PFL nega que ACM seja o mandante dos "grampos" na Bahia



Os senadores do PFL negaram, durante reunião do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, nesta quinta-feira (3), que seja possível comprovar que o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) seja o mandante dos grampos na Bahia a partir das informações do jornalista Luiz Cláudio Cunha, da revista IstoÉ, sobre as conversas mantidas entre os dois relativas às escutas telefônicas gravadas clandestinamente.

Essa posição foi acompanhada pelo senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) que, após ouvir as explicações do jornalista, concluiu não ficar evidente a atuação de Antonio Carlos como a pessoa que mandou grampear o telefone do deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e de outras pessoas da Bahia.

O líder do PFL, senador José Agripino (PFL-RN), disse que -quem manda tem o poder inteiro do grampo- e que faltou ao jornalista indagar o porquê do senador baiano não ter conseguido evitar a destruição de cerca de 200 horas de gravação clandestina.

Luiz Cláudio esclareceu que o intuito do seu telefonema ao senador, na segunda conversa que manteve com ele sobre os grampos, não era reproduzir o conteúdo do primeiro contato, ocorrido no dia 30 de janeiro no Senado, onde Antonio Carlos teria declarado ser o mandante. O jornalista informou que o objetivo era preservar a revista de algum desmentido futuro. Antonio Carlos já processou a revista várias vezes e, segundo Luiz Cláudio, não venceu nenhuma.

O senador Paulo Octávio (PFL-DF) lembrou que, em mais de 50 anos de vida pública de -alta visibilidade-, Antonio Carlos passou a exercer uma influência tal que todas as decisões na Bahia acabam sendo atribuídas a ele. Ele quis saber quais as razões da revista para dar maior importância à autoria do grampo do que ao seu conteúdo com denúncias de corrupção. Luiz Cláudio respondeu a Paulo Octávio ter informado a Antonio Carlos que a apuração de casos de corrupção são demoradas, principalmente porque as gravações tinham sido destruídas. Mas que as informações do senador continuariam a ser aproveitadas como uma pré-pauta, como se define no jargão jornalístico as dicas que preparam uma futura reportagem.

Os representantes do PFL desqualificaram o depoimento do jornalista e insistiram na idéia de que a gravação, realizada pela revista, da segunda conversa mantida entre Luiz Cláudio e Antonio Carlos, não pode servir como prova a ser considerada pelo Conselho de Ética, por ter sido obtida sem autorização do senador baiano.

Os senadores Rodolpho Tourinho (PFL-BA) e César Borges (PFL-BA), que fez o maior número de intervenções, questionaram a -memória prodigiosa- do jornalista, que foi capaz de reproduzir, no prazo de uma semana, o diálogo que teve com o senador baiano no final de janeiro. O senador Demostenes Torres (PFL-GO) quis saber se a gravação da segunda conversa com Antonio Carlos tinha por objetivo incriminar o senador baiano.

O senador Romeu Tuma (PFL-SP), que já dirigiu a Polícia Federal, fez questão de esclarecer que o laudo sobre a gravação dessa segunda conversa, encaminhado à liderança do PT, contém a transcrição da fita, que foi ouvida pela primeira vez pelos conselheiros nesta quinta-feira.

O senador João Alberto Souza (PMDB-MA) questionou o jornalista sobre o uso do off para a preservação da fonte e se a posição dele não teria ferido esse compromisso. Luiz Cláudio disse que a figura do off, amplamente utilizada na época da ditadura militar e que ainda permeia a atividade jornalística, precisa ser melhor debatida e entendida na democracia. Essa questão, disse, foi sendo amadurecida pela revista até a decisão de abrir uma informação, -que é produto material de um crime que usa o aparato estatal da Bahia-.



03/04/2003

Agência Senado


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