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- O Haiti viveu muito tempo em ditaduras e nessa época havia alguma forma de estabilidade. Há 20 anos estamos tentando construir a estabilidade na democracia e é muito difícil - afirmou a primeira-ministra.

Michele Pierre-Louis pediu também a cooperação brasileira em obras de infra-estrutura, principalmente na geração de eletricidade, uma vez que o país não tem iluminação pública. A primeira-ministra lamentou ainda que o Haiti, que já vive em situação precária, tenha sido atingido por quatro ciclones recentemente.

- Ainda não tínhamos terminado de ajudar as vítimas do primeiro ciclone e vieram outros. O país foi devastado. Não estamos equipados para enfrentar uma situação como essa - disse aos senadores.

O presidente da CRE, senador Heráclito Fortes (DEM-PI), informou à primeira-ministra que a comissão aprovou recentemente autorização para o envio de mais cem homens da área de engenharia das Forças Armadas para auxiliar o Haiti em obras de infra-estrutura.

A reunião com a primeira-ministra contou com a presença, ainda, do chancelar do Haiti, Jean Renaud. A comitiva da CRE, que cumpriu agenda de visitas a cinco países caribenhos e da América Central - Guiana, Panamá, Jamaica, República Dominicana e Haiti - foi formada, além de Heráclito, pelos senadores Marco Antônio Costa (DEM-TO), Virgínio de Carvalho (PSC-SE) e Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC). Na noite desta segunda-feira, a delegação retornou ao Brasil.

Credibilidade

No último dia da viagem, os parlamentares encontraram-se também com o secretário-geral da missão de paz da ONU no Haiti, Hed Hannabi. O representante da ONU pediu aos senadores que as tropas brasileiras sejam mantidas no país por pelo menos mais um ano.

De acordo com Hed Hannabi, a ONU conseguiu restabelecer a segurança no Haiti, mas essa estabilidade só se manterá se o país conseguir fazer mudanças políticas e econômicas.

- Não vamos conseguir resolver tudo em três ou quatro anos, mas se conseguirmos implantar uma reforma judiciária no Haiti teremos uma Justiça mais acessível e com mais credibilidade e isso poderá atrair investidores - informou Hed Hannabi.

Heráclito Fortes lembrou que a CRE foi responsável pela aprovação de pedido de envio de tropas ao Haiti. Afirmou que a decisão foi polêmica, "como sempre é enviar soldados em uma missão de risco", destacou o senador.

- Mas ver a popularidade das tropas nas ruas de Porto Príncipe [capital do Haiti], mesmo nas áreas mais degradadas, nos deu uma noção do quadro real dessa missão - contou Heráclito.

Durante o encontro, o senador Heráclito Fortes perguntou ao secretário da ONU se ele tinha informações sobre um filme que denuncia supostos abusos cometidos pelas tropas brasileiras no Haiti - o filme foi mostrado pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP), em reunião da CRE no último mês. Hed Hannabi informou já ter visto o filme, mas que se trata de uma montagem.

- A ONG que divulgou esse filme não tem credibilidade nem aqui nem no exterior. Asseguro que se a tropa da ONU tivesse matado civis haveria um escândalo internacional - garantiu Hed Hannabi.

Após ouvir o secretário, Heráclito concluiu que o filme mostrado na comissão é "propaganda enganosa". O presidente da CRE perguntou ainda ao presidente do Senado haitiano, Kely Bastien, se conhecia a denúncia. Bastien também desacreditou a denúncia.

- Há pessoas que são hostis à estabilidade, que lucram com a instabilidade, e querem que as forças de paz deixem o país - disse Bastien.

O presidente do Senado haitiano agradeceu a presença das tropas brasileiras no Haiti e lamentou que os parlamentares brasileiros tenham chegado em um momento "de catástrofe", causada por quatro furacões que passaram sucessivamente pelo Haiti. Mas destacou o sucesso que é a missão brasileira no país.

- Nossos povos têm muitas afinidades - sublinhou ainda Bastien.

O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado haitiano, Revaliére Beauplan, também presente ao encontro, acredita que os soldados brasileiros têm capacidade de entender os haitianos.

- Um brasileiro no Haiti é como se estivesse em casa - opinou Beauplan.

Os dois senadores haitianos externaram seu desejo de que a missão da ONU se mantenha no Haiti. Do contrário, temem, a insegurança pode voltar.

- O Haiti é prioridade para o Brasil - tranqüilizou o senador Heráclito Fortes.

Silvia Gomide / Agência Senado
(Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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