de propina de R$ 15 milhões feito por Ricardo Sérgio para ajudar o empresário Benjamin Steinbruch a formar o consórcio que arrematou a Companhia Vale do Rio Doce, privatizada em 1997.

Detalhe: Aécio, que se encontrou com Paulo Renato dias antes de a reportagem ser publicada, só soube do caso no sábado, quando a revista já estava nas bancas.

"Esse clima de briga é muito ruim. O Serra precisa agregar politicamente", diz Tasso. Apesar de dizer que "o PSDB tem vários nomes" que poderiam substituir Serra, o ex-governador do Ceará diz que não acredita nessa possibilidade. "A candidatura é irreversível e, mesmo que não fosse, eu não seria candidato", diz.

Escudo
O presidente FHC também acionou um "escudo humano" para encampar a indicação de Ricardo Sérgio, tentando afastá-lo dos verdadeiros patronos de sua ida para a diretoria da área internacional do Banco do Brasil: Serra e Sérgio Motta, ministro das Comunicações que morreu em 1998.

Atribui-se a Carvalho, ex-chefe da Casa Civil, a indicação de Ricardo Sérgio para o BB, mas essa versão cai por terra em conversas reservadas com o tucanato.

Atualmente, é Carvalho, cumprindo missão para proteger Serra e FHC, que tem estabelecido canais de comunicação com Ricardo Sérgio, acalmando-o e garantindo que não será abandonado pelo Palácio do Planalto.

Quem conversa com Ricardo Sérgio sempre escuta a seguinte expressão para definir sua participação no processo de privatização: "missão de governo".

Ricardo Sérgio nunca privou da intimidade de FHC, mas sempre teve a confiança de Motta e Serra.
Também foram acionadas pessoas próximas a Benjamin Steinbruch a fim de obter do empresário um compromisso, o de que ele não poria lenha na fogueira.

O governo teme que Steinbruch, como fizeram Paulo Renato e o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, confirme a história da suposta propina pedida por Ricardo Sérgio. Até sexta ele continuava se negando a dar entrevistas.


Executivos dizem que foi paga parte da suposta propina a Ricardo Sérgio
A suposta propina cobrada por Ricardo Sérgio, ex-diretor do Banco Brasil, do empresário Benjamin Steinbruch por ocasião da privatização da Companhia Vale do Rio Doce foi parcialmente paga, segundo a última edição das revistas "Veja" e "Época".

De acordo com a "Veja", dois membros do conselho de administração da Vale entre 97 e 98, que pediram para não ser identificados, afirmam que os comentários à época na empresa eram de que pelo menos US$ 6 milhões foram pagos -uma segunda parcela deixou de ser desembolsada.

Segundo a revista, outras duas pessoas, empresários amigos de Steinbruch, também não identificados, dizem ter ouvido dele relato sobre a propina. Um deles afirmou que o presidente da CSN declarou ter pago um primeiro pedido de Ricardo Sérgio e negado um segundo, feito um ano depois.

Outro empresário afirmou que o pagamento teria sido feito pelo empresário italiano Bruno Bolfo. À revista, Bolfo diz ter sido sondado a fazer "pagamento" para ajudar Steinbruch, mas que não o fez.

Segundo a "Época", um executivo envolvido com a privatização da Vale afirma que Steinbruch estava convencido de que Ricardo Sérgio, ao pedir a comissão, falava pelo PSDB, mas que, ao descobrir que o dinheiro ficava com o diretor do BB, decidiu não pagar mais nada. Em nota divulgada esta semana, Ricardo Sérgio chamou a acusação de "mentira sórdida".


Governo deve levar Serra ao 2º turno, diz PT
José Dirceu afirma que eleitorado de apoio ao governo é "forte" e pede pacto de não-agressão da oposição

O PT avalia que, apesar da crise entre os tucanos gerada pelas suspeitas de propina na venda da Vale, o governo tem todas as cond ições de levar José Serra ao segundo turno da disputa presidencial.
Em entrevista à Folha, o presidente do PT e coordenador-geral da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu, 56, diz que o governo tem hoje a simpatia de 40% do eleitorado -o que poderia alavancar o tucano.

"As forças políticas e empresariais que apóiam este governo e o eleitorado que sustenta sua política são grandes. Têm condições de levar um candidato para o segundo turno", diz.

Quanto à união das oposições no primeiro turno, Dirceu joga a toalha. Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB) serão candidatos, afirma. A prioridade do PT agora será construir um pacto de não-agressão, com a divulgação de ações e documentos comuns entre eles, para polarizar nitidamente com Serra.

Folha - O sr. ainda vê o Serra como o grande rival do PT, apesar dos problemas em sua candidatura?
José Dirceu - O governo, as forças políticas e empresariais que apóiam este governo e o eleitorado que sustenta sua política são grandes, independentemente de quem seja o candidato. Eles têm condições de levar um candidato para o segundo turno. Mas não quer dizer que outro candidato de oposição além do Lula não possa.

Folha - Qual o alvo prioritário do PT na campanha?
Dirceu - Eu diria que o eleitorado que nós queremos atingir são os jovens, as mulheres e as cidades com menos de 30 mil eleitores. É onde temos que dialogar. Desconhecem as nossas propostas ou têm rejeição a nós.

Folha - Por que isso acontece?
Dirceu - Há uma faixa dos jovens que não conhece Lula e PT. Quanto às mulheres, ainda estamos analisando e já estamos tomando ações com relação a isso. O PT tem três senadoras, deputadas destacadas, duas governadoras, a prefeita da maior cidade da América Latina, histórico de defesa das mulheres. Mas o PT não expôs isso corretamente à sociedade.

Folha - Uma das medidas para ganhar o voto feminino poderia ser indicar uma mulher para vice?
Dirceu - A questão de vice está fora da agenda do PT, só vai entrar em junho. Mas esse [ser mulher" é um critério que vai pesar. Não necessariamente será o único. Isso, claro, na hipótese de o PT indicar o vice para o Lula.

Folha - Cite algumas mulheres que o PT poderia indicar para vice.
Dirceu - Não vou citar. Está fora da nossa agenda. O vice que está colocado é o [senador" José Alencar (PL-MG), mas está dependendo de o PL tomar uma decisão.

Folha - A possibilidade de união das oposições no primeiro turno ainda existe ou não mais?
Dirceu - Não vamos fazer nenhum movimento de desestabilizar as outras candidaturas. Minha avaliação é que Ciro e Garotinho serão candidatos e que nós teremos de construir [uma ponte para" o segundo turno e o próximo governo. Queremos fazer com PSB, PPS e PDT um pacto de não-agressão, pronunciamentos e ações comuns e manter nossas alianças nos governos.

Folha - É interessante polarizar com o Serra, por todos os problemas que ele enfrenta?
Dirceu - Nós vamos polarizar com o governo. Somos oposição. Não vamos responder às críticas de Ciro e Garotinho. Não são nossos inimigos, são adversários. Ciro e Garotinho vão ser candidatos, não há nenhum elemento para dizer que vão se retirar. No segundo turno, quero o apoio deles.

Folha - E o PMDB, vai mesmo apoiar o Serra?
Dirceu - Com essa crise? Vamos esperar. Continuamos mantendo relações com todos no PMDB que querem dialogar com o PT. A candidatura do Serra está em crise, é o óbvio ululante. Mas o PSDB não tem outro nome.

Folha - Aécio e Tasso são viáveis?
Dirceu - Não tem tanta diferença assim. A verdade é que há uma contradição política na campanha do Serra. Eles são governo ou não? A ambiguidade prejudica. Serra é o candidato de uma parcela importante da elite. Acontece que em setores do empresariado há uma visão negativa do governo. E alguns grupos econômicos querem nos cooptar para a agenda deles, que é a do continuísmo, do fundamentalismo ortodoxo que dominou o Brasil esses anos. Nós não vamos aceitar isso.

Folha - Se o PT vai mudar a política que os grupos financeiros apreciam, não é natural então que bancos façam relatórios pessimistas por causa da subida do Lula?
Dirceu - Estão defendendo os interesses deles, não do Brasil. Temos que olhar é o interesse brasileiro, a política que o Brasil precisa para se desenvolver, para criar emprego. O que nós vamos fazer é claro: reduzir juros, distribuir renda, mudar a política de abertura comercial. Somos outro partido, representamos outros setores, vamos fazer outra política. Mas não vamos voltar com a inflação ou fazer irresponsabilidade fiscal.

Folha - Num dia vocês vão à Fiesp e no outro o presidente da entidade diz que se o Lula ganhar vai haver estresse? Por que ir então?
Dirceu - Porque nós estamos debatendo democracia. Não vamos governar o Brasil sem o empresariado. Queremos reduzir preconceito. Não tem problema dizer que o dia que o Lula assumir vai ter estresse no empresariado. Qualquer mudança de governo cria instabilidade. Se o Serra assumir, vai ter uma série de dúvidas.

Folha - Mas se o Lula ganhar, as dúvidas serão muito maiores.
Dirceu - Não tem problema. Vamos enfrentar isso.

Folha - Antecipar a divulgação da equipe econômica para acalmar o mercado, como já se falou no partido, é uma possibilidade?
Dirceu - É improvável hoje que isso ocorra. Mas vai depender da situação política.


Conheça as entranhas do maior tribunal regional do país
Sabe-se que a Justiça brasileira é cega, opera uma balança meio desregulada e empunha uma espada sem corte. Como se não bastasse, a vetusta senhora foi flagrada em São Paulo dando bom-dia à insensatez.
Saiba o que se passou, em dez atos:
1) no dia 11 de maio de 2000, o "Diário Oficial" da União publicou a lei 9.968. O texto amplia os quadros do TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região). Abriram-se 16 novas vagas de juízes. O número de togas saltou de 27 para 43;

2) o TRF-3 fica na capital paulista. Julga os casos originários de São Paulo e Mato Grosso do Sul. A lei que tonificou-lhe a estrutura foi sugerida pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça). Chegou ao Congresso escorada em estatísticas;

3) entre 1989 e 1998, distribuíram-se 2,3 milhões de processos à segunda instância da Justiça Federal em todo o país. Desses, 843,7 mil (37%) rechearam os escaninhos do TRF-3. Em janeiro de 2001, havia no tribunal um estoque de 337,7 mil processos à espera de julgamento. Média de 12,5 mil casos para cada juiz;

4) a magnitude dos números comoveu Brasília. O Congresso aprovou o projeto a toque de caixa. Entre discussão e votação, consumiram-se exíguos três meses. FHC sancionou-o sem hesitação;

5) esperava-se que o TRF-3 preenchesse de um fôlego os novos cargos. Sobreveio, porém, o inusitado: decorridos dois anos, os 16 cargos continuam vagos. Somaram-se a eles outros quatro, abertos graças à aposentadoria de juízes;

6) poder-se-ia imaginar que santo Ivo, o padroeiro dos advogados, houvesse operado um milagre. E que os juízes do TRF-3, gotejando suor, tivessem posto abaixo a montanha de processos, tornando desnecessário o reforço antes tido como coisa de vida ou morte. Sucedeu, porém, coisa diversa;

7) o Conselho da Justiça Federal informa na internet (www.cjf.gov.br) que, ao final de 2001, o encalhe do TRF-3 somava 457,5 mil processos. Quase meio milhão de casos. Com as gavetas a transbordar, o tribunal convocou um mutirão de 21 juízes de primeira instância para socorrê-lo;

8) lista divulgada no "Diário de Justiça" de 25 de fevereiro revelou os rostos escondidos atrás da encrenca. Therezinha Cazerta, a juíza do TRF-3 em situação mais cômoda, tinha diante de si uma pilha de 2.707 processos por julgar;

9) André Nabarrete, o juiz mais encalacrado, encontrava-se no final de feverei ro espremido sob 27.188 casos pendentes de julgamento. Deixando de receber casos novos, se resolvesse trancar-se em seu gabinete, com o sacrifício de sábados, domingos e feriados, devorando dois processos por dia, gastaria 37 anos para digerir todos eles. A lista traz juízes com 20 mil, 19 mil, 17 mil, 16 mil, 15 mil, 14 mil processos no colo. Um assombro;

10) assim como o TRF paulista, os outros quatro tribunais regionais espalhados pelo país também tiveram suas estruturas vitaminadas em 2000. Abriram-se entre quatro e nove vagas novas de juízes em cada um deles. Encontram-se todas preenchidas. O que faz do caso de São Paulo uma exceção ainda mais vistosa.

O repórter tentou ouvir o juiz Márcio Moraes, atual presidente do TRF-3. Mas ele preferiu o silêncio. Diz-se à boca miúda que faltou espaço para instalar os novos juízes. Só agora estariam ficando prontos oito dos 16 gabinetes necessários para abrigá-los. Bobagem.

Deixou-se de prover as vagas porque os juízes que hoje controlam o TRF-3 temem perder poder. A entrada em cena de togas novas mudaria a correlação de forças dentro do tribunal. Pura política corporativa.
Dá-se de ombros para o interesse da bugrada que aguarda na fila o julgamento de processos. Juízes recebem semanalmente cartas de brasileiros em desespero. Há entre as causas por julgar, por exemplo, milhares de questões previdenciárias. Com um pé na cova, os demandantes vão ao desespero. Contam-se às centenas, de resto, os casos de crimes que prescrevem por falta de julgamento.

Abespinhados, procuradores da República lotados no Estado de São Paulo abriram um inquérito civil para apurar os motivos que levam o TRF-3 a postergar o provimento dos 16 novos cargos. Patrocinam a ação 11 procuradores: Adilson Amaral Filho, André Ramos, André Bertuol, Antônio José Dalóia, Duciran Farena, Edmar Machado, Jefferson Aparecido Dias, Pedro Machado, Pedro Neto, Rodrigo Valdez e Uendel Ugatti.
A sorte de certos tribunais é que o brasileiro, de tão maltratado, já se acostumou ao papel de bobo. Há como que uma compulsão nacional pelo conformismo. Estão abusando da tolerância. Tudo tem limite.

Do armário de esqueletos: encontra-se em fase de alegações finais o processo do grampo do BNDES. Em texto remetido à Justiça, o Ministério Público repisa a convicção de que o grampo foi urdido pela máquina de espionagem do próprio governo. Pede-se a condenação de três integrantes dos quadros da Abin à época do grampo -Temílson Resende, João Guilherme dos Santos e Gerci Firmino da Silva- e de um detetive particular que prestava serviços à agência oficial de espionagem -Adilson Alcântara de Matos.

Pressa: antecipando-me à eliminação dos nefastos resquícios da era Vargas, saio em férias.


Alckmin quer esvaziar discurso adversário
Temendo que violência prejudique governador, tucanos centrarão debate em emprego e geração de renda

Temerosos do estrago que a discussão sobre a segurança pública possa vir a causar na campanha à reeleição do governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), os tucanos tentarão esvaziar os argumentos dos adversários ao centrar o debate no emprego e na geração de renda. Tiram assim o foco no policiamento ostensivo.

Os estrategistas do PSDB querem mostrar ao eleitor que a administração deve concentrar seus esforços na melhoria dos índices sociais e que, atingido esse objetivo, uma das consequências será a redução da violência.
Mostrarão números ao eleitor para ilustrar investimentos feitos em segurança. Dessa forma, pretendem mostrar ao eleitor que o discurso focado no policiamento ostensivo é equivocado. Tanto o pré-candidato do PPB quanto o do PT -Paulo Maluf e José Genoino, respectivamente- têm colocado bastante ênfase na repressão ao crime.

O aumento da violência é o aspecto mais criticado do governo tucano. Mesmo dentro do PSDB há quem admita que o partido fracassou no combate ao crime e que agora corre contra o tempo para reverter o quadro.
Para a cúpula da campanha, o início do horário eleitoral gratuito dará espaço para Alckmin impor sua agenda aos demais candidatos. O objetivo é não embarcar numa discussão cujo principal item seja a segurança, que interessa especialmente a Maluf, mas colocar em foco a questão social.

Os tucanos baseiam-se em pesquisas. Segundo o Datafolha, em fevereiro, 21% dos brasileiros -27% dos paulistas- consideravam a violência o maior problema do país. Para contê-la, a maioria (57%) defende o combate ao desemprego e a melhora da educação. A violência preocupa menos do que o desemprego -32% das indicações-, mas os percentuais nunca foram tão próximos.

De acordo com pesquisas qualitativas às quais a direção do PSDB teve acesso, o eleitor não acredita mais em promessas vazias para diminuir a violência. Procura um candidato com, antes de tudo, "honestidade de intenções".

Elaborado no Instituto Teotonio Vilela, sob coordenação do secretário estadual de Agricultura, João Carlos Meirelles, 67, o programa de governo tentará acabar com a "demanda reprimida por emprego" -ou desemprego- em quatro anos.

Contra as intenções estão os números. Em março, a Fundação Seade/Dieese registrou desemprego de 19,9% em março na região metropolitana de São Paulo. No mesmo mês do ano passado, o índice era de 17,3%. O número de desempregados na região cresceu 43,2%, em média, entre 1994 e 2001, ainda de acordo com a Fundação Seade/Dieese. É na maior parte deste período que os tucanos ocuparam o governo federal e o do Estado.

Comprometer-se com uma política estadual de emprego, cuja atuação é limitada por depender da política econômica do governo federal, é também uma forma de abordar a questão da segurança sem tocar direto na ferida. "Há sete anos já estamos cuidando da infecção segurança". Não adianta ficarmos passando pomadinha em vez de darmos o antibiótico", afirmou o secretário Meirelles.

Fica então a questão de como gerar emprego. O programa a ser submetido ao governador em junho, antes da convenção estadual, e que está sendo preparado por um grupo de seis acadêmicos da Unicamp, Seade e USP, terá como foco o aumento das exportações e, por meio da capacitação técnica, do número de empregáveis no setor de serviços.

O plano prevê um pólo de geração de empregos no interior, região que preocupa os tucanos. De acordo com pesquisas encomendadas pelo partido, é principalmente no interior que está o eleitor suscetível ao discurso duro sobre segurança usado por Maluf.


Tucano quer demonstrar que é "determinado"
Um dos desafios dos marqueteiros do governador Geraldo Alckmin é fazer com que o candidato consiga mostrar ao eleitor que, apesar do estilo tranquilo, é determinado quando a situação exige. Suas últimas declarações sobre segurança pública, mais duras, já refletem essa estratégia.

É consensual entre Alckmin e seus marqueteiros que o discurso contra a violência tem de ser incisivo, mas com um tom próprio.

No programa do partido na TV na última segunda-feira, no entanto, o governador defendeu a "Rota na rua" -jargão normalmente associado ao malufismo.

Outra preocupação é fazer com que Alckmin se descole da imagem do antecessor -Mário Covas, morto em março de 2001- e passe a ser conhecido também por sua gestão.

A avaliação é que o governador tem contra si a pouca visibilidade de sua administração, cuja culpa é atribuída pelos tucanos aos gastos com publicidade, e o fato de ser governista no plano federal.

A favor, Alckmin contaria com sua popularidade entre as mulheres e os jovens, que identificariam nele boas intenções.

Pouco mais de um ano depois do início efetivo de seu governo, Alckmin continua, de acordo com avaliação do partido, pouco conhecido no interior do Estado, embora seja essa sua origem.

O governador nasceu na cidade de Pindamonhangaba (SP), onde também foi prefeito. "A atenção será especial para essa região. Haverá uma identificação com o eleitor pelo fato de o Geraldo [Alckmin" ser do interior", declarou o presidente estadual do PSDB, Edson Aparecido.

Desde que assumiu o governo do Estado, Alckmin tem visitado uma média de cinco cidades por semana, geralmente aos sábados.

A estratégia do PSDB é centrar no partido os atos de campanha para poupar o governador.


Maluf falará da violência para se contrapor a "Geraldinho"
Paulo Maluf irá estruturar sua campanha ao governo paulista principalmente sobre três pontos que considera frágeis na administração Geraldo Alckmin (PSDB): a (falta de) segurança pública, o (excesso de) pedágio nas rodovias do Estado e o desemprego.

Maluf tentará se contrapor ao governador tucano explorando a suposta falta de pulso e de agilidade do afilhado político de Mário Covas (morto em março do ano passado) na tomada de decisões.
"Geraldinho", como Maluf irá chamá-lo durante a campanha para provocá-lo, teria os mesmos defeitos de Covas, sem, no entanto, possuir suas qualidades. O padrinho de Alckmin, diz Maluf aos seus correligionários, conseguia, ao menos, se fazer ouvir no cenário político nacional.

"Falta de comando"
Além do discurso de combate à criminalidade, Maluf irá explorar também a suposta falta de comando de Alckmin para administrar as penitenciárias.

O pepebista aguarda apenas a implosão do complexo do Carandiru -evento anunciado pelo governo Alckmin- para criticar o governador. Maluf argumentará que a demolição do presídio é um contra-senso dos tucanos diante da carência de unidades prisionais em São Paulo.

A maioria das propostas de governo de Maluf, no entanto, não são novas. Foram apresentadas na campanha de 1998, quando perdeu o governo do Estado para Mário Covas.

"Maluf realmente já falava em combate à criminalidade, mas vai continuar falando, porque nada foi feito pelo atual governo", disse o presidente estadual do PPB, Jesse Ribeiro, um dos coordenadores da campanha.
Para reduzir a criminalidade, o pepebista baterá na mesma tecla: quer fortalecer a ação policial, colocando a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) nas ruas da capital e das cidades do interior.

Maluf, se eleito, promete acabar com o Proar, plano implantado por Covas e Alckmin que tira da rua o policial envolvido em uma ocorrência com morte.

Com relação aos pedágios, Maluf diz que irá rever todos os contratos. A proposta é suspender o pagamento de pedágio das 23h às 6h e anular os contratos que apresentarem irregularidades -desde 1998, o número de praças de pedágio nas rodovias concedidas de São Paulo triplicou (hoje são cerca de 80).

Como solução para o desemprego, o PPB apresenta a mesma alternativa proposta em 1998: atrair empresas para o Estado. Maluf dirá que faltou a seu adversário tucano habilidade para atrair investimentos, o que geraria novos empregos.

Projetos desenvolvidos durante a segunda gestão de Maluf como prefeito de São Paulo (1993-1996), como o Programa Leve-Leite e a distribuição de merenda escolar nos finais de semana, segundo o PPB, também serão estendidos para todo o Estado.

Desde o início do ano, Maluf tem viajado pelo interior e pela região metropolitana para reunir-se com lideranças locais e dar entrevistas a rádios e jornais locais.

Fazem parte da coordenação de campanha os deputados Delfim Netto e Cunha Bueno, o ex-presidente regional Marcelino Romano Machado, o marqueteiro José Maria Braga, o jornalista Adilson Laranjeira, o presidente do Instituto Newton Campos (órgão de estudos criado pelo PPB), Marino Pazzaglini Filho, e o presidente estadual do partido, Jesse Ribeiro.


Incra não tem culpa, diz Azevedo
O presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Sebastião Azevedo, disse, em entrevista exclusiva à Agência Folha, que atrasos no processo de reforma agrária e perdas na Justiça não são de responsabilidade do órgão.

Para ele, as "complicações são normais, já que a questão da reforma agrária tem um conteúdo econômico, social e ideológico muito forte".

"Estamos acostumados a esse embate político, jurídico e ideológico", afirmou Azevedo, que era o procurador-geral do órgão antes de assumir a presidência.

Os embates entre posições ideológicas conflitantes e a necessidade da intervenção estatal para dar acesso à terra aos excluídos provocam críticas dos ex-proprietários, "que não entregam fácil a terra", e do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), "que pressiona para apressar o processo", diz Azevedo.
Segundo Azevedo, os dois grandes entraves jurídicos enfrentados pelo Incra nos processos de desapropriação são a vistoria para laudo de produtividade e o preço da desapropriação.

"Via de regra, o laudo de vistoria é contestado e o preço nunca é aceito como justo pelo desapropriado e aí entra o poder público para fazer valer o interesse público relevante", afirmou.

Azevedo não quis comentar declarações do presidente nacional da UDR, Luiz Antônio Nabhan Garcia, de que existem "terroristas no Incra, aliados ao MST para efetuar as desapropriações". "Vindo de quem vem, prefiro não comentar essas críticas", disse.

Segundo Azevedo, o MST erra ao criticar irresponsabilidade do Incra nas disputas com os ex-proprietários. "Damos prioridade à disputa na esfera federal e o fato de você não entrar em alguma disputa na Justiça comum não significa abandonar a luta."

Azevedo admite derrotas como no caso do assentamento Boa Esperança, em Paulicéia (SP). "Perdemos. É um dos poucos fatos inéditos de derrotas, como o do assentamento Solidor (PR). Mas vamos comprar áreas próximas para reassentar os que ficaram excedentes com a devolução de parte da área para a proprietária."
Sobre o Timboré, em Andradina (SP), ele diz que "é uma parada difícil, mas vamos manter as famílias no assentamento". "Perdemos no STF, mas faz parte do jogo. Vamos brigar agora no plano das indenizações", disse.


Uma crise daquelas de que FFHH não gosta
Noves fora a conversa golpista de uma nova candidatura de FFHH, ele está metido numa crise daquelas de que não gosta. São aquelas que resultam de um choque de forças que não defendem interesses visíveis. Ele entendia a briga política provocada pelo populismo cambial, assim como entende a encrenca que o governo de George W. Bush está montando com o Brasil. Não entende, por exemplo, como o Brasil chegou à beira da guerra civil em 1961, depois da renúncia de Jânio Quadros. Agora ele olha para os jardins do Alvorada e não entende por que a briga com o PFL foi tão longe. Muito menos as razões que esfacelaram o PSDB. Na essência, não entende como se tenha chegado a um ponto em que tanto o PFL quanto um pedaço do PSDB prefiram perder para Lula a abrir uma rodada de conversações que recoloquem de pé a candidatura de José Serra. Primeiro, viu o PFL ir para uma eleição sem candidato. Agora, já recebeu sinais de que nem uma troca de candidato assegura a unidade do PSDB. Pior: os estepes sumiram.

Há na sua perplexidade um raro abatimento. Primeiro, porque percebeu a dificuldade para recolocar a pasta de dentes no tubo espremido. Depois, porque a cada dia e ponto percentual que passa, o tucanato se vê numa campanha eleitoral que lhe exigirá a satanização de Luiz Inácio Lula da Silva a níveis próximos daqueles usados por Fernando Collor de Mello. Tendo conseguido eleger-se duas vezes sem ter recorrido a esse tipo de expediente, FFHH será um dos últimos tucanos a embarcar nesse caminho.

Se vier a preferi-lo, jogará fora um dos maiores atributos de seu reinado, a rara capacidade de esvaziar as crises, em vez de agravá-las.


Artigos

Em out ro planeta
Clóvis Rossi

MADRI - Os pobres da Europa estão reunidos em Madri, em encontro organizado por uma ONG sintomaticamente chamada "Movimento Quarto Mundo". Reivindicam seu lugar na próspera Europa.
É claro que, para eles, a vida deve ser dura, como para qualquer pobre. Mas, para quem olha com olhos do verdadeiro "quarto mundo" (ou terceiro, vá lá, para não ferir sensibilidades brasileiras eventualmente aguçadas), chega a ser risível chamá-los de pobres.

Veja-se o caso do pedreiro espanhol Antonio Jiménez, relatado ontem pelo jornal "El País". Vive em uma camionete, com mulher e dois filhos de 5 e 3 anos. Por eles, a título de salário-família, ganha o equivalente a uns US$ 250 (mais de R$ 600).

No Brasil, estaria quase, quase, entrando na classe média. É claro que a vida na Espanha é algo mais cara do que no Brasil, mas não tão mais cara que torne desprezível uma renda de cerca de R$ 600.

Difere até a maneira de fazer as contas para dizer quem é pobre e quem não é. No Brasil, como no resto do "quarto mundo" (ou terceiro), usa-se o critério do Banco Mundial: pobre é quem ganha até US$ 2 por dia (o "miserável" recebe a metade). Ou, então, aplica-se a contabilidade do salário mínimo.

Na Europa, pobre é quem tem renda pelo menos 60% inferior à renda média. São mais ou menos 60 milhões de pessoas ou 18% da população total. Já é uma porcentagem comparativamente baixa (no Brasil, os pobres são quase o dobro, em porcentagem da população).

E se torna ainda mais baixa quando se lembra que a renda média européia é elevadíssima.
Receber, portanto, 40% da renda média européia pode tornar o cidadão pobre na comparação com seus pares do continente, mas o faz quase rico na comparação com os pobres do mundo em desenvolvimento.
Tudo somado, não se trata de "primeiro X quarto" mundos, mas de planetas diferentes.


Colunistas

PAINEL

Sem substituição
O caso Ricardo Sérgio assustou o tucanato, criou sérias dificuldades para a campanha de José Serra, mas, a não ser que o presidenciável desabe literalmente nas pesquisas, o Planalto manterá até o fim a candidatura do ex-ministro da Saúde.

Fim antecipado
Retirar Serra da disputa significaria, na visão do Planalto, a desmoralização do governo FHC, tornando o presidente uma versão brasileira da rainha da Inglaterra. Mais do que isso: abriria um largo caminho para investigações contra o governo.

Escassez de votos
O Planalto considera também que, para fazer a substituição, precisaria haver no PSDB algum nome com reais condições para derrotar Lula (PT). Nem Aécio Neves (MG) nem Tasso Jereissati (CE) seriam viáveis.

À própria sorte
Caso Serra não supere a médio prazo a crise Ricardo Sérgio e empaque nas pesquisas, o mais provável é que ele seja "cristianizado", e não substituído. Nesse caso, Ciro passaria a ser a opção de grande parte do PSDB.

Bandeira branca
Zequinha Sarney esteve em Brasília em missão de paz. Dizendo-se emissário dos Sarneys procurou interlocutores de FHC com um recado: a família nada fará para prejudicar a campanha de Serra, mas espera que o PSDB do Maranhão poupe Roseana, que disputará o Senado.

Acordo tácito
Para o ex-ministro Zequinha, os Sarneys não apoiarão Serra. Mas, caso haja acordo, liberarão o candidato do grupo ao governo do MA, José Reinaldo (PFL), a compor com o PSDB.

Pura conspiração
De Yeda Crusius (PSDB-RS), sobre as reportagens que envolvem José Serra ao caso Ricardo Sérgio: "De tempos em tempos aparecem essas denúncias [contra tucanos". Até tentaram impedir em 1994 a posse de FHC".

União anti-ACM
Os partidos de oposição a ACM na Bahia fecharam uma aliança informal e lançarão apenas dois candidatos ao Senado: os ex-governadores Waldir Pires (PT) e João Durval (PDT). O PMDB e o PSDB abriram mão de disputar o Senado.

Centrar fogo
A oposição também traçou um pacto de não-agressão na eleição ao governo da Bahia entre os pré-candidatos Prisco Viana (PMDB), Jaques Wagner (PT) e Lídice da Mata (PSB). O alvo único de suas campanhas serão ACM e os carlistas.

Amizade crítica
O PC do B, que já declarou apoio a Lula, está criticando o programa de TV do presidenciável petista, que exibiu cenas da infância pobre e choro do candidato. Divulgou um artigo no qual diz que o programa teve "pouca política, muita emoção".

Primeiro mundo
Segundo o PC do B, o marqueteiro Duda Mendonça, que produziu o programa do PT, não economizou recursos: "Para as cenas gravadas em Caetés, dois aviões carregados com equipamento de vídeo aterrissaram no aeroporto de Juazeiro (BA)".

Baião-de-dois
José Martinez (PTB) e Roberto Freire (PPS) reuniram-se para tentar pacificar a Frente Trabalhista de Ciro. O PTB e o PDT de Brizola vão coligar-se em todos os Estados, mas o PPS entrará na aliança apenas naqueles onde não há ruído. No RS, por exemplo, não haverá acordo.

Emissário tucano
José Aníbal (PSDB) estará na quinta-feira em Cuiabá (MT) para convencer Dante de Oliveira a abrir mão, em favor do PMDB, de uma das candidaturas ao Senado lançadas pelos tucanos no Estado. O impasse gerou um puxão de orelhas de José Serra no ex-governador.

Bolsos mineiros
Itamar Franco (PMDB) ainda não pagou o funcionalismo público de Minas Gerais.

TIROTEIO

De Roberto Requião (PMDB-PR), sobre José Serra dizer que denúncias contra Ricardo Sérgio são "trololó" e "tititi":
- Trololó e tititi são os descendentes diretos do nhenhenhém. Não explicam nada.

CONTRAPONTO
Retranca parlamentar
Em um plenário vazio, Luiz Otávio (PSDB-PA) presidia a sessão do Senado da última quarta-feira. Pouco mais de dez senadores esperavam o momento de discursar, enquanto a maioria permanecia nos gabinetes ou em reuniões.
Após os discursos, os senadores começaram a votar requerimentos de homenagens, que são aprovados em votações simbólicas. A primeira votação foi uma homenagem a João Paulo 2º pela canonização de Madre Paulina, a primeira santa brasileira.
Em seguida, Luiz Otávio começou a ler um requerimento do senador Maguito Vilela (PMDB-GO), que homenageava Luiz Felipe Scolari pela convocação da seleção brasileira e desejava boa sorte a ele na Copa.
Luiz Otávio não se conteve, provocando gargalhadas:
- Nesse eu não voto de jeito nenhum! O Felipão não convocou o Romário!


Editorial

A CRISE DA CPMF

O governo federal e seus defensores criticam duramente a atitude do PFL de emperrar a votação da emenda constitucional que prorroga a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Nas versões mais amenas, afirmam que os pefelistas agem contra os interesses do país. Nas mais radicais, os liderados de Jorge Bornhausen são acusados de "terrorismo" político. É preciso, no mínimo, mais cuidado para analisar essa questão, que envolve, sim, elementos de finança pública e de expectativas de investidores externos. Mas envolve, também, disputas partidárias e eleitorais que não podem ser simplesmente tachadas de mesquinhas.
Equilíbrio das contas públicas, diz o bom senso e determina a lei, se faz pelo lado das despesas e pelo das receitas. Caso o governo não consiga aprovar no Congresso uma outra emenda constitucional, que reduz o prazo para a entrada em vigência das contribuições sociais, haverá necessariamente uma perda, temporária, de receita em relação ao que está estimado no Orçamento da União. A magnitude dessa perda será relativa à data em que for definitivamente aprovada a nova CPMF: quanto mais demorar a tramitação, mais dinheiro a Receita deixa de arrecadar.

Sem os recursos, o governo terá de equilibrar o Orçamento provavelmente associando aumento de outros tributos e cortes em despesas públicas. Um balanço dos efeitos para o país da morte momentânea da CPMF deveria levar em conta os seguintes impactos socioeconômicos: os de o governo deixar de fazer as despesas que decidir cortar; os da elevação do(s) imposto(s) que decidir majorar; e os do alívio de carga tributária na esfera da produção, da poupança e do consumo. O dinheiro que deixa de fluir para o Tesouro não evapora. Aumenta a renda disponível no setor privado da economia.

A despeito dessa meritória discussão, permanece preservado o aspecto institucional mais importante: o imperativo de que haja equilíbrio orçamentário no setor público. Diante disso, parecem exageradas as críticas que se fazem ao PFL.

Depois que ruiu a candidatura de Roseana Sarney, o partido joga uma de suas últimas cartadas no processo sucessório ao utilizar sua força remanescente -a da sua bancada parlamentar- para negociar com o Executivo e com PSDB e PMDB. O governismo tampouco está isento de interesses político-eleitorais quando pressiona os pefelistas a aprovarem rapidamente a prorrogação da CPMF. Afinal, ter de cortar gasto público ou de aumentar imposto na reta final da disputa pelo Planalto é sempre ruim para um presidente que busca eleger o seu sucessor.

Tanto o PFL como o governo federal, nessa questão da CPMF, travam uma batalha no campo legítimo da disputa pelo poder. Nesse contexto, as ameaças de que os interesses maiores do país estejam sob risco não devem ser entendidas como expressão da verdade absoluta. Trata-se, mais propriamente, de "armas" utilizadas por um grupo para tentar derrotar o seu oponente.


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05/12/2002


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