Para presidente da EPE, Brasil será a potência energética do século 21



O Brasil tem condições de se tornar, ao mesmo tempo, uma potência energética e ambiental. Na avaliação do presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, a matriz energética do País continuará essencialmente limpa, com baixas emissões de carbono, enquanto a exportação de petróleo, extraído das novas reservas, ajudará a abastecer o mercado internacional. Nessa entrevista, Tolmasquim apresenta números que sustentam o desenvolvimento do Brasil ancorado em uma produção energética de baixas emissões.

O senhor tem dito que o Brasil será a potência energética e ambiental do século 21. Poderia nos explicar como isso é possível?
O Brasil descobriu grandes reservas de petróleo no momento em que tem nas suas fontes renováveis as melhores condições estruturais de competitividade. A energia eólica está crescendo de forma sustentável. A hidrelétrica também. O etanol tem se mostrado, historicamente, mais sustentável e competitivo que os derivados de petróleo. Portanto, o Brasil será a potência energética e ambiental do século 21 porque sua potência energética será um ator fundamental na segurança do abastecimento internacional. A economia vai crescer em um ambiente que respeita contratos, uma região que não tem conflitos, onde a competição é democrática e o petróleo é de boa qualidade. Isso dará uma estabilidade para a produção de petróleo no mundo. O Brasil contribuirá para isso, ao mesmo tempo em que internamente manterá uma das matrizes mais limpas do mundo, com baixa emissão de gases de efeito estufa.

Então, o fato de o Brasil se tornar um grande produtor de petróleo não significa que deixará de ter uma matriz energética limpa?
Certamente não. O Brasil continuará tendo uma das matrizes mais limpas do mundo. Primeiro, no que diz respeito ao sistema elétrico, o petróleo não é uma fonte competitiva em relação às demais fontes instaladas no País, como a hidroeletricidade e a eólica, que são renováveis ou alternativas, além de muito mais limpas e baratas. Quanto ao transporte, o etanol vem se mostrando, de forma estrutural, mais competitivo que a gasolina. Com exceção de um problema recente de safra da cana, a participação histórica do etanol consumido pelos donos de carros flex é de aproximadamente 70%. De maneira geral, o fato de existir mais petróleo disponível não significará um incremento além do proporcional no consumo de petróleo. O Brasil será o primeiro grande exportador de petróleo com uma matriz interna limpa. É um caso único no mundo.

Qual o tamanho da frota de carros que usam a tecnologia flex no Brasil? Ela tende a aumentar nos próximos anos?
O Brasil tem hoje uma frota de cerca de 28 milhões de veículos leves, e estima-se que vamos chegar a mais de 50 milhões em 2020. Atualmente, 49% deles são flex, ou 14 milhões de carros. A nossa estimativa é que em 2020 quase 80% dos veículos leves sejam flex, sendo que a proporção de consumo de etanol se manterá nos patamares históricos. Portanto, o Brasil estima que a produção de etanol vai crescer dos atuais 27 bilhões de litros para algo como 70 bilhões de litros em dez anos.

Esses números significam expansão do cultivo de cana-de-açúcar. O aumento da produção de etanol é sustentável?
O Ministério da Agricultura fez um zoneamento agrícola em que a cana-de-açúcar só pode ser plantada em áreas consideradas viáveis para o seu cultivo. Isso exclui biomas como o Pantanal e a Amazônia. O Brasil precisaria de aproximadamente 7 milhões de hectares para atingir a meta de 70 bilhões de litros. Só de fronteira agrícola o Brasil conta com 90 milhões de hectares. O País tem, ainda, 220 milhões de hectares de pastagem com criação extensiva de gado, com uma média de uma cabeça de gado por hectare. Em São Paulo, essa média é de 1,3 cabeça de gado por hectare. Se o Brasil tivesse a média de São Paulo, o País conseguiria manter o mesmo rebanho e liberar 70 milhões de hectares, ou dez vezes a área necessária para a cana. Resumindo, o Brasil tem área suficiente para atingir a meta de produção de etanol sem ameaçar a Amazônia e sem prejudicar a produção de alimentos.

O bagaço da cana-de-açúcar também poderá ser usado na produção de energia?
Sim. O bagaço da cana também é utilizado para a geração de energia elétrica. Temos outra meta, de geração de energia elétrica renovável, de baixo carbono, e o bagaço é um dos elementos mais importantes, com a instalação de usinas térmicasque usam o bagaço como matéria-prima. O estado de São Paulo tem uma meta de, até 2014, mecanizar toda a colheita de cana, fator que resultará em mais biomassa para gerar energia elétrica. 

Ficou claro que o País tem metas para o futuro. E no presente, qual a situação da matriz energética do Brasil?
É uma situação privilegiada no contexto global. O setor energético representa, no mundo, 65% das emissões de gases de efeito estufa, sendo que em alguns países esse número ultrapassa 80%. Já no Brasil, o setor energético é responsável por apenas 16% das emissões. Logo, o setor de energia tem um impacto muito pequeno nas emissões totais do país. A grande razão para isso é a participação de fontes renováveis na matriz energética brasileira. Se observarmos exclusivamente a geração de energia elétrica, a situação do Brasil é ainda melhor. No mundo, apenas 18% da geração eletricidade vem de fontes renováveis, enquanto no Brasil esse índice é de 87%.

Qual a importância da geração de energia hidrelétrica nos objetivos de manter a matriz limpa?
A hidroeletricidade possui um nível de emissão baixíssimo e o Brasil tem o terceiro maior potencial hidrelétrico do mundo, atrás da China e a Rússia. O Brasil utiliza apenas um terço do seu potencial. Dois terços ainda não foram utilizados. Cerca de 60% do que falta ser aproveitado está localizado na região Norte do país, uma região com um ecossistema muito rico, com uma rica biodiversidade, é um patrimônio natural que o Brasil deve preservar. Nosso entendimento é que é possível aproveitar parte do nosso potencial hidrelétrico dessa região e preservar o ecossistema amazônico. 

Como essa preservação é possível?
As hidrelétricas programadas para serem construídas na Amazônia ocupariam menos de 1% do bioma.Além disso, as hidrelétricas atualmente concebidas representam um vetor de preservação do meio ambiente e desenvolvimento social local. Isso porque as hidrelétricas são concebidas sem grandes reservatórios, com uma pequena área de alagamento. E têm entre suas obrigações investir fortemente na preservação do meio ambiente, como na recuperação das matas ciliares degradadas e na manutenção de novas unidades de conservação.



28/11/2011 09:41


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