Parlamentares brasileiros e europeus entram em confronto por causa de embargo às exportações de carne
Um clima de confronto marcou o desfecho de reunião de trabalho, realizada nesta terça-feira (29), entre parlamentares que representam o setor agropecuário brasileiro e membros da Comissão de Agricultura e Desenvolvimento Rural do Parlamento Europeu. Ao responder a críticas do deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) ao embargo às importações de carne do Brasil, o presidente da comissão do Parlamento Europeu, deputado Neil Parish, acusou o colega brasileiro de assumir posição agressiva e chegou a dizer que os produtores brasileiros possuem "melhor bom-senso" que alguns de seus representantes.
- Viemos como amigos, e não como inimigos. Estamos aqui para tentar encontrar soluções, não para arrogâncias - afirmou Parish.
Caiado havia dito antes que os produtores nacionais receberam como uma "agressão" a decisão do embargo, anunciado no início do ano e, mais recentemente, flexibilizado. O deputado chegou a acusar Parish de participar de associação de produtores que lidera campanha para denegrir a imagem do produto brasileiro na Europa. Segundo ele, o embargo foi orientado exclusivamente para reforçar a proteção do mercado para os produtores europeus, mas recebeu uma "maquiagem", para ser apresentado como uma questão sanitária.
- Ficou muito claro que o objetivo foi cem por cento econômico", disse Caiado.
O deputado aproveitou para alertar que o Parlamento brasileiro não vai aprovar regras sanitárias e controles do rebanho específicos da Comunidade Européia somente para agradar esse mercado. Segundo ele, as alterações que venham a ser feitas se restringirão a cumprir os requisitos de sanidade internacionais e serão baseadas em critérios científicos. Sustentou que algumas exigências européias são dispensáveis no Brasil, onde não existem problemas que lá se registram, como a doença da vaca-louca.
- O Parlamento Europeu legisla na Europa e o Parlamento brasileiro legisla no Brasil - afirmou.
Entre as exigências que, conforme Caiado, estariam sendo feitas aos brasileiros, citou um registro de identidade para cada animal e a criação de um passaporte para registrar sua movimentação pelo território. Parish negou, no entanto, que existam essas exigências.Segundo ele, há apenas duas cobranças: que o gado permaneça ao menos 60 dias na mesma região antes do abate, sendo que os 40 últimos numa mesma fazenda.
Parish também contestou a informação de Caiado de que o embargo foi decidido depois de uma visita "clandestina" de inspetores irlandeses a regiões produtoras do Brasil. Segundo ele, a medida foi tomada em conseqüência de visitas oficiais, consolidadas em oito relatórios. Anunciou, no entanto, que tem ocorrido avanços, já havendo neste momento 95 fazendas autorizadas a fornecer animais para abate e vendas ao mercado europeu. Informou, ainda, que 200 inspetores foram credenciados para fiscalizações, o que deve agilizar o credenciamento de outras propriedades.
A União Européia suspendeu a importação de carne brasileira em 31 de janeiro, depois de rejeitar lista de 2.681 propriedades apresentadas pelo governo brasileiro como aptas a exportar o produto. Em dezembro, os europeus já haviam limitado em 300 o número de exportadores, sob a alegação de deficiências na certificação e rastreamento de origem do gado brasileiro.
A reunião, realizada na Câmara dos Deputados, foi organizada pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado e pela Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara. A crise na oferta de alimentos e os bicombustíveis foram também abordados na reunião.
Gorette Brandão / Agência Senado
(Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
29/04/2008
Agência Senado
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