PFL declara guerra ao Governo








PFL declara guerra ao Governo
A cúpula do partido lança a estratégia do ataque. Na mira dos pefelistas estão dois tucanos: o deputado Márcio Fortes (RJ) e o ministro da Saúde, Barjas Negri

BRASÍLIA – Enquanto na viagem ao Paraná, ontem, o presidente Fernando Henrique Cardoso pedia paz entre os partidos, em Brasília, o presidente nacional do PFL, senador licenciado Jorge Bornhausen (SC), declarava guerra. “Estamos prontos para tudo, inclusive para a guerra. Se querem guerra, vai ter guerra”, disse Bornhausen a seus comandados, boa parte ainda vivendo a intensa emoção que marcou o rompimento do PFL com o Governo na semana passada. Imediatamente, o PFL foi à guerra.

O líder do partido no Senado, José Agripino Maia (RN), ficou encarregado de convocar o ministro da Saúde, Barjas Negri, a explicar por que o Ministério da Saúde contratou, ainda em 1999, uma empresa para fazer varreduras nos telefones do ministério, à procura de grampos.

Até agora, o ministério pagou R$ 1,19 milhão à empresa contratada para identificar possível espionagem. Ao PFL causa espanto que o valor seja tão elevado, quando no Ministério dos Esportes (controlado pelos pefelistas até o rompimento com o Governo) foi de R$ 3 mil.

A diferença, segundo Agripino, “chama a atenção e pode encobrir outro tipo de ação, até mesmo a instalação de escutas telefônicas”.

Na Câmara, o líder do partido, Inocêncio Oliveira (PE), disse que não sossegará enquanto não cassar o mandato do secretário-geral do PSDB, deputado Márcio Fortes (RJ). Ele acusa o tucano de ser o responsável pelo dossiê contra a família Sarney, oferecido ao governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (PSB). “Márcio Fortes fere o estado de direito”, afirmou Inocêncio.

Tiro dado, tiro respondido. Fortes anunciou que exigirá indenização por danos morais de todos os parlamentares que assinarem o pedido de abertura de processo por quebra de decoro parlamentar contra ele.

O requerimento de Inocêncio foi entregue à Secretaria-geral da Mesa da Câmara, que o encaminhará à Corregedoria Parlamentar. Se o corregedor lhe der provimento, será enviado à Mesa, para depois seguir para o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, presidido pelo deputado José Thomaz Nonô (AL), da ala rebelde do PFL.

CPI – A guerra continuou o dia todo. Os partidos de oposição anunciaram a coleta de assinaturas para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a apurar se os telefones de Roseana Sarney e de suas empresas foram grampeados e por quem. “A República não pode ficar à mercê da arapongagem e da bisbilhotice”, disse o líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha (SP).

Inocêncio Oliveira afirmou que o PFL assinará o pedido de CPI, porque ao partido “interessa apurar a atuação dos arapongas”. O senador José Sarney (PMDB-AP), pai de Roseana, tem dito que sua família foi submetida a um processo semelhante ao Watergate – espionagem na sede do Partido Democrata, em 1974, que levou à queda do presidente norte-americano Richard Nixon. Para que uma CPI mista seja aprovada, necessita das assinaturas de 171 deputados e 27 senadores (um terço dos integrantes de cada uma das casas do Legislativo).

O presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), afirmou que tanto a CPI quanto o pedido de abertura de processo contra Fortes terão tramitação normal. No caso da CPI, pode ser instalada assim que for feita a leitura, em sessão do Congresso, o processo depende de decisão do corregedor-geral.


FHC diz que o País não pode perder tempo com “futricas”
PORTO CAMARGO, PR – O presidente Fernando Henrique Cardoso reagiu ontem às acusações do PFL, de que o Governo está trabalhando contra a candidatura da governadora Roseana Sarney. “A Presidência da República nas minhas mãos não perseguiu ninguém e nunca usou instrumento de Estado para fazer o que não deve ser feito”, disse o presidente. “Estamos de mãos limpas. Calosas sim, mas trabalhando duramente pelo bem do Brasil”, afirmou ele, ao lado do governador Jaime Lerner, do PFL, durante cerimônia de inauguração de um complexo de pontes que liga o Paraná ao Mato Grosso do Sul.

Fernando Henrique declarou ainda que sua aliança com o PFL “foi programática e não eleitoreira”, e fez um apelo ao partido para que aprove logo a emenda constitucional que prorroga a vigência da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). “O Brasil não pode perder R$ 400 milhões por semana, por causa de tricas e futricas políticas”, afirmou ele, cobrando “responsabilidade e tranqüilidade” dos ex-aliados.

Numa referência ao discurso feito anteriormente por Lerner, que defendera a conciliação, Fernando Henrique reconheceu que o País está vivendo um momento de turbulência, mas avisou: “Ela passa”. O presidente fez a seguinte avaliação: “Turbulência é como no avião. Se o piloto sabe desviar dos CBs (cúmulos-nimbos, as nuvens mais carregadas), se ele contorna a tempestade, o céu azul aparece e logo depois aparece o campo de aterrissagem”.

De acordo com o presidente, o momento “não é adequado” para a discussão de diferenças políticas. “Na hora da eleição, vamos ter as nossas diferenças, as nossas brigas e vou estar ao lado do meu partido, propugnando por uma aliança. Mas na hora de decidir, na minha administração, não vou pensar nisso e nunca pensei”, disse ele, lembrando que, durante seus mais de sete anos de Governo, ao receber a reivindicação de algum integrante de sua base partidária, nunca perguntou a que sigla de quem fazia o pedido.


PSDB arma estratégia contra a guerra do PFL
Convencidos de que os pefelistas farão de tudo para destruir a candidatura de José Serra, os tucanos já armaram duas ações para neutralizar as investidas: tentarão manter os laços com o PFL e revidarão ataques

BRASÍLIA – A cúpula do PSDB está convencida de que o PFL radicalizou e vai tentar destruir a candidatura presidencial do senador José Serra (PSDB-SP) a todo custo, para encobrir a grave crise por que passa sua própria candidatura. Diante deste diagnóstico, os dirigentes tucanos montaram uma estratégia dupla: ao mesmo tempo em que o ministro das Comunicações e coordenador da campanha de Serra, Pimenta da Veiga, assume a tarefa de tentar manter de pé as pontes com o PFL, outros dirigentes são escalados para responder às agressões e fazer a defesa do secretário-geral do partido, deputado Márcio Fortes (RJ), acusado de espionar a candidata do PFL e governadora do Maranhão, Roseana Sarney.

O PSDB quer manter o candidato e o presidente Fernando Henrique Cardoso distantes da briga, até para evitar os golpes dos pefelistas, mais agressivos a cada dia. “O presidente e Serra vão ficar fora disso”, afirmam o vice-presidente nacional do PSDB, deputado Alberto Goldman (SP), e o líder do partido no Senado, Geraldo Melo (RN). “Não vão conseguir trazer Fernando Henrique para o nível rasteiro da briga, porque ele é light”, diz Goldman.

Ontem, no Paraná, o presidente Fernando Henrique minimizou a crise, insistindo que “turbulência passa”. Serra, que já se recusa a tratar deste assunto em público, será incentivado a intensificar as viagens pelos Estados e, pelo menos na semana que vem, o presidente manterá a distância recomendável de Brasília. Sua agenda inclui viagens oficiais ao Chile e ao México.

Alguns pefelistas, como o vice-líder na Câmara, Pauderney Avelino (AM), já deixaram claro que o partido poderá até apoiar um candidato tucano no futuro, desde que o nome não seja o de Serra. Avelino citou o governador do Ceará, Tasso Jereissati, e o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), como boas alternativas para um plano “B” de reconstrução da aliança. Mas os tuca nos recusam qualquer ofensiva para trocar o candidato.

O líder Geraldo Melo diz que a recusa tem a mesma razão que o próprio PFL alegava para sustentar o apoio a Roseana 15 dias atrás: “Não se pode abrir mão de uma candidatura que tem 20 pontos nas pesquisas eleitorais”.

Pesquisas à parte, a ordem é não usar salto alto. “Temos uma candidatura forte e viável, mas não é hora de comemorar, e sim de trabalhar duro para trazer o PFL ou, na pior hipótese, dividir os pefelistas”, ponderou anteontem o governador do Mato Grosso, Dante de Oliveira (PSDB).

Em Brasília ou nos Estados, o clima entre os tucanos é de preocupação. Eles temem o efeito da ação do PFL sobre a opinião pública. “A estratégia deles é transformar o PSDB em algoz do PFL, vendendo o desastre da candidatura Roseana como uma trama urdida por nós”, resume Goldman, ao admitir que a ofensiva pefelista pode gerar prejuízos ao partido e a sua candidatura.


Lula diz que Roseana não tem como escapar de acusações
SÃO PAULO - O pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou ontem que a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, presidenciável do PFL, não tem como escapar das denúncias sobre a empresa Lunus, da qual é sócia ao lado do marido, Jorge Murad. “Acho que dificilmente ela continuará na disputa. Aquela gaveta cheia de dinheiro deixou a sociedade brasileira estarrecida, até porque seria ilegal arrecadar dinheiro para a campanha”, disse Lula, em entrevista à Rádio CBN. Para ele, Roseana tem de explicar a origem do R$ 1,34 bilhão encontrado pela Polícia Federal no cofre da Lunus. “Isso é um indício muito forte que deve ser apurado.”

Já o prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, também do PT, acha que a candidatura de Roseana ainda não ficou inviável. “A classe dominante brasileira já fez outros milagres de recuperação”, afirmou. Como exemplo, Genro citou o ex-prefeito Paulo Maluf (PPB). “Maluf está em primeiro lugar nas pesquisas ao Governo paulista, com 30% das intenções de voto, depois de tudo o que aconteceu e que ficou provado contra ele.”
Lula disse que a idéia de coligação com o PL continua nos planos do PT, já que, depois da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), não é possível fazer uma aliança com todos os partidos de esquerda por causa das diferenças regionais.


Irmão de Murad descarta relação entre dossiês
SÃO LUÍS – O ex-deputado Ricardo Murad (PSB-MA), irmão de Jorge Murad e candidato a governador no Maranhão, negou ontem que haja qualquer relação entre o dossiê sobre o Governo Roseana Sarney (PFL) que ele preparou para o candidato de seu partido à Presidência, Anthony Garotinho, e o que teria sido oferecido pelo secretário-geral do PSDB, Márcio Fortes, ao governador fluminense.

“Esse negócio do Garotinho conosco é coisa do Maranhão. Não tem essas informações vagabundas, pessoais. Aquele dossiê foi o pessoal do PSDB que preparou”, afirmou Ricardo Murad, cunhado de Roseana. Ele começou a se afastar do irmão em 1992 e rompeu em definitivo em 1994, quando Ricardo foi preterido na sucessão estadual pelo PFL, que escolheu Roseana.

As informações reunidas pelo ex-deputado incluem várias denúncias sobre a gestão de Roseana Sarney, como o pagamento de R$ 33 milhões por uma estrada que nunca foi concluída, a MA-008, que liga Arame a Paulo Ramos. Também conta detalhes sobre o processo de privatização do Banco do Estado do Maranhão, atualmente federalizado, que recebeu cerca de R$ 300 milhões de ajuda financeira e está sendo posto a venda por R$ 90 milhões.

Atualmente Ricardo Murad é secretário de Educação de um município do interior do Maranhão, Coroatá, que é administrado por um sobrinho de sua mulher, a deputada estadual Teresa Murad (PSB). No ano passado, ele e a deputada também prepararam uma denúncia contra Roseana sobre o desvio de recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef), que é formado por 15% das receitas estaduais. “Descobrimos que o Governo desviou R$ 6 milhões do Fundef. É o segundo ano que isso acontece”, diz Teresa Murad.

“Queremos mudar a situação do Governo, mas não detonar nada da vida pessoal deles.” O líder do PSB na Câmara dos Deputados, deputado José Antônio Almeida (MA), também refutou qualquer ligação entre os dois episódios. “O material de Ricardo tem informações sobre o Governo, diferentemente do dossiê que ofereceram para o Garotinho, com fotos e tudo”, disse Almeida.


PMDB cancela prévia nacional
O PMDB oficializou ontem, em resolução publicada no Diário Oficial, o cancelamento da prévia nacional prevista para 17 de março, na qual seria escolhido o candidato do partido à sucessão presidencial. O cancelamento da prévia consta da resolução Nº 1 do partido, assinada pelo presidente nacional, deputado Michel Temer (SP), e pelo secretário-geral, deputado João Henrique. A resolução do PMDB determina também que ficam sem efeito todos as atos partidários já adotados referentes à prévia.


PL ameaça não fazer aliança
Disputado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Anthony Garotinho (PSB), o PL decidiu não apoiar nenhum candidato ao Planalto se for mantida a regra para as coligações nacionais e estaduais definida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Diante disso, o senador José Alencar (PL-MG), vice dos sonhos de Lula e de Garotinho, intensificou as articulações em Minas para disputar a sucessão do governador Itamar Franco (PMDB). O presidente nacional do PL, deputado Valdemar Costa Neto (SP), avalia que a norma do TSE que obriga os partidos a reproduzirem nos Estados as alianças nacionais sepulta a idéia da composição com Lula ou com Garotinho.


Colunistas

PINGA FOGO - Inaldo Sampaio

Sangue sertanejo
Nem as três ligações telefônicas que recebeu anteontem de FHC convenceram Inocêncio Oliveira a conduzir a bancada do PFL para votar ainda esta semana a prorrogação da CPMF (imposto do cheque). Irritado com o ministro Aluísio Nunes (Justiça) por supostamente ter comandado a “arapongagem” que culminou com o afundamento da candidatura de Roseana, o líder do PFL foi curto e grosso com o presidente da República: “Por uma questão de coerência, presidente, vamos votar a CPMF. Mas só na próxima terça-feira”.

A “mão de ferro” com que o deputado pernambucano ora lidera os 97 componentes da bancada federal do PFL está surpreendendo muita gente, inclusive o presidente do partido, Jorge Bornhausen, acostumado com o seu temperamento brincalhão e o seu estilo conciliador. Mas Inocêncio Oliveira sempre foi assim: reage feito um touro brabo quando se considera ofendido por quem quer que seja.

No caso específico da sucessão, tomou para si as dores da governadora e pretende dar o troco a dois tucanos: Márcio Fortes, secretário-geral do PSDB, que teria encomendado a ex-integrantes do SNI um “dossiê” contra Roseana, e o ministro Aluísio Nunes que autorizou a Polícia Federal a invadir o escritório da empresa dela.

“O governo somos nós”
Salatiel Carvalho reuniu-se em Brasília com os tucanos Luiz Piauhylino e Sérgio Guerra a fim de articularem uma estratégia que lhes permita ficar com os cargos federais que estão sob controle dos pefelistas. “Como o PFL rompeu com o governo, o PSDB, o PMDB e o PPB é que formam a base de apoio”, disse ele. “Então nada mais justo e racional do que esses cargos serem nossos”. O deputado evangélico quer de volta a direção regional da Funasa.

Cadeira cativa
Severino Cavalcanti (PPB) faz coro com Salatiel (PMDB) e já entrou na briga com Pedro Corrêa (PPB) pelos cargos que são do PFL. “Como eu já tenho um (Delegacia Federal da Agricultura) e não sou guloso, não me interessa brigar por mais. Mas trabalharei pa ra que o Sr. Airson Lóssio deixe a presidência da Codevasf, onde se encontra há 11 anos”.

E depois???
Ranílson Ramos (PPS) sugeriu ontem a convocação do secretário José Arlindo (planejamento) à Assembléia Legislativa para explicar como fica Pernambuco depois que forem gastos os recursos da venda da Celpe. Segundo ele, as contas do Estado continuam desequilibradas porque o governo investiu R$ 500 milhões apenas em obras federais.

À moda dos tempos da velha e saudosa UNE
A 1ª eleição com disputa de chapas para o diretório acadêmico da Faculdade de Direito do professor Pinto Ferreira reviveu os tempos áureos da União Nacional dos Estudantes. Foi eleito presidente João Marcelo Lapenda Guerra.

Vice desmente entendimento com Ciro Gomes
Através do seu chefe de gabinete, Roberto Parreira, Marco Maciel desmentiu notícia da “Folha de São Paulo” segundo a qual não acreditaria mais na candidatura de Roseana e já estava conversando com Ciro Gomes (PPS).

Dona da bola
Segundo o líder Inocêncio Oliveira, as palavras de ordem no PFL depois do fracasso da candidatura de Roseana são três: “serenidade, unidade e firmeza”. Ele afirma que o partido não tomará nenhuma iniciativa para que a governadora se afaste do páreo. “Ela permanece candidata pelo tempo que achar necessário”.

Hora de reivindicar
Jarbas jantaria ontem no apartamento de Pedro Corrêa para ouvir os reclamos das bancadas estadual e federal do PPB em relação ao governo estadual. O anfitrião iria colocar para o governador que o partido desej a mais espaços no governo, já que até o dia 5 de abril haverá uma reforma no secretariado.

Romário Dias (PFL) disse ontem que o senador Jorge Bornhausen parece que desaprendeu a fazer política. “Acho que há um vírus da velha UDN incubado na cabela dele para ter feito a besteira que fez: romper com FHC e fechar as portas para o PSDB”. O presidente da AL até então desconhecia que a origem dos “Bornhausen” em SC é udenista.

Para quem era tido como “morto”, desde que se desligou de Eduardo Campos (PSB) para se aliar a Sérgio Guerra, o deputado Fernando Lupa (PSDB) está numa boa. Já tinha força dentro do governo e ontem conseguiu arrancar de Jarbas a pavimentação da rodovia ligando Paudalho a Chã de Alegria (13km).

Se há um pefelista pragmático, frio, calculista, que não está nem um pouco preocupado com o futuro da candidatura da governadora Roseana Sarney é o senador José Jorge (PE). “A única certeza que temos neste processo é que não vamos nos suicidar. Temos unidade e prazo suficientes para encontrar uma solução”, disse ele.

O prefeito Silvino Duarte (PMDB) recepciona hoje em Garanhuns Jarbas e o secretário Guilherme Robalinho (saúde). Ele ainda não tem candidato para a Assembléia Legislativa. Descartou a primeira dama Aurora Cristina e não conseguiu chegar a um entendimento com o vice-prefeito Márcio Quirino.


Editorial

PATRIMÔNIO EM PERIGO

Um aspecto que foi esquecido nos discursos comemorativos do aniversário de Olinda (e do Recife) é que, depois de 20 anos de ser agraciada, pela Unesco, com o título de Patrimônio da Humanidade, a antiga capital de Pernambuco continua arriscada a perder esse honroso título. Em 1999, essa possibilidade foi aventada por representante da organização internacional em visita ao nosso País. Logo depois, falou-se na próxima liberação de dinheiro internacional para o início de restauração de várias igrejas do Sítio Histórico da cidade, inclusive a Igreja e Convento do Carmo. Até hoje, não se viu nada nesse sentido e os monumentos continuam entregues aos cupins e intempéries. Todas as cidades históricas do mundo buscam a conquista de um título como esse, que dá prestígio, verbas a fundo perdido, além de aumentar a procura por turistas. A riqueza de Olinda, sobretudo em arte barroca colonial, é muito grande e diversificada. Basta lembrar o sucesso da exposição do altar-mor da Basílica de São Bento no Museu Guggenheim de Nova York. Apesar disso, não lhe foi fácil obter esse título. Havia resistências do governo militar, por fazerem política na cidade notórios opositores ao regime. E havia ainda outros concorrentes de peso, de Estados mais ricos e prestigiados junto ao poder central. Foi durante o primeiro mandato de Germano Coelho como prefeito da cidade que Olinda ganhou afinal o reconhecimento da Unesco como Patrimônio Cultural e Artístico da Humanidade. Sob orientação e por insistência dele, a prefeitura do município (PMO) e órgãos públicos federais e estaduais prepararam uma documentação bem fundamentada e conseguiram convencer os técnicos da Unesco a dar à cidade o cobiçado título. Assim, desde 1982 que Olinda é Patrimônio da Humanidade. Esse patrimônio está confiado à administração da PMO, ajudada por outras esferas de governo e entidades. Sucessivos prefeitos, no entanto, acharam que isso não era com eles. Com pequena arrecadação e sofrendo, como outras cidades brasileiras, de periódicas incursões indevidas em seus cofres, Olinda vem tentando fazer o que pode, sem uma participação eficaz e constante do Governo do Estado, da União e da sua população. Uma maior cooperação entre os governos municipal, estadual e federal na conservação do patrimônio artístico é, porém, o que já pregava, em 1993, numa visita a Olinda, o arquiteto Paulo Ormindo, consultor da Unesco no Brasil. Os 22 monumentos tombados numa área de 10,4 km2 de Olinda continuam subsistindo precariamente, com exceção de uns poucos que receberam cuidados, como a Sé e o Mosteiro de São Bento. Mas não são somente esses monumentos que integram o Patrimônio da Humanidade. Há o casario que se foi implantando ao longo do tempo, subindo e descendo ladeiras, espalhando-se nas colinas e na Cidade Baixa. Esse casario também deve ser preservado e conservado, segundo compromisso assumido nos documentos de concessão a Olinda do título de Patrimônio da Humanidade. Não é o que acontece. Muitas casas de antigos moradores ou adquiridas por pessoas mais abastadas estão sofrendo intervenções desastrosas, tanto do ponto de vista da memória urbana, como sob o aspecto da segurança.

Modificações e ampliações estão sendo feitas nessas casas, construídas em solo frágil e sujeito a deslizamentos. O entorno do Sítio Histórico, como o trecho inicial da Avenida Kennedy, está sendo invadido sem reação do poder público. Restos da Mata Atlântica e outras áreas verdes também estão sofrendo agressões de todo tipo. Uma coisa é certa: só com boa dose de civilização e muito dinheiro será possível salvar esse patrimônio que não é só nosso, é de toda a humanidade.


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03/15/2002


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