Política deixou rico o menino pobre



Política deixou rico o menino pobre Jader renuncia ao mandato de senador, 34 anos depois de iniciar carreira que lhe rendeu uma fortuna de R$ 30 milhões Jader Fontenelle Barbalho entregou ontem sua carta de renúncia ao mandato. O senador peemedebista pelo Pará, nascido em 1944, iniciou carreira política como vereador em Belém, sua cidade natal. No primeiro ano de mandato, 1967, tornou-se líder do MDB, partido de oposição à ditadura militar instalada em 1964. As cassações do regime autoritário já haviam atingido o pai de Jader, Laércio Wilson Barbalho, funcionário dos Correios que tinha entrado para a política como deputado estadual pelo Partido Social Democrático (PSD). Casado com uma dona de casa, Barbalhão não pôde dar vida boa aos nove filhos. Colegas de escola de Jader muitas vezes o ajudaram a pagar passagens de ônibus. Mas o menino pobre viraria o jogo: construiu uma fortuna estimada hoje em R$ 30 milhões e montou um império de poder que lhe garantiu cinco mandatos parlamentares e dois executivos, a presidência do PMDB e a do Senado, além de cargos de primeiro escalão no governo federal. Quando se elegeu vereador, Jader tinha apenas 22 anos, mas já tratava de temas nacionais. Propôs em 1968 ''profundo pesar pelo brutal assassinato do estudante conterrâneo Edson Luís Lima Souto'', morto no Rio em ação repressiva da ditadura militar. Regularidade - Em 1970, mesmo ano em que se tornou advogado, elegeu-se deputado estadual, também pelo MDB. Em 1974 conquistou uma vaga na Câmara Federal, reelegendo-se quatro anos depois. Com a extinção do bipartidarismo, em 1979, filiou-se ao PMDB, pavimentando sua trajetória de homem de um partido só. Elegeu-se em 1982 governador do Pará. Ao assumir o governo, já tinha um patrimônio de R$ 1,7 milhão, em valores atuais. Às vésperas de seu primeiro mandato de deputado federal, em 1974, era dono de uma casa, um fusquinha e algumas jóias. Jader governou o estado demonstrando preocupação social. Seu foco - problemas de natureza fundiária e desapropriações para assentamentos de famílias - teria conseqüências que ele não poderia prever. Enfrentou a primeira acusação em 1985. O ''escândalo de Aurá'', nome da gleba de um financiador de sua campanha, chegou aos tribunais como um caso de desapropriação superfaturada, rendendo ao governador uma condenação em primeira instância e uma absolvição na revisão da sentença. Ministério - Mas isso foi só o começo. Conhecido por sua atenção aos conflitos fundiários, Jader ganhou do primeiro presidente da redemocratização, José Sarney, no próprio 1987 em que teve fim seu mandato de governador, o cargo de ministro da Reforma e Desenvolvimento Agrário. No mesmo ano, acumulou a presidência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, o Incra. Em julho de 1988, trocou um ministério por outro, assumindo a Previdência e Assistência Social, até 1990. Os períodos como governador e ministro viriam a se tornar pesadelos na vida de Jader. Há o caso Banpará, em que é acusado de desviar pelo menos R$ 5,7 milhões do banco quando governava pela primeira vez o Pará; e as dezenas de denúncias relacionadas à sua gestão na Reforma Agrária, no Incra e mesmo na Previdência Social. Além disso, o desvio de verbas da Sudam, extinta este ano com um rombo de R$ 2 bilhões, teria beneficiado Jader e pessoas ligadas a ele. Imagem - Em 1990, contudo, Jader Barbalho reconquistou o governo paraense. Na posse, tratou de negociar com o presidente Fernando Collor de Mello, para, no ano seguinte, dar apoio ao seu impeachment. Com a ascensão do vice Itamar Franco à Presidência da República, Jader se opôs à política econômica de Fernando Henrique Cardoso, que trocaria o Ministério das Relações Exteriores pelo da Fazenda. Em abril de 1994, Jader desincompatibilizou-se do governo para disputar a eleição ao Senado, ''preparado para ser oposição''. Eleito, tornou-se líder do partido. Tentou sem sucesso, em 1995, a presidência do Senado, conquistada pelo correligionário José Sarney. Ao lado de outros líderes do PMDB, que se tornaram os ''rebeldes'' do partido, pressionou o governo por mais espaço de decisão, ameaçando romper a aliança e não apoiar a emenda da reeleição. Nesse mesmo 1995, o patrimônio de Jader atingiu seu auge, avaliado em R$ 37,8 milhões, e só reduzido por conta da separação de Elcione Barbalho. ACM - Dois anos depois, porém, com a vitória de Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) à presidência do Senado, o PMDB de Jader contribuiu para que a emenda da reeleição fosse aprovada. Em 1998, foi a vez de o partido dar seu apoio à recandidatura de FH. Derrotado na terceira tentativa de se eleger governador, em 1998, Jader conquistou a presidência do PMDB. Novamente líder do partido, criou em 1999 a CPI dos Bancos. No ano seguinte iniciaria um enfrentamento com ACM, pelo saldo político do aumento do salário mínimo, que levaria à renúncia dos dois. A briga evoluiu para um ano inteiro de acusações mútuas, que resultaram na primeira censura por escrito, a ACM e Jader, da história do Senado. Em dezembro, agora tentando impedir Jader de sucedê-lo na presidência do Senado, ACM apresentou denúncias sobre os períodos em que Jader fora governador e ministro. O auge da agressividade ocorreu quando Antonio Carlos Magalhães tentou interromper discurso de Jader e foi repelido. ''Calado. Ouça caladinho aí. Não lhe concedi o aparte.'' ''Viúvas'' - Com o apoio do governo, o senador paraense conseguiu eleger-se presidente do Senado, em fevereiro deste ano, apenas três meses antes de o político baiano renunciar, na esteira do escândalo da fraude no painel de votação do Senado. As denúncias contra Jader não pararam de se multiplicar, atribuídas sempre às ''viúvas de ACM''. O resultado foi a instauração de investigação pelo Conselho de Ética do Senado. Uma comissão de senadores iniciou apurações e teve seu relatório, pedindo a abertura de processo por quebra de decoro parlamentar, aprovado. A decisão foi para a Mesa do Senado que, aceitando a abertura do processo, inviabilizaria a renúncia. Jader licenciou-se e, depois, renunciou à presidência do Senado. ''Decidi encontrar esse caminho para colaborar com a instituição. Estávamos diante de um impasse'', percebeu. Afinal, desistiu do mandato para não perder os direitos políticos. Agora, mira nas eleições de 2002, em que pode tentar o terceiro mandado de governador do Pará ou a volta ao Senado. Fortuna - Após 34 anos de carreira política, Jader Fontenelle Barbalho é dono de uma fortuna calculada em R$ 30 milhões. Tem uma rede de televisão, um jornal, emissoras de rádio, fazendas, imóveis, gado e até aviões. Separado da deputada federal Elcione Barbalho, também do PMDB, casou-se com uma sobrinha dela, Márcia Cristina Zahluth Centeno. Tem três filhos, um dos quais, Helder, é vereador pelo PMDB em Ananindeua, Região Metropolitana de Belém. Tereza Grossi é afastada do BC Justiça Federal obriga Banco Central a afastar diretora por temer que ela produza provas que a absolvam do caso Marka BRASÍLIA - Seis dias após a publicação da sentença do juiz da 22ª Vara Federal de Brasília, Rafael Paulo Soares Pinto, o Banco Central afastou temporariamente dos cargos a diretora de Fiscalização, Tereza Grossi, e o consultor da presidência da instituição, Alexandre Pundek. O afastamento foi comunicado, em nota oficial, ontem à tarde. ''O Banco Central confia que a decisão será revertida no Tribunal Regional Federal'', conclui a nota assinada pelo presidente da instituição, Armínio Fraga. Pela manhã, Tereza Grossi trabalhou normalmente na sede do BC em Brasília. A autarquia alegou que não havia recebido o ofício da justiça. A 22ª Vara da Justiça Federal informou, porém, que o ofício foi entregue às 15h de quarta-feira e assinado pelo procurador José Anjos. Além do afastamento do cargo, a decisão de Soares Pinto determina o bloqueio de todos os bens e a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de Tereza, Pundek, dos ex-diretores do BC, Claudio Mauch e Demósthenes Madureira de Pinho Neto, da consultora do banco Maria do Socorro Costa de Carvalho, do ex-presidente do BC Francisco Lopes e do banqueiro Salvatore Cacciola, dono do Banco Marka, que está foragido na Itália. Todos são réus numa ação de improbidade administrativa assinada pelos procuradores da República em Brasília, Alexandre Camanho, Guilherme Schelb e Luiz Francisco de Souza. O Ministério Público Federal acredita que a operação de socorro ao Marka, quando o Banco Central vendeu dólares abaixo da cotação do mercado para a instituição honrar seus contratos na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), está recheada de irregularidades. A operação, realizada em janeiro de 1999, resultou num prejuízo de R$ 1 bilhão para o Banco Central. A sentença do juiz Rafael Paulo Soares Pinto é um forte golpe no poder de Tereza Grossi. O Jornal do Brasil teve acesso à decisão do juiz da 22ª Vara Federal de Brasília, que está sendo mantida em segredo de justiça. São vinte e três páginas e Tereza Grossi é a única a ter o nome citado diversas vezes na argumentação de Soares Pinto. ''Havendo indícios veementes de criação de fatos pelos envolvidos, a fim de justificar a operação com o Banco Marka, conferindo ao socorro aparência de legalidade e moralidade, revela-se evidente que a permanência dos requeridos, em especial, da Tereza Grossi pode interferir na produção de prova documental na ação de improbidade administrativa'', afirma o juiz. Proteção- Em outro trecho, Soares Pinto ressalta que a ação apresentada pelo Ministério Público ''revela indício de que procuradores autárquicos do Banco Central do Brasil lotados no Rio de Janeiro alegaram existir determinação da Procuradoria-Geral do Banco Central no sentido de defender a Diretora de Fiscalização''. O juiz diz ainda que o afastamento ''visa preservar'' a investigação do Ministério Público Federal e evitar o risco ''dos requeridos encomendarem ou produzirem novos documentos''. Duas provas apresentadas pelos procuradores na ação cautelar foram consideradas de extrema importância pelo juiz para justificar a sua decisão. Uma delas é a carta da Bolsa de Mercadorias e Futuros alertando sobre um possível risco sistêmico e que serviu de justificativa para a ajuda do Banco Central ao Banco Marka. A carta é de 15 de janeiro de 1999, um dia depois da operação de socorro do BC, e supostamente foi elaborada por Tereza. ''A carta endereçada pela BM&F ao Bacen é irregular, não só no que diz respeito à data, mas principalmente, na divergência entre a cautela da BM&F e o não uso dos suficientes mecanismos que garantem a integridade do mercado'', afirma o magistrado. Na avaliação do juiz, devido ao fato de Tereza ocupar um posto de comando no Banco Central e ter acesso a informações privilegiadas, existe o risco de que ela ''possa influenciar na produção de provas tal como, supostamente fez com a carta da Bolsa de Mercadorias e Futuros e, ainda, com o parecer providenciado pelo jurídico, posterior à operação''. Lula recebe as bênçãos da Universal Igreja do bispo Edir Macedo faz autocrítica e perde preconceito em relação ao PT, mas a recíproca não é verdadeira BRASÍLIA - A saída do senador José de Alencar do PMDB para o PL mineiro abriu mais uma brecha para o namoro entre o partido que abriga a maior parte da bancada evangélica da Câmara dos Deputados e o PT. José de Alencar, que é católico e cotadíssimo para compor uma chapa na vice de Luiz Inácio Lula da Silva, já tem o aval do partido e dos bispos da Universal para levar o namoro com Lula adiante. Já está agendado para as próximas semanas um encontro, em Brasília, entre Lula e o líder da Universal, bispo Edir Macedo. Oficialmente, o PL diz que tem entendimento com todos os candidatos da oposição. Mas no que depender do deputado bispo Carlos Rodrigues (PL-RJ), líder da bancada evangélica na Câmara, não há nenhum impedimento para que o namoro com o PT vire noivado e, quem sabe, até casamento. A Igreja do bispo Edir Macedo, que na campanha de 1994 escreveu no jornal Folha Universal que ''Lula se consultava com exus'' e era o ''o candidato do marginalidade e do caos'', já não vê mais o petista como a encarnação do demônio. ''Não tem mais essa de que o diabo é barbudo e tem quatro dedos. Isso era preconceito nosso, que se esvaiu nos anos em que eu estou na Casa'', garante o bispo Rodrigues. ''Não é justo um movimento religioso virar sua força contra um candidato. Éramos ignorantes quanto ao PT''. Garotinho- O bispo reconhece que o PT é um partido nacional, com cara de oposição, e que a Igreja pode vir a apoiá-lo oficialmente, embora Lula dispute esse apoio com o governador evangélico do Rio, Anthony Garotinho. No Rio, o PL apóia Garotinho e Rodrigues tem pessoas indicadas no governo, entre as quais a presidência da Loteria estadual (Loterj). O candidato que a Universal apoiará será definido depois do Carnaval, junto a um conselho de 70 bispos da igreja. ''Não vamos fazer campanha contra ninguém'', promete o deputado. O deputado-sindicalista Luiz Antônio de Medeiros (SP), que não é da igreja, mas é do PL, também acha esse namoro com o Lula interessante: seria uma oportunidade de retomar-se uma aliança da Força Sindical com o PT que foi desfeita em 1979. Vetados R$ 16 bilhões no Orçamento de 2002 Líder do governo diz que gastos adicionais são eleitoreiros BRASÍLIA - O governo decidiu vetar ontem cinco propostas de aumento, além de emendas coletivas de parlamentares ao Orçamento da União para 2002, no valor total aproximado de R$ 16 bilhões. Foi rejeitada a aprovação dos aumentos da tabela no imposto de renda das pessoas físicas (R$ 5,2 bilhões para a União, Estados e Municípios), de 7% para o funcionalismo público, (R$ 1,4 bilhão) do salário mínimo, de R$ 180 para R$ 200 (R$ 2,2 bilhões) e de mais R$ 1,2 bilhão para o Ministério da Saúde, além da renegociação das dívidas dos pequenos agricultores, calculadas em R$ 1,6 bilhão. ''Os gastos adicionais são inviáveis e devem ser considerados como bandeiras eleitoreiras da oposição para eleger candidato à presidência da República ano que vem'', justificou o líder do governo no Congresso, deputado Artur Virgílio (PSDB-AM) após a reunião, no palácio do Planalto, das lideranças dos partidos aliados com o Secretário-Geral da Presidência, Aloysio Nunes Ferreira. Estavam também presentes o relator Sampaio Dória (PSDB-SP), e os ministros da Fazenda, Pedro Malan e do Planejamento, Martus Tavares. Os ministros disseram que o corte das emendas dos parlamentares, que totalizam R$ 5,2 bilhões serão mantidos, se a prorrogação da CPMF até 2003, que gera R$ 9 bilhões de receita, e a taxação dos inativos, que arrecadará mais R$ 1,4 bilhão, não forem aprovadas até o final do ano. Numa tentativa de acordo, os parlamentares propuseram acelerar a liberação das emendas dos parlamentares, que até agora só atingiram 12% de execução financeira, e diminuir o valor das emendas para o ano que vem. O PFL se rebelou na reunião. O deputado Santos Filho (PFL-PR) defendeu o aumento do salário mínimo para R$ 200 e o reajuste nas tabelas do imposto de renda. ''Se não defendermos essas bandeiras vamos perder as eleições. Não vou botar minha cabeça a prêmio'', disse o pefelista. Mas Artur Virgílio conclamou os aliados do governo a não temer o ano eleitoral. ''Não é possível ser político Bin Laden (Osama Bin Laden terrorista refugiado no Afganistão) e ficar escondendo a cara. Tem que ir à tribuna, rebater e argumentar'' defendeu o líder. Artur criticou as lideranças governistas que estão pregando propostas defendidas pelos candidatos de oposição à presidência, como Lula, do PT e Ciro Gomes, do PPS. ''A base aliada precisa ter visão política. Acreditar mais em choque de segurança e menos nas promessas dos candidatos. Olha o exemplo da Argentina. O ministro da economia, Domingo Cavallo, prometeu o purgatório e ganhou o inferno'', alertou o líder. O ministro da Fazenda, Pedro Malan, disse que a situação financeira do país é ''dramática''. Não comporta aumentos na proposta orçamentária do governo por quatro motivos. Dois se referem às exigências dos dois acordos com o FMI. Até dezembro do ano que vem o governo terá de cortar R$ 6,6 bilhões nas suas despesas para atingir o superávit primário de R$ 45,7 bilhões, conseqüência da exigência do fundo de aumentar de 3% para 3,5% do PIB. O terceiro motivo alegado foi o impacto da crise energética na economia. que deverá afetar o crescimento do PIB. Além disso, a incerteza que se criou com os atentados terroristas nos EUA na economia mundial poderão provocar ''novas surpresas''. Os ministros Malan e Martus reclamaram ainda da divisão da base governista e fizeram um apelo para que todos cheguem a um consenso que permita a votação do Orçamento da União para o ano 2000 até 28 de dezembro numa demonstração internacional de coesão do Congresso. O relator do Orçamento, deputado Sampaio Dória (PSDB-SP), criticou a posição do PFL e pediu que o relator da proposta que aumenta o desconto na tabela do IR, deputado Mussa Demes (PFL-PI) mude o parecer. ''É impossível atender aos pedidos para aumentar a proposta orçamentária, mesmo porque muitas das receitas ainda dependem de julgamento do Supremo Tribunal Federal'', disse. Para atender os pedidos que totalizam R$ 16 bilhões, o relator só conta com R$ 5,6 bilhões de receita. Ele vai tirar R$ 1,8 bilhão da reserva de contingência, mais R$ 3,8 bilhões da cobrança do IR dos fundos de pensão ainda dependendo de dois votos de ministros do STF. O relator não acredita na possibilidade de aprovação da emenda constitucional que taxa os inativos (R$ 1,4 bilhão de receita) e muito menos da PEC dos combustíveis que promoveria mais R$ 4 bilhões de arrecadação mas provocaria novos aumentos em pleno ano eleitoral. ''É remota a chance de aprovação dessas duas emendas. O Congresso deverá deixar para o Executivo a responsabilidade pelos cortes que vai fazer'', defendeu Dória. PMDB indica Suassuna para Integração Nacional BRASÍLIA - O presidente Fernando Henrique Cardoso vai nomear hoje o senador Ney Suassuna (PMDB-PB) como o novo ministro da Integração Nacional. O nome do senador foi encaminhado no início da noite de ontem ao presidente pelo líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), durante encontro no Palácio do Planalto. A indicação do senador foi a única opção do partido para a vaga, recusada pelo senadores José de Alencar (MG) e José Fogaça (RS), que deixaram o PMDB e foram para o PL e PPS, respectivamente. O presidente formaliza hoje o convite a Suassuna, mas vai adverti-lo de que sua permanência no cargo poderá ser de apenas dois meses, já que ele pretende realizar ampla reforma ministerial até o final do ano. Ainda que não haja a reforma, Suassuna, que é candidato ao governo da Paraíba, só fica no governo até 6 abril - data que a lei estabelece para que candidatos se desincompatibilizem de funções executivas. Suassuna admitiu ontem a interlocutores que deseja o ministério, mas não abre mão da candidatura ao governo paraibano. Fernando Henrique pretende esperar até segunda-feira para empossar o novo ministro. Ele quer aguardar o final do prazo para as filiações partidárias, que se encerra à meia-noite de sábado. Ex-presidente da Comissão de Economia do Senado e atual presidente da comissão de Fiscalização e Controle, o senador Ney Suassuna sempre manteve um bom entendimento com os ministros da área econômica. Foi relator da lei de Patentes e é considerado um dos interlocutores preferidos do ministro da Fazenda, Pedro Malan. Embora seja paraibano, Suassuna, que é dono do Colégio Anglo-Americano, mora e tem seu escritório na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e se considera carioca de coração. O ex-governador Marcello Alencar costumava dizer que o único senador do Rio era o paraibano Suassuna. Esta é a terceira vez que Suassuna é cotado para ocupar a pasta da Integração Nacional, mas nunca conseguiu o apoio do PMDB. Seu nome foi lembrado na época há dois anos, mas acabou preterido pelo senador Fernando Bezerra (PTB-RN), que permaneceu no cargo por um ano. Depois, foi a vez de Ramez Tebet (PMDB-MS) assumir a pasta, na qual ficou apenas três meses, quando renunciou ao cargo para se eleger, há uma semana, presidente do Senado. Suassuna vai assumir um ministério politicamente esvaziado, após a extinção das superintendências da Amazônia (Sudam) e do Nordeste (Sudene), mas com pelo menos R$ 800 milhões em verbas. Também o projeto de transposição do Rio São Francisco foi substituído por um programa de limpeza e recuperação. Artigos Drogas, armas e terror Cesar Maia Nenhum acontecimento nestes 100 anos teve uma cobertura mais densa e diversificada do que os atos terroristas de setembro último nos Estados Unidos. Escritores, professores, especialistas, jornalistas, economistas, políticos, enfim, a elite intelectual do mundo teve espaço para opinar e estabelecer um debate do mais alto nível. Procurei ler o máximo que o tempo me permitiu e concluí que tratar do assunto seria repetir uma dessas opiniões. No entanto, pareceu-me que dois assuntos não tiveram as análises e informações exigidas: o tráfico internacional de drogas e o tráfico internacional de armas. Fico pensando se a passividade - às vezes até a cumplicidade - das grandes potências diante dessas duas questões, em diversos e graves momentos da história recente, não terá inibido a manifestação de opiniões. As guerras do Vietnam, nos anos 60-70, e do Afeganistão, na década de 80, certamente não foram exceções. Na guerra dos afegãos contra os russos, uma via de duas mãos trazia armas e levava drogas como fonte de financiamento. É difícil, hoje, citar um só movimento terrorista, incluindo as guerrilhas colombianas, em que o tráfico de drogas e de armas não seja o sangue que abastece as suas artérias. O ópio, e portanto a heroína, é o principal produto de exportação do Afeganistão, responsável que é por três quartas partes da produção mundial. Qualquer um que saiba fazer contas é capaz de imaginar que a fortuna de um dos 51 irmãos da família saudita Laden não pode ser comparada, nem de longe, com os recursos disponíveis para os talibãs, originados na produção de ópio. O corredor do tráfico de drogas Afeganistão-Paquistão termina na Conexão Turca que abastece a Europa de heroína. Os guerrilheiros afegãos, no início da invasão russa, portavam armas da Primeira Guerra Mundial. Hoje, nenhum homem deixa de ter seu fuzil Kalishinikov à disposição. Por aqui, os guerrilheiros e traficantes usam os AR-15. Tanto de um lado quanto de outro, são produtos do tráfico internacional de armas. Nem mesmo os mais ingênuos acreditam que as redes do terrorismo internacional, com suas inúmeras organizações, se financiam com as sobras da fortuna de alguns de seus membros, com aplicações em bolsa ou com financiamentos oficiais de suas bases de origem. É claro que redes como essas, devido à sua diversidade e capilaridade, precisam de fontes autônomas de financiamento que só o tráfico internacional de drogas pode garantir. E ninguém imagina que as armas usadas venham de alguma loja legal ou que eles consigam se deslocar de uma base de origem para outra com essas armas escondidas em suas malas. É evidente que eles se abastecem - tanto quanto os traficantes do lado de cá - no tráfico internacional de armas. A decisão dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha de deflagrar uma guerra, sem tréguas e sem data para terminar, contra o terrorismo internacional só pode receber apoio e elogios. No entanto, seria enxugar gelo imaginar que essa guerra contra o terrorismo internacional pode produzir resultados práticos se, junto com ela, os dois países não resolverem combater o tráfico internacional de drogas e de armas com a mesma determinação e convocando todos os países para isso. Nas artérias do sistema sanguíneo do terrorismo internacional correm, junto a seus atos, drogas e armas. O momento não poderia ser mais favorável a um ataque decisivo ao tráfico de drogas e de armas. Essa luta sem fronteiras traria a solidariedade do mundo todo, ou quase. Traria a compreensão das pessoas. Mostraria que nas artérias do terrorismo circulam os elementos que afetam a quem aparentemente está longe da brutalidade de seus atos, também submetido a atos tão brutais que atingem a todos, direta ou indiretamente, em tantos países. Morreram barbaramente, ao mesmo tempo, mais de 5 mil pessoas nas torres do WTC. Morrem a conta-gotas, todos os dias, no Rio, pessoas em número que, no final do ano, supera o de mortos no dia 11. Lá, a barbárie do terror. Aqui, a barbárie das drogas e das armas. Ambas são partes de um mesmo sistema que se nutre dos mesmos elementos e cresce numa trágica simbiose. Espera-se que a passividade e a convivência de tantos países anteriormente envolvidos com esses fluxos de drogas e armas se transforme, agora, na mais ampla e intensa ação de eliminação do tráfico internacional do terror, do tráfico internacional de drogas e do tráfico internacional de armas. Sem isso, a sensação que se tem é de que a rede de terror, liquidada num ponto, renascerá em outro, irrigada pelos glóbulos brancos e vermelhos das drogas e das armas. Colunistas COISAS DA POLÍTICA – DORA KRAMER Fato da mais alta irrelevância O dia e a hora em que a carta-renúncia de Jader Barbalho foi protocolada no Senado só é relevante para ele próprio. Aos demais mortais, tenham eles mandatos ou não, tanto faz como tanto fez. Se o senador porventura quisesse ter adotado o ritmo que usou durante todo o processo, que foi o de nunca dar um passo desnecessário antecipando-se aos prazos regimentais, também estaria bem. Dispunha de tempo para isso até o pronunciamento da Mesa diretora sobre a abertura do processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética. Decidiu diferente, porém, no início da noite, e deve ter tido seus motivos e feito contas de custo e benefícios para isso. Isso, no entanto, não é o mais importante no momento. O fundamental agora é que o debate em torno do instrumento da renúncia como salvaguarda antecipada à sobrevivência política de acusados - seja por desvio de verbas ou fraudes em procedimentos parlamentares - não caia no vazio. Todos lembram-se que, quando José Roberto Arruda e Antonio Carlos Magalhães violaram os votos secretos da sessão que cassou Luiz Estevão, houve uma grita geral em favor do fim do voto sob sigilo. O assunto está em tramitação na Câmara, mas o tempo passou e ninguém mais fala nisso. O mesmo acontece em relação ao tema das suplências e ao nefasto vale-tudo que compõe as normas para escolha de suplentes. Vale filho, pai, primo, tio, financiador de campanha, secretárias, o pedreiro que fez a obra da casa (sim, já houve disso), assessores e até parceiros de negociatas. Vale também acertar previamente licenças do titular para dar ao suplente sem-voto o gostinho de sentar aonde suas credenciais não lhe permitiriam estar. O tema vai e vem, mas Suas Excelências não parecem suficientemente motivadas para modificar a situação que, além de primitiva, é de um ridículo atroz. Pois muito bem, parece que agora, diante de tantos afastados do convívio parlamentar que manifestam a disposição de voltar a seus lugares perdidos, já na eleição do ano que vem, há uma convicção coletiva de que algo deve ser feito para impedir a distorção. Espera-se que, desta vez, os ânimos não se arrefeçam. Mesmo porque, no ano que vem, quando - e se - aqueles que foram afastados estiverem de novo no Congresso - ou nos governos dos estados - como se nada tivesse acontecido, caro leitor, tenha certeza: este Brasil não suportará descobrir que era mentira a história que passamos o ano contando sobre a evolução dos costumes e os amadurecimentos político, social e moral de nosso país. Amigo da onça Quando Fernando Henrique diz que muito pior que perder a eleição é ver o Brasil fora da Copa do Mundo, certamente reproduz o que vai à alma popular - até porque porque o torcedor não é candidato - mas dá uma de amigo da onça daquele que vier a ser o postulante governista à sua sucessão. Talvez não dissesse a mesma coisa se fosse ele a disputar o cargo. Entre outros motivos porque se a tragédia futebolística se concretizar, até 2008 a Seleção terá duas oportunidades para se recuperar, enquanto que o eventual perdedor de 2002, em tese poderá ficar oito anos no ora veja. Reposição factual A ausência de Mário Covas entre nós facilita bastante a disseminação da versão de que ele queria que o candidato à Presidência fosse Tasso Jereissati. Com isso, estabelece-se uma discussão em torno de suporta divergência de posições entre o que era o desejo de Covas e a decisão de seu sucessor, Geraldo Alckmin, de apoiar José Serra. Covas, numa das vezes que saiu do hospital, de fato disse que o governador do Ceará deveria assumir o quanto antes a posição de candidato. Isso todo mundo sabe. O que muita gente desconhece é que tratava-se de uma tática de Covas para forçar Serra a pedir-lhe a benção política para lançar-se à empreitada rumo ao Planalto. Mário Covas, mesmo doente, queria influir e, além de defender a tese de que o campo governista deveria pôr seu bloco eleitoral na rua já no ano passado, tinha severas críticas à autosuficiência de Serra. Mas para ele, e para a sobrevivência de todo o seu grupo político, muito melhor que o candidato saísse de São Paulo. Tanto as coisas são assim, que Alckim - cujo estilo pessoal e fidelidade a Covas não permitiriam traições nem à luz da eternidade - explicita sem hesitação apoio a Serra. Inútil paisagem Esse Ministério da Integração Nacional, cuja intensa rotatividade impõe mais uma vez a vacância do titular, está na situação daqueles romances onde os protagonistas vivem a intensa desconfiança de que aproxima-se a hora de acabar. O Palácio do Planalto não sente a menor falta de um ministro da Integração Nacional, o país então nem se fala e o PMDB, dono do lote, não tem quem indicar. O único que quer, o senador Nei Suassuna, o partido - à exceção do líder do PMDB no Senado - não quer. A inutilidade da pasta só não é maior do que aquela ocupada durante algum tempo pelo PFL - o Ministério das Relações Institucionais - que ganhou o apelido de Mirin antes de morrer por inanição. Editorial Aula de Comunicação Algumas empresas brasileiras continuam refratárias aos meios de comunicação. Temem os efeitos da exposição de seus problemas e se sentem fragilizadas diante do trabalho do mais humilde dos repórteres. Fecham as portas à imprensa e à publicidade, acreditando piamente que este é o melhor método para resguardar a imagem. Estão redondamente enganadas e na contramão da história. O mundo hoje é regido pela transparência. Deviam se espelhar na extraordinária lição que a Petrobras deu ontem, ao publicar nos principais jornais do país um anúncio de página inteira denunciando a pirataria tributária da qual se sente vítima. De forma cristalina e corajosa, a Petrobras tomou a iniciativa de esclarecer a opinião pública sobre a verdadeira dimensão do golpe. Longe de se intimidar, trouxe a questão à tona em toda a dramaticidade. A sociedade ficou sabendo que - sob a alegação de que a Petrobras não repassa aos governos estaduais o ICMS retido no ato da venda dos combustíveis - pequenas distribuidoras de petróleo entraram na Justiça com ações milionárias de reparação de danos contra a estatal. Mais grave e surpreendente: os pedidos, apesar de eivados de má-fé, estão tramitando em tempo recorde, com os juízes dando ganho de causa aos reclamantes. De acordo com a denúncia, as ações são apreciadas em prazos curtíssimos, às vezes em menos de 24 horas, ''sem que a Petrobras tenha oportunidade de defesa e sem que se realize a necessária perícia na documentação apresentada pelas distribuidoras''. A decisão sai a toque de caixa e os oficiais de justiça recebem imediata autorização para retirar das contas da Petrobras o valor demandado. A ofensiva contra os cofres da empresa estatal começou na Justiça de Goiânia, mas rapidamente se espraiou para Tocantins e o Distrito Federal. Até o momento, a Petrobras conseguiu evitar desfalque maior, pois de, um total de R$ 526 milhões em litígio, somente R$ 72 milhões foram efetivamente sacados. Também está se empenhando para ser ressarcida por quantias sacadas de seu caixa, sem exame isento e aprofundado do mérito das ações. Prova inconteste do empenho da Petrobras em defender seu patrimônio - e, portanto, o de seus acionistas - foi o anúncio que mandou publicar nos jornais. O melhor instrumento para denunciar golpes e manobras são os meios de comunicação. A informação ampla e transparente - seja em reportagens e manchetes, seja na forma de publicidade - é o melhor antídoto contra tentativas de chantagem e achaques. Uma vez tornado público, o problema deixa de pertencer ao universo restrito da empresa. Passa a preocupar toda a sociedade. E o Judiciário tem a obrigação de tomar as providência cabíveis. Nesse sentido, louve-se mais uma vez a coragem da Petrobras. Topo da página

10/05/2001


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NICOLAU DIZ QUE JÁ ERA RICO QUANDO CURSAVA DIREITO

José Jorge diz que eleição de 2004 é a primeira do "PT rico"

Instituto Biológico reúne rico acervo à disposição dos interessados

Barueri passa a ser o segundo município paulista mais rico