PEDRO SIMON CRITICA REFORMA MINISTERIAL
A reforma ministerial foi criticada hoje (dia 6) pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS), para quem o presidente da República criou animosidade em sua base de sustentação política, sem necessidade, ao "fritar" ministros de gabarito como César Albuquerque, da Saúde, e Arlindo Porto, da Agricultura, e escolherum nome inadequado para a pasta da Justiça.
- Não é possível ter na coordenação das eleições de 1998 um homem como Renan Calheiros (PMDB-AL), símbolo do governo Collor, como enfatizaram todas as manchetes de jornais do dia seguinte - disse Simon. "O pior é o motivo cruel dessa escolha: facilitar a vida de seu companheiro de partido, Teotonio Vilela Filho (PSDB-AL), candidato ao governo de Alagoas, que agora terá um adversário a menos", afirmou.
O senador ressalvou, no entanto, não ter nenhum motivo para duvidar da competência de Calheiros. "O problema é que ele ficou marcado como homem de confiança de Fernando Collor e o noticiário da imprensa provou que esse fato não foi esquecido", assinalou
Segundo Pedro Simon, o PMDB colocou à disposição de Fernando Henrique Cardoso sete advogados de renome do partido, entre eles os senadores José Fogaça (RS)e Ramez Tebet (MS). "Eu mesmo fui convidado para integrar essa lista, mas declinei porque não quero ficar sem mandato. Cargos de ministro são muito instáveis, como tem mostrado minha experiência. Acho que político sem mandato é como mulher da vida sem cama, pode ficar incapacitado de exercer sua profissão", explicou.
ELOGIO
Ao lado dascríticas, Simon elogiou a escolha do senador José Serra (PSDB-SP) para a Saúde. "É competente e certamente terá êxito. Mas não havia necessidade de desprestigiar um homem como Albuquerque, que é íntegro e conseguiu atacar privilégios, atingindo interesses escusos no ministério", disse.
O senador gaúcho disse ainda quea nomeação de Francisco Turra para a Agriculturarepresenta o ponto alto da reforma ministerial: "Apesar de ser meu adversário político (o novo ministro é do PPB), preciso reconhecer que Turra conhece o assunto como ninguém,é proveniente de uma região do Rio Grande do Sul onde a agricultura é umêxito, é homem honesto e com grande capacidade de trabalho."
Segundo Pedro Simon, a primeira meta anunciada por Turra - "vamos marchar para uma produção de 100 milhões de toneladas de grãos" - mostra bem o homem dinâmico e competente que ele é. "Mas uma escolha certa não precisava ter sido acompanhada de desprestígio para com Arlindo Porto, do PTB. O ex-ministro estava do outro lado do mundo negociando créditos com os japoneses, quando soube que estaria sendo deslocado da Agricultura para o Trabalho. Ele fez bem em não aceitar a nova pasta", ponderou.
Ele disse que, como resultado dessa "mudança complicada",o PTB que deveria "estar soltando foguetes" por ter trocado Paulo Paiva do ministério do Trabalho - "a prima pobre" - para o Planejamento - "a pasta nobre" - acabou descontente e "chateado". Tudo isso porque Fernando Henrique operou a reforma ministerial de maneira inábil, disse. "O governador do Rio Grande do Sul, Antonio Britto, deu o exemplo contrário ao trocar uma dúzia de secretários sem criar animosidade. Ele optou pelo substituto de cada um, com a missão de concluir os projetos dos titulares", explicou Simon.
Em aparte, o senador Edison Lobão (PFL-MA) concordou com as observações do senador gaúcho e se solidarizou com os ex-ministros Arlindo Porto e César Albuquerque. Lobão considera que no "instante em que o presidente não está satisfeito com um ministro, deve demiti-lo e não submetê-lo a vexames, como fez com o ministro da Saúde e com Arlindo Porto, que estava sendo torrado numa frigideira cruel". Ele discordou, no entanto, das restrições de Simon sobre a escolha do nome de Calheiros para o Ministério da Justiça.
06/04/1998
Agência Senado
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