Procuradores reconhecem limitação na investigação de braço financeiro da ‘máfia’ de Cachoeira
O grupo chefiado por Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, tem características tipicamente mafiosas de uma quadrilha montada para a prática de crimes graves, ainda em atuação, e mais lucrativa que uma grande empresa. A descrição foi feita nesta terça-feira (21) pela procuradora da República Léa Batista de Oliveira, que ao lado do colega Daniel de Resende Salgado falou à CPI mista que investiga as relações de Cachoeira com agentes públicos e privados.
Os dois integrantes do Ministério Público Federal participaram das investigações relacionadas às operações Vegas e Monte Carlo – a segunda resultou na prisão do contraventor goiano em 29 de fevereiro passado. Os procuradores falaram por mais de quatro horas a deputados e senadores.
Daniel Salgado disse que as investigações se restringiram à cooptação de agentes públicos e admitiu que o caminho do dinheiro movimentado pela organização criminosa de Carlinhos Cachoeira ainda precisa ser investigado.
– Não conseguimos completar a investigação em relação ao esquema empresarial e financeira do grupo criminoso – lamentou.
Para a procuradora Léa Batista, o “silêncio orquestrado” pelos integrantes do bando diante da Justiça Federal, em Goiás, e diante da própria CPI revela o grau de organização da quadrilha, classificada por ela de “sofisticada, armada, complexa e ousada”. Segundo ela, se o grupo não for “sufocado financeiramente”, vai continuar atuando, esteja o líder preso ou não.
– Ficou clara a estrutura hierárquica com distribuição de renda entre os membros e a lealdade ao chefe, que cooptou agentes do Estado, responsáveis por eliminar a concorrência num claro controle territorial – descreveu a procuradora.
Léa Batista também relatou aos parlamentares as formas de intimidação utilizadas pelo grupo, como dois e-mails com ameaças, ambos identificados com origem em Anápolis (GO), cidade usada como base por Cachoeira. A procuradora também contou que uma mulher tentou invadir sua residência, em Goiânia, durante a madrugada.
Delta
Os procuradores informaram que as investigações feitas até o momento não aprofundaram as relações da construtora Delta com o esquema de Carlinhos Cachoeira. Eles identificaram “sinais de aproximação” entre o contraventor e Claudio Abreu, representante da construtora Delta no Centro-Oeste, e também suspeitas de envolvimento da Delta com empresas de fachada.
A procuradora Léa Batista traçou um histórico da atuação recente do Ministério Público no combate à exploração de jogos de azar e informou que o embrião da operação Monte Carlo está em denúncias anônimas relativas a casas de jogos clandestinas feitas em Valparaíso de Goiás em 2006.
A operação foi iniciada efetivamente em novembro de 2010, quando a Polícia Federal iniciou o monitoramento telefônico, identificou outras pessoas envolvidas e a utilização de aparelhos Nextel habilitados no exterior. Em março de 2011, o caso foi transferido para a Justiça Federal, em razão do envolvimento de um policial rodoviário federal.
A Operação Monte Carlo culminou na prisão de Carlinhos Cachoeira em 29 de fevereiro. Atualmente, o processo judicial resultante do inquérito tramita na Justiça Federal de Goiás. Audiências de instrução foram realizadas em julho, e o Ministério Público apresentou alegações finais no último dia 8 de agosto. Atualmente corre o prazo para a defesa fazer o mesmo.
A próxima reunião da CPI ocorrerá já nesta quarta-feira (22). Foram convocados para depor Jayme Rincón, ex-tesoureiro da campanha do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB); e Aredes Correia Pires, ex-corregedor da Polícia Civil de Goiás.
21/08/2012
Agência Senado
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