Primeira-dama com um pique que incomoda



Primeira-dama com um pique que incomoda Desde que assumiu a presidência da LAR, Luzia Jeanne vem trabalhando intensamente, e já suscita comentários sobre uma possível candidatura O desempenho da presidente da Legião Assistencial do Recife, Luzia Jeanne de Oliveira e Silva, à frente dos trabalhos de atendimento às pessoas e comunidades carentes do município, começa a suscitar comentários, tanto entre líderes comunitários, como no seu próprio partido, o PT. De acordo com as informações que circulam nos bastidores, a visibilidade que a primeira-dama do Recife vem obtendo na LAR seria vista como uma moeda valiosa para respaldá-la em uma eventual disputa um mandato eletivo em 2002. Dentro do PT, há quem reconheça o destaque que sua gestão da LAR vem conquistando. Mas ninguém admite abertamente a existência de inquietações quanto à possibilidade de a primeira-dama ingressar na política. “Há comentários, mas partiram de líderes comunitários”, afirma um petista, em reserva. A possibilidade, porém, não assusta outros correligionários de Luzia Jeanne, que afirmam ser “democrático” dar a ela a opção de disputar um mandato, independentemente de ser a esposa do prefeito. Há, no PT, quem lembre o fato de João Paulo ter deixado na Assembléia Legislativa um legado de cerca de 50 mil votos, que lhe foram conferidos para deputado estadual em 1998, e dos quais não vai precisar na eleição do ano que vem. Esse manancial será disputado pelos candidatos do PT em 2002. E alguns petistas admitem que uma parte poderia ser absorvida por Luzia Jeanne, que participa ativamente das campanhas do marido e conhece bem seu eleitorado. Mas ela tranqüiliza os mais inquietos. “Sou militante do PT desde a fundação e, independentemente de ser esposa de João Paulo, nenhum militante petista descarta a possibilidade de disputar um mandato. Mas não penso nisso agora”, despista. O fato é que, desde que assumiu, Luzia Jeanne vem mexendo na estrutura da Legião Assistencial, e isso não passou desapercebido pelos observadores políticos, sempre atentos aos candidatos em potencial. Ela está no comando de seis creches, cinco abrigos para crianças e adolescentes, duas casas de atendimento à terceira idade, além do Centro de Reintegração Social – conhecido como o “albergue”. Além disso, inaugurou mais dois centros de convivência, um deles na semana passada. E diz que pretende ampliar ainda mais a estrutura da entidade, cujo orçamento, segundo reconhece, não é suficiente para sustentar o trabalho. “Nós aumentamos nossos recursos com os lucros do Baile Municipal, dos estacionamentos que mantemos na cidade e com doações de empresas”, esclarece. Luzia Jeanne conta que, ao assumir, ficou impressionada com o tamanho da estrutura da LAR, que imaginava ser menor. E também foi surpreendida com velhas práticas, como a dos cartões com pedidos de emprego, encaminhados por políticos e lideranças comunitárias. “Acho que isso existiu aqui em outras administrações, por isso os pedidos continuam chegando”, justifica. A presidente da LAR diz que tem procurado aprofundar a participação das demais secretarias da Prefeitura no trabalho da entidade. Para isso, desenvolveu mutirões nas comunidades mais carentes do Recife, fornecendo desde atendimento médico e odontológico até certidões de nascimento e carteiras de identidade. Apesar da estrutura agigantada da LAR, a nova Secretaria municipal de Assistência Social – criada no pacote da reforma administrativa implantada por João Paulo na Prefeitura – vai absorver algumas atribuições da entidade. “Devemos continuar gerenciando os abrigos e as ações mais diretas, mas uma parte da política de assistência social deve passar para a secretaria”, informa. Está em andamento, ainda, um estudo para transformar a Legião Assistencial em uma fundação, viabilizando uma maior arrecadação de fundos, inclusive com ONGs internacionais. PCR reinicia licitação do lixo amanhã Após ter anulado a primeiro edital de licitação, a PCR faz audiência para debater questão do lixo Depois da polêmica em torno do primeiro edital de licitação para execução de serviço de coleta de lixo no município, que foi revogado pela Prefeitura do Recife, o secretário municipal de Serviços Públicos, José Aílton, e o presidente da Empresa de Limpeza Urbana (Emlurb), Francisco Lyra, coordenam amanhã, às 10h, uma audiência pública para debater o assunto. A Prefeitura irá conversar com empresários, funcionários liberais e representantes da sociedade civil organizada para definir os novos critérios que serão adotados pelo novo processo de licitação. Depois de ouvir as propostas e tirar as dúvidas, José Aílton terá um prazo de 15 dias para publicar um outro edital. Em entrevista coletiva no último dia 12, o secretário de Assuntos Jurídicos da PCR, Maurício Rands, reconheceu que errou ao não convocar a audiência pública, como exige a Lei das Licitações Nº 8666/93, para concorrências com valores acima de R$ 150 milhões. A licitação revogada previa um contrato de cinco anos, com um montante de R$ 193 milhões. “Não notamos a exigência da lei quando fixamos o prazo de cinco anos do contrato. Foi uma falha meramente formal”, afirmou Rands, na ocasião. Com essa revogação, o processo de licitação foi zerado e a análise que estava sendo feita pelo Tribunal de Contas do Estado sobre o edital perdeu validade. O TCE tinha sido acionado pelo vereador Heráclito Cavalcanti (PFL), da bancada de oposição ao prefeito João Paulo (PT). Ele denunciou, em agosto, que a Enterpa teria sido beneficiada na concessão do serviço de limpeza da cidade. Heráclito comemorou o recuo da Prefeitura. Mesmo assim, o TCE enviou para o vereador a análise feita pelos seus auditores dos termos do edital que tinha sido revogado. O relatório, que não chegou a ser apreciado pelo pleno do tribunal, recomendava a sua “anulação”. Além do erro de não convocar audiência pública, o TCE ainda apontou outras seis falhas. O documento, segundo os auditores, “não tinha características de edital e sim de uma minuta”, o que derrubou o argumento utilizado pela PCR, de que o processo de licitação tinha sido herdado do governo anterior (gestão do ex-prefeito Roberto Magalhães). A proposta de divisão da cidade em apenas dois lotes também foi considerada imprópria. Os auditores constataram, ainda, “imprecisões” e “contradições” no texto do edital. O secretário José Aílton acatou as observações do TCE, mas defendeu todo o conteúdo do documento original. Para ele, a única falta grave foi a não convocação da audiência pública. Deputados se articulam para criar novos municípios A partir de janeiro, projetos que emancipam distritos poderão ser apresentados Perto de terminar o prazo legal que veda a criação de novos municípios em Pernambuco, 22 projetos de emancipação de distritos estão na pauta e seus deputados-autores na expectativa de desencadear o processo de desmembramento. Do total, 14 tramitam normalmente na Comissão de Negócios Municipais (CNM) da Assembléia Legislativa, pois os pedidos deram entrada até 31 de agosto de 1999, data-limite estabelecida pela Lei Complementar Nº 24, de 1º de setembro daquele ano. A lei, de autoria do deputado João Braga (PV), proíbe a criação de novos municípios até 31 de dezembro próximo. Quatro projetos foram rejeitados pela CNM por terem sido apresentados no primeiro semestre deste ano. Na última semana, o deputado Nelson Pereira (PCdoB), que é membro da própria comissão, ingressou com mais quatro projetos de emancipação. “Entramos agora porque até o dia 31 de dezembro poderão ser analisados”, justifica. O presidente da comissão, deputado Ulisses Tenório (PSDB), revela que um grupo de trabalho foi formado para discutir a reforma da Lei Braga e da que define os critérios para a emancipação. “A legislação sobre o tema precisa ser atualizada, tomando por base a Lei de Responsabilidade Fiscal”, diz Ulisses. O presidente da CNM afirma que os projetos que entraram fora do prazo, inclusive os do deputado Nelson Pereira, estão prejudicados pela Lei Braga. O presidente da Assembléia, Romário Dias (PFL), defende, porém, a rigidez da legislação atual para a aprovação de emancipações de distritos. “Na hora em que se cria um município, criam-se os cargos de prefeito e vice, nove vereadores e funcionários, todos remunerados. Tem de ter delegado, policiais civis e militares, promotor e juiz. Isso é despesa para o Estado.” Última cartada contra o Golpe Diante da iminência do Golpe de 1964, o governador Miguel Arraes despachou para os Estados da região assessores e políticos, na tentativa de articular uma moção de apoio ao Governo legalmente constituído. O presidente da República, João Goulart, havia pedido a Arraes que coordenasse no Nordeste o manifesto pela legalidade. A última tentativa para evitar a queda de Jango é recebida com frieza pelos governadores. Presidente do Instituto de Previdência de Pernambuco (Ipsep) no primeiro Governo Arraes, em 1963/64, o advogado e ex-presidente da OAB/PE, Fernando Coelho, está relembrando passagens históricas. Dedica-se, pacientemente, a escrever as suas memórias políticas. Esteve no Palácio do Campo das Princesas, na noite de 31 de março e madrugada de 1º de abril, incorporou-se à resistência que gerou o MDB e participou da primeira eleição do País depois do Golpe. “Na maioria dos municípios, a oposição não conseguiu nem ter uma representação”, relembra. 1964: A TENTATIVA FINAL “Com o levante do general Olympio de Mourão Filho, Jango incumbiu o governador Miguel Arraes de coordenar um manifesto de apoio ao Governo Federal entre os governadores do Nordeste. Seria um manifesto pela legalidade. Arraes indicou pessoas, ligadas ao Governo, para que se dirigissem com rapidez a vários Estados da região. Por exemplo, o deputado e líder da bancada governista na Assembléia Legislativa, Almany Sampaio, foi a Bahia tentar o apoio do governador Lomanto Júnior; o deputado Ferreira Lima Filho se deslocou a Paraíba; e o advogado Leonel Marinho Campos, funcionário do Banco do Brasil, foi ao Piauí. Leonel não era político, mas apoiava o Governo Arraes, e era amigo do governador Petrônio Portela. Em Teresina, conseguiu o apoio de Portela que, pouco depois de haver subscrito, ainda quando Leonel se encontrava no Piauí, o procurou e pediu que retirasse a sua assinatura daquele manifesto. Segundo Portela, conforme o próprio Leonel, que era meu colega de escritório e me contou na época, não tinha condições de se opor à superioridade das forças federais no seu Estado.” A INÉRCIA “Não havia um clima de pré-golpe, porém, existia um Governo Federal inerte. E vivia-se uma instabilidade e uma insegurança por conta da revolta dos marinheiros. Dez dias antes, Arraes me disse que a situação era complicada, e que havia iminência de um Golpe. “Se for da direita, será ruim; se for da esquerda, será ruim, também, para a gente”, disse ele. É que corria a versão de que Jango pensava em “cortar a cabeça” de Carlos Lacerda, no Rio de Janeiro, e como forma compensatória, para acalmar os militares e a direita, “cortaria” também a cabeça de Arraes. Eu interpretei assim.” A LONGA NOITE “No dia 1º de abril seria efetuado o pagamento das pensionistas. Passei o dia 31 nos preparativos. Por volta das 22h, concluídas as providências para o pagamento, sai para casa, em Boa Viagem. No caminho, surpreendeu-me o Palácio das Princesas com todas as luzes acesas e as vias de acesso impedidas por viaturas da Polícia Militar. Decidi ir ao Palácio para saber o motivo. Fui informado que havia um levante em Minas Gerais, das tropas do general Mourão Filho, mas que a situação estava totalmente sob controle. Essa era a informação que circulava no Palácio, onde estavam presentes quase todos os secretários, deputados da bancada do Governo, vereadores, pernambucanos ilustres, profissionais liberais, professores de faculdade, solidários à administração Arraes. Ouvi que o levante era sem expressão militar e que o presidente João Goulart permanecia com o controle dos acontecimentos, e que o Exército, em quase sua totalidade, permanecia fiel ao cumprimento das normas constitucionais e o respeito à legalidade.” AS NEGOCIAÇÕES “Éramos informados das negociações que ocorriam entre os oficiais militares e o Governo, no Palácio. O grupo que parlamentava era muito reduzido: Arraes, o superintendente da Sudene, Celso Furtado, cargo de nível ministerial, e que o governador fazia questão que estivesse presente; Pelópidas (Silveira), que tinha acabado de se reeleger prefeito do Recife, e pouquíssima gente. Os secretários ficaram à distância. As informações gerais eram que a situação estava sob controle e que o deslocamento de tropas de Juiz de Fora, de Mourão Filho, não tinha expressão militar, e que seria abortado pelas forças legalistas fiéis ao presidente da República.” O DIA “Saí por volta de 3h30 da madrugada, e fui para casa. Às 6h30, cheguei à autarquia (Ipsep), na Rua do Sol, e, logo depois, iniciamos o pagamento das pensões e atendi a funcionários. Eram 10h, quando um funcionário veio me avisar que o rádio havia dito que o governador Miguel Arraes tinha sido deposto. Embora surpreso, continuei atendendo às pessoas. Lembro que olhei pela janela e vi tropas do Exército se deslocando no sentido do Palácio do Governo. Chamei o diretor de administração, José Cadete Sobrinho, e pedi que suspendesse o ponto e liberasse o funcionalismo, em função das notícias e da informação de que algumas funcionárias passavam mal.” A FARSA “Tentei inúmeras vezes me comunicar com o Palácio, por telefone. Depois, contaram-me que as linhas haviam sido cortadas. Decidi ir ao Palácio no carro oficial, mas fui barrado por uma patrulha do Exército. A ordem era deixar sair, mas não deixar entrar. Dali, fui para minha residência. O que me surpreendeu é que aquela informação que recebi, por volta das 10h, forjava um fato que só veio ocorrer mesmo no final da tarde. Evidentemente, os responsáveis pelo Golpe haviam tomado o controle da rádio, que era o principal meio de informações, e transmitido uma notícia falsa, mas que desmobilizaria possíveis lealdades ao governador no interior.” Justiça investiga mais uma entidade Promotores querem investigar o Centro Social Santa Inês, que recebeu R$ 400 mil em verbas de subvenção da Assembléia Legislativa e não apresentou prestação de contas As Promotorias de Patrimônio Público e de Fundações ingressaram com uma ação de prestação de contas contra o presidente do Centro Social Santa Inês, Adson Brigido de Araújo Mendes. Essa entidade recebeu subvenção social da Assembléia Legislativa entre 95 e 98. Foram repassados mais de R$ 400 mil. A ação foi distribuída para o juiz da 7ª Vara da Fazenda Pública da capital, Lúcio Grassi de Gouveia. O Centro não apresentou nenhum dos documentos requisitados pelos promotores do Ministério Público. Apenas uma certidão emitida pela Comissão de Finanças do Legislativo certificando que a entidade estava com sua prestação de contas regular. Mas, em seu depoimento aos promotores do MPPE, Adson Brigido não mostrou nenhuma nota fiscal para comprovar como gastou os recursos públicos recebidos. Ele disse apenas que assumiu a presidência do Centro em 99 (quando a entidade não recebia mais a subvenção) e que não sabia o nome do presidente anterior. Por conta disso, os promotores não puderam identificar o nome do deputado estadual que beneficiou o Santa Inês durante os quatro anos em que a verba foi repassada pela Assembléia. De acordo com o seu estatuto, a entidade tem sede na rua Herculano Bandeira, 330, no Bairro do Pina, no Recife. A queda de braço entre o Ministério Público e o Legislativo voltou a esquentar uma semana depois que os deputados ganharam uma importante batalha. O Tribunal de Justiça decidiu, na sexta-feira (21), que o sigilo bancário da Casa não seria quebrado, negando assim provimento a um agravo regimental que tinha sido protocolado por procuradores do Ministério Público. Eles pediam que o desembargador Márcio Xavier, da 5ª Câmara Cível do TJ, reconsiderasse seu julgamento e permitisse a quebra do sigilo, que chegou a ser autorizada, no início de agosto, pelo juiz da 4ª Vara da Fazenda estadual, Djalma Andrelino. Mas que, posteriormente, foi cassada por Márcio Xavier, atendendo a um pedido de liminar impetrado pela Procuradoria-geral da Assembléia. Os promotores das Promotorias de Patrimônio e de Fundações investigam, desde abril do ano passado, o repasse da verba de subvenção que o Legislativo fazia para entidades indicadas pelos próprios deputados entre 95 e 2000. O benefício foi extinto em março do ano passado depois de uma série de reportagens do JC, denunciando as irregularidades praticadas com dinheiro público. Com essa ação sobem para 12 o número de entidades que estão respondendo a processos na Justiça. Estão nessa situação, além do Centro Social Santa Inês, as Associações Santa Rita de Cássia, São Francisco de Assis, Causa Comum, Assistencial do Recife e Pernambucana de Apoio ao Desenvolvimento Social e Comunitário. Assim como os centros Sebastião Pontes, Social dos Torrões, Social da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição do Morro, Social Camila Maria de Almeida e de Arte das Salinas. Também o Núcleo Historiador Pereira da Costa. Outras 29 entidades que receberam subvenções estão sendo investigadas pelos promotores da capital. Na Região Metropolitana e no Interior foram abertos oito inquéritos. Apenas quatro processos foram arquivados. Deputados perdem briga contra Andréa Fernandes O corregedor-geral do Ministério Público estadual, Antonio Carlos Oliveira Cavalcanti, decidiu arquivar a representação impetrada pela Assembléia Legislativa contra a promotora de Fundações, Andréa Fernandes. A procuradoria-geral do Legislativo impetrou a representação por considerar que houve falha funcional de Fernandes ao revelar à imprensa que a Justiça tinha autorizado a quebra do sigilo bancário da Assembléia, para investigar o destino das verbas de subvenção social. Em sua justificativa, Cavalcanti alegou que os deputados não tinham provas para acusar a promotora de não agir conforme a Lei Complementar nº 12, que regulamenta a atuação dos integrantes do MP. “Promovo o arquivamento ante a ausência de provas sobre fatos nela articulados, bem como em razão da inexistência de elementos que nos conduzam à conclusão de ter sido o comportamento da representada (promotora) contrário a respeitabilidade e dignidade do cargo”, justificou. Cavalcanti considerou “injusto” o fato de “se submeter alguém ao constrangimento de responder a um processo disciplinar, sem indício ou prova da infração”. A representação, segundo ele, só seria justificada se ao conceder entrevista a promotora tivesse desrespeitado a dignidade do cargo. Mas entendeu que ela se limitou a falar sobre a quebra do sigilo bancário da Assembléia, sem tecer comentário desrespeitoso. Artigos A questão do racismo MANUEL CORREIA DE ANDRADE A conferência convocada pelas Nações Unidas, realizada em Durban, na África do Sul, não alcançou os objetivos desejados, já que os poderosos, os maiores discriminadores, boicotaram e tentaram controlar as reivindicações dos discriminados e solapar a importância da reunião. Na verdade, o preconceito étnico sempre foi apontado como discriminação primeira, mais forte. No entanto, há outras formas de discriminação, também grandes, que se manifestam a todo momento. Assim, é preconceito o que ora está ocorrendo na Irlanda do Norte, um preconceito religioso, uma guerra inexplicável em que católicos discriminam protestantes e vice-versa. Uma luta que chega a impedir que se realize a unidade de República da Irlanda. Incrível também e absurda, é a guerra da Cachemira em que hindus e muçulmanos lutam dificultando que a Índia e o Paquistão possam desenvolver relações de países vizinhos. Lamentável é a luta que se trava na antiga Iugoslávia, luta que provocou um grande morticínio entre sérvios ortodoxos e croatas católicos, assim como entre estes e os bósnios muçulmanos, acentuando o fenômeno da balcanização. Mas não são só essas lutas, temos também aquela que se passa entre os albaneses e que extravasa das fronteiras políticas do país, para manterem a sua identidade no Kossovo e na Macedônia, sem falar na situação dos armênios lutando com azaris e em confronto com os russos e turcos, e dos vinte milhões de curdos que ocupam territórios da Turquia, da Síria, do Iraque e do Iran, sem poderem dispor de um território para estabelecer seu próprio Estado. Não se pode esquecer os ciganos que perambulam pela Europa e Ásia, sofrendo as maiores perseguições, e dos povos africanos colocados em um mesmo Estado, sem terem qualquer afinidade, como os tutsis e os hutos ou os ibos e os iorubás que vivem a se guerrear. As discriminações políticas, religiosas e culturais são muito fortes em toda a face da Terra, gerando problemas que são sentidos no próprio continente americano, onde os indígenas são sempre espoliados e discriminados, e no Brasil onde o problema da demarcação das terras indígenas se arrasta, sendo motivo de noticiário nos jornais e revistas. No Brasil, durante muito tempo se defendeu a inexistência de preconceito racial, mas se observa que é insignificante o número de negros ou mulatos em altos cargos públicos, além de fazerem parte da linguagem do povo expressões discriminatórias como a de “um negro de alma branca”, como um elogio ao negro, ou se dizer que não há problema de racismo no Brasil porque “o negro conhece o seu lugar”. Esse preconceito contra o negro e o índio é estendido ao pobre, chegando-se a admitir que o pobre, mesmo branco, é ignorante, sujo, preguiçoso, indolente, inferior. A pobreza vem se tornando, com a evolução do capitalismo, um estigma para aqueles menos dotados; a corrução, muitas vezes, é confundida com capacidade de empreendimento e o corruto passa a ser visto como um sujeito capaz, “um cabra danado de sabido”. Pode-se observar ainda o desprezo com que a sociedade capitalista encara a situação dos deficientes, diante de sua incapacidade de agir, desprezo que se estende até aos doentes. Historicamente sabemos que há uma forte discriminação contra as mulheres, embora essas, depois da entrada no mercado de trabalho, venham ganhando espaços bem mais amplos, mesmo em sociedades mais tradicionais, tanto sob o ponto de vista político, como religioso, como no Paquistão, no Ceilão e na Indonésia, onde elas têm alcançado postos de chefia do Estado e do governo. Mas, ainda assim, podemos ver que são poucas as ministras de Estado, comandantes militares, dirigentes de grandes organizações em comparação com os homens. Na reunião de Durban o que mais contribuiu para o seu quase fracasso foi a reivindicação dos povos pobres a uma indenização por parte dos povos ricos, que construíram a sua riqueza e poderio à custa da exploração da força de trabalho escrava e quase escrava. A exploração desta mão-de-obra continua a ser feita, nos dias atuais, com o controle da economia mundial pelo capital especulador que, dos países ricos, domina a economia dos países emergentes ou que sonham em emergir. Os pobres quiseram tocar no controle econômico dos países ricos e estes, como sempre, lembraram que poderiam fazer concessões de migalhas na periferia, mas nunca atingindo o centro do controle econômico. Eles agiram como se dissessem “vocês podem comer um pouco da papa nas beiradas do prato, mas nunca vão atingir o centro deste prato”. Colunistas Pinga-Fogo - Inaldo Sampaio O drama de Armando O drama político de Armando Monteiro Neto terá o seu desfecho na próxima semana. Ele está desconfortável no PMDB, distante do governador Jarbas Vasconcelos e do presidente regional Dorany Sampaio, porém ainda não sabe se sai ou se fica. Se ficar, permanecerá na incômoda posição de “eterno dissidente” e sendo tratado pelos áulicos do Palácio como um opositor dissimulado. E, se sair, talvez desagrade a uma parcela das suas bases interioranas. Político da área de negócios, era natural que fosse um militante de carteirinha do PFL ou do PSDB, tão conservadores quanto o seu PMDB, mas ele descarta essas opções. Não vê o PFL com simpatia e considera o PSDB regional, sob o comando de Sérgio Guerra, um “acampamento de adesistas” malgrado a sua admiração por figuras isoladas do partido, como seus primos Roberto Magalhães e José Múcio Monteiro, ambos egressos da Frente Liberal. Ele esteve próximo do PTB, chegando a negociar com Carlos Wilson uma divisão equitativa de cadeiras na executiva regional mas faltou uniformidade de pensamento sobre a sucessão de FHC. O deputado assumia o compromisso de votar em Ciro Gomes para presidente da República, ao passo que o senador permanece indeciso entre Lula e o ex-ministro. Só lhe resta agora o PPS. Carta-reserva A aliança PDT-PPS para 2002 não significa que o deputado José Queiroz não possa ser apoiado pelos outros partidos de oposição como candidato único das esquerdas à sucessão estadual. O PSB nutre por ele uma grande simpatia, a julgar por esse depoimento do deputado Eduardo Campos: “Ele faz uma oposição correta e competente ao governo de Jarbas Vasconcelos”. O problema é saber se o próprio Queiroz está interessado na candidatura. Causa tranquila A Corte Especial do Tribunal de Justiça julgará amanhã, a partir das 14h, mandado de segurança contra a Assembléia Legislativa impetrado pelo Sisalepe (Sindicato dos Servidores). Os funcionários reclamam o pagamento do resíduo de 11,98%, quando da conversão errônea da URV para Real, sobre o qual o STF já se pronunciou. Parada federal O vereador olindense Pedro Mendes (PSB) começa a colocar nas ruas a sua campanha para a Câmara Federal. Durante o congresso municipal do partido, hoje, ele vai oferecer um curso de “formação política” para qualquer cidadão ou cidadã que estiver interessado(a). O curso será ministrado a partir das 9h na Câmara Municipal. Próxima meta do líder do PFL é universidade Inspirado em Osvaldo Coelho, que arrancou de FHC uma universidade para Petrolina, Inocêncio Oliveira caiu em campo. Vai pedir ao ministro Paulo Renato (educação) um “campus universitário” para Serra Talhada. Chapa contra os “Mendonça” já está definida Já foi definida em Belo Jardim a chapa de oposição ao grupo Mendonça. O candidato a deputado federal será Nílson Gibson e o candidato a estadual Silvano Galvão (PSB). Este último foi candidato a prefeito no ano 2000. A força de Brito Mesmo sem ser detentor de mandato eletivo, o ex-governador Antonio Brito (ex-PMDB) é uma liderança expressiva no Rio Grande do Sul. Está indo para o PPS pelas mãos de Roberto Freire levando um deputado federal (Nélson Proença), seis estaduais e 150 prefeitos. Quem tem essa força em Pernambuco? Agenda política Roberto Magalhães estará nesta segunda-feira (10h) na Câmara Municipal de Jaboatão. Atende a convite do presidente Joaquim Barreto (PSC) para proferir uma palestra sobre a atividade legislativa. O prefeito Fernando Rodovalho estará presente, juntamente com parte do secretariado. Os partidos da base governista ainda não conseguiram produzir uma liderança para se contrapor ao clã dos “Lapa” no município de Carpina. Fala-se no ex-deputado Paulo Marques mas ele não está com disposição. Edvílson Goiaba, “inventado” por Sérgio Guerra em 99, hoje é aliado do prefeito. Uma das alegrias que Marco Maciel teve no Recife, na última sexta-feira, foi a confirmação de que o deputado Roberto Liberato (ex-PL) vai mesmo se filiar ao PFL. Nesse mesmo dia, porém, chegou uma má notícia de Vitória de Santo Antão. Os dois únicos vereadores do partido filiaram-se ao PSB para apoiar Aglaílson Júnior para deputado estadual. A CPI dos Combustíveis que funcionou em Pernambuco está sendo copiada por outros Estados. A Assembléia Legislativa de Mato Grosso instalou a sua e convidou Teresa Duere (PFL) para fazer uma palestra. A de PE deu resultados satisfatórios: diminuiu a sonegação e inibiu a “indústria” das liminares. Integrantes da mesa diretora da Assembléia Legislativa são contra a instalação da “CPI da Telemar” proposta pelo deputado Antonio Moraes (PSDB). Alegam que em setembro de 99 fez-se uma CPI para investigá-la, por sugestão do deputado Pedro Eurico (PSDB). E que de lá para cá não aconteceram “fatos novos”. Editorial “República” de estudantes Ainda está em tempo de comemorar o 70º aniversário da Casa do Estudante de Pernambuco, a maior e mais representativa “república” do Nordeste. Era com esse nome que se batizava uma pensão ou pousada, cuja clientela majoritária era formada por rapazes do interior que vinham completar seus estudos num Recife pacato da primeira metade do século passado. Numa delas, talvez imaginária, moravam os personagens do livro “O Pátio Vermelho”, único romance de Mauro Mota, mais conhecido como poeta e ensaísta, e que tem como subtítulo “crônica de uma pensão de estudante”. Milhares de estudantes (geralmente pobres) do interior, não só de Pernambuco, mas de todo o Nordeste, se abrigaram no prédio de quatro pavimentos da Rua Henrique Dias, geralmente chamados de “xepeiros” (”xepa” é o nome dado à refeição servida pela Casa). Muitos desses rapazes tornaram-se famosos como poetas, músicos, políticos, administradores, bastando citar o poeta Joaquim Cardoso, o compositor Capiba, o deputado Inocêncio de Oliveira, o administrador Marcos Magalhães, atual presidente da Phillips para a América Latina, o engenheiro Mozart Siqueira, atual presidente da Chesf, e o bacharel Everardo Maciel, atual secretário da Receita Federal. Mas a lista completa é quase interminável. A Casa do Estudante de Pernambuco, que hoje se apresenta rejuvenescida, com seu edifício restaurado e ampliado, há dois anos estava ameaçada de extinção, porque o Governo do Estado resolvera suspender o repasse de recursos orçamentários, para transformá-la numa entidade autônoma. Foi então que se viu a comprovação de que uma instituição, quando está profundamente enraizada na comunidade, pelos relevantes serviços que lhe prestou, não pode ser facilmente extinta. “Xepeiros” e “ex-xepeiros”, modestos e famosos. se mobilizaram a tempo, discutiram com as autoridades do Governo uma forma alternativa de salvar a velha Casa, e saíram vitoriosos. A Casa mudou de natureza jurídica, mas não de nome, passando ao status de organização social, de acordo com as reformas administrativas em curso. Renasceu, revigorada, para continuar a missão comunitária exercitada a tantas décadas. Que missão é essa? Não se pense que a Casa do Estudante de Pernambuco limitou-se, ao longo do tempo, a constituir-se em simples albergue que servia pernoite e refeições aos estudantes pobres do interior do Nordeste. Vários foram os compromissos que nasceram com ela, a partir da longínqua década de 30 do século passado. Após promover a hospedagem do estudante carente em sua sede, e assisti-lo em suas necessidades básicas de alimentação, aquela Casa sempre procurou executar ações complementares à política de atendimento à sua jovem clientela. Uma de suas missões tradicionais é a de promover a integração dos estudantes vindos das várias partes do Nordeste – sobretudo do seu interior, tantas vezes sujeito ao fenômeno das secas periódicas – ao mundo novo que representa uma capital metropolitana como o Recife. A CEP não se preocupa, apenas, com a integração interna de sua clientela, mas tem desenvolvido meios de comunicação e intercâmbio com a sociedade civil. E até procura, tanto quanto possível, conseguir para os estudantes estágios no âmbito da especialidade escolhida na matrícula ao curso superior. Vem desenvolvendo estudos e promovendo cursos e seminários em variadas áreas do conhecimento. Até mesmo a escolha da profissão, para os estudantes indecisos, é uma tarefa que a entidade às vezes se atribuiu, e vem tentando cumpri-la ao longo do tempo. “Abrigo de gerações” pode ser chamada a agora sexagenária Casa do Estudante de Pernambuco, que parece novinha em folha, depois da reforma inaugurada oficialmente no dia 24 de agosto deste ano. E, como uma auspiciosa novidade: vai incrementar suas ações em campos variados, que vão desde o artesanato e o folclore, até a informática. Topo da página

09/30/2001


Artigos Relacionados


Valadares defende ONG da primeira-dama

Campanha para primeira-dama

Maria do Rosário recebe primeira-dama

Bancada do PMDB lamenta morte de ex-primeira-dama

Em nota, PSDB destaca atuação de ex-primeira-dama

[galeria] Primeira-dama do Canadá conhece o Fundo Social