Frente de Ciro racha com adesão de Brizola a Lula









Frente de Ciro racha com adesão de Brizola a Lula
Cresce a especulação sobre renúncia do candidato durante debate na Rede Globo, quinta-feira

A Frente Trabalhista, coligação do candidato Ciro Gomes, integrada pelo PPS, PTB e PDT, está rachada de vez, com a disposição do presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, de abandonar a aliança e declarar apoio ao candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.

Crescem as especulações de que a renúncia de Ciro, que está em último lugar nas pesquisas e em queda livre, seria anunciada durante o debate entre os candidatos na Rede Globo, na quinta-feira à noite. Além disso, o encontro, ocorrido ontem, entre Ciro e Anthony Garotinho (PSB), que ameaça o segundo lugar de José Serra (PSDB) num cada dia mais improvável segundo turno contra Lula, ampliou ainda mais os boatos de renúncia, de Ciro ou de Garotinho, em favor do candidato petista.

Para Brizola, o apoio do PDT a Lula poderia garantir a vitória do petista ainda no primeiro turno, acabando com as chances do candidato do governo, José Serra, de ir para o segundo turno. "O Brasil pode encerrar esse período infame do neoliberalismo, conduzido por FHC e os tucanos. Isso é da maior importância", afirmou Brizola, que é candidato ao Senado pelo Rio.

O presidente nacional do PPS, o senador Roberto Freire, disse que prefere não comentar a decisão "deste Brizola". "Tenho muito respeito pelo Brizola que conheço e pela sua história política. Prefiro ficar com este Brizola do que com o outro, envolvido neste episódio", disse Freire, referindo-se às declarações pró-Lula de Brizola.

O líder do PTB na Câmara, o deputado Roberto Jefferson, disse que a "deserção" de Brizola é a atitude de uma pessoa "desesperada". "Como ele está quase sem chance de ser eleito senador, está tentando uma última ação desesperadora. Ele quer ver se consegue, dessa forma, conquistar o voto da onda socialista. Só assim para ser eleito."

O presidente do diretório regional do PPS no Rio, o ex-deputado federal Sérgio Arouca, disse que faltou lealdade na decisão de Brizola. "A Frente Trabalhista foi formada com seriedade. Não se pode tomar decisões unilaterais sem se comunicar previamente os integrantes da coligação."
Brizola, que, segundo sua assessoria estava com a agenda cheia de reuniões, não comentou publicamente as críticas recebidas pelos integrantes da Frente Trabalhista.

Alianças começam a ser costuradas
Os integrantes da Frente Trabalhista continuam declarando publicamente que Ciro Gomes irá até o final do processo eleitoral. Mais do que isso, garantem que não existe a menor possibilidade de Ciro renunciar à sua candidatura antes do primeiro turno, no domingo.

Mas nos bastidores da coligação, integrantes da Frente Trabalhista já começam a costurar alianças políticas de olho nos cargos que poderão pleitear num eventual governo sem Ciro.

Atentos às ultimas pesquisas de intenção de voto, que apontam sucessivas quedas de Ciro Gomes, integrantes da Frente Trabalhista começam a se aproximar dos presidenciáveis com mais chances de vencer as eleições de 2002.

O movimento está polarizando o seu apoio em torno das candidaturas de Lula e Anthony Garotinho, do PSB, que aparece empatado tecnicamente em segundo lugar nas últimas pesquisas de intenção de voto, ao lado de José Serra (PSDB).

O PPS começou a articular uma estratégia para contornar o último golpe sofrido por Ciro Gomes: o apoio do presidente do PDT, Leonel Brizola, a Lula. O partido quer fortalecer suas alianças e pedir reforço no Rio para evitar novas defecções na Frente Trabalhista em favor da candidatura de Lula.
Esse foi o segundo golpe sofrido por Ciro em menos de uma semana. Na semana passada, o filósofo Roberto Mangabeira Unger, guru, amigo pessoal e um dos coordenadores da campanha eleitoral do pepessista procurou o PSB, de Anthony Garotinho, para sugerir a renúncia dos candidatos dos dois partidos em favor de uma coalização de oposição em favor de Lula.

Garotinho rejeitou a proposta de Mangabeira Unger. O candidato do PSB acredita que tem condições de ir para o segundo turno com Lula.

Sem a adesão do PSB à sua proposta e chamado de "traidor" por integrantes do PPS, como o líder do partido na Câmara, o deputado João Herrmann, Mangabeira Unger abandonou a campanha de Ciro e viajou para os Estados Unidos.


Lula cresce 3 pontos na pesquisa Sensus
Levantamento mostra que Serra e Garotinho também sobem, enquanto Ciro tem queda de quase seis pontos

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, passou de 37,7% para 40,6% das intenções de voto na pesquisa do Instituto Sensus, que ouviu 2 mil eleitores entre os dias 27 e 29 de novembro. A pesquisa, encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), constatou que 64,3% dos eleitores já decidiram em quem votar.

O candidato do PSDB, José Serra, também cresceu, passando de 17,1% para 18,8%, seguido pelo candidato do PSB, Anthony Garotinho, que soma agora 15,1% das intenções de voto, contra 13,3% anteriores. Ciro Gomes, do PPS, por sua vez, teve uma queda significativa: passou de 18,3% para 12,7%. Os votos brancos, nulos e indecisos caíram de 13,5% para 12,3%.

A margem de erro é de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. A última pesquisa do Sensus havia sido realizada nos dias 5 e 6 de setembro.

O presidente do Instituto Sensus, Ricardo Guedes, admitiu que existem 10% de possibilidade da eleição à Presidência da República ser definida no primeiro turno. Seis pontos percentuais separam Lula de uma vitória no primeiro turno. Diante dos 40,6% de Lula, a soma de seus adversários é de 46,6%.

Ricardo Guedes lembrou que o debate entre os candidatos, na quinta-feira, na TV Globo, é que deverá definir o resultado.

A pesquisa Sensus/CNT aponta que se houver segundo turno tanto Serra quanto Garotinho poderão disputar com o candidato petista. A pesquisa diz ainda que Lula venceria todos os seus adversários no segundo turno.

Na pesquisa espontânea de intenção de voto, Lula passou de 29,9% para 34,1%, Serra subiu de 10,7% para 14,5%, Garotinho cresceu de 7,9% para 11,4%. Já Ciro Gomes, caiu de 12,7% para 9,5%. Os demais candidatos subiram de 0,6% para 0,8% e o número de votos brancos, nulos e indecisos caiu de 38,2% para 29,9%.

Do 64,3% de eleitores que já definiram seu voto, 49% escolheram Lula. Serra ficou com 20,2%, Garotinho com 14,6% e Ciro Gomes com 12,1%. Dentre os 32,3% que ainda não definiram seu voto, 21% só farão a escolha no dia da eleição, 5,2% decidirão nos próximos dias e 5% farão a escolha no final dos programas eleitorais.

Rejeição a Serra e Ciro sobe
Caiu a rejeição aos candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Anthony Garotinho (PSB), ao mesmo tempo em que cresceu a rejeição ao candidatos José Serra (PSDB) e Ciro Gomes (PPS), de acordo com a pesquisa Sensus/CNT.

No levantamento sobre rejeição em lista, na qual o eleitor indica entre todos os candidatos aquele que não receberia o voto dele, a rejeição a Lula continua a maior, mas caiu de 27% para 23,7%, enquanto a de Serra, a segunda mais alta, subiu de 16,4% para 20,1%.

A rejeição a Ciro subiu de 14,3% para 16,5% e a de Garotinho, o menos rejeitado entre os quatro maiores, caiu de 13,3% para 11,4%.

Mas, na sondagem de rejeição individual aos candidatos, na qual os eleitores se manifestam sobre cada candidato, individualmente, dizendo se votariam neles ou não, Ciro registrou a maior rejeição. O número dos que não votariam nele passou de 39,9% no início do mês para 42,2% na pesquisa dessa semana. Em segundo lugar, apareceu Serra, que subiu de 40,1% para 41,4%.

A rejeição a Garotinho caiu de 46,1% para 38,9%, e a rejeição a Lula oscilou de 34,9% para 33,9%. Ao c ontrário do que ocorre na sondagem de rejeição em lista, na qual Lula é o mais rejeitado, nesta ele recebe o menor índice de rejeição. O número dos que não têm restrição a nenhum candidato oscilou de 20,2% para 21%.

Já no outro extremo, entre os candidatos passíveis de serem votados, a divisão é a seguinte: Lula, 31% dos pesquisados só votariam nele e 30,4% poderiam votar; Serra, 14,4% só votariam nele e 39,1% poderiam votar; Garotinho, 12,9% só votariam nele e outros 42,6% poderiam vir a votar, e Ciro, 10% só votariam nele e 41,6% poderiam votar.

Indicação de FHC perde
A pesquisa Sensus/CNT revela que 53,7% dos entrevistados não votariam no candidato a presidente indicado ou apoiado por pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, enquanto 33,0% afirmam que poderiam votar nesse candidato, e apenas 7,6% consideram esse o único candidato em que votariam.

Segundo eles, os debates entre os candidatos são o primeiro critério para escolha, com 31,2%. Em seguida, aparecem entrevistas à imprensa, com 15,4%, programas eleitorais do TSE, 14,3%, contato direto com o candidato, com 12,5%.

O levantamento aponta também queda na avaliação do presidente FHC. A maioria (50,9%) disse desaprovar a gestão, enquanto 37,6% afirmaram que aprovam.

Segundo a pesquisa, o índice dos que classificam o governo como ótimo/bom, que era de 27,6% em agosto, caiu 2,4 pontos percentuais e está em 25,2% neste mês. A avaliação regular também apresentou queda, passando de 40,3% para 37,7%. O percentual de entrevistados que disseram que o governo é ruim/péssimo subiu 4,2 pontos, passando de 29,6% para 33,8%.


Roriz diz a que veio. E os outros?
Seja feita a vontade do povo: é Deus e você e mais ninguém. A frase de um eleitor empolgado, diante do candidato da coligação Brasília Solidária ao GDF, Joaquim Roriz, dá uma idéia dos efeitos da campanha eleitoral do DF na sua reta final.

No programa de ontem não faltaram as acusações e direitos de respostas que têm permeado as últimas semanas do horário político gratuito na tevê. Mas, acima das trocas de acusações entre os candidatos, nessa guerra eleitoral que poucos entendem, está a verdade dos fatos, mostrada pelo candidato Roriz: as pesquisas de opinião o apontam com franco favorito para a vitória, ainda no primeiro turno e o povo parece assinar embaixo.

Roriz aproveita seu tempo no horário gratuito para mostrar o que pretende fazer no próximo governo para a população de Ceilândia, um dos maiores colégios eleitorais do DF: construir o shopping popular, fazer a segunda ligação entre a cidade e Taguatinga, implantar o programa Na Hora, de expedição de documentos com rapidez, e criar a Universidade da Saúde.

Isso, depois de mostrar as transformações que fez nos últimos quatro anos na cidade: a construção da extensão do metrô, o restaurante comunitário, a criação da terceira faixa na Via Centro Norte, a ponte sobre o Córrego Guará.

Depois dele, veio Benedito prometendo que no seu governo o povo não será humilhado. Ele anuncia o cartão-alimentação no lugar da cesta básica; a retomada do programa Bolsa Escola; e a criação do Cartão Universitário no valor de R$ 580 para os estudantes carentes.

Veio Carlos Alberto insistindo em que o DF precisa de um novo modelo de desenvolvimento que gere emprego e renda.

Veio Rodrigo Rollemberg, com Lula ao lado dizendo que o povo não merecia o Roriz lá.
E veio Expedito Mendonça conclamando os servidores públicos a lutar pela imediata reposição das perdas e por um reajuste de 150%.


Fernando Henrique e Itamar selam a paz
O presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, se encontraram ontem e encerraram de vez o período de brigas e desentendimentos que se manteve entre eles nos últimos três anos.

FHC foi recebido por Itamar com todas as pompas. Os dois almoçaram juntos no Palácio das Mangabeiras. O articulador do encontro pelo deputado Aécio Neves, candidato do PSDB ao governo mineiro.

O clima foi de cortesia e troca de gentilezas. FHC e Itamar evitaram fazer qualquer menção ao longo período em que estiveram rompidos politicamente.

Ontem, os dois políticos preferiram lembrar do lançamento do Plano Real, quando Itamar era presidente da República e Fernando Henrique ainda ocupava o Ministério da Fazenda, em 1994.
Além da troca de gentilezas, a visita de FHC a Itamar também teve um aspecto prático: os dois assinaram um acordo e criaram uma comissão para acertar as contas de Minas com a União. Itamar diz que o governo deve cerca de R$ 1 bilhão a Minas, enquanto o Planalto afirma que o estado é quem está devendo dinheiro para o Tesouro.


Livro traz avaliação de FHC sobre era FHC
Já está disponível nas livrarias a mais interessante avaliação do governo Fernando Henrique feita até agora. Seu autor: Fernando Henrique. Está no livro Depois de FHC , que o jornalista Álvaro Pereira lança a partir das 19h de hoje, no Carpe Diem, 104 Sul.


O livro reúne 16 entrevistas com figuras de primeiro time da política brasileira, como Lula, José Serra, José Dirceu, Antonio Carlos Magalhães e Jorge Bornhausen.

A mais interessante e reveladora, porém, é mesmo a de Fernando Henrique Cardoso. O presidente revela, por exemplo, que seu ministro do Planejamento, José Serra, cobrava uma revisão da política cambial antes mesmo dela vir e que o ministro da Fazenda, Pedro Malan, se opôs a ela até o último minuto. Foi preciso Fernando Henrique intervir, demitir o presidente do Banco Central, Gustavo Franco, e nomear Chico Lopes, contra a vontade de Malan.

Fernando Henrique acusa Antonio Carlos Magalhães de pretender passar ao País a idéia de que era ele quem realmente mandava. Mostra ainda que, para o governo, foi ainda mais grave do que se pensava a saída do ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros e do presidente do BNDES, André Lara Rezende. "Eram as pessoas que estavam me ajudando a pensar as mudanças necessárias", diz.

Conta que tentou demovê-los, mesmo depois do escândalo do grampo, que levou por fim à sua demissão. Disse a eles, textualmente: "Eu fico sem cartas para jogar".

O presidente não poupa críticas. Afirma que o senador Pedro Simon "gosta de destruir e não de construir". No PT, "havia uma atitude antidemocrática, que ainda existe". O ex-governador Cristovam Buarque "defende um modelo de terceiro mundismo que não tem mais consistência no mundo de hoje". O PFL era o responsável pelos setores em que a privatização menos andou, contrariando seu discurso. Ciro Gomes "tem uma memória estalinista".

As demais entrevistas do livro também trazem revelações. Jorge Bornhausen assegura que, se não tivesse morrido, Luís Eduardo Magalhães seria o candidato de todas as forças governistas a presidente. Com o apoio de Fernando Henrique. José Dirceu diz que foi um tremendo erro a aliança com o PDT em 1998, com Brizola concorrendo a vice de Lula.

As entrevistas também proporcionam momentos interessantes. É o que ocorre no diálogo com Lula. Após o líder petista afirmar que "na minha opinião, o grande erro de Fernando Henrique foi ter disputado a reeleição", vem a pergunta: "E o Lula presidente não vai querer ser candidato à reeleição".

O constrangimento fica evidente. Lula diz apenas: "Olha..."


Economia cresce pouco e a renda do brasileiro cai
IBGE mostra também que juros e incertezas fazem empresas diminuirem investimento

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu apenas 0,14% no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo semestre do ano passado. Com isso, a renda per capita do brasileiro deve apresentar um declínio.

O PIB, que corresponde a tudo aquilo que se produz no País, atingiu R$ 612,9 bilhões no primeiro semestre. Houve queda significativa de investimento s, consumo das famílias, exportações e importações. Somente o consumo do governo apresentou crescimento, ainda que em menor ritmo do que no ano passado.

Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A formação bruta de capital fixo, ou seja, os investimentos feitos no País, que nos primeiros seis meses de 2001 teve expansão de 6,77%, no mesmo período deste ano caiu 7,33%. Pelo menos 60% dessa redução deve-se à retração do segmento de construção civil, explicou o gerente do PIB do IBGE, Roberto Olinto.

Ele disse que a queda nos investimentos se deve taxas de juros elevadas, um resto período de racionamento energético, crise argentina, problemas na economia norte-americana e expectativas das eleições. Apesar da redução significativa, Olinto adverte que "é um quadro que ainda deve ser olhado como provisório".


Artigos

Guardem os teipes
Eduardo Brito

Deu na TV portuguesa, aquela que até há pouco era estatal e subserviente. Foi em um telejornal de grande audiência, que vem buscando fórmulas inovadoras de brigar pelo primeiro lugar.

O âncora, uma espécie de William Bonner capaz de agir com naturalidade, apresentou a principal notícia da edição, a decisão governamental de construir em Lisboa um novo aeroporto internacional. Chamou então o entrevistado, o ministro da Viação e Obras, Valente de Oliveira, circunspecto proprietário de uma barba rala, que confirmou entusiasmadamente a decisão e os dados.

Foi então que ocorreu o cataclisma. Um entrevistador observou que o governo estava revendo decisão anterior, de suspender todos os planos do novo aeroporto, conhecido pela sigla OTA. Valente negou. Caíra na armadilha.

O âncora mostrou então uma gravação feita durante a campanha eleitoral do ano passado. O candidato oposicionista Durão Barroso, hoje primeiro ministro e chefe de Valente, aparece em um discurso de campanha: "Enquanto houver crianças precisando esperar por cirurgias nos hospitais, não gastaremos bilhões em um novo aeroporto".

Mais constrangedor, impossível. Valente ficou pálido e gaguejou durante mais de um minuto antes de conseguir sair-se com a famosa emenda pior que o soneto. "É que, até o aeroporto ficar pronto, lá para 2015, nós teremos conseguido enormes avanços sociais", articulou. Lógico que, além das gozações sobre o mico, foi duramente questionado sobre a lentidão das obras e as pressões que explicariam a mudança de posição.

Vale como uma sugestão para os brasileiros. Nada como guardar para uso posterior, bem rotulados e protegidos, os teipes com declarações de campanha.

Aqui mesmo no Distrito Federal, em um programa de entrevistas da TV Brasília, perguntaram a um candidato a governador se, caso eleito, aumentaria impostos. Chegaram até a brincar, fazendo uma comparação com o ex-presidente norte-americano George Bush, pai do atual, que no final da campanha olhou para as câmeras e disse: read my lips; no more taxes. Ou seja: leiam meus lábios; nada de novos impostos. O candidato brasiliense riu muito, disse que a população não suportaria mais tributos e que ele certamente não seria um novo Bush. Elegeu-se e sua primeira providência foi propor um aumento no IPTU e no IPVA, sendo barrado pela Câmara Legislativa em raro momento de sanidade.

Do jeito que anda a atual campanha presidencial, com cada candidato prometendo gerar mais milhões de empregos que outros, com bancos do povo, restaurantes populares e sabe-se lá o que mais, é bom preparar as fitas. Não adiantará nada, mas ao menos será divertido.


Colunistas

CLÁUDIO HUMBERTO

FhC fecha a mão e o cofre
Contrariando todas as expectativas, sobretudo dos aliados, até agora FhC não mandou liberar os R$ 3,7 bilhões de "restos a pagar" do Orçamento de 2001. O "derrame" de dinheiro era esperado às vésperas das eleições. A mão fechada de FhC explica o mau humor do candidato José Serra, que continua ignorando o presidente e a defesa do seu governo, na campanha. Pedro Malan é contra a liberação. Empreiteiros e os políticos estão indóceis: do total "represado", R$ 635,7 milhões são do Ministério dos Transportes.

Não custa lembrar
Na rebelião de Bangu 1, Fernandinho Beira-Mar prometeu: "Se tocarem em mim, mando tocar terror na cidade". Nem Elias, o maluco, acreditou.

Pânico colorido
Quanto mais os comandos avermelham, mais as autoridades amarelam.

Boa notícia
Fernando Henrique reserva uma boa notícia para o setor produtivo: o governo vai recuar da decisão de aumentar a alíquota do PIS para a agricultura, com desconto na fonte, previsto no artigo 12 da MP 66.

Sem diploma
O site do PSDB na Internet exibiu os certificados de mestrado e doutorado de José Serra nas universidades do Chile e de Cornell (EUA). Mostrar certificado de nível superior no Brasil, que é bom, nada. Ele não o tem.

Sem chances
Ninguém aposta um tostão furado na argüição de suspeição de um grupo de juristas respeitáveis, entre os quais Celso Bandeira de Mello e Dalmo de Abreu Dallari, contra o ministro Nelson Jobim. Eles argumentam que amigo íntimo e afilhado de José Serra, Jobim não é isento para presidir o Tribunal Superior Eleitoral nem as eleições. O problema é que o TSE julgará isso.

Com sapatos
Lula dá o troco ao chanceler Celso Láfer, que previu sua derrota: "O ministro das Relações Exteriores do governo Lula não tirará o sapato nos EUA, em nenhum aeroporto!" Láfer foi revistado e obrigado a tirar os sapatos, durante viagem oficial aos Estados Unidos, em fevereiro, como esta coluna revelou.

Direitos da criança
Se o TSE não liga a mínima, atenção Delegacia de Proteção à Infância e Adolescência: Serra está batendo no Garotinho.

Calor compulsório
Os passageiros do vôo 5002 da Varig, que pagaram R$ 300 para viajar do Aeroporto Santos Dumont, no Rio, para Brasília, ficaram torrando por mais de meia hora dentro do avião. O comandante mandou fechar as portas, mas esqueceu de ligar o ar-condicionado. E nem deu explicações.

Humm...
O clima de terror no Rio, ontem, teve toda a pinta de um trafictóide.

Altos comandos
Conversa de dois cariocas, ontem, ao meio-dia, na Zona Sul do Rio:
- Fecharam o comércio em Ipanema. Ordem do Comando Vermelho.
- Graças a Deus moro numa área do Terceiro Comando. Lá, as escolas puderam funcionar.

O mês dos medos
Para Nova York, 11. Para os cariocas, 30 de setembro.

Mania de banco
Como já não resta benefício a conceder aos bancos, a Presidência da República manteve a coerência: comprou dia 24, por R$ 3.985, dez bancos para enfeitar os jardins do Palácio da Alvorada. Para não sair do compasso.

Perguntas no ar
A Procuradoria da Fazenda Nacional arrecadou R$ 5,2 bilhões só em 2001 para os cofres da União, mas enfrentou a penúria e até a hostilidade, nos anos FhC. Gato escaldado, o sindicato da categoria (Sinprofaz) enviou aos candidatos a presidente uma carta sobre a situação dos procuradores e um questionário com seis perguntas capitais. Até agora, ninguém respondeu.

Pensando bem...
...após se comparar a Jesus, Lula não subiu só no salto alto. Subiu na cruz.

Onda vermelha
Os partidários da candidatura de Jacques Wagner (PT) ao governo da Bahia acreditam que a "onda vermelha" que varre o País, às vésperas de 6 de outubro, fez o petista quase empatar com o favorito Paulo Souto (PFL).

Ponte com o PMDB
Durante comício na periferia de Campo Grande (MS), o governador Zeca do PT conclamou os eleitores a votarem em Ramez Tebet (PMDB) como segunda opção para o Senado. O primeiro voto, claro, é para Delcídio do Amaral (PT), que já encosta no veterano Pedro Pedrossian (PST).

Low profile
Muita gente quer saber o qu e Schumacher disse para Barrichello, em Indianápolis, depois de mais uma vez deixar o brasileiro vencer. Bem que poderia ter sido: "Ora, Rubinho, você é o meu Marco Maciel"...

Poder sem pudor

Censura na fonte
O comício de Leonel Brizola atraiu uma multidão, em Cruz Alta (RS). "De 10 a 12 mil pessoas", exultou dr. Schmidt, médico e prefeito da cidade, da janela da prefeitura. Mas, de repente, naquela época pré-celular, ouviu uma jovem repórter ao telefone: "...Um fracasso, no máximo 1.500 pessoas".

- Não faça isso, a senhora está mentindo. Tem várias vezes mais pessoas.

- A notícia é minha, mando a que quero.

Pois o telefone é meu - disse ele, arrancando-lhe o aparelho das mãos - e nele você não manda mentira.


Editorial

RESGATE DA CREDIBILIDADE

O megainvestidor George Soros, que já ganhou muito dinheiro em apostas contra bancos centrais fragilizados pelo mundo afora, deu a tônica em encontro de especialistas em mercado financeiro realizado no último fim de semana, em Washington, nos EUA. Soros apostou que o Brasil vá quebrar, se não receber mais recursos do FMI. Segundo ele, o País vai eleger um candidato de quem o mercado não gosta, e isso será negativo, referindo-se ao petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Duas coisas têm de ficar claras. A primeira é que o Brasil tem condições de superar a crise, qualquer que seja o presidente. As palavras de Soros servem de alerta, mas sabe-se que sua principal preocupação são seus bolsos. Por isso, quanto mais lenha jogar na fogueira que faz arder o mercado financeiro mundial melhor. Sua experiência o fará mais rico em negócios com amadores desesperados.

A segunda situação que deve ser esclarecida é o receio do mercado em relação a Lula. O petista passou a vida política defendendo rompimentos unilaterais com a banca internacional. É por isso que os investidores o temem. Se o discurso de Lula mudou, cabe a ele provar que agora vai defender acima de tudo o respeito a acordos previamente assinados. Caso Lula vença as eleições, só mesmo um choque de credibilidade, com a nomeação de uma equipe reconhecidamente competente, pode atenuar os estragos que os especuladores podem fazer ao País.


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10/01/2002


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