PFL aposta na queda de Serra



 





PFL aposta na queda de Serra
Partido já age em silêncio para substituir o candidato do governo à Presidência .

As denúncias de que o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira teria cobrado do empresário Benjamin Steinbruch, que liderou a compra da Companhia Vale do Rio Doce, R$ 15 milhões para organizar o consórcio vencedor da privatização, segundo reportagem da revista Veja, foram tratadas como um complô pelos dirigentes do PSDB e recebidas com um alívio discreto pelo PFL, que já age em silêncio nos bastidores para a substituição de José Serra na campanha presidencial.

O presidente do PSDB, o deputado federal José Aníbal (SP), disse que o empresário Ricardo Sérgio de Oliveira "não fala em nome de tucanos" e vê uma campanha "infamante" contra o partido e o pré-candidato ao Planalto, José Serra. Anibal afirma que o presidente Fernando Henrique Cardoso não mandou investigar o suposto pedido de propina porque era "um rumor". Diz, ainda, que Serra não desistirá da candidatura.

Por último, separando o pré-candidato de seu antigo arrecadador de recursos, declara que Serra e Ricardo Sérgio "não têm relações faz tempo". O ex-diretor do BB nega todas as acusações. Já Serra tratou como "maluca" a insinuação de que sua campanha ao Senado em 94 foi beneficiada por doação ilegal do empresário Carlos Jereissati.

De acordo com a revista "Veja", o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio, um dos encarregados da arrecadação de fundos para a campanha do ex-ministro ao Senado, teria conseguido uma doação de R$ 2 milhões do empresário Carlos Jereissati. Irmão do ex-governador do Ceará Tasso Jereissati (PSDB), Carlos é um dos proprietários da empresa de telefonia Telemar e tido como amigo de Ricardo Sérgio.

O PFL crê que as denúncias contra Ricardo Sérgio de Oliveira, sobre a cobrança de propina na privatização da Vale, vão acabar derrubando a candidatura do tucano José Serra. Mas a estratégia dos pefelistas será evitar envolvimento direto no caso para se credenciar a uma recomposição da aliança com o governo em torno de um novo candidato.

Os nomes preferidos dos pefelistas são o ex-governador Tasso Jereissati (CE) e o presidente da Câmara dos Deputados, Aécio Neves (MG), para uma eventual substituição da candidatura de Serra à Presidência da República. Despertou a atenção do PFL o trecho da reportagem de "Veja" em que o empresário Carlos Jereissati diz que contribuiu com R$ 2 milhões com a candidatura de Serra ao Senado, a pedido de Ricardo Sérgio. Só que, no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), estariam registrados apenas R$ 95 mil de contribuições de empresas de Jereissati. Reservadamente, pefelistas comentavam ontem que o candidato tucano terá de explicar o que eles consideram caixa dois.

Denúncia reforça investigação
A denúncia de que o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio teria pedido propina ao empresário Benjamin Steinbruch, durante processo de privatização da Companhia Vale do Rio Doce, reforçará a investigação em curso no Ministério Público. Segundo o procurador da República Luiz Francisco de Souza, os fatos publicados pela revista Veja " tem tudo a ver" com o trabalho desenvolvido na procuradoria e servirá para abertura de novo processo contra o ex-diretor do BB.

Os procuradores querem apurar mais detalhadamente o crescimento da fortuna pessoal de Ricardo Sérgio. De acordo com Luiz Francisco, "o que se verifica é uma explosão gigantesca de patrimônio e isso não tem explicação". Segundo o procurador, atualmente o trabalho do MP está sendo feito com base "em lei complementar que permite à Receita Federal obter extratos bancários referentes a dados que compõem a declaração de renda do investigado".

“Mas o MP precisa de uma quebra de sigilo fiscal mais ampla. São denúncias gravíssimas que tratam da maior mineradora do mundo, do sistema Telebrás e dos fundos de pensão. São R$ 3 bilhões só da Vale do Rio Doce e R$ 22 bilhões da Telebrás, sem falar nos fundos de pensão que administram mais de R$ 100 bilhões", afirmou o procurador.

Entenda o caso

Fatos que envolvem a suposta propina
Acusação – O economista Ricardo Sérgio é acusado de cobrar comissão para ajudar a montar o consórcio que comprou a Companhia Vale do Rio Doce, em 1997. A acusação é feita por Benjamin Steinbruch, que liderou a compra da Vale e se tornou presidente de seu conselho de administração.

Queixa – Após ter arrematado a Vale, Steinbruch, segundo reportagem da revista "Veja", teria se queixado em 1998 ao então ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações) e ao ministro Paulo Renato de Souza (Educação) sobre o comportamento de Ricardo Sérgio.

Valor – Segundo Mendonça de Barros, Steinbruch relatou que o valor pedido por Ricardo Sérgio era de 15 milhões de dólares ou reais. De acordo com o ministro Paulo Renato, seriam R$ 15 milhões.

O presidente – Mendonça de Barros diz ter informado o presidente Fernando Henrique Cardoso sobre o caso. FHC teria dito não saber nada sobre o assunto e teria recomendado ao ministro a não se envolver no assunto.

Bastidores da privatização da Vale
Privatização – A CVRD (Companhia Vale do Rio Doce) foi privatizada em 6 de maio de 1997. O consórcio Brasil, liderado pela Companhia Siderúrgica Nacional, de Benjamin Steinbruch, adquiriu o controle acionário da Vale por R$ 3.338.178.240.

A surpresa – O resultado do leilão causou surpresa. O consórcio favorito era o Valecom, liderado pelo Grupo Votorantim, de Antônio Ermírio de Moraes, que contava com a participação da Anglo American, do Centrus (fundo de pensão do BC), do Sistel (fundo de pensão da Telebrás), da Caemi-Mitsui e da Japão-Brasil Participação (formado por 12 corporações).

Intervenção – Para fazer frente ao Valecom, o governo FHC interveio no processo, impedindo que os demais fundos de pensão de estatais aderissem ao consórcio de Antônio Ermírio e optassem pelo consórcio de Steinbruch, que ficou assim: CSN, Previ (fundo de pensão do BB), Petros (fundo de pensão da Petrobrás), Funcef (fundo de pensão da CEF), Funcesp (fundo de pensão dos empregados da Cesp), Opportunity e Nations Bank (fundo).

Opportunity – O Banco Opportunity, o mesmo que Ricardo Sérgio favoreceu em 1998 no leilão do Sistema Telebrás, criou o Sweet River Fund (Fundo Rio Doce) para atrair cotistas no exterior. Ermírio chegou a se reunir com FHC para reclamar da concentração de fundos no Consórcio Brasil e pediu uma participação mais equilibrada. Apesar disso, o Consórcio Brasil acabou ficando com a maioria dos fundos.

PT quer a instalação de uma CPI
O vice-líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), disse hoje que pretende apresentar um requerimento de CPI para investigar denúncias de corrupção contra Ricardo Sérgio de Oliveira, envolvendo os processos de privatização da empresa de mineração Vale do Rio Doce e do Sistema Telebrás.

Segundo Pinheiro, o requerimento, que será avaliado na reunião da bancada da próxima terça-feira, não fará referência à atuação de Ricardo Sérgio como arrecadador de recursos nas últimas campanhas do senador José Serra (PSDB-SP), pré-candidato tucano à sucessão presidencial. “Queremos ganhar de Serra nas urnas e não no tapetão”, afirmou Pinheiro.

Ele defende o esclarecimento total das denúncias sobre eventuais favorecimentos na venda das duas maiores empresas estatais privatizadas no governo Fernando Henrique Cardoso. “Uma CPI terá melhores condições do que o Ministério Público para descobrir se o Ricardo Sérgio usou a estrutura do Banco Central em benefício próprio ou tinha respaldo superior”, justificou.


Câmara vota projetos sobre segurança
A Câmara dos Dep utados deve votar, nesta semana, matérias importantes na área de segurança, além de apreciar duas Medidas Provisórias, sobre crédito rural e a que fixou o salário mínimo em R$ 200 a partir de 1º de abril.

Votadas essas duas MPs, o plenário iniciará a votação dos sete projetos de lei que modificam o Código de Processo Penal, que integram o pacote de medidas relativas à Segurança Pública.

Entre os projetos estão o que altera os procedimentos da investigação policial, o que define e proíbe a produção de provas por meios ilícitos e cria regras para a produção de prova antecipada, pericial e testemunhal, e o que cria novas regras para os diferentes tipos de prisão, como prisão em flagrante, temporária e preventiva e para a liberdade provisória e concessão de fiança.

A Comissão de Relações Exteriores inicia, na quarta-feira, debates com os pré-candidatos à Presidência da República. Ciro Gomes (PPS) será o primeiro, cuja apresentação está prevista para 14h30. Já foram convidados para os debates José Serra (PSDB), Anthony Garotinho (PSB)e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Os debates têm como objetivo verificar o que os pré-candidatos propõem ao país como política externa e de defesa nacional.


Despesas pessoais para justificar verba
Deputados estaduais de São Paulo usam despesas particulares para justificar os R$ 13.150 da verba pública que recebem por mês para manter seus gabinetes na Assembléia. A prática, considerada abusiva pelo Ministério Público Estadual, é aprovada pela Casa. Em fevereiro deste ano, o presidente da Assembléia, Walter Feldman (PSDB), anunciou que todos os deputados estariam obrigados, pela primeira vez, a prestar contas dos gastos públicos. A principal mudança é que, no lugar de receberem a verba integral no início do mês, os deputados teriam seus gastos restituídos mediante notas fiscais.

A Casa, no entanto, abriu um leque de opções que permite ao parlamentar incluir em suas despesas públicas contas particulares de funcionários, como gastos com celular e combustível, e até aluguel de escritórios políticos, incluindo condomínio, água, telefones, gás e energia elétrica.

Ao permitir o pagamento das despesas de imóveis políticos -definidos pela Assembléia como "projeção do gabinete"-, o parlamentar tem a permissão para manter escritórios em qualquer lugar do Estado. Isso porque na regulamentação aprovada pela Casa não consta especificação quanto à localização do imóvel, o que dá brecha para que deputados tenham escritórios ao lado da Assembléia.

O promotor de Justiça da Cidadania Saad Mazloum, que investiga gastos dos deputados paulistas, disse que servidores não podem ter contas particulares pagas pelo erário. "Qualquer juiz, promotor ou oficial de Justiça paga suas contas de telefone e de combustível. Não existe nenhum outro Poder onde isso não ocorra."

O promotor solicitou à Assembléia um informativo sobre o ato regulador das despesas que podem ser abatidas como verba de gabinete. Os dados ainda não foram enviados pela Casa. "Se houver irregularidade, cabe uma ação civil pública por improbidade."


66 mil sem carteira assinada
Para garantir um salário, Muita gente abre mão de direitos e aceita trabalhar sem carteira assinada .

No Distrito Federal existe um contingente de 66,6 mil assalariados sem carteira assinada. Apesar de assegurar uma renda no final do mês, esta massa de trabalhadores não tem garantidos direitos trabalhistas como Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), auxílio-doença, licença maternidade, entre outros. Na outra ponta, estão 230,5 mil trabalhadores da iniciativa privada que possuem carteira assinada.

Os dados são da última Pesquisa de Emprego e Desemprego, de dezembro de 2001, feita pela Secretaria de Trabalho, Dieese e Fundação Seade-SP. O número de trabalhadores sem carteira assinada caiu 2% em dezembro de 2001 em comparação com dezembro de 2000 (68,6 mil). A PED estimou um contingente de 174,8 mil desempregados no DF.

A boa notícia é que, nos últimos três anos, segundo o secretário de Trabalho, Vatanábio Brandão, 85 mil pessoas conseguiram uma colocação no mercado de trabalho no DF. "Este é o número de postos de trabalho gerados neste período. As vagas foram criadas especialmente pelos setores de serviços e comércio", assegura.

Ele relaciona o número positivo à política de incentivo do governo aos micro e pequenos empresários, que são os que mais empregam no País. "O Pró-DF é um exemplo", ressalta.

Mas o fantasma do desemprego assusta. Entre os brasilienses, o medo de ficar fora do mercado de trabalho é tanto que eles acabam abrindo mão de seus direitos trabalhistas para ter uma renda no final do mês. "Meu sonho é trabalhar com carteira assinada. Mas não encontro emprego para ficar fichado", lamenta o pintor de automóveis autônomo, Adeildo Souza de Jesus, 33 anos.

Ele trabalha por conta própria para sustentar a família. Diz já ter se cansado de bater de porta em porta pedindo emprego com carteira assinada. "Gostaria de achar, para garantir minha aposentadoria", diz Adeildo.

Há dois anos, ele não recolhe INSS. "Não tenho direito nem de adoecer, pois se parar não recebo", destaca.

A auxiliar de limpeza Valdenir Araújo, 22 anos, também está entre os brasilienses que trabalham sem carteira assinada. "Estou em período de experiência. Mas vão assinar", garante. Ela já trabalhou outras vezes sem ter seus direitos trabalhistas assegurados.

Valdenir já trabalhou quase dois anos sem carteira assinada. "É ruim, mas aceitei porque precisava", justifica.

"O desemprego é grande e, às vezes, a gente tem de se sujeitar", acrescenta o cobrador de lotação Glaison Rocha Matos, 19 anos, que também trabalha sem carteira assinada.

Ele está há um mês no emprego e garante que seus documentos já foram recolhidos para assinatura da carteira. "É ruim ficar sem fichar porque a gente não tem o Fundo de Garantia e outros direitos", reconhece.


Brasil terá em 2010 só 10% da população no campo
A falta de oportunidades iguais às da cidade fará com que, até 2010, a população rural represente apenas 10% do total em todo o Brasil. A advertência foi feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

As estimativas apontam um panorama sombrio em um futuro mais distante: a comunidade rural deixará de existir antes de 2030.

"Quem pretende continuar no meio rural tem que ter as mesmas oportunidades de quem decidiu morar no meio urbano. No Brasil, existe grande desigualdade para quem quer ficar ou deixar o meio rural", analisou José Eli da Veiga, secretário do Conselho Nacional do Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

De acordo com Veiga, o censo demográfico de 2000 mostrou que a população rural do Brasil é inferior a 19%. A regra de contagem utilizada, entretanto, considera que toda sede de município é uma cidade. "É um erro porque um local com apenas 18 habitantes, é considerado cidade. Muitas tem menos de mil, dois mil", observou Veiga.

O secretário informou que dos 5.562 municípios, apenas 600 teriam características de cidade. Veiga afirmou que é preciso usar métodos mais sofisticados para classificar os municípios, já que um município pode ter densidade demográfica grande e número de habitantes pequeno e vice-versa.

Atualmente, geógrafos e urbanistas utilizam critérios, como tamanho da população, densidade demográfica e a localização. As regiões mais desenvolvidas no meio rural são o norte do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. "Nessas áreas encontram-se densidade de micro e pequenas empresas semelhante ao encontrado em região metropolitana", afirmou Veiga.


Empresários debatem o uso correto da água < BR>A água, o bem mais valioso do Século XXI, desperta o interesse dos empresários e da comunidade do Distrito Federal. O seminário Gestão Empresarial da Água e do Meio Ambiente reuniu, ontem, na Casa Iracema, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), mais de 300 participantes, embora o número de vagas fosse para apenas 100 pessoas.

Representantes de indústrias, shoppings centers, hotéis, hospitais e de entidades de classe debateram o assunto com o especialista, engenheiro civil e sanitarista Wilson Passeto, presidente da Organização Não-Governamental (ONG) Água e Cidade. Nos dias 15 e 16 ele estará de volta à cidade para ministrar um curso de formação de gestores da água.

"Nosso objetivo é conscientizar e mobilizar as pessoas para o uso racional da água, do abastecimento e da conservação dos rios urbanos, como forma de evitar futura escassez do precioso líquido", afirma Passeto.

Nesta primeira etapa do projeto desenvolvido pela ONG, o sanitarista paranaense pretende formar voluntários para orientar a comunidade sobre o bom uso da água. "Atuamos em três programas distintos: o primeiro visa mobilizar crianças e professores para o uso racional da água; o segundo cuida da conservação e preservação dos mananciais hídricos; e o terceiro orienta os empresários sobre gestão da água e do meio ambiente", explica o engenheiro.

Para difundir os ensinamentos sobre gestão e conservação da água, são formados os gestores. Eles atuam nas empresas orientando empresários e trabalhadores sobre o melhor uso, conservação e com vistas e evitar o desperdício do valioso líquido, que começa a ficar escasso em todo o mundo.

Wilson Passeto acredita que a população de Brasília vem sendo bem orientada nesse aspecto, com um trabalho de conscientização promovido pela Companhia de Saneamento do Distrito Federal (Caesb). "A preocupação dos moradores daqui tem fundamento, pois o Distrito Federal está situado nas cabeceiras das grandes bacias hidrográficas do País, onde o líquido não é tão abundante como na região Amazônica", alerta Wilson.

Para ele, Brasília é exemplo de conservação dos mananciais hídricos, pois a Caesb trata a maioria dos esgotos sanitários antes de despejar os efluentes nos rios. "Esta mesma preocupação deve nortear os empresários, criando neles a consciência sobre a importância do meio ambiente para a preservação da vida", diz.

Para ele, os brasilienses devem prevenir a ocupação irregular do solo, que prejudica mananciais e as áreas de preservação. E condena a abertura de poços artesianos, "antes de combatermos o desperdício, pois a água é um bem finito e os poços prejudicam os lençóis subterrâneos", orienta.


Artigos

Tempo de provocações
José Luiz Oliveira

Há poucos dias alertávamos, neste espaço, para o caldo explosivo que a proximidade das eleições derramaria sobre uma das áreas que mais tem trazido problemas à administração pública – a da habitação. Lembrávamos que o Serviço de Vigilância do Solo, o Siv-Solo, deveria ser a prioridade do GDF nestes meses que antecedem o pleito, pelo fato de ser ele o órgão responsável pela fiscalização da terra. É o Siv-Solo que detecta as ocupações irregulares e aciona os mecanismos para acabar com elas. Por isso, precisa de homens e veículos na quantidade e qualidade que a missão exige.

Não se passou muito tempo desde aquele alerta e o governo já se via às voltas com a invasão, por 800 famílias, de uma área em Ceilândia. Uma ação cuidadosamente planejada, como serão as demais que vão brotar de agora em diante. Os invasores (melhor seria chamá-los de especuladores, pois a maioria tem onde morar), conduzidos por líderes sem retidão de caráter – gente que busca lucro financeiro ou trunfo para fazer barganha política –, aproveitam o clima eleitoral para cometer o delito. Montam as barracas de lona com a certeza de que os candidatos estarão do lado deles quando a fiscalização chegar. Quase sempre têm razão.

Reconheça-se a impossibilidade de se prever invasões na calada da noite. Isso só seria viável com um eficiente serviço de informações, o que não está nas atribuições do Siv-Solo. A antecipação da polícia seria ideal, mas algo totalmente fora de cogitação pelos motivos já mencionados.

Mas a reação rápida, como ocorreu em Ceilândia, é fundamental para evitar que Brasília se transforme num campo de batalha. Deve-se ter em mente que muitos políticos incentivam esse clima. A muitos interessam a violência. Ela abre a oportunidade para se posarem de heróis, "defensores dos humildes". A outros interessam imagens chocantes. Quem sabe um cadáver?

De agora em diante – e aqui vai mais um alerta – fiscais e policiais devem tomar cuidado com as provocações durante as operações de remoção. É esta a arma que os adeptos da violência vão colocar nas mãos de inocentes, e nas suas próprias, visando a um objetivo político. Basta um passo em falso para cair na armadilha. A operação em Ceilândia, com enfrentamento e prisões, deixou isso bem claro.

Não se prega, aqui, o afrouxamento da força policial. É preciso agir com rigor, mas sem perder de vista o momento político e os interesses escondidos por trás dessas ocupações. E sem esquecer que há, entre esses invasores, gente humilde, manipulada, que precisa de orientação sobre os programas habitacionais do governo.


Colunistas

CLÁUDIO HUMBERTO

Vice dos sonhos é de barro
A deputada Rita Camata (PMDB-ES), a vice dos sonhos do tucano José Serra, é uma candidata às manchetes negativas: ela está inscrita desde 1994 no Cadin, o Cadastro de Informações sobre Créditos Não Quitados – espécie de SPC do governo federal. A inscrição de Rita de Cássia Paste Camata (CPF 001850667-47) no Cadin, segundo documento em poder da coluna, foi feito dia 31 de outubro de 1994 pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional – o que indica pendência na Receita Federal.

PC e laranja
Na edição desta semana, a capa de Veja com o PC de José Serra, Ricardo Sérgio de Oliveira, tem um fundo cor de laranja. Pura coincidência, claro.

Pensando bem...
...assunto mereceu capa, em Veja, não pela figuraça que a ilustra, mas pelo sujeito oculto que revela: José Serra.

Dois pesos, duas medidas
Dois ministros – Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações) e Paulo Renato (Educação) – contaram a Fernando Henrique que um diretor do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio de Oliveira, estaria achacando empresários em nome do caixa tucano. O presidente não tomou qualquer atitude. Já o diretor da Anatel, que acusou o Banco Central de fazer lobby em favor de empresas de telefonia, foi denunciado ao "conselho de ética" do governo.

Até o pescoço
A rigor, o presidente Fernando Henrique passou a semana envolvido no escândalo, digamos assim. Ele visitou Carajás, empreendimento da Cia. Vale do Rio Doce – cuja compra, segundo Veja, mereceu de Ricardo Sérgio a cobrança de propina no valor de R$ 15 milhões.

Gente sortuda
A agência de viagens Voetur Turismo tirou a sorte grande, mais uma vez, no Ministério das Relações Exteriores. Embolsou R$ 259,1 mil para oferecer "serviços completos de hospedagem" a cargo do cerimonial do Itamaraty.

Beleza de oferta
Dos 50% que detém nas lucrativas emissoras da Rede Paranaense de Televisão (Curitiba, Londrina, Maringá, Cascavel, Ponta Grossa, Foz do Iguaçu, Guarapuava, e Paranavaí), a Globo ofereceu 80% ao empresário Francisco da Cunha Pereira, o milionário "Chiquinho Beleza", dono da outra metade. O preço (de ocasião, segundo especialistas) é R$ 140 milhões.

Com pouco de doce
A família Coutinho Nogueira, da EPTV, que retransmite a Globo nas emissoras de Ribeirão Preto, São Carl os, Campinas (SP) e Varginha (MG), recebeu a oferta de adquirir por R$ 120 milhões os 40% que hoje são da Globopar. Os quatrocentões estão esnobando a oferta. Mas vão comprar.

Zulaiê na parada
O presidente do PSDB, José Aníbal, tem horror a prévia, e quer empurrar goela abaixo do partido a sua candidatura ao Senado, em São Paulo. Mas a parada será dura. Nas prévias do próximo dia 13, ele enfrentará duas adversárias: a deputada Zulaiê Cobra e a ex-secretária de Educação Rose Neubauer. Zulaiê, boa de briga, promete: "Vai ter disputa, sim, e no voto".

O gato comeu
O secretário de Comunicação do Planalto, Bob Vieira Costa, anda falando mal da estatal ECT, que se recusa a pagar parte da milionária campanha publicitária "8 anos". Os Correios alegam que já acabou a verba anual, de R$ 60 milhões. Como R$ 28 milhões foram gastos na compra antecipada de espaço nos veículos, ele quer saber o destino dos R$ 32 milhões restantes.

Te cuida, Barrichello
Um motorista do Tribunal de Contas da União, Luiz Antônio Ferreira da Mota, não é brinquedo, não. Ele pilota o carro oficial placa JFO 8572, do TCU, que recebeu quatro multas de trânsito, no valor total de R$ 919,36. Só uma delas custou R$ 459,68. Todas descontadas do seu modesto salário.

Sem chances
Se, numa hipótese remotíssima, José Serra retirasse a candidatura, Tasso Jereissati jamais o substituiria. Como a outra alternativa, Aécio Neves, o ex-governador não é engolido por uma boa parte do PFL, Inocêncio Oliveira à frente. Os pefelistas não entendem o jogo do seu presidente, senador Jorge Bornhausen (SC), que quer inviabilizar Serra sem ter quem colocar no lugar.

Agruras de um candidato
Duda Mendonça mandou Lula descalçar as sandálias. E agora FhC diz para Lula não calçar salto alto... Clodovil deve ser chamado a qualquer momento.

Choro do Baixinho
Seu Felipão, não sei porque, fica infeliz quando me vê.../mas os meus olhos ficam só rindo e pela mídia vou lhe seguindo./Mas mesmo assim, foge de mim.../Ah, se ele soubesse como estou descomplicado e o muito e muito que eu espero/e como e sincero meu amor/eu sei que então não ficaria mais sem mim.../Vem, vem, vem/vem sentir o calor dos chutes meus {a procura dos teus/vem formar a Seleção/que o povo tem no coração/e só assim então, serei feliz, bem feliz...

Derrapando na lei
O DNER, que já morreu e não sabe, reduziu, sem laudo técnico, a velocidade legal. Fixou nas rodovias federais velocidade inferior a 55 km/h, e vem multando como infração gravíssima motoristas a 40, 50 km/h.

São R$ 191 ou perda da carteira. O Contran estabeleceu que a velocidade mínima não pode ser inferior à metade da máxima, de 110km/h. Fica o aviso.

A coisa tá esquentando
Depois de ser acusada de "queimar" a candidatura de Roseana Sarney, a Agência Brasileira de Inteligência está equipada para fritar ou torrar qualquer coisa: acaba de adquirir (à empresa Disbrel, de Brasília) um sofisticado forno industrial a gás, em duas câmaras.

Poder sem Pudor
Perdidos na noite
Após um dia extenuante, logo nos primeiros dias como presidente, João Goulart chamou o assessor de Imprensa, Raul Ryff, meteu-se num Fusca e saiu dirigindo na noite da desconhecida Brasília, com suas avenidas largas e superquadras estranhas. De repente se deparou com um caminhão, frente a frente. Estava na contramão. O caminhoneiro gritou:

– Amigo, eu não sou daqui. Como faço para chegar no final da Asa Norte?

Jango olhou para Ryff e, divertido, desculpou-se:

– Ih, rapaz, não sei. É que eu também não sou daqui!...
E foi embora, às gargalhadas.


Editorial

RECICLAR PARA VIVER

O processamento de lixo, principalmente o industrial, será um dos temas mais presentes nas discussões econômicas nos próximos anos. O planeta Terra é um espaço limitado, e a humanidade não pára de crescer.

Por isso, é fundamental que se estude a questão do lixo com seriedade.

No Brasil, apenas 22% dos resíduos industriais são tratados. É um prejuízo grande, em duas pontas. Primeiro, porque sobrecarrega o meio ambiente e exige-se muito dinheiro com custos de armazenamento do lixo.

Segundo, porque deixa-se de ganhar um bom dinheiro e gerar empregos com a indústria de reciclagem.

O cálculo é de um mercado de R$ 1 bilhão por ano no Brasil, só para lixo industrial. Atualmente, o uso chega a R$ 240 milhões. Não é tão pouco, mas fica longe do necessário. O restante dessa conta fica acumulado e forma o que se chama de passivo ambiental: uma conta que chegou a R$ 5 bilhões na última década e será cobrada em um futuro não muito distante.

Assim como se investe nas tecnologias de indústrias, deve-se prestar atenção na reciclagem dos resíduos industriais. São dois setores que devem andar de mãos dadas, lado a lado. Não só porque é a chave para termos um planeta saudável para as próximas geração. Vale a pena também por ser um bom negócio.


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05/06/2002


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