Plínio de Arruda Sampaio defende mobilização do MST em audiência na CPI da Terra
-Sem pressão camponesa a reforma agrária não caminha-, afirmou o presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA), professor Plínio de Arruda Sampaio, durante audiência pública na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Terra realizada nesta terça-feira (15). O ex-deputado Plínio Sampaio disse ainda que a situação do campo no Brasil -é uma bomba relógio-. O professor destacou que os avanços tecnológicos diminuem a quantidade de empregos no campo e na cidade, ao passo que o número de habitantes continua crescendo.
- A população do campo vai encontrar algum canal para sobreviver e isso terá conotações de violência. Para ver o que vai acontecer é só olhar para a Colômbia que está aí do lado. A elite colombiana foi obrigada a chamar tropas estrangeiras para tentar trazer ordem ao país. Nossa geração talvez consiga segurar essa bomba, mas as próximas não segurarão e seremos os culpados por isso - afirmou o professor.
Plínio de Arruda Sampaio acredita que o único meio de evitar um futuro sombrio é dar terras à essa população carente e assim garantir meios de sobrevivência a essas pessoas. O ex-deputado afirmou que a grande concentração de terras é uma das principais causas da pobreza rural, que por sua vez gera violência tanto no campo quanto nas cidades. -Vários estudos têm demonstrado que há conexão entre concentração de propriedade da terra e pobreza-, informou.
O professor criticou a lentidão do governo em promover a reforma agrária. Neste primeiro semestre foram assentadas apenas 10% das famílias previstas para receberem terras neste ano, segundo informou. Ele disse ainda lamentar o desaparelhamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a lentidão do Poder Judiciário na desapropriação de terras e também o pagamento de indenizações exageradas quando a desapropriação ocorre.
O convidado sugeriu que a CPI crie uma comissão especial para examinar os projetos de lei existentes no Congresso sobre a reforma agrária e incentive a votação dos que agilizam esse processo. O especialista garantiu que existem no país 170 milhões de hectares de terras devolutas que podem ser utilizadas para desapropriação.
Plínio de Arruda Sampaio afirmou que as acusações de que o Movimento dos Sem-Terra (MST) incentiva a violência no campo são sem fundamento e -revelam enorme miopia- de quem as faz. Para o professor, o MST civiliza o conflito agrário, dá esperança à massa rural, que de outra forma não vê saída para o seu problema.
- O MST disciplina as massas e dá regras ao conflito. A ocupação de terras não é promovida pelo MST. É o desespero que move essas famílias. Como se pode considerar violento um movimento que só tem assassinados? - questionou.
O presidente da CPI, senador Alvaro Dias (PSDB-PR), lamentou a ausência do deputado Raul Jungmann (PPS-PE), também convidado para comparecer à audiência. O deputado foi ministro do Desenvolvimento Agrário e Alvaro Dias lembrou que a gestão de Jungmann vem sendo constantemente criticada durante as reuniões da CPI.
15/06/2004
Agência Senado
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