Peres diz que não tem dúvida sobre a culpa de Renan
O relator do processo no Conselho de Ética, senador Jefferson Peres (PDT-AM), disse que não tem dúvida quanto à quebra de decoro parlamentar pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Ele reafirmou ter encontrado um conjunto de indícios robustos da culpa de Renan e citou os indícios que considera mais consistentes: a confissão de João Lyra, que se auto-incriminou quando revelou a sociedade oculta com Renan; o fato de Renan não ter ido à justiça contra a pessoa de João Lyra e não contra suas empresas; a proposta de venda das rádios feita pelo senhor Nazário Pimentel a Renan, na época ocupando o cargo de ministro da Justiça.
- Se eu fosse procurado, eu senador, ainda mais um ministro da Justiça, por um empresário me oferecendo a venda das rádios, eu encerraria a conversa. Eu não posso ser proprietário de rádio. Eu sou senador. O senhor procure alguém, algum empresário interessado. Essa á a versão do senhor Nazário, registrada em cartório - assinalou.
Jefferson Peres citou a defesa para essa transação, em que Renan alega que foi apenas o portador de uma proposta de Nazário para João Lyra. Para o senador, Renan deveria ter negado o pedido e sugerido a Nazário que procurasse ele mesmo João Lyra em Alagoas ou, no máximo, telefonasse ao empresário e pedisse que recebesse Nazário. Peres ainda observou que, de acordo com o depoimento de Nazário Pimentel, quando a proposta foi entregue a João Lyra, em sua residência, Renan estava presente.
Peres classificou como inverossímil, "uma história estapafúrdia" a alegação de que o senhor Tito Uchôa recebeu em sua casa João Lyra e Nazário Pimentel para fossem efetuados os pagamentos da transação em dinheiro vivo, ao invés de fazê-lo em cheques e em seus escritórios. Ele lembrou que Tito Uchôa foi ocupante de cargo de confiança no gabinete do senador Renan e Carlos Santa Rita continua ocupando.
Não se compara um processo judicial com um político disciplinar, são de natureza diferentes. No criminal está em jogo a liberdade da pessoa, que fica estigmatizada. No processo de decoro o parlamentar perde o mandato e volta a sua vida civil, familiar e profissional com todos os demais direitos. Quem é condenado por um crime responde por aquilo, mas quem fere o decoro parlamentar fere uma instituição vital para a democracia brasileira.
- Eu absolveria se tivesse dúvida. Não tenho. Mas tenho que considerar as conseqüências desse processo todo para esta Casa. Talvez estejamos hoje num desses episódios decisivos para o futuro de um país. Não estou exagerando não. Eu já vejo nuvens cinzentas no futuro desse país. A desmoralização da classe política é o ovo da serpente - alertou.
Jefferson Peres ainda citou duas pesquisas recentes, que revelaram o aumento considerável do desprestígio do Congresso Nacional perante a população e que os dois maiores motivos de vergonha para os jovens de 16 a 25 anos são a falta de segurança pública e os políticos.
04/12/2007
Agência Senado
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