Para garimpeiros, continua normal a extração de diamantes em reserva indígena de Rondônia



Os garimpeiros de Rondônia que prestaram depoimento nesta quarta-feira (5) na comissão temporária externa sobre demarcação de terras indígenas foram unânimes em afirmar que o garimpo de diamantes ainda continua na Reserva Roosevelt, mesmo depois de o governo federal ter enviado uma força tarefa para a região, após um massacre de garimpeiros. Eles apontam também Walter Bloss, coordenador da Fundação Nacional do Índio (Funai), como o principal responsável pelos conflitos lá ocorridos. A reunião ocorreu por sugestão dos senadores do PMDB de Rondônia, Valdir Raupp e Paulo Elifas, que apresentaram requerimento propondo a investigação do massacre realizado pelos índios em 7 de abril, quando 34 corpos foram encontrados.

O presidente do Sindicato dos Garimpeiros de Rondônia, Paulo Roberto Borges de Oliveira, informou que o garimpo de diamantes existe desde 1958 de forma pacífica na região e em parceria com os índios, que não sabem operar as máquinas e contratavam os garimpeiros como mão-de-obra. Segundo ele, não é possível fazer garimpo no local sem a autorização dos chefes indígenas. O sindicalista mostrou à comissão ficha cadastral e contrato de serviço, criados pelos índios para disciplinar o trabalho. Na posse desses documentos, os garimpeiros podiam passar pelo controle da Funai.

Borges de Oliveira destacou que os conflitos começaram a partir do ano 2000, quando as grandes empresas passaram a ser atraídas para a região. Questionado pelo relator da comissão, senador Delcidio Amaral (PT-MS), sobre o número de mortos de garimpeiros, ele disse que, nestes quatro anos, foram registrados na delegacia processos de 200 desaparecidos e que o próprio sindicato cadastrou 64 pessoas que não são encontradas.

O garimpeiro Francisco das Chagas Cortez da Silva, que trabalhou quatro anos na Reserva Roosevelt, foi categórico ao afirmar que, com a chegada de Walter Bloss à reserva, foram abertas mais duas pistas de vôo para facilitar a entrada de grandes companhias, sendo que ele ficava com 25% da produção.

Já o juiz Leonel Pereira da Rocha, da comarca de Espigão D"Oeste, que também participou da audiência, informou que um relatório da Polícia Federal - que fez uma operação no local no ano 2000 - já registrava a presença de cerca de 4 mil garimpeiros e alertava para o perigo de conflitos.

Após ouvir todos os depoimentos, o presidente da comissão, senador Mozarildo Cavalcanti (PPS-RR), reforçou a necessidade de regulamentar o garimpo nas reservas indígenas, para evitar mais tragédias na região. O senador informou que a comissão deve fazer uma visita na próxima semana à região.



05/05/2004

Agência Senado


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