Projeto leva estudante do ensino médio a construir próprio conhecimento
Filosofia na Juventude é aplicado em oito escolas da rede pública
Renan Rodrigues, 16 anos, está no segundo ano do ensino médio da Escola Estadual Silva Jardim, na zona norte da capital. Embora desde o primeiro ano já tivesse no currículo aulas de Filosofia, não dava tanta atenção a elas nem se preocupava em ler os textos indicados pelos professores. “Só queria saber de revistas; achava que ler livros era besteira”, revela. Entretanto, o interesse do jovem pela leitura – inclusive a de caráter filosófico – tem aumentado depois que passou a integrar o projeto Filosofia na Juventude, desenvolvido em algumas escolas da capital, pertencentes à rede pública estadual de ensino.
Aplicado desde 2005, o Filosofia na Juventude é ministrado fora do horário regular de aulas, com o trabalho voluntário de professores e não confere notas oficiais aos participantes. O objetivo é aproximar o aluno do conhecimento, fazendo com que busque seu desenvolvimento intelectual e humano, tornando-se agente de transformações sociais. A maneira de alcançar esse propósito é pela pesquisa, fazendo com que ele vivencie a experiência acadêmica de produção de um texto científico.
Motivação e orientação – O projeto surgiu a partir de um grupo de professores de Filosofia da rede pública estadual, coordenados pelos docentes Fransmar Costa Lima e Edison Silvestre Petenussi. A idéia, em princípio, era dar aos alunos a possibilidade de discutir e produzir textos sobre a educação que recebiam. A proposta acabou abrangendo religião, ética, arte e comportamento humano.
Para que os alunos participam da iniciativa, os professores primeiramente os convidam em sala de aula. Os interessados selecionam um tema de estudo – como os mencionados – e são orientados pelos professores de Filosofia de suas escolas sobre como elaborar um texto acadêmico a respeito. Para a execução do trabalho recebem, além de motivação, orientação bibliográfica, de interpretação de texto e metodológica.
A possibilidade de escolher um assunto do próprio interesse para a produção do texto científico vem estimulando estudantes como Renan. Além de ler mais (em especial livros específicos para o seu trabalho) diz que passou a prestar mais atenção às aulas de Filosofia e a se interessar pelos textos dados nessa disciplina.
Espírito crítico – A idéia dos organizadores do projeto é passar experiências úteis para os alunos utilizá-las no mercado de trabalho, na universidade e na vida, destaca Luciano Carvalho Cardoso, um dos professores que integram a iniciativa. Falar em público, debater e organizar idéias são algumas delas, que podem ser adquiridas no processo de preparação e exposição do texto acadêmico.
Os textos produzidos passam por seleção e argüição na escola – onde os alunos debatem seus trabalhos com três professores em uma banca de avaliação. Depois, são apresentados no Fórum de Filosofia do Ensino Médio. O primeiro, realizado em 2005 na EE Caetano de Campos, teve a participação de 300 alunos e 80 professores de Filosofia de duas diretorias de ensino. Em 2006, o evento reuniu 500 jovens na Universidade Mackenzie, local que também abrigará o evento neste ano, no dia 9 de novembro, aberto a todos os interessados.
O fórum é caracterizado pela comunicação e debate, dentro do protocolo acadêmico, daquilo que o aluno produziu durante o ano, explica Fransmar. No primeiro ano, os participantes produziram 15 trabalhos. Escolheram temas como a ética clássica entre Aristóteles e o teólogo e filósofo Hans Küng, a relação do filme Matrix com o Livro VII de A República (de Platão) e a conceituação da ética entre Aristóteles e o personagem Homer, da série Os Simpsons.
Cinco escolas das diretorias de ensino Norte 2 e Centro participaram do primeiro ano do projeto: EE Tito Prates da Fonseca, Rômulo Pero, Caetano de Campos, Pedro Alexandrino e Tarcísio Álvares Lobo. Atualmente, são oito unidades (das diretorias de ensino Norte 2 e Centro Sul) desenvolvendo a experiência. Em três anos de atividades, a proposta somou 70 participantes nesse conjunto de escolas.
O Filosofia na Juventude tem proporcionado aos alunos mais sociabilidade, maturidade, desenvolvimento verbal, capacidade reflexiva e crítica, segundo Fransmar. Na EE Silva Jardim, propiciou melhor interação entre os alunos, de acordo com o diretor da escola, Eraldo Sampaio. “Ficaram mais próximos uns dos outros”, explica. Além disso, abriu a possibilidade de debaterem temas, conhecerem novos pensadores e idéias, estabelecendo comparações com a atualidade e aumentando o espírito crítico.
Paulo Henrique Andrade
Da Agência Imprensa Oficial
09/14/2007
Artigos Relacionados
USP leva conhecimento de Biologia e Física ao ensino médio
AGU: Estudante não pode cursar ensino médio e superior ao mesmo tempo
Fies só exigirá Enem para estudante que concluiu ensino médio a partir de 2010
Projeto institui o ensino médio nas penitenciárias
Projeto inclui direitos das mulheres no currículo do ensino médio
Projeto inclui Direito da Cidadania no currículo do ensino médio