PDT e PTB anunciam adesão a Ciro









PDT e PTB anunciam adesão a Ciro
Ex-comunistas, ex-governistas e trabalhistas se unem hoje, defendendo pontos comuns, a favor da pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência. Às 10h, PPS, PTB e PDT anunciam a pré-coligação, mas desde ontem comemoram a aliança com festas.

Apesar do entusiasmo em torno da aliança, Ciro e o presidente do PDT, Leonel Brizola, exibiram divergências no tom do discurso. Ciro evitou atacar os adversários, enquanto Brizola criticou a aproximação do PT com a Igreja Universal e chamou o governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), de "nova cara da direita".

"O PT deu um passo muito forte para a direita ao se aproximar da Igreja Universal. O Estado é republicano e não tem religião oficial. O Lula [Luiz Inácio Lula da Silva" está cometendo um erro que pode tirá-lo das eleições", disse Brizola.

Minutos antes, Ciro, numa referência às negociações entre PT e PL, disse: "Numa democracia complexa como a nossa, imaginar que dá para governar sem alianças é um erro grosseiro. Ainda bem que o PT está percebendo isso". Para receber Ciro, houve uma carreata entre o aeroporto de Brasília e uma churrascaria.
Na frente pró-Ciro, o último a se aliar foi o PTB, que integrou a base governista até maio do ano passado e recentemente era cortejado pelo Planalto para indicar nomes para o lugar do ministro Pimenta da Veiga (Comunicações) e para a presidência dos Correios.

Brizola, o presidente do PPS, senador Roberto Freire (PE), e Ciro são as estrelas do encontro de hoje, cuja estimativa dos organizadores é reunir 300 pessoas, no Espaço Cultural da Câmara.

No lançamento hoje da pré-coligação PPS-PTB-PDT, as divergências serão discutidas em outro momento, pois o discurso será em torno da "história comum" entre socialistas e trabalhistas.

O objetivo é mostrar que a aliança é aberta a todos os partidos que afirmam ser oposição à candidatura do ministro José Serra (Saúde) ao Planalto.

A idéia é ampliar a frente pró-Ciro atraindo o apoio do PST e PHS. Setores afirmam que há conversas com o PL e PSB -dissidentes que não confiam no avanço da candidatura do governador Anthony Garotinho (RJ).
Para convencê-los, os aliados de Ciro defendem a tese da união de forças: o ideal é fortalecer uma candidatura com chances reais no primeiro turno, contrariando estratégias anteriores que aguardavam a segundo turno das eleições para formalizar novas alianças.

Sem considerar outras adesões, a coligação PPS-PTB-PDT calculou ter 12 minutos diários de horário gratuito de rádio e TV. Mas pela lei eleitoral, Ciro Gomes só poderá aparecer nas inserções a partir de junho. Até lá, a tática é intensificar as viagens aos Estados do Sudeste, especialmente Minas Gerais e São Paulo.

Ao contrário de Serra e Garotinho, que decidiram aumentar as visitas ao Nordeste, a dificuldade de Ciro está no Sudeste. Problema que pode ser solucionado com ajuda de Itamar e Brizola.


PT gaúcho fará debates antes de prévia
Apesar de ter como meta evitar que os debates subam de tom internamente, a executiva do PT no Rio Grande do Sul aprovou uma resolução que estabelece a realização de cinco debates dentro da programação das prévias do partido. O primeiro debate, sem data prevista, ocorrerá em Porto Alegre e será aberto ao público. Outros quatro serão no interior.


Sarney tenta convencer PMDB a apoiar Roseana
O senador peemedebista José Sarney (AP) almoçou ontem com o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), para defender aliança do partido com a governadora Roseana Sarney (PFL-MA), filha do ex-presidente. Sarney tenta reverter a tendência da cúpula peemedebista de se aliar a José Serra, pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto.

Sarney sabe que a tendência de 20 dos 27 diretórios regionais do PMDB é por uma aliança com Serra, mas aposta na dificuldade do tucano de subir nas pesquisas.

O ex-presidente avalia que, se até maio Serra se mantiver abaixo dos 10%, a cúpula peemedebista se renderá a Roseana. Ele crê que setores do próprio PSDB irão para a canoa de Roseana.

Para Sarney, portanto, interessa adiar até maio a decisão do partido e se aliar à cúpula na operação para sepultar uma eventual candidatura presidencial do PMDB.

Sarney voltou a dizer a Temer que o julga o nome ideal para ser o vice de Roseana. Como a candidata é do Nordeste, o ideal é ter um vice do Sudeste. Por ser do maior colégio eleitoral do país, o paulista Temer é cortejado pelo PFL.

Prévia
Está se fortalecendo a tendência de os governistas realizarem a prévia de 17 de março, mas fazendo um movimento para esvaziá-la e invalidar a disputa. Uma regra fixada por eles determina que a prévia só será válida se houver 50% mais um dos cerca de 16 mil aptos a votar na disputa.

Se der certo a estratégia do esvaziamento, a cúpula peemedebista pretende dizer que os pré-candidatos não conseguiram mobilizar o próprio partido e que o melhor é se aliar a Serra ou Roseana.

Estão inscritos na prévia o governador Itamar Franco (MG) e o senador Pedro Simon (RS). O ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, que busca um discurso para retirar a pré-candidatura, pode se ater a uma formalidade para sair da disputa. Para a inscrição, é preciso apoio de pelo menos um diretório estadual. Jungmann não foi inscrito por sua seção, a pernambucana.


Roseana insinua que manter base virou prioridade
A governadora e presidenciável Roseana Sarney (PFL-MA) deu a entender ontem no Rio que seu partido tem prioridade numa aliança com os tucanos. Questionada se seria viável, disse: "Acho que seria ideal uma aliança entre o PFL e o PSDB". Roseana defendeu a recomposição da base que elegeu FHC e disse que hoje nenhum candidato tem maioria no Congresso.

Rouca e se queixando de uma forte gripe, a governadora foi à Fundação Getúlio Vargas, com quem seu governo tem um convênio de cooperação técnica -sem custo, segundo a FGV.

Na segunda semana de março, ela irá a Minas e Brasília para tentar reforçar o apoio de aliados regionais.


Ministro deixa cargo dizendo que não muda estilo
O ministro José Serra (Saúde) deixa hoje o governo para se dedicar à sua pré-candidatura à Presidência com um aviso aos tucanos que o pressionam para que ele adote uma versão palanque, mais popular: ""Não vai haver nenhum milagre de pesquisa eleitoral".

""Sou um produto conhecido. Todo mundo sabe que sou ministro da Saúde e o candidato mais ligado ao governo. Minha candidatura não vai despertar curiosidade. Não vai ocorrer nenhum fenômeno eleitoral. O crescimento nas pesquisas será lento, gradual e seguro", disse à Folha.

Embora alguns dirigentes tucanos critiquem o tom racional dos seus discursos e defendam que ele seja mais emocional, Serra disse que não vai mudar. ""Não vou me vender como um produto. Vou me apresentar tal como sou. Já fiz cinco campanhas. O que mais sei fazer na vida é campanha."

Serra transmite o cargo ao secretário-executivo do ministério, Barjas Negri, às 15h, em cerimônia no Centro Cultural do Banco do Brasil, em Brasília. É esperada a presença de mil pessoas, a maioria ligada à área da saúde.

Ontem, o presidente Fernando Henrique Cardoso assinou o decreto de nomeação de Negri. Participaram os ministros José Serra, Arthur Virgílio (Secretaria Geral) e Pedro Parente (Casa Civil), além do próprio Negri.
""Não será um ato político", disse Serra, referindo-se ao evento de hoje. Num discurso de improviso, ele fará um balanço de suas ações à frente do ministério. Um vídeo de cerca de dez minutos divulgará atividades do ministério, dando um tom festivo à saída de Serra, que reassumirá o Senado na próxima segunda-feira.

O tucano afi rmou que deixa o cargo satisfeito. ""Colocamos a saúde em movimento. Há mais o que fazer adiante. Mas a saúde, hoje, está melhor do que ontem."

Serra tem citado pesquisas de opinião segundo as quais o eleitor não o considera responsável pelo aumento dos casos de dengue.

O pré-candidato disse confiar no apoio do governador Tasso Jereissati (CE), com quem se encontrou na noite de anteontem na casa do ministro Pimenta da Veiga (Comunicações), que será o coordenador de sua campanha.

""Nunca tive atrito com ele [Tasso". Mas ele tem a individualidade dele. Pode encontrar a Roseana [governadora Roseana Sarney (PFL-MA), pré-candidata" quando quiser", afirmou.

No domingo, Serra fará um discurso de conclamação aos tucanos para deflagrar sua campanha, na pré-convenção do partido. A cúpula tucana acha que ele tem falado demais e sugeriu que o presidenciável fale por no máximo 30 minutos. Para dirigentes tucanos, Serra precisa mostrar mais interação com o eleitor.
Ele foi criticado, por exemplo, por repetir que não será um ""vendedor de sonhos", declaração que pode esbarrar na esperança do eleitor de melhorar de vida.


Serra cede e Tasso se engaja para atrair PFL
Reunidos de madrugada, tucanos insatisfeitos expõem críticas a ministro e obtêm promessa de que farão "parte do projeto"

O governador do Ceará, Tasso Jereissati, e seus principais seguidores no PSDB deram aval para o ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, assumir a coordenação da pré-campanha presidencial de José Serra, ministro da Saúde. Mas impuseram duas condições: que a campanha não seja "paulistanizada" e que efetivamente tente atrair o PFL.

"Em 1994, o apoio do PFL ajudou a ganhar a eleição, mas era fundamental mesmo para governar. Agora, o apoio é fundamental também para ganhar", disse Tasso ontem de manhã.

O grupo dele quer passar de um apoio meramente formal a uma adesão mais efetiva à campanha, mas quis o compromisso de Serra de que eles não serão só apoiadores e, sim, "parte do projeto".

Por volta da meia-noite, a pedido de Tasso, Pimenta telefonou para o próprio Serra e o convidou para ouvir as críticas e ponderações do grupo. Serra foi, ouviu e deixou claro que o grupo terá influência na campanha e nas coligações estaduais.

"Eu sou um político nacional, não só paulista", disse Serra.

O encontro, que durou até as 3h, foi a primeira conversa olho no olho entre Serra e Tasso depois que o governador perdeu a disputa pela candidatura presidencial.

Falou-se sobre a necessidade de aproximação com o PFL, partido com o qual Tasso e Pimenta têm bom trânsito. Não houve, porém, consenso na avaliação sobre o futuro da candidatura da governadora Roseana Sarney (PFL-MA).

Para Tasso, por exemplo, Roseana não está dando sinais de que deseja desistir. "Vejo que ela não tem obsessão em ser candidata e que, se houver uma situação de equilíbrio, estará aberta a negociar uma aliança", afirmou o governador na manhã seguinte ao encontro.

Na opinião de Pimenta, apesar de Roseana demonstrar firmeza, a cúpula pefelista não fecha as portas para recomposições.

Todos disseram que seria prematuro Serra fechar já um nome, ou mesmo um partido, para a vaga de vice na sua chapa. Ele concordou e disse que isso tinha também ficado claro num jantar naquela mesma noite com o presidente Fernando Henrique Cardoso e com o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos.

Jarbas, do PMDB, é considerado pelo próprio Serra como vice ideal, mas nenhum dos dois descarta um vice pefelista. Por isso, a questão ficou em aberto.

"A hipótese de ter uma aliança com o PFL continua de pé", disse ontem o ex-governador Eduardo Azeredo (MG), que classificou o jantar de "o melhor encontro dos tucanos neste ano".

Se insistiram principalmente na aliança com o PFL, os tucanos reunidos na casa de Pimenta pelo menos não desautorizaram ou mesmo criticaram a aproximação com o PMDB -articulação que Serra sempre privilegiou.
O presidente da Câmara, Aécio Neves (MG) disse que a reunião foi "uma catarse". Não havia nenhum paulista, e todos aproveitaram para criticar, sob risos, o que chamaram de "paulistanização" da campanha Serra até agora.

Os alvos mais diretos eram o ministro Aloysio Nunes Ferreira (Justiça) e o deputado Alberto Goldman, neotucanos sistematicamente ouvidos por Serra.

Tasso repetiu que não aceita censura à sua relação com Roseana: "Não aceito patrulha de ninguém. Falo com quem quiser na hora que quiser. Não há ninguém no PSDB com mais histórico de lealdade para me dar lição".


Esquerda do partido reage à aliança
As alas "esquerdas" do PT preparam o contra-ataque à intenção da cúpula moderada de aliar-se ao PL. No último sábado, no Rio, uma reunião dos "radicais" definiu as bases do movimento. Eles planejam promover atos públicos contra a aliança com o PL, culminando com uma manifestação nacional a ser realizada no Rio, provavelmente em março. Amanhã, lideranças fluminenses já pretendem fazer um protesto inicial no centro da cidade.

"Queremos dar um recado simples. O PT não pode fazer agora o mesmo que FHC fez em 94, quando se aliou ao PFL", disse o deputado federal Milton Temer (RJ).

Lideranças de vários Estados serão contatadas para participar das manifestações, como o ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont, o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, e o deputado estadual paulista Renato Simões.
Os radicais petistas pretendem também convidar intelectuais afinados à esquerda partidária para escrever artigos para a imprensa denunciando a possível coligação.

O movimento já tem um slogan informal: "Edir Macedo não é meu companheiro", em referência ao proprietário da Igreja Universal do Reino de Deus, que controla parte do PL.

Apesar de estarem em minoria no partido -representam entre 30% e 40%-, os radicais desejam influenciar a militância do partido para que pressione a direção.

"Vamos criar um caldo de cultura a partir da base. A aliança não pode ser tratada como um fato consumado, sem que o partido seja ouvido", disse Temer.

Na avaliação do deputado, o último encontro nacional do partido, realizado em dezembro de 2001, não aprovou explicitamente a possibilidade de aliança com o PL.


PL impulsiona empresariado a se mover para o PT, diz Lula
Petista diz que partido não conseguiu ser "convincente" no diálogo

O pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou ontem que ter o senador José Alencar (PL-MG) na chapa pode ajudar a fazer com que o empresariado brasileiro "se mexa para o lado do PT". Alencar, cotado para ser vice de Lula, é empresário do setor têxtil.

De acordo com Lula, o partido não conseguiu ser convincente na relação com o empresariado nos últimos anos, apesar de ter, segundo ele, insistido no diálogo.

"O problema é que, infelizmente, os argumentos que usamos não foram convincentes até agora para que determinado setor do empresariado brasileiro se mexa para o lado do PT", disse Lula, referindo-se à possibilidade de aliança com o PL.

Lula deu entrevista ao lado do presidente nacional do partido, José Dirceu, da vice-governadora do Rio, Benedita da Silva, e do prefeito de Santo André, João Avamileno, antes das comemorações no Rio dos 22 anos do PT.

Ele disse que uma das preocupações do partido é conseguir votos nas pequenas e médias cidades, onde o PT tem pouca presença. "O PT quer dialogar com o eleitorado do PMDB e do PL nessas cidades", disse.

Lula afirmou que as cidades com até 25 mil habitantes representam 30% do eleitorado do país e têm sido o grande desafio petista. "Nós queremos juntar essa gente", disse, referindo-se às tentativas de alianças que têm sido feitas nos últimos meses.

Sobre a disputa interna no partido, com as correntes que se opõem à aliança com PL, José Dirceu afirmou que quem tiver alguma objeção poderá expor sua opinião na reunião do diretório nacional marcada para maio. "Que vença a democracia", disse.

Segundo Dirceu, o PL votou com a oposição nas principais questões debatidas no Congresso. "O PT não está discutindo com a [Igreja" Universal do Reino de Deus. Não vamos fazer aliança em torno de questão religiosa", disse, referindo-se à presença de políticos ligados à igreja no PL.

Jantar
Anteontem, Lula, Dirceu e a cúpula do PL -incluindo o coordenador político da Universal, deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ)- jantaram juntos. O encontro abriu o debate sobre o limite das concessões que os petistas estão dispostos a fazer.

"É a primeira vez que sinalizamos para a sociedade a idéia de construir um novo contrato social, com alguém que conhece o mundo do trabalho e outro que conhece o empresarial", diz Lula.

O presidenciável disse que o PT não estava migrando para o centro. E que a base da aliança com o PL seria o programa do partido.

No encontro, os petistas quiseram mostrar que o PT tem propostas para o Brasil -e nada tão radical que impeça o casamento com os liberais. Reafirmaram seu compromisso com a estabilidade econômica e descartaram a moratória da dívida externa, que seria renegociada em eventual vitória.

Ao comentar o jantar, Lula disse que o momento era de discutir convergências entre o PT e o PL e aproveitar a vontade política para que a aliança aconteça. Mas que é preciso tempo -mais precisamente até maio- para decidir.

Segundo o presidente do PL, deputado Valdemar Costa Neto (SP), o principal ponto de união entre PT e PL é a oposição ao governo. "Aqui dentro [na Câmara" eles não são radicais. No jantar, fiquei bem impressionado."

Saturnino
O senador Saturnino Braga (PSB-RJ) afirmou ontem que "está chegando a hora" de sair do partido. Ele ameaça trocar de legenda desde que o governador do Rio, Anthony Garotinho, foi lançado pré-candidato a presidente.

"Não oficializei ainda a minha saída, mas a hora está chegando", disse, acrescentando que "o destino seguinte é o PT".


Artigos

Batatadas
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - O presidente Fernando Henrique Cardoso armou nova rede nacional de TV, anteontem, para, no fundo, festejar um fracasso.

Anunciar o fim do racionamento como se fosse um triunfo do tal de povo brasileiro é de fato a "batatada" que o presidente identificou nos críticos do fim do racionamento.

O racionamento foi um formidável fracasso da política energética do governo (ou um triunfo da ausência dela). Festejar o seu fim, sem ao menos reconhecer os inconvenientes, não é exatamente uma maneira transparente de informar o público.

O fracasso está sendo medido até em números -e em números gordos. Ao jornal "O Globo", Ildo Sauer, da área de pós-graduação em energia da USP (Universidade de São Paulo), calculou em US$ 10 bilhões a perda econômica derivada do racionamento, levando em conta a retração da produção industrial e, principalmente, o que deixou de ser investido pelos empresários em 2001.

A avaliação pode até ser exagerada, mas os cálculos do organismo oficial de estatísticas (o IBGE) apontam claramente numa direção ao menos parecida. No primeiro semestre de 2001, período em que os efeitos do racionamento foram menores, a produção industrial brasileira cresceu 5,2%. No segundo semestre, já em pleno "apagão" parcial, em vez de crescimento, houve retração (1,9%).

É claro que seria ingenuidade esperar que o presidente (qualquer presidente, aliás) fosse à TV para um mea culpa. Mas o triunfalismo exagerado permite até usar a velha piada segundo a qual o fracasso subiu à cabeça.
Afinal, a situação está longe de ter sido resolvida, como disse, também a "O Globo", Pio Gavazzi, diretor do Departamento de Infra-Estrutura da Fiesp. Para ele, são Pedro deu uma mão na conjuntura, mas "o problema estrutural permanece".

Tudo somado, não é muito difícil apontar quem, entre FHC e os críticos, cometeu as maiores "batatadas" nessa questão.


Colunistas

PAINEL

De qualquer jeito
José Serra (Saúde) disse à cúpula do PSDB -incluindo Tasso Jereissati (CE)- que sua candidatura presidencial é irreversível: "Mesmo se cair nas pesquisas, não há possibilidade de que eu abandone a disputa".

Dono da bola
Serra ficou irritado com a volta dos boatos de que o PSDB tem um "plano B" -que seria lançar a candidatura de Aécio Neves ou apoiar Roseana Sarney. O ministro disse que não adianta ninguém na sigla "tramar" contra ele, pois nada irá fazê-lo desistir.

Plano nacional
Almir Gabriel (PSDB-PA) pediu no jantar na casa de Pimenta uma "despaulistização" da campanha de Serra. "Não pode parecer que há um núcleo paulista e que os outros são meros satélites", reclamou o governador.

Atrasar o relógio
O PPS articula para que PTB e PDT assinem hoje um manifesto de apoio à candidatura Ciro Gomes. Os pedetistas já confirmaram, mas os petebistas resistem, pois querem anunciar o apoio agora e fechar questão só em maio, na convenção da sigla.

Um pé atrás
Apesar das declarações do PTB de amor eterno à candidatura Ciro, dirigentes do PPS desconfiam de que o partido vá abandonar o presidenciável caso Serra suba nas pesquisas.

Manter as regras
Miguel Arraes esteve ontem com três ministros do TSE em Brasília. Atendendo a pedido de Anthony Garotinho (PSB), o ex-governador fez um lobby contra a vinculação das coligações estaduais à aliança presidencial.

Baralho evangélico
Bispo Rodrigues, representante da Igreja Universal, deixou claro ao PT e ao PL que tem o compromisso de apoiar Garotinho. A igreja só ficará com Lula se o governador desistir, o que o bispo acha muito provável.

Só de olho
O PPB não se comprometerá com nenhum candidato à Presidência pelo menos até junho. Ficará só conversando com Serra, Roseana e Garotinho.

Prêmio de consolação
Eduardo Suplicy (PT-SP) foi escolhido ontem líder do bloco da oposição no Senado.

Esforço de grupo
Itamar Franco e Pedro Simon combinaram de apresentar juntos, no dia 27, suas inscrições às prévias do PMDB. Quércia inscreverá Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) pelo diretório de SP. Tudo para evitar que os governistas melem a disputa interna em favor de Serra.

Perdas e ganhos
Raimundo Bonfim, da Central dos Movimentos Populares, ironizou o slogan de José Alencar (PL) na TV, "o patrão de que o Brasil precisa": "Se ele vier a ser o vice de Lula, o candidato petista é que deixará de ser o operário de que o Brasil precisa".

A calhar
A Federação dos Trabalhadores na Agricultura do MA quer reunir em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, cerca de 10 mil mulheres em São Luís. A oposição no Maranhão vê o dedo de Roseana (PFL) na promoção do encontro, que pretende ser "um tributo à mulher".

Marca do pênalti
O corregedor da Câmara, Barbosa Neto (PMDB), requisitou um parecer à sua assessoria para decidir se pedirá a cassação de Eurico Miranda. Há quatro denúncias contra o deputado.

Última que morre
Jaime Lerner, que não pretendia disputar a eleição em razão do seu desgaste no Paraná, mudou de idéia. O governador disse a aliados que poderá candidatar-se ao Senado e já retomou suas viagens pelo interior.

No mundo da lua
De volta a Brasília, Rafael Greca (PFL-PR) tem dito a líderes do partido que não há restrição de Jaime Lerner à sua candidatura ao governo paranaense.

TIROTEIO

Do líder do PSDB na Câmara, Jutahy Júnior (BA), sobre a candidatura Roseana Sarney:
- A candidatura de Roseana é m onotemática, baseada exclusivamente em números de pesquisas. Quando ela começar a cair, virá correndo nos apoiar.

CONTRAPONTO

Novo porta-voz
Os líderes partidários na Câmara reuniram-se anteontem no gabinete de Aécio Neves (PSDB-MG) para definir a pauta de votações da semana. A reunião começou sem representantes do PT, cuja bancada estava em outro local, elegendo seu novo líder -João Paulo (SP).
No meio da reunião, o petista Professor Luizinho (SP) chegou correndo para representar o PT. Nesse momento, discursava Bispo Rodrigues (PL-RJ), um dos líderes da Igreja Universal.
O líder do PPS, Rubens Bueno (PR), aproveitou para ironizar o petista, já que naquela noite Lula se reuniria com o bispo para tentar atrair o PL para sua candidatura presidencial:
- O que você está fazendo aqui, Luizinho? O Bispo Rodrigues já está representando muito bem o bloco PT-PL!
Constrangido, Luizinho abaixou a cabeça e ouviu o resto do discurso do bispo.


Editorial

SOJA NA OMC

O Brasil decidiu recorrer à OMC (Organização Mundial do Comércio) contra o que é considerado o coração da política de subsídios agrícolas dos EUA: a soja.

Estima-se que os produtores de soja dos EUA tenham recebido no ano passado US$ 2,8 bilhões em subsídios, o que representa 53,6% das exportações brasileiras do setor, que fecharam 2001 em US$ 5,2 bilhões. O Congresso americano deve aprovar em breve aumento nesses subsídios.

Especialistas destacam ainda que em três anos o governo Bill Clinton fez a contribuição pública em relação à renda líquida do setor passar de 35% para 70%. O governo dos EUA mantém uma política de preços mínimos. Com isso, os produtores americanos receberam em 2001 US$ 193,21 por tonelada de soja, enquanto no mercado internacional a tonelada ficou em US$ 174.

Nesse contexto, a produção americana de soja deve aumentar neste ano em 3 milhões de toneladas, contribuindo para também elevar os estoques mundiais do produto, que estão em 25 milhões. Isso deve manter a trajetória de queda do preço da soja, que já acumulou 6% nesta década.

Tais constatações sugerem duas lições. A primeira indica que o Brasil precisa de fato recorrer à OMC contra os subsídios agrícolas mantidos pelos países desenvolvidos.

Essa é uma organização multilateral relativamente recente, que ainda não tem uma "jurisprudência" consolidada. Por isso, é preciso que o Brasil pressione a OMC em defesa de seus interesses comerciais, ainda que seja pouco provável conseguir a curto prazo reduções significativas nos subsídios agrícolas praticados pelos EUA e pela União Européia.

A segunda lição é que o Brasil precisa ser pragmático em sua política comercial. Não se deve abrir mão das exportações agrícolas, mas a pauta brasileira tem que ser diversificada para ampliar a participação de produtos de valores mais altos e estáveis.


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02/21/2002


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