Para Sarney, Bush se auto-proclamou "ditador mundial"



O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), disse que, pela primeira vez na história da humanidade, há um -ditador mundial-, uma só pessoa como -juiz do que está certo e errado-. Para ele, a palavra do presidente americano, George W. Bush, foi -muito direta- quando ele disse, justificando a invasão do Iraque, que -se as Nações Unidas não cumprem seu dever, os Estados Unidos vão cumprir com o seu-.

- Evidentemente nós estamos em um momento que considero um dos piores do século XXI, quando o presidente dos Estados Unidos, o senhor George W. Bush, anuncia ao mundo não somente o uso da violência contra o Iraque, não somente a guerra, mas ele anuncia o fim de um processo construído há mais de dois séculos entre as nações para uma convivência pacífica, através de organismos dos quais as Nações Unidas é uma síntese - afirmou José Sarney.

A palavra de George Bush, para o presidente do Senado, expressa -a lei da força, a primitiva lei da selva, hoje com armas extremamente sofisticadas-.

- Ele quis dizer que hoje temos, pela primeira vez na história da humanidade, um ditador mundial. Não somente um ditador de um determinado país, mas aquele que dita quais são as normas pelas quais o mundo inteiro deve se conduzir. E, mais ainda, que ele é o juiz do que está certo, do que está errado, acima das Nações Unidas - disse o senador.

O parlamentar lembrou que o próprio Bush, há dois dias, afirmou que, quando se trata da segurança dos Estados Unidos, os norte-americanos não precisam pedir permissão para ninguém. Acrescentou que o presidente americano não é uma voz isolada.

José Sarney citou artigo publicado no jornal Washington Post, o qual afirma que a Organização das Nações Unidas (ONU) não é -uma boa idéia mal implementada, mas sim uma má idéia-. Citou também o vice-presidente americano, Dick Cheney, segundo o qual nunca antes, na História, a ordem internacional de segurança foi tão favorável aos interesses norte-americanos, o que requer uma liderança política norte-americana, no lugar daquela exercida pelas Nações Unidas.

- Nós devemos todos refletir sobre essas frases que dizem tudo o que se pode dizer sobre uma etapa da humanidade em que a vontade de um homem só impõe inexoravelmente a todo o mundo a destruição de um arcabouço jurídico internacional, construído através de um organismo que os próprios americanos conceberam e criaram - afirmou o presidente do Senado.

José Sarney comentou editoriais de dois jornais sobre o anúncio da guerra. O francês Le Monde chama de -eixo- a união entre Estados Unidos, Grã-Bretanha e Espanha para a guerra. Na Segunda Grande Guerra, a palavra -eixo- definia a união da Alemanha nazista e da Itália fascista com o Japão. O Le Monde ressalta o fracasso da diplomacia americana. Já o New York Times ridiculariza a comparação feita por Bush, entre o esforço pela paz e o Pacto de Munique. O jornal, segundo Sarney, afirmou que -o acordo de 1938 foi a submissão de Inglaterra e França ao ultimato alemão-.

O presidente do Senado mostrou a foto, publicada nos jornais de todo o mundo, dos três líderes - o presidente norte-americano, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e o primeiro-ministro espanhol, José Maria Aznar - -anunciando a guerra, a violência e a destruição das Nações Unidas-.

- Eles estavam sorrindo, como se estivessem em uma festa de aniversário, em um momento de congratulações ou, como diziam os ingleses quando ocupavam a Índia, como se estivessem caminhando para uma caçada de tigres, o esporte predileto deles na época - afirmou.

José Sarney finalizou lembrando as palavras do papa João Paulo II, sobre a decisão de Bush de concretizar as ameaças feitas ao Iraque: -Os que se lançam à guerra vão responder perante Deus e suas consciências-.

Em aparte, o senador Gerson Camata (PMDB-ES) afirmou que apenas dois presidentes, nas Américas, têm autoridade para falar sobre a guerra: Jimmy Carter, nos Estados Unidos, e José Sarney, no Brasil. O representante capixaba lembrou os esforços de Sarney para conter a -corrida atômica militar- entre Brasil e Argentina - criando, em seu lugar, o Mercosul - e sua intermediação para garantir a paz entre o Peru e o Equador. Presidindo a sessão, o senador Eduardo Siqueira Campos (PSDB-TO) afirmou que o Senado se via mais uma vez agraciado com um pronunciamento de Sarney a favor da paz.



18/03/2003

Agência Senado


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