PPS, PTB e PDT reafirmam aliança
PPS, PTB e PDT reafirmam aliança
Patrícia Pillar, mulher de Ciro, participou do encontro mostrando a cabeça raspada
Depois de três horas de reunião no Rio, os presidentes do PPS, Roberto Freire, do PTB, José Carlos Martinez, e do PDT, Leonel Brizola, reafirmaram ontem o compromisso de formar uma frente trabalhista em apoio à candidatura presidencial de Ciro Gomes (PPS).
A coligação será reproduzida nos Estados, com candidatos aos governos e ao Senado.
As decisões foram tomadas num almoço no apartamento de Brizola, com a presença da atriz Patrícia Pillar, mulher de Ciro. Patrícia, que no início do ano anunciou ter retirado um câncer de mama e se submete a quimioterapia, não se incomodou em ser fotografada com a cabeça inteiramente raspada. Ciro explicou a presença de Patrícia no almoço:
– Minha mulher tem passado por um momento de muita coragem, mas é um momento difícil. Ela está fazendo quimioterapia e hoje está bem.
Sorridente após o encontro, ela disse que resolveu raspar os cabelos depois que eles começaram a cair em razão do tratamento. Patrícia disse ter gostado do novo visual. A atriz afirmou que continua funcionária da Rede Globo, mas que, sempre que puder, estará ao lado do marido.
Ciro elogiou a coragem da mulher ao enfrentar a doença. Logo depois de iniciar o tratamento, Patrícia tornou pública a doença e disse que esperava estimular outras mulheres a fazer o auto-exame. No início do ano, Patrícia havia cortado os longos cabelos cacheados.
Brizola elogiou a atriz, qualificada de exemplo para as brasileiras. O ex-governador lembrou que sua mulher, Neusa, também teve câncer de mama e conseguiu se curar totalmente. Neusa morreu em 1993, de outra doença.
Depois do almoço, o líder do PTB na Câmara dos Deputados, Roberto Jefferson (RJ), transmitiu a preocupação dos parlamentares diante da impossibilidade de fazer alianças locais com partidos maiores, como PSDB e PFL. Isso facilitaria suas eleições para o Legislativo. Logo depois da decisão do TSE, houve uma avaliação de que o PTB poderia deixar a aliança com o PPS de Ciro para garantir as coalizões estaduais.
– Há um pânico de sobrevivência – disse Jefferson, que fez muitas críticas ao deputado pedetista Miro Teixeira, autor da consulta ao TSE.
A solução será levar Ciro Gomes para reforçar as campanhas dos deputados nos Estados, tentando assim suprir a falta de uma aliança mais consistente na região. Em vários Estados, o PTB é atualmente aliado do governador e pretendia repetir a coalizão, mesmo com legendas adversárias de Ciro. A aliança do PTB com o PFL seria fechada, por exemplo, na Bahia do ex-senador Antonio Carlos Magalhães e no Amazonas do governador Amazonino Mendes.
Com os tucanos, a coalizão não poderá se repetir em São Paulo, onde os petebistas têm três secretarias do governo Geraldo Alckmin, em Mato Grosso, governado por Dante de Oliveira, e em Sergipe, com o governador Albano Franco. O PTB avisou que suspenderá também alianças com o PMDB em Mato Grosso do Sul e com o PSDB na Paraíba. Em todos esses Estados, a Frente Trabalhista terá de buscar candidatos próprios.
TSE formaliza decisão sobre coligações
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) formaliza hoje a decisão sobre a padronização das coligações partidárias.
Apontado como possível articulador da decisão do presidente do TSE, Nelson Jobim, o presidente Fernando Henrique Cardoso negou ontem ter conversado com o ministro ou com o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), autor da consulta ao TSE sobre o assunto.
O presidente disse que tomou conhecimento pela primeira vez, da decisão do TSE de determinar a vinculação das coligações partidárias para a disputa das eleições presidenciais às estaduais por meio do presidente do PFL, Jorge Bornhausen. Posteriormente, o senador e candidato à Presidência José Serra (PSDB-SP) teria comentado com o presidente se sabia de alguma coisa sobre o assunto. A resposta teria sido negativa.
FH esclareceu que, quando ao ser indagado sobre o assunto, durante viagem à Europa, respondeu ser em tese favorável ao “fortalecimento dos partidos”, sem ter conhecimento do teor da decisão. Ele evitou comentar sobre a hipótese de o tribunal liberar as coligações nos Estados para os partidos que não tiverem candidato à Presidência.
Sobre o fato de a consulta ao TSE ter sido decidida apenas depois de ficar seis meses parada na Procuradoria da República, o presidente disse que o procurador, Geraldo Brindeiro, foi contra a padronização. Ele negou que tenha sido consultado sobre o caso pelo procurador-geral.
– Ele não tem de me consultar, e nem eu estou dando ordens ao procurador.
Os partidos têm estudado três possibilidades para anular a decisão do TSE: decreto legislativo, proposta de emenda constitucional (PEC) ou ação de indireta de inconstitucionalidade (Adin).
A PEC chegou a entrar em pauta na semana passada na Comissão de Constuição e Justiça do Senado, mas não foi votada por falta de quórum. Apesar de decididos a tentar barrar a padronização, os parlamentares estão descrentes da possibilidade de reverter uma votação decidida na sessão de terça-feira do TSE por cinco votos a dois.
FH lança projeto no Panamá
Presidente visitará o país amanhã
O presidente Fernando Henrique Cardoso lança amanhã o projeto de aprofundamento do Lago Gatún, no Panamá, durante visita oficial ao país.
A informação é do embaixador Mário Vilalva, chefe do Departamento de Promoção Comercial do Ministério das Relações Exteriores. As obras de aprofundamento do lago deverão marcar o início de um processo de modernização da estrutura do Canal do Panamá, orçado em aproximadamente US$ 7 bilhões.
O embaixador anunciou ainda que o Brasil participará da Feira Comercial do Panamá (Expocomer). Com uma área de 900 metros quadrados reservada a expositores brasileiros, a feira, que se realizará entre de amanhã a domingo, reflete a aproximação comercial com a região, que começou com o envio de duas missões brasileiras em 2001 e com o anúncio de abertura de um Setor de Promoção Comercial Regional junto à embaixada do Brasil no Panamá.
Olívio e Tarso intensificam campanha para prévia
Doze dias antes da prévia que definirá o candidato do PT ao governo do Estado, a agenda de campanha dos dois pré-candidatos gaúchos se intensificou.
Na noite de ontem, enquanto o prefeito Tarso Genro se reunia com apoiadores no Vale do Sinos, o governador Olívio Dutra participava de encontros com militantes da Capital.
No início da noite, Olívio participou de um happy hour com os deputados federais Ana Corso, Henrique Fontana, Adão Pretto e Orlando Desconsi, no Mercado Público de Porto Alegre (foto acima). Os parlamentares vieram de Brasília para manifestar o apoio à reeleição do governador.
Pouco depois das 20h, Olívio foi a estrela da 1ª Plenária de Dirigentes e Militantes Petistas, que reuniu apoiadores porto-alegrenses de sua candidatura. Concentrados no salão da Igreja Pompéia, centenas de militantes defenderam a reeleição do governador e debateram a organização da campanha municipal da pré-candidatura. A plenária teve a participação de vereadores, deputados, secretários de Estado e do vice-governador Miguel Rossetto.
Aplaudido de pé, o governador discursou por mais de meia hora e afirmou que o governo está nas mãos da cidadania desde 1999. Olívio disse não entender as reclamações dos apoiadores de Tarso, que pedem mais pluralidade dentro do governo gaúcho.
– Não há nenhuma corrente interna do partido que não esteja no nosso governo – afirmou o governador.
Numa região conhecida pela força eleitoral de Olívio, o Vale do Sinos, o pré-candidato do PT ao governo do Estado Tarso Genro reconheceu o risco que os apoiadores do governador vêm ressaltando em sua candidatura. Mas insistiu que deixar a prefeitura da Capital com pouco mais de um ano de mandato cumprido não é o maior risco que já enfrentou na carreira política.
– Vamos apresentar pela quarta vez consecutiva a mesma candidatura? O companheiro Olívio Dutra que nos perdoe, ele é candidato legítimo, mas a nossa candidatura é tão legítima quanto a dele. Queremos restaurar a pluralidade – afirmou o prefeito.
Tarso aproveitou o encontro para inaugurar o comitê de apoio a sua candidatura para as prévias de 17 de março. São Leopoldo é o município de origem de líderes do PT que apóiam o governador do Estado, como o vice, Miguel Rossetto, o secretário de Habitação, Ary Vanazzi, e o deputado estadual Ronaldo Zülke.
FH faz apelo para que PFL fique no ministério
O presidente pediu que ministros não sigam Sarney Filho, que se demitiu
O presidente Fernando Henrique Cardoso fez ontem à noite um apelo aos três ministros do PFL, Roberto Brant (Previdência), José Jorge (Minas e Energia) e Carlos Melles (Esporte e Turismo), para que não sigam os passos do ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, que deixou o cargo.
O apelo sensibilizou os ministros. Ao sair da reunião, por volta das 22h15min, Brant disse que a decisão final sobre o assunto será tomada na quinta-feira pela executiva da sigla, mas que FH é “um amigo do PFL”.
– Um apelo fraternal do presidente acho que sempre se leva em consideração – afirmou o ministro.
O titular do Meio Ambiente pediu demissão ontem em solidariedade à irmã, Roseana Sarney (PFL), governadora do Maranhão. Na sexta-feira, o escritório da empresa Lunus, de Roseana e do marido, Jorge Murad, foi invadido por agentes da Polícia Federal (PF).
Por ordem da Justiça Federal, os policiais buscavam provas de envolvimento dos dois em irregularidades na extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). O episódio deflagrou uma crise entre o PFL e o Palácio do Planalto. A governadora classificou a ação como manobra contra sua candidatura à Presidência pelo PFL, atribuiu-a à “banda irada do PSDB” e passou a pregar abertamente o rompimento do partido com FH.
Aos pefelistas, FH disse que o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, exagerou no tom ao defender a ação da PF na sede da empresa. O presidente ainda tentou convencer a cúpula pefelista de que o episódio não favoreceria a candidatura do tucano José Serra à Presidência, mas sim a do petista Luiz Inácio Lula da Silva. Assessores do presidente confirmaram que FH estava preocupado em contornar a crise antes da viagem ao Panamá, para onde embarca hoje. Antes do encontro, FH já apostava que o problema seria superado, depois da atuação de bombeiros como o secretário-geral da Presidência, Arthur Virgílio. Além de Virgílio, o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), e o ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente, participaram do encontro. Pelo PFL, esteve presente o presidente da sigla, Jorge Bornhausen.
Mesmo que consiga manter o PFL no governo, alguns assessores acreditam que Fernando Henrique vai acabar acelerando o processo de reforma ministerial, escolhendo os substitutos dos ministros que sairão até o dia 5 de abril para disputar as eleições de 2002. Para a vaga de Sarney Filho, já foi escalado José Carlos Carvalho, secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente. Para o lugar de Brant na Previdência está cotado o secretário da Receita Federal, Everardo Maciel. No caso do Ministério da Justiça, Fernando Henrique ainda não decidiu se escolherá um técnico ou um político. A tendência é a nomeação do secretário executivo, Bonifácio de Andrada, para o lugar de Aloysio.
Roseana disse em Belo Horizonte que é a principal interessada na conclusão das investigações.
– Gostaria que continuasse a investigação inteiramente, quero que este processo chegue até o final, e é isso que vou pedir ao Ministério Público, à Justiça e à Policia Federal. É importante para minha dignidade. Agora, quem cobra sou eu – acrescentou.
Roseana esteve na capital no início da noite, depois de passar por Uberaba, com Bornhausen e os ministros mineiros Roberto Brant e Carlos Melles, entre outros líderes partidários . Recebida com festa na sede estadual da sigla, na zona sul da capital, a governadora voltou a classificar a invasão da Lunus pela PF como “violência”.
Piratini estuda revisão do mínimo regional
Reajuste pode chegar a 11% em algumas categorias
Oito meses depois da implantação do salário mínimo regional, o governo do Estado divulga na quinta-feira um estudo sobre seu impacto na economia gaúcha e inicia a elaboração do projeto que vai fixar novos valores a partir do dia 1º de maio.
O secretário estadual do Trabalho, Cidadania e Assistência Social, Tarcísio Zimmermann, adiantou ontem que o projeto a ser enviado para a Assembléia Legislativa deve ser mais abrangente do que uma revisão de valores.
De acordo com Zimmermann, novas faixas salariais e categorias devem ser criadas a partir da avaliação dos pontos positivos e negativos das regras em vigor. Segundo informações extra-oficiais, em alguns casos, o reajuste poderá chegar a 11%.
A partir da divulgação dos resultados do estudo feito pela Secretaria do Trabalho, o governo deve procurar representantes de empregados e empregadores para discutir o novo piso. A exemplo do que ocorreu no ano passado, Zimmermann diz que o governo vai partir para as negociações com uma proposta a ser aperfeiçoada nas negociações. Quando entrou em vigor, no dia 16 de julho passado, o piso regional gaúcho era maior que o do Rio – R$ 220. Desde janeiro deste ano, quando o governo fluminense aprovou nova lei do piso, a situação se inverteu. Os dois Estados são os únicos a ter o salário mínimo regional regulamentado.
Entidade nega participação de suspeita de seqüestro em evento
Gaúcha é apontada como cúmplice de criminosos
A Comissão do Acervo da Luta contra a Ditadura negou ontem que a gaúcha Naila Tosca de Freitas tenha atuado como tradutora num seminário do grupo no 2º Fórum Social Mundial, em Porto Alegre.
Procurada pela Polícia Federal (PF), Naila é suspeita de envolvimento no seqüestro do publicitário Washington Olivetto.
Segundo informação publicada na edição desta semana da revista IstoÉ, Naila teria trabalhado como tradutora do psicoterateupa e ex-guerrilheiro boliviano Osvaldo Peredo, o Chato Peredo, no seminário Terror de Estado, realizado em Porto Alegre entre os dias 31 de janeiro e 5 de fevereiro. O evento foi promovido pela comissão, em parceria com a prefeitura da Capital.
Sucessor do cubano-argentino Ernesto Che Guevara no comando do Exército de Libertação Nacional, que atuou na Bolívia entre 1966 e 1970, Chato foi um dos palestrantes do seminário. Gutiérrez e a assessoria da prefeitura afirmaram que o debate sequer teve serviço de tradução. O encontro quase lotou o Auditório 1 do Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), às 19h do dia 4 de fevereiro, com capacidade para 1,2 mil pessoas.
Além do ex-comandante, o público ouviu o depoimento de outros ícones dos movimentos de luta armada das décadas de 60 e 70 na América Latina. Sob a coordenação de Gutiérrez, falaram o jurista paraguaio Martín Almada, descobridor dos arquivos secretos da polícia política do ex-ditador Alfredo Stroessner, e o líder tupamaro uruguaio Julio Marenales, entre outros. O seminário foi realizado dois dias depois da libertação de Olivetto de seu cativeiro e da prisão de parte do grupo de seqüestradores.
– A informação sobre a participação de Naila é absolutamente falsa – disse Cláudio Gutierrez, integrante da comissão.
As primeiras informações sobre a presença de Naila no Fórum foram dadas por um vizinho da mulher no edifício número 645 da Rua Luiz Afonso, no bairro Cidade Baixa. Naila morou no apartamento até desaparecer, no dia 9 de fevereiro, quando as suspeitas sobre sua ligação com o seqüestro foram noticiadas por Zero Hora. Professor universitário, o vizinho relatou a ZH ter encontrado Naila e seu irmão, Rogério, nos corredores da PUCRS durante o evento. Naila e Rogério têm fluência em espanhol, adquirida nos anos passados no Uruguai, no Chile e em Cuba, fugitivos, com a mãe, ex-militante do PC do B, da ditadura militar instalada no Brasil.
– Eles estavam com o crachá distribuído pela organização do evento – disse o professor, para quem os irmãos teriam relatado estar trabalhando como tradutores voluntários no Fórum Social.
O governo do Estado e o comitê organizador do 2º Fórum Social Mundial não negam a possibilidade de Naila ter atuado como tradutora voluntária, mas salientam que mais de mil pessoas se apresentaram para colaborar espontaneamente com o evento.
– Não verificamos a ficha policial de cada um – disse Jorge Cruz, do comitê gaúcho do Fórum.
Artigos
A verticalização das alianças
Plínio Melgaré
O Tribunal Superior Eleitoral decidiu padronizar as coligações eleitorais. Tal decisão, inédita e polêmica, segundo a edição do último dia 27 de Zero Hora, determina que um partido, ao participar de uma coligação para o pleito presidencial, somente poderá se aliar nas outras disputas eleitorais com as siglas aliadas no âmbito federal. Assim, nas eleições, as coligações regionais devem acompanhar as alianças nacionais. É a verticalização das coligações.
No plano abstrato, a decisão pode ser boa, constituindo até eficaz instrumento para a organização político-partidária. Embora forçosamente quiçá auxilie na construção de partidos políticos com identidade e sérios. Nos quadros de uma democracia institucionalmente sólida, a adoção das alianças verticalizadas não causaria nenhum sobressalto. Porém, aqui o que está em causa não é somente saber como as coisas devem ser, mas sim, como elas são. Analisemos, por agora, abrindo os olhos à realidade, a ordem dos fatos, pois isso, sobretudo, é relevante.
Uma decisão com tal repercussão não pode desconsiderar o real universo político-partidário nacional. De fato, nossos partidos são frágeis e, salvo uma ou outra exceção, que apenas confirma a regra, apresentam uma prática vacilante e uma grave indeterminação ideológica. Outrossim, o pleito eleitoral já está muito próximo. Os partidos já iniciaram suas ações e estratégias. Inserir, de maneira inesperada tais alianças, altera substancialmente as regras do jogo eleitoral, assemelhando-se a um pernicioso casuísmo – e já nos perguntamos: acaso tal decisão visa ao benefício de alguém? Não olvidemos que a lei eleitoral é de 1997, e a eleição de 1998 transcorreu sem que essa hipótese fosse observada. E democracia é também respeitar as regras do jogo. Ademais, impor a unicidade das alianças entre os partidos quando não se exige sequer a fidelidade partidária não parece uma opção coerente e razoável. Acolher a padronização das alianças às vésperas de uma eleição não faz sentido, é inoportuno e esvazia os possíveis benefícios que tal medida poderia nos oferecer.
Impor a unicidade das alianças entre os partidos quando não se exige sequer a fidelidade partidária não parece razoável
Decerto não advogamos o continuísmo do panorama atual – que beira a partidocracia, isto é, a situação em que as forças políticas, em especial os partidos, abandonam os interesses sociais, autobeneficiando-se da proximidade com o poder. Nesse sentido, subtrai-se a representatividade democrática dos cidadãos, abrindo-se as portas da vida social para o caos ou para a dominação de uma minoria.
Ao cabo, a verticalização das alianças não deve ser afastada da nossa agenda política. E, por certo, ao lado de outros componentes, como a aqui mencionada fidelidade partidária, haverá de compor a pauta de nossa incontornável – e sempre adiada – reforma política.
Colunistas
ANA AMÉLIA LEMOS
Sucessão embaralhada
Quando o presidente da República declarou em Estocolmo, na penúltima semana de fevereiro, que a sucessão presidencial ainda está indefinida e que a campanha eleitoral para valer só esquentará a partir de agosto, a Justiça Eleitoral ainda não havia se manifestado sobre a verticalização das coligações, nem a Polícia Federal havia executado ordem judicial para fazer a apreensão de documentos na empresa Lanus, com sede em São Luís, no Maranhão, e cujos proprietários são ninguém mais ninguém menos que a governadora Roseana Sarney e o marido, Jorge Murad. A empresa é suspeita de estar envolvida em irregularidades nas operações de financiamento da Sudam, já extinta.
Na última pesquisa eleitoral feita pelo Datafolha e pelo instituto Sensus, a governadora do Maranhão e candidata do PFL chegou ao seu melhor desempenho, empatando tecnicamente com o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. A apreensão feita pela Polícia Federal, atendendo mandado judicial, tal como ocorrera com a prisão do ex-senador Jader Barbalho implodiu de vez o que restava da aliança PSDB/PFL. A cúpula do partido saiu em defesa da candidata, pressionada pelo ex-presidente José Sarney, que, na tribuna do Senado, amanhã poderá falar sobre o episódio. O ex-presidente da República não esconde a indignação com a ação policial e com a atitude do Palácio do Planalto.
Se dependesse do pai da governadora Roseana, o PFL já teria desembarcado do governo e faria oposição a FH. Tudo vai depender das atitudes de Fernando Henrique Cardoso em relação ao episódio. Se o presidente continuar “lavando as mãos” porque a questão diz respeito a decisão da Justiça, não irá mais contar com o apoio irrestrito do PFL nas votações de interesse de seu governo. A batalha sucessória, com esse episódio e com a decisão do PMDB de ter candidato próprio, esquentou antes do tempo previsto por FH. Os desdobramentos desse quadro poderão ser conhecidos nesta semana. Hoje sai a resolução do TSE sobre as coligações e quinta-feira o PFL reúne a executiva para dizer se vai para a oposição ou se assume posição de independência em relação ao governo. O vice-presidente Marco Maciel será o fiel da balança nesse rumoroso caso.
JOSÉ BARRIONUEVO
Cristal partido
Depois da lamentável omissão da imprensa na campanha eleitoral de 1989, que levou Fernando Collor à presidência da República – e ao impeachment –, aprendemos uma lição. Desde então, todo aquele que se apresenta para governar o país passa por uma saudável e necessária devassa. Afinal, deixa de ser um cidadão comum, pela responsabilidade do cargo público pleiteado. As denúncias contra Roseana Sarney e seu marido, Jorge Murad, sócios em várias empresas, exigem uma explicação mais clara da governadora do Maranhão.
O que mais espanta é a indignação da candidata e do PFL, não com o conteúdo das denúncias, mas com a origem da notícia, aparentemente localizada no Palácio do Planalto. É um escárnio. Guardar R$ 1,5 milhão sob o colchão, sem origem declarada, derruba um candidato em qualquer país sério. A governadora não pode deixar pairar sobre seu nome esta mácula que atinge certas elites no país, comprovada nos escândalos que envolveram os senadores Antonio Carlos e Jader Barbalho. Se não explicar bem a origem de seu patrimônio, Roseana deixará de ser digna do exercício do cargo.
PT define candidatos
O PT é o primeiro partido a oficializar as nominatas proporcionais. Antes do encerramento das inscrições, estavam confirmados 69 can didatos a deputado estadual, entre eles Raul Pont, Lucia Camini, Renan Kurtz, Frei Sérgio, Adão Villaverde, Estilac Xavier, Sofia Cavedon e Dionilso Marcon. Este, mesmo sem o apoio formal da Via Campesina.
Também deixam cargos para concorrer Ubiratan de Souza, Gustavo de Mello, Jorge Branco, Júlio Quadros, Lires Marques, Lucio Barcelos, Luiz Henrique Mota, Milton Zuanazzi, Selvino Heck.
Entre os 29 federais, vários estão se desincompatibilizando: Marisa Dalla Vechia (prefeitura de Caxias), os secretários Tarcisio Zimmermann, Hermeto Hoffmann, Ari Vanazzi e o vice de Santa Maria, Paulo Pimenta.
Um novo rosto
Às vésperas do Dia Internacional da Mulher (8 de março, sexta), dois rostos marcam o cenário político brasileiro. De um lado, Roseana, a governadora do Maranhão, produto da alquimia do marketing de laboratório, que revela-se frágil em meio à tempestade. Do outro, Patrícia Pillar, discreta, sem se envolver na ação política do namorado, que mostra coragem na luta contra um câncer.
Números esclarecedores
Depois da exposição do deputado Berfran Rosado (PPS) sobre as finanças do Estado, o vice-presidente do Instituto Liberal e um dos coordenadores da União Empresarial, William Ling, não se conteve: “Os números são esclarecedores e estarrecedores”, avaliou. Ao longo de duas horas, ontem, o presidente da Comissão de Fiscalização e Controle da Assembléia falou para 30 executivos representantes de 26 entidades da União Empresarial. Pelos dados apresentados, nos últimos três anos o governo empenhou e não pagou R$ 1,8 bilhão, que, somados aos saques a descoberto do caixa único, de R$ 1,3 bilhão, somam R$ 3,1 bilhões. Com a previsão de déficit de R$ 1,3 bilhão em 2002, Berfran calcula uma dívida até o final do mandato superior a R$ 4 bilhões. Os dados foram buscados em pareceres do Tribunal de Contas e de balanços da Secretaria da Fazenda.
Faltam 300 dias
Os 300 dias que faltam para o término do mandato de Olívio Dutra no Palácio Piratini serão comemorados amanhã pela Federação dos Servidores Públicos com uma caminhada do IPE (CTG da Azenha) até a Praça da Matriz. Como o governador, envolvido com as prévias, não respondeu a uma solicitação de audiência, os servidores entregam ao presidente da Assembléia, deputado Sérgio Zambiasi (PTB), um documento mostrando que, durante o governo Olívio, ocorreu o maior arrocho salarial de todos os tempos.
Sérgio Arnoud, presidente do Fessergs, promete uma surpresa hoje que “virá dos céus”.
Brigada
O advogado Luiz Carlos Ferreira entrou ontem com um pedido de providências junto ao Tribunal de Justiça do Estado para que haja cumprimento de sentenças e liminares concedidas em relação à promoção de oficiais da Brigada Militar. Há uma clara afronta ao Estado de direito.
Mirante
• Haja paciência. Pelo número de assessores de imprensa (mais de 10) que telefonaram para corrigir a data da festa de aniversário de Tarso, o evento deverá marcar época. Todos, funcionários públicos, ligaram no horário do expediente.
• Bueno, lá vai pela quarta vez a informação na coluna (só uma delas com data trocada): a festa ocorre hoje no Clube Farrapos. Tarso aniversaria amanhã, mas a festa é hoje, gente!
• O companheiro Flávio Koutzii remete ao colunista um convite para a festa de aniversário no dia 22. Mais do que convite, o colunista gostaria que o chefe da Casa Civil tivesse a fineza de responder aos telefonemas.
• Denise Mantovani telefona para questionar notícia publicada na coluna sobre processo contra Bertrand Kolecza. Informa que não foi tomada nenhuma iniciativa que envolva Guaracy Cunha e o Palácio Piratini.
• O desembargador Antonio Guilherme Tanger Jardim assume hoje a presidência da Escola Nacional da Magistratura, às 18h30min, em Brasília.
Editorial
O GRANDE DERROTADO
O reinício das atividades letivas nas escolas da rede oficial do Rio Grande convida a uma reflexão crítica acerca dos rumos da educação não apenas em nosso Estado, como no país. Manda um elementar senso de justiça reconhecer que se produziram no Brasil avanços significativos em tal campo, a começar pela tendência à universalização do acesso ao ensino fundamental, o extraordinário desenvolvimento que experimenta o nível médio, mecanismos de avaliação como o Enem e fontes de recursos como o Fundef. Apesar de tudo, tanto a nação, quanto as unidades federadas, têm ainda diante de si imensos desafios a enfrentar.
Estatísticas oficiais revelam que, apesar de haver hoje entre nós 52 milhões de alunos freqüentando todos os estágios de aprendizado, um recém-nascido tem apenas 59% de chances de completar a oitava série. Em média, os estudantes levam 12 anos para concluir o fundamental e uma enorme percentual não chega a completá-lo jamais. Nem é preciso dizer que é elevado o contingente dos que cursam determinada série com dois, três e até cinco anos acima da idade adequada e acabam abandonando a difícil convivência com o giz e o quadro-negro.
Desperdiçamos capital humano numa época em que conhecimento
é sinônimo de desenvolvimento
Para especialistas, isso provoca três tipos de conseqüências para as vítimas da evasão e da repetência. A primeira delas é de ordem social, pois em tal caso o jovem é forte candidato a alistar-se na legião dos excluídos, a tornar-se um cidadão despreparado, cliente de programas como o de renda mínima ou da cesta básica. A segunda é cívica, já que um iletrado costuma ser também um analfabeto político. E a terceira é humana, visto que a reprovação resulta em sérios danos à auto-estima.
Nem a evasão nem a repetência são problemas exclusivos dos brasileiros. Mas pesquisa da Unesco demonstrou que aqui a taxa de repetição da série é de 24% no ensino fundamental e 18% no médio, a mais alta da América Latina. E levantamento do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) revelou que nossos jovens acumulam um preocupante déficit de leitura, ou seja, não compreendem o que lêem. Em outras palavras, são capazes de identificar letras, palavras e frases, mas não abarcam o seu sentido. Não é só: estudo levado a efeito pelo Instituto Paulo Montenegro, entidade ligada ao Ibope, inferiu que escassos 26% dos brasileiros dominam inteiramente habilidades básicas, como ler e escrever. Outros 65% são alfabetizados, mas denotam sérias deficiências nesse campo. Já o analfabetismo é dolorosa característica de 9% da população.
Em qualquer caso, o grande derrotado é o Brasil, que desperdiça capital humano em uma época na qual, mais do que nunca antes, conhecimento é sinônimo de desenvolvimento.
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03/05/2002
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