Campanha para primeira-dama









Campanha para primeira-dama
Frente Trabalhista reafirmou apoio a Ciro Gomes. Em tratamento contra câncer de mama, Patrícia Pilar exibiu novo visual ao lado do namorado candidato

O tratamento do câncer de mama fez com que raspasse todos os seus cabelos. Mas não mudou o sorriso e a simpatia da atriz Patrícia Pillar. Em uma reunião na casa do presidente de honra do PDT, Leonel Brizola, Patrícia resolveu se tornar a mais combativa cabo eleitoral do seu namorado Ciro Gomes, candidato do PPS à Presidência da República. A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de estabelecer que as alianças feitas para presidente da República precisam ser repetidas nos estados fez com que muitos analistas políticos apostassem no fim da união entre o PPS, o PDT e o PTB para apoiar Ciro Gomes. Na casa de Brizola, os três partidos reafirmaram a aliança. Mas nenhum político brilhou tanto quanto Patrícia Pillar, no início da sua campanha para se tornar primeira-dama.

Patrícia apareceu ao lado de Ciro no encontro político na casa de Brizola. Sorridente, ela disse que resolveu cortar os cabelos depois que eles começaram a cair por causa da quimioterapia. Patrícia garante que gostou do novo visual. ‘‘Sou como sou. A realidade é interessante. Assim está. Assim que é. Está bom’’, afirmou. A atriz esclareceu que continua funcionária da Rede Globo. ‘‘Estou contratada, mas quando puder estar perto dele, defendendo essa idéia, estarei’’, disse, antes de pedir votos ao namorado. ‘‘Como cidadã, acho que a sociedade brasileira merece a chance de ter uma nova visão do Brasil, com a possibilidade de ter uma boa política’’, defendeu como se estivesse fazendo um comício.

Ciro elogiou a coragem da mulher ao enfrentar a doença e explicou que a levou ao apartamento de Brizola para ficar a seu lado. ‘‘Tenho pouca oportunidade de estar com ela, por isso a convidei para vir comigo, com o consentimento do governador Brizola’’, disse.

Logo após o encontro, os presidentes dos três partidos que formam a Frente Trabalhista soltaram nota reafirmando o apóio à candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. Participaram do encontro o senador Roberto Freire (PPS-PE), o deputado José Carlos Martinez (PTB-PR), o líder da bancada do PTB na Câmara, Roberto Jefferson (RJ).

Para resolver os problemas que podem surgir do fato de os três partidos não poderem fazer outras alianças nos estados, uma das propostas discutidas é a de intensificar a presença de Ciro onde a frente não tiver um candidato forte para governador. ‘‘Combinamos que no estado onde estiver alguém mais dodói, em face das condições políticas determinadas pela frente trabalhista, vamos pessoalmente oferecer carinho e soluções politicamente viáveis’’, prometeu Martinez. Ciro afirmou que também fará tudo para manter a aliança.


TSE não esclarecerá dúvidas dos partidos
As eleições vão continuar de pernas para o ar. Hoje, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anunciará 12 resoluções para definir as regras para o pleito de outubro deste ano. Entre as normas que serão tratadas nas resoluções, está o detalhamento da decisão de que as alianças feitas pelos partidos para na eleição para presidente da República precisam ser seguidas nas eleições estaduais. Mas, ao contrário da expectativa dos partidos, o TSE não esclarecerá hoje em que termos deve se dar essa verticalização das coligações. As dúvidas que surgiram depois da decisão não serão respondidas.

O TSE não responderá, por exemplo, em que situação fica o partido que não fizer qualquer coligação em nível nacional. Se esse partido não apoiar ninguém para presidente, fica livre para fazer qualquer coligação nos estados? E as coligações informais, as chamadas coligações brancas (o partido oficialmente encaixa-se em uma aliança, mas faz informalmente campanha para outro candidato)? Serão permitidas? O TSE não esclarecerá.

A resposta do Tribunal para a decisão sobre as coligações constará da instrução número 75. Os ministros resolveram que ela se limitará a responder à dúvida do PDT. Dirá, portanto, apenas que os partidos que se coligarem para presidente da República não podem nos estados fazer coligações com outros partidos que apóiem outros candidatos para presidente. Quem quiser esclarecer outras dúvidas que surgiram como conseqüência da decisão tomada pelo TSE, terá de apresentar nova consulta.

Além da questão das coligações, as normas regulamentarão também outros temas, como a propaganda eleitoral, incluindo a distribuição do tempo no horário gratuito de rádio e televisão, o uso da urna eletrônica, a apuração e a totalização dos votos, a divulgação do resultado e o voto no exterior. No geral, as regras que serão aprovadas pelo TSE devem apenas detalhar o previsto na lei eleitoral.


Simon: cúpula boicota prévias
O senador Pedro Simon (PMDB-RS) um dos pré-candidatos peemedebistas à Presidência da República, também criticou o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e a cúpula do partido. Simon acusou Temer de estar ‘‘boicotando’’ a realização das prévias. ‘‘A nossa luta não é pessoal. Mas para salvar o partido de legião estrangeira que está no seu comando e que não tem a lisura, a postura necessária para comandar o partido numa hora dessas’’, afirmou Simon. Na convenção de domingo, o senador defendeu a candidatura própria do partido com manutenção das prévias no próximo dia 17 e quórum reduzido de 50% para 20% para presença dos convencionais.


Em busca do tempo perdido
No mesmo dia em que Sarney Filho deixa o Ministério do Meio Ambiente em protesto contra ação da Polícia Federal, que investiga empresa de sua irmã por suposta fraude na Sudam, FHC tenta conter a ira pefelista e manter o partido no governo

O presidente Fernando Henrique Cardoso saiu a campo com pelo menos 72 horas de atraso para tentar evitar o rompimento do PFL com o governo. Não deu tempo para evitar o pedido de demissão do ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, irmão da governadora do Maranhão, Roseana Sarney. O ministro sequer participou do almoço com o príncipe Charles, da Inglaterra, em protesto contra a ação da Polícia Federal que apreendeu em São Luís, na sexta-feira, documentos na empresa Lunus, que pertence a Roseana e seu marido, Jorge Murad. A empresa é suspeita de envolvimento no desvio de recursos da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).

O presidente tem outras 72 horas para conter a mais aguda crise pefelista em oito anos de aliança com o PSDB. Na quinta-feira, o PFL decidirá seu destino. Ontem à noite, Fernando Henrique fez apelos contundentes pela permanência no governo dos três ministros pefelistas — Roberto Brant, da Previdência, José Jorge, de Minas e Energia, e Carlos Melles, dos Esportes — chamados ao Palácio da Alvorada, junto com o presidente do PFL, Jorge Bornhausen. ‘‘Eu não saberia governar sem vocês’’, disse Fernando Henrique, que hoje falará com Roseana.

Ontem, nenhum pefelista sabia dizer se haveria espaço para a reconciliação. O PFL ainda não vê como resgatar Roseana — a estrela em que aposta suas fichas eleitorais — do constrangimento de ter a empresa suspeita de envolvimento no caso Sudam. ‘‘Estou com a impressão de que Fernando Henrique quer nos convencer a ficar no gogó. Mas que ninguém espere que o governo possa nos convidar para o nosso próprio enterro’’, comentou Bornhausen, à tarde, com integrantes da Executiva do partido.

O que mais irritou os caciques do PFL foi o tom do ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, no sábado, quando afirmou que a polícia não faz favores políticos, ‘‘doa a quem doer’’. O PFL considerou que o ministro, ligado ao presidenciá vel do PSDB, José Serra, quis agredir Roseana. Ontem, Aloysio foi repreendido por Fernando Henrique por suas declarações e abriu sindicância para apurar o vazamento da operação da PF à imprensa.

O ministro dos Esportes, Carlos Melles, disse ser ‘‘inevitável’’ o PFL deixar o governo. ‘‘Os rumos que estão tomando as discussões impedem outra decisão que não esta’’, comentou.

Sem proveito político
Por enquanto, o único aceno que o governo dá ao PFL é a promessa de que o PSDB não tirará proveito político da investigação. ‘‘Só se o governo fosse composto de débeis mentais para cometer um ato desses contra um partido aliado’’, disse o senador Arthur da Távola (PSDB-RJ), em discurso no Congresso, combinado com Fernando Henrique. Arthur da Távola disse ainda que o presidente não sabia da ação policial na Lunus e ‘‘mesmo se soubesse, não poderia impedi-la’’. O senador lembrou que ‘‘setores éticos que defendem a investigação de casos de corrupção têm que concordar’’ que não cabia ao presidente impedir uma apreensão com ordem judicial.

Em entrevista à Globonews, o presidente reforçou esses argumentos e se referiu à crise como ‘‘tempestade em copo d’água’’. Sem citar nomes, cobrou equilíbrio dos candidatos a presidente. ‘‘Acho que a principal virtude de quem quer governar o Brasil é ter equilíbrio, razão, bom senso, evitar que as emoções entorpeçam a capacidade das pessoas de analisar as situações e ver o que é melhor para si e para o país’’, afirmou.
Embora a tensão exista, algumas estrelas do PFL apostam na reconciliação. Até porque o partido tem verdadeiros feudos no governo (leia quadro nesta página) e uma parceria que se mantém desde 1994. ‘‘Não importa quem venha a ser presidente, o importante é governabilidade’’, disse o governador do Paraná, Jaime Lerner. Presidente do PFL paulista, Cláudio Lembo recomendou ‘‘mais bom senso e menos verborragia’’ aos partidos e cobrou equilíbrio dos pefelistas.

O deputado César Bandeira (PFL-MA), um dos representantes dos Sarney na Executiva do PFL, também não descartou a possibilidade de entendimento. ‘‘Em política, tudo pode ser esclarecido ou negociado. Se o Jorge errou, que pague pelos erros, mas tem que ser dado a ele pelo menos o direito de defesa’’, disse.
O tom da família Sarney será dado na quarta-feira, quando o senador José Sarney irá à tribuna defender sua filha. No sábado, planejava discurso violento contra o governo. Ontem, comentou com amigos que fará um discurso de pai, ou seja, não pretende se aprofundar nas denúncias, mas defender a honra de Roseana.

Bombeiro, não!
Em mais um lance de seu duelo interno no PSDB com José Serra, o governador Tasso Jereissati (CE) afirmou ontem ter ‘‘estranhado’’ a veiculação de notícias segundo as quais ele seria o ‘‘bombeiro’’ a apaziguar as relações entre o tucanato e Roseana Sarney (PFL-MA). Por meio de sua assessoria, Tasso negou que vá atuar no caso e confirmou ter telefonado para a governadora no final de semana, logo que houve a ação da Polícia Federal na empresa Lunus, que a Roseana possui em sociedade com o marido, Jorge Murad. Amigo de Roseana, Tasso disse que telefonou para ‘‘se solidarizar’’. O governador do Ceará disse que desconhece qualquer plano do Planalto, que o envolva, para tentar acalmar Roseana e o PFL.


MP diz que Roseana agiu em favor da Usimar
Ministério Público acusa governadora do Maranhão e seu marido, Jorge Murad, de improbidade administrativa por defenderem a aprovação de projeto irregular no estado com financiamento da Sudam

A atuação da governadora Roseana Sarney no Conselho Deliberativo (Condel) da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) rendeu a ela uma ação por improbidade administrativa. Denúncia do Ministério Público à Justiça Federal do Maranhão acusa a governadora Roseana Sarney de atuar junto ao Conselho Deliberativo (Condel) da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) para aprovar o projeto de implantação da Usimar em dezembro de 1999. O projeto desviou R$ 44 milhões de dinheiro público sem que fosse instalada uma única unidade produtiva da fábrica em São Luís, no Maranhão.
O Corrreio obteve cópia da denúncia. ‘‘Ganha maior destaque e gravidade, dentre os membros do Condel, a conduta da conselheira e governadora Roseana Sarney para aprovação do projeto Usimar’’, escreveram na denúncia, em dezembro do ano passado, os procuradores Leston Pinheiro Lages e Carlos Wagner Barbosa Guimarães à Justiça Federal do Tocantins. Segundo eles, ao ser questionada sobre a atuação de seu governo em relação à Usimar, Roseana informou que tal participação limitou-se à transferência do terreno onde se implantaria o projeto. Mas, segundo os procuradores, ‘‘o resultado das investigações aponta no sentido contrário’’.

De acordo com os procuradores, Roseana e seu marido e gerente de Planejamento do estado do Maranhão, Jorge Francisco Murad Júnior, atuaram ostensivamente para obter o enquadramento do projeto Usimar na Sudam. Um mês antes da reunião do Conselho Deliberativo em que o projeto foi aprovado, Roseana ligou para o então ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, em busca de apoio à aprovação do projeto. Em depoimento à Polícia Federal, Bezerra detalhou a atuação da governadora. Segundo ele, Roseana pediu que a análise do projeto Usimar fosse incluída na pauta da última reunião de dezembro, quando foi aprovado. Além de Roseana e Murad, outras 38 pessoas foram denunciadas por improbidade.

O ex-superintendente da Sudam Maurício Vasconcelos, indicado para o cargo pelo ex-senador Jader Barbalho, também acusado de intermediar a aprovação de negócios na área de atuação da Sudam, disse ter ouvido de Bezerra que Roseana tinha afirmado seu interesse no projeto. Maurício também foi denunciado. Como principal executivo da Sudam, ele teve participação direta na liberação de recursos para a Usimar. O projeto completo era orçado em R$ 1,3 bilhão.

Na reunião da Sudam que aprovou a Usimar, apenas o superintendente da Receita Federal José Barroso Tostes Neto votou contra o enquadramento do projeto. Tostes registrou sua posição em voto computado separadamente em ata. Mesmo assim, foi procurado por Murad, que elogiou o projeto mesmo depois de o funcionário apontar irregularidades. Ao conselho, Tostes Neto havia solicitado somente que a aprovação do projeto ficasse condicionada à correção das irregularidades. Tostes Neto falou por mais de uma hora em reunião prévia sobre a falta comprovação de capacidade econômico-financeira da Usimar.

Terreno
A denúncia relata ainda que Jorge Murad determinou a transferência à Usimar do terreno onde seria implantado o projeto em 9 de dezembro de 1999, véspera da reunião do Conselho Deliberativo da Sudam. O terreno foi transferido à empresa por dez parcelas de R$ 12.240,95, embora tenha constado na Sudam como doação recebida do governo do Maranhão. Segundo o Ministério Público, o antigo dono do terreno alega que o área valeria pelo menos R$ 1,9 milhão.

Além disso, a ação de desapropriação havia sido impetrada dia 3 de dezembro de 1999, apenas seis dias antes de o governo transferir, de forma ilegal, o terreno para a Usimar. Na data da transferência, a Justiça sequer havia concedido a imissão provisória de posse do terreno, então pertencente à empresa Estral - Escavações e Transportes S/A. Depois do início oficial da obra, uma fiscalização da Sudam atestou a existência de maquinário no valor de R$ 102 milhões no local. Os equipamentos eram a contrapartida para a empresa receber o financiamento público e as primeiras parcelas foram liberadas. Mas a afirmação era falsa: as máquinas nunca existiram. A diretora do Coaf, Adrienne Senna, negou ontem que tenha repassado ao Ministério P úblico documentos sobre Jorge Murad.

O caso usimar
Constituída em agosto de 1999, a Usimar Componentes Automotivos Ltda. conseguiu aprovar na Sudam, em dezembro do mesmo ano, um projeto de R$ 1,3 bilhão para construir uma fábrica de peças para automóveis em São Luís

Segundo o projeto, a Sudam entraria com 50% dos recursos, e a empresa com a outra metade. A Usimar recebeu a primeira verba da Sudam, de R$ 22 milhões, em janeiro de 2000, e a segunda, também de R$ 22 milhões, em abril

A cada real investido pela Sudam, deveria corresponder outro real da empresa. Mas a Usimar não colocou a sua parte. Uma suposta contrapartida de R$ 102 milhões em máquinas nunca foi encontrada

O escândalo estourou em novembro. A Sudam suspendeu os repasses, e o Ministério Público ajuizou ação civil contra Roseana e seu marido, Jorge Murad. Eles foram responsabilizados porque aprovaram o projeto da Usimar

Mais tarde, a Polícia Federal descobriu indícios da participação da Lunus, uma empresa de Roseana e seu marido, em projetos da Sudam. A Lunus foi criada em 1993, quando adquiriu participação na Agrima, sócia do projeto Nova Holanda, que recebeu R$ 32 milhões da Sudam. As sedes da Lunus, da Agrima e da Usimar ficam no mesmo prédio em São Luís

Em 1994, a Lunus deixou de ter participação na Agrima. Mas a Polícia desconfia que a saída foi apenas fachada. A Lunus manteria um contrato de gaveta com a Agrima

— Para investigar esses indícios, na sexta-feira, a Polícia Federal entrou na sede da Lunus para apreender documentos, por ordem da Justiça Federal do Tocantins. Para Roseana, porém, a ação policial tinha conteúdo político e o propósito de prejudicar a sua candidatura
EUA afetam indústria brasileira


Brasil quer ser incluído em lista de países pobres para ficar livre das barreiras americanas à venda de aço
Medo de tarifaço fez o preço das ações da Usiminas, empresa que exporta para os Estados Unidos, cair 3% em um único dia

O presidente americano George W. Bush anuncia até amanhã os mecanismos que serão usados para barrar ou limitar a importação do aço brasileiro, mas as principais siderúrgicas nacionais começaram a sofrer prejuízos ontem. As ações das grandes companhias brasileiras tiveram forte baixa na Bolsa de Valores de São Paulo. Os papéis da Usiminas despencaram até 4,75% e fecharam em baixa de 3,12% — sinal de que os investidores temem queda nos lucros da empresa, que exporta 20% de sua produção para os Estados Unidos. As ações das demais caíram até 3,09%, mas se recuperaram ao final do dia acalmadas pelos rumores de que o Brasil poderia ser considerado um país pobre pelo governo americano e assim escapar de algumas barreiras. A imprensa americana aposta que Bush adotará uma mistura de cotas e sobretaxas de importação para encarecer o preço do aço brasileiro.

As negociações sobre a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) podem entrar em banho-maria como troco brasileiro à agressão comercial americana. Apesar de protecionistas, os Estados Unidos querem derrubar as barreiras de outros países e inundá-los com seus produtos. ‘‘Se um interesse tão grande nosso, que é o aço, não é tratado da maneira que achamos que deveria ser tratado, é claro que nós examinaremos outros assuntos de interesse dos Estados Unidos com uma visão limitada e boa vontade restrita’’, afirma o ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer. A Alca é um sonho do secretário de comércio exterior dos Estados Unidos, Robert Zoellick, que assumiu com um discurso liberal, mas tem adotado posturas protecionistas para salvar empregos e empresas americanas em dificuldades.

Promessa de campanha de Bush, as barreiras contra o aço brasileiro são uma antiga reivindicação do setor siderúrgico americano, que detém um parque industrial decadente, oneroso e pouco competitivo. Cerca de 20 siderúrgicas dos Estados Unidos estão em processo de falência ou concordata por não terem condições de enfrentar os produtos estrangeiros — melhores e mais baratos. O Brasil vende US$ 500 milhões em aço ao ano para os Estados Unidos — 20% da produção nacional destinada à exportação — e tem a seu favor a energia barata das hidrelétricas. Nos Estados Unidos, a energia é cara porque há forte presença de usinas termelétricas e nucleares.

Pesquisas internacionais apontam o aço brasileiro como o mais competitivo do mundo: a tonelada de placas de aço produzida aqui chega aos Estados Unidos por US$ 130. O mesmo produto elaborado lá não sai por menos de US$ 200.

O lobby do setor siderúrgico americano reclama que o governo brasileiro vendeu barato demais as indústrias nacionais e, por esse motivo, os novos donos têm a chance de oferecer aço com preço abaixo do mercado. Na semana passada, o Departamento de Comércio dos Estados Unidos concluiu que é preciso barrar o aço laminado a frio brasileiro com o estabelecimento de sobretaxas de até 12,58%. Esse aço pode ser usado para produzir carros e geladeiras, por exemplo. A justificativa não foi nenhuma novidade: as siderúrgicas daqui se beneficiariam de subsídios da época em que eram estatais.

Esse mesmo argumento foi usado pelos americanos há três anos para restringir a entrada de aço europeu no país. A União Européia reclamou na Organização Mundial de Comércio (OMC), órgão encarregado de zelar pela livre concorrência internacional. O Brasil apóia os europeus, com medo de que as barreiras americanas levem a uma superoferta de aço fora dos Estados Unidos. Isso resultaria em queda de preços. Para evitar esse risco, a própria União Européia poderia levantar barreiras contra o aço brasileiro. O processo ainda não foi julgado, mas há precedentes de outros casos contra os Estados Unidos.


Artigos

Duas correções tardias
Um candidato a deputado que, sem coligação partidária, recebe dezenas de milhares de votos não se elege, enquanto o favorecido pela simbiose é eleito com cinco vezes menos votos

Jarbas Passarinho

A resposta a uma consulta ao TSE e os amplos poderes aos militares colombianos provam que a pior decisão é a que se toma tardiamente. Iniciativa do deputado Miro Teixeira, um dos congressistas mais eficientes e preparados, não me surpreendeu a interpretação do tribunal. Seu mérito maior: elimina a excrescência que são as coligações entre partidos, para servir a fins oportunistas nas eleições, ou inconfessáveis antes delas, nas quais os chamados partidos nanicos sobrevivem aliando-se até a outros ideologicamente antagônicos. Numa estranha simbiose com partidos maiores, negociam tempos gratuitos de televisão e rádio e dão-lhes alguns votos. Em contrapartida, um candidato a deputado que, sem coligação partidária, recebe dezenas de milhares de votos não se elege, enquanto o favorecido pela simbiose é eleito com cinco vezes menos votos, favorecido pelo partido a que se coligou, uma espécie de partido-mãe que lhe serviu de barriga de aluguel. É a deformação da democracia representativa.

O deputado Miro está certo ao dizer que quem ganha é o povo ‘‘porque vai ter partidos definidos, candidaturas que representam um programa partidário’’. Lástima é que, em geral, os partidos não tenham programas senão pró-forma e seus eleitos nenhum comprometimento sequer com eles. Pena é que a consulta, velha de oito meses, só viesse a ser respondida a poucos meses das eleições, suscitando a suspeita de manobra casuística ao inviabilizar os arranjos já selados para outubro próximo. Não se trata de mudança da lei eleitoral, mas de interpretação da lei vigente. Tardiamente embora, é um avanço enorme o fim da coligação espúria. A lei eleitoral dos países democráticos avançados não contempla essa simbiose, mais próxima do saprofitismo. Já copiamos do Uruguai outra excrescên cia, a sublegenda, mas aposto que nem lá se encontre a química dessas coligações.

A Colômbia está em guerra civil. Ao longo do período turbulento das guerrilhas na América do Sul, manteve inalteradas as liberdades fundamentais, que garantiram longevidade às duas guerrilhas comunistas, a do ELN e as Farc. Mais de 1 milhão de colombianos migraram para países vizinhos, aterrorizados. Milhares foram chacinados. Inconformada com a leniência dos governantes, a extrema direita criou os paramilitares, que já são 12 mil. A Colômbia, afinal, após quase 40 anos de ilusórias tentativas de negociações, percebe que a manutenção das liberdades fundamentais limitaram ou anularam a sua capacidade de vencer os comunistas. Acaba de conceder amplos poderes aos militares e decreta medidas de exceção.

Será fatal a colisão dos liberais defensores dos direitos civis com os comandantes militares, a começar pela liberdade de imprensa. Se insuficientes os ‘‘amplos poderes’’, virá na escalada o estado de sítio. Se não tivesse esperado tantos anos, a Colômbia não estaria, agora, a combater quem já domina perto de 40% do território do país, dispõe de farto armamento e munição e 15 mil combatentes financiados pelo narcotráfico e seqüestros. Remédio tardio, prova o erro grave do Estado que, para não ferir temporariamente as liberdades, concedeu-as aos que querem destruí-la.

PS: Em artigo anterior, afirmei que o professor Cristovam — com quem não pretendia polemizar — teria, quando governador, denominado Buarque’s Scholarship o seu programa de Bolsa-Escola, o que foi desmentido categoricamente por ele. Pois é assim, Buarque’s Scholarship, que se lê na divulgata distribuída em inglês, segundo a fonte GDF/SE/Deplan/DP. Possivelmente esconderam isso do governador, que não se exporia, agora, a desmentir o indesmentível.


Editorial

GUERRA IRRACIONAL

A escalada das operações militares dos Estados Unidos no Afeganistão surpreende o mundo. Supunha-se que a guerra se encerrara com a derrubada do governo talibã, a tomada do território, os ataques contra os últimos focos de resistência e a feitura de milhares de prisioneiros. Apenas restaria realizar algumas ações de rescaldo. Pelo menos, assim davam a entender os informes oficiais do Pentágono. Mas a agonia do povo afegão parece distante do fim.

Bombardeiros norte-americanos atacam desde sábado cordilheira nevada na região de Gardez para desarticular suposto reagrupamento de combatentes. Os guerrilheiros seriam membros da Al Qaeda, a rede terrorista liderada por Osama bin Laden, e de milícias integristas. Por terra, mais de mil e quinhentos soldados, a maioria afegãos, e comandos norte-americanos, australianos e canadenses lutam contra o bolsão de resistência.

Além de mísseis disparados de helicópteros, bombas termobáricas de efeitos devastadores têm sido lançadas contra cavernas. O Pentágono acredita que em tais abrigos estariam entrincheirados os contingentes. As bombas de pressão barométrica infiltram-se na abertura das rochas e produzem dois efeitos mortais: disseminam partículas sensíveis em toda a área, e componentes químicos cuidam de explodi-las. Nada com vida permanece no lugar. As explosões eliminam por completo o oxigênio do ar.

A escalada da guerra exibe determinismo que escapa dos limites de racionalidade. Após vinte anos de insurreição intestina, conflito com a agora extinta União Soviética e ataques colossais dos Estados Unidos, o Afeganistão converteu-se em enorme ruína. O povo sobrevivente e os que escaparam em campos de refugiados experimentam tempos de sofrimento e miséria. Não parece justo manter o país acossado pelos horrores do conflito e prisioneiro do medo.

A maioria dos países da aliança militar há tempos exorta Washington para que torne transparente suas intenções no Afeganistão. Há fundados receios de que o combustível das hostilidades não seja de fato apenas a vontade de extinguir o terrorismo, mas exibição de força que se justifica por si mesma. Ou por interesses políticos mantidos à sombra.

O presidente George W. Bush assumiu perante o mundo o compromisso de ajudar a reconstruir o Afeganistão. Está aí uma forma de dissolver os ácidos do inconformismo que fermentam o ideário terrorista. Até agora, contudo, o auxílio não passou de promessa vã. Pior: o contínuo despejo de bombas apocalípticas, mísseis e outros engenhos mortíferos acentua o desenho do Afeganistão como cenário de terra arrasada.
A guerra já foi mais longe do que recomendava a consciência civilizada do mundo. Encerrá-la é questão de respeito aos direitos humanos.


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03/05/2002


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