PSB recorre ao TRE para tirar programa do PT do ar



PSB recorre ao TRE para tirar programa do PT do ar RIO e TERESINA. O PSB entrou ontem com representação contra o PT do Rio no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) pedindo a suspensão da propaganda eleitoral gratuita do partido de janeiro a junho do ano que vem. O advogado do PSB, Francisco de Assis Pessanha, argumenta que o PT, em vez de divulgar suas propostas, usou o tempo de TV a que tinha direito esta semana para fazer acusações ao governador Anthony Garotinho. Na ação, o PSB pede ainda que sejam suspensas as inserções de 30 segundos de propaganda eleitoral do PT durante a programação de TVs e rádios. Candidato a presidente do diretório regional do PT, Gilberto Palmares disse que o partido deve tentar a reaproximação com o PSB nos próximos dias. Mas diz que o PT não deverá amenizar as críticas a Garotinho. O presidente licenciado do PT, deputado federal José Dirceu (SP), apoiou ontem em Teresina a divulgação, no programa do PT, de gravações que envolvem Garotinho: — As denúncias são públicas. O PT faz oposição ao governo Garotinho e ao PSB no Rio. Relatório da ONU elogia programa de reforma agrária do Brasil BRASÍLIA. Relatório mundial divulgado ontem pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) destaca o ritmo de crescimento da produção agrícola no Brasil e faz elogios ao programa de reforma agrária do país. O documento, que aponta a existência de 826 milhões de pessoas desnutridas em todo o mundo, apresenta explicações detalhadas sobre os projetos de incentivo concedido pelo governo brasileiro aos pequenos agricultores. O documento atribui boa parte do aumento da produção agrícola na América Latina ao desempenho brasileiro. Em 1999, a produção dos países latino-americanos cresceu, segundo a FAO, 4,6%. No ano anterior, o percentual foi de 1,8%. No trecho destinado aos programas de assentamento rural, o relatório da FAO cita a nomeação de um ministro especial para cuidar da reforma agrária (Raul Jungmann, ministro do Desenvolvimento Agrário). O relatório afirma que, em 1989, o governo brasileiro havia assentado 84 mil famílias. “Foram triplicados os recursos destinados a essa área, passando de US$ 400 milhões em 1994 para aproximadamente US$ 1,5 bilhão em 1997”, diz o documento. A FAO não deixa de mencionar, no entanto, que há críticas do Movimento dos Sem-Terra (MST), que “é a favor de um enfoque tradicional de assentamento e ocupação de terras em áreas de maior pressão social”. MST, Contag e CUT fazem protesto em Brasília Cerca de mil militantes do MST, da Contag e da CUT se reuniram ontem em frente ao Congresso para protestar contra as privatizações no país. O principal alvo foi o projeto de lei que prevê a transferência do controle dos serviços de água para os estados. MEC muda regra para fechar curso universitário BRASÍLIA. O Ministério da Educação (MEC) editou portaria mudando as regras para fechamento de cursos universitários. A partir de agora, os cursos que tirarem conceitos D ou E em três avaliações do Provão e ainda conceito CI (condição insuficiente) na avaliação do quadro docente poderão ser fechados. Numa primeira verificação no banco de dados, os técnicos do MEC encontraram dez cursos que, de acordo com as novas regras, estão sob ameaça de fechamento. São cinco cursos de letras e cinco de engenharia elétrica — dois de universidades federais. Portaria concede prazo de anistia para cursos Alguns cursos podem ser excluídos dessa relação devido a um artigo da portaria que concedeu um prazo de anistia aos que tiveram a autorização de funcionamento — a chamada renovação de reconhecimento — expedido pelo governo a partir de 30 de julho de 1997. Eles só ficarão sujeitos à punição quando terminar o prazo de validade de seu reconhecimento, e se o desempenho no Provão permanecer ruim. Segundo a portaria, os cursos com três notas E ou D e conceito CI na avaliação do corpo docente terão um ano para corrigir as falhas. Passado esse prazo, uma nova avaliação será feita e, se o curso tirar novo conceito CI em um dos três quesitos avaliados (professores, instalações e organização didático-pedagógica), o MEC determinará seu fechamento, sem necessidade de ouvir o Conselho Nacional de Educação. Os cursos reprovados não poderão fazer vestibular. A suspensão vai vigorar enquanto não houver decisão final sobre o fechamento do curso. A portaria era o que faltava para o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, poder fechar cursos reprovados nas avaliações. O governo já havia editado um decreto que retirava poderes do Conselho Nacional de Educação e os transferia para o ministro. Com a portaria, Paulo Renato deixa de depender do conselho para punir cursos de baixa qualidade. Até a edição da portaria, havia outros critérios para incluir um curso na lista negra do MEC. Para ficar sob ameaça de fechamento, o curso tinha que tirar três conceitos D ou E ou ainda dois conceitos CI em um dos três quesitos avaliados. Agora, basta um CI, desde que seja na avaliação do quadro de professores. — Se não tem um quadro docente razoavelmente estruturado, dificilmente o projeto pedagógico do curso será implementado — afirmou a secretária de Educação Superior, Maria Helena Guimarães. Pela nova regras, as universidades que tiverem reprovação de mais de 50% dos seus cursos perderão autonomia para abrir novos cursos ou ampliar o número de vagas. Grevistas, UNE e MST fecham rodovias BRASÍLIA, RIO, RECIFE e CURITIBA. Funcionários de universidades públicas federais fizeram ontem protestos em diversos estados, com a ajuda de estudantes e militantes do MST, para marcar os 22 dias de greve da categoria. Em quatro capitais, os manifestantes queimaram pneus e fecharam rodovias. No Rio, eles tumultuaram o trânsito no Centro da cidade e queimaram um boneco do presidente americano George W. Bush. Em Brasília, cerca de 70 estudantes participaram do protesto. Por duas horas, eles provocaram um engarrafamento de 20 quilômetros na BR-040, que liga a cidade a Minas. O grupo queimou pneus, caixotes, galhos e cadeiras. A estrada só teve uma pista liberada depois que a PM concordou em devolver um ônibus dos estudantes, que fora apreendido. Em Minas, a BR-040 também foi interditada próximo a Belo Horizonte. A Polícia Militar deteve quatro manifestantes e liberou as pistas. No Rio, manifestantes criticaram governo dos EUA No Rio, além de pedir reajuste salarial, o protesto teve como alvo o governo americano. Os manifestantes atearam fogo num boneco representando o presidente George W. Bush. O protesto começou às 14h na Avenida Presidente Vargas. Por volta das 15h30m, os manifestantes seguiram em passeata até a Avenida Rio Branco, de onde foram até a Cinelândia. Na avaliação dos organizadores, cerca de dez mil pessoas participaram do protesto, mas a PM calculou em três mil o número de manifestantes. A manifestação congestionou o trânsito no Centro. Em Recife, 1.500 servidores de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Bahia e Paraíba queimaram pneus para bloquear duas faixas da BR-101, provocando congestionamento por mais de duas horas. Já em Curitiba cerca de cem estudantes e professores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) fecharam por uma hora a rodovia BR-116, a principal ligação rodoviária entre as regiões Sul e Sudeste. Assassinos de prefeito teriam usado carro roubado CAMPINAS. Um Vectra GLS prata, ano 97, achado no km 145 da rodovia Dom Pedro I, pode ter sido o carro usado pelos assassinos do prefeito de Campinas, Antônio da Costa Santos (PT), o Toninho do PT. O Vectra foi abandonado a 500 metros do local do crime, ocorrido no fim da noite de segunda-feira, quando Toninho saía de um shopping-center na Vila Brandina e ia para casa. O Vectra está amassado no lado esquerdo. A polícia suspeita que Toninho, que dirigia um Fiat Palio, tenha sido fechado pelo Vectra antes de ser atingido pelo tiro. Segundo a polícia, o Vectra foi roubado em 25 de abril em Minas Gerais. O vereador Angelo Rafael Barreto (PT), que era amigo do prefeito, disse que há 20 dias Toninho lhe contou sobre as ameaças de morte que estaria recebendo. O vereador fará um relato sobre a conversa com Toninho à direção do PT. A família do prefeito assassinado também afirma que ele vinha recebendo ameaças. Barreto disse que o prefeito teria três dossiês sobre esquemas de desvio de dinheiro público na prefeitura. Oficialmente, porém, o primeiro escalão da administração nega a existência dos documentos. Assaltante sofre novo atentado na PF de Brasília BRASÍLIA. Depois de ser espancado por presos e ficar internado no Hospital de Base, Marcelo Borelli, condenado por assaltar aviões e torturar crianças, sofreu ontem novo atentado. Cerca de 30 presos puseram colchões na porta da cela do assaltante, na carceragem da Polícia Federal em Brasília, e atearam fogo. Com parte do corpo queimado e infecção respiratória, Borelli foi internado novamente no Hospital de Base. O assaltante não corre risco de vida e, segundo os médicos, apresenta quadro clínico estável. A Polícia Federal informou que ele será transferido hoje para a Superintendência da PF em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Aos 34 anos, Borelli estava jurado de morte por presidiários desde o dia 2 de maio passado, quando comandou a primeira rebelião da história da superintendência. Com dois comparsas, ele tentou invadir a cela da cantora mexicana Glória Trevi, acusada de abuso sexual de crianças, para fazê-la refém. A atitude irritou os outros detentos, já que a cantora é querida entre eles. Na manhã de segunda-feira passada, os presos tentaram matar Borelli durante o banho de sol. O espancamento só acabou quando os policiais invadiram o pátio da carceragem. Ele foi internado e levou 60 pontos na cabeça. Ontem, ao voltar à carceragem, ele foi isolado em uma cela, mas isso não impediu que o assaltante fosse atacado novamente. Borelli foi condenado em junho passado pela Justiça Federal no Paraná a cinco anos e meio de reclusão por contrabando de armas. Ele foi preso em outubro de 2000, quando se dirigia a Curitiba, transportando armas e munição vindas do Paraguai em um caminhão. Por ter torturado uma menina de 3 anos, o criminoso foi condenado a 172 anos de prisão. Há pouco mais de um ano, Borelli roubou R$ 1 milhão em barras de ouro no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília. No início da semana, Borelli tinha sido espancado violentamente pelos mesmos presos. Pouco antes do atentado de ontem, Borelli havia recebido alta do hospital, mas ainda estava em observação. No momento do segundo atentado, ele tinha uma consulta marcada para uma avaliação geral. Na manhã de segunda-feira, cerca de 30 presos tentaram matar o assaltante durante o banho de sol. O espancamento só acabou quando os policiais invadiram o pátio da carceragem. No chão, ficaram marcas de sangue e pedaços do couro cabeludo do de Borelli, que levou 60 pontos na cabeça. Antes do segundo atentado, a PF tinha isolado Borelli em uma cela. Ao saírem para tomar sol, os outros detentos encostaram colchões e roupas à porta de Borelli e atearam fogo. Antes, desviaram a câmara de segurança. A polícia diz só ter percebido o incêndio dez minutos depois, quando chamaram os bombeiros. A vítima tirou a gaze que estava atada ao braço e molhou para conseguir respirar. Protegeu-se das chamas atrás do muro da cela que separa o sanitário. Entre os ocupantes das sete celas da superintendência da PF em Brasília está o traficante carioca Fernandinho Beira-Mar. Mas ainda não é conhecida a identidade dos incendiários. A Polícia Federal ainda não informou quando começará a investigar as agressões desta semana. O superintendente da PF, Paulo Magalhães, informou que pedirá à secretária de Segurança Elizabeth Sussekind a interdição das celas. As grades estão retorcidas pelo fogo, a fiação elétrica está comprometida e o cheiro forte de fumaça toma conta do lugar. Magalhães já pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a transferência da cantora mexicana Glória Trevi, acusada de abuso sexual de crianças. Flávio Di Pilla, o advogado de Borelli, quer entrar com pedido na Justiça para tentar a transferência do cliente para o Paraná. Mas a assessoria de imprensa da PF informou que as penitenciárias se recusam a receber o preso, conhecido pelo mau comportamento. Beira-Mar vive o mesmo impasse. Durante cinco horas, ele manteve como refém um policial usando uma arma falsa, feita de sabonete, madeira e papelão. Depois da rebelião, os presos ficaram ainda mais revoltados com Borelli, porque perderam algumas regalias - como o direito a assistir televisão e maior tempo com visitas e no banho de sol. Entre os presos, acredita-se que Borelli estaria empenhado em tornar-se uma espécie de chefe do lugar, o que provocou intrigas no ambiente. Borelli foi condenado em junho passado pela Justiça Federal no Paraná a cinco anos e meio de reclusão, em regime fechado, por contrabando de armas. Ele foi preso em outubro de 2000, quando se dirigia a Curitiba, transportando armas e munições vindas do Paraguai em um caminhão. O arsenal foi avaliado em US$ 1.674. Artigos Um novo dia da infâmia IAM SAFIRE WASHINGTON — No dia 11 de setembro de 2001 — outra data que viverá na infâmia — os Estados Unidos sofreram episódios de guerra em seu próprio solo, o que não ocorria desde a sangrenta Batalha de Antietam. Questões imediatas: que organização terrorista, com tanto dinheiro e sob a proteção secreta de que país, é responsável pelo massacre de tantos americanos? Dois fatos nos dão uma pista preciosa: (1) uma vez que nenhum piloto de uma companhia aérea, mesmo sob ameaça de seqüestradores, iria deliberadamente jogar um avião de passageiros contra um edifício de escritórios, pelo menos três dos terroristas eram pilotos treinados para comandar um Boeing; (2) cada um dos pilotos camicases passou por uma doutrinação fanática — dirigida não apenas para fazê-los acreditar que aquele assassinato em massa lhes abriria o caminho do paraíso como também para aceitar a idéia do suicídio. Esta combinação de capacidades raras reduz o espectro de suspeitos. Dois anos atrás, a voz de um piloto egípcio foi gravada murmurando uma prece enquanto direcionava um Boeing 767 para um mergulho no Oceano Atlântico. O Egito ainda se recusa a aceitar isto, ironizando os investigadores americanos. Quem recruta pilotos de linhas aéreas, com uma lavagem cerebral que os faz crer em sonhos de glória eterna? Por outro lado, quem treinou fanáticos religiosos para pilotar um Boeing? O mundo dos pilotos é pequeno e nós sabemos onde os pilotos são treinados. Por que, com US$ 30 bilhões gastos em inteligência, o FBI, a CIA e a Nasa não puderam prever um ataque tão bem coordenado a duas cidades americanas? A segurança das linhas aéreas entre Washington e Dulles ou entre Boston e Los Angeles foi quebrada e será que houve comunicação entre os conspiradores que os satélites americanos ou computadores não puderam detectar? O controle de passageiros nos aeroportos é insuficiente para garantir a segurança do vôo? Bem, então, de agora em diante, as nossas aeronaves vão incluir guardas armados entre os passageiros e as nossas defesas supertecnológicas vão regredir ao nível de espiões humanos plantados entre os adversários e subornos dos inimigos com dinheiro ou com chantagem. Quando teremos informação sólida sobre os centros do terror e suas redes, como podemos retaliar seus ataques? Cinco anos de investigações, julgamentos e apelações se seguiram ao primeiro ataque ao World Trade Center e o inimigo não foi detido. Fazer política com um bando de mísseis jogados em possíveis locais de treinamento de terroristas, como fez, apressada e ineficientemente, o presidente Bill Clinton, é levar à cena uma farsa humilhante. Retaliar violentamente, tendo por base informações inadequadas, é um erro, mas, em tempos de terror, esperar pela prova definitiva é perigoso. Quando tivermos razoavelmente determinado as bases e os campos de treinamento de terroristas, devemos pulverizá-los — minimizando, mas aceitando, os riscos de baixas — e agir, aberta ou veladamente, para desestabilizar nações que apóiem terroristas. A reconstrução do Pentágono deveria incluir um novo departamento, o da previsão. Será que os nossos políticos responderam bem nas primeiras horas de crise, quando ninguém sabia o que se seguiria à devastação de Nova York e ao ataque a Washington? Interromper o transporte aéreo e ferroviário era medida necessária, e bloquear o acesso aos monumentos nacionais e aos edifícios oficiais era prudente. O governador e o prefeito de Nova York cumpriram o seu dever, permanecendo em seus postos e apoiando seus conterrâneos ao vivo na televisão, lembrando o rei George VI durante os ataques a Londres. Mas o serviço secreto tomou conta do presidente George Bush, que estava na Flórida, arrastando-o para algum lugar secreto, deixando no ar um videoteipe nervoso. Mesmo nos primeiros momentos de horror, os ataques jamais foram vistos como o ataque nuclear de uma potência estrangeira. Bush deveria ter insistido em ir diretamente para Washington e transmitir sua fala à nação — ao vivo e com tranqüilidade — de um lugar seguro, não muito distante da Casa Branca. Diante da ausência do presidente na capital, o vice Dick Cheney correu para ocupar o “Situation room”. Não era preciso que alguém dissesse: “Eu estou no comando.” Mas se a impressão de estabilidade fosse mais visível, nas primeiras horas, teria ajudado muito. A despeito da evacuação dos escritórios do Executivo e do Legislativo, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, visitou as tropas feridas e a assessora para assuntos de segurança nacional, Condoleezza Rice, permaneceu em seu posto. O que virá agora? Com os funerais, o luto e o susto da inteligência americana, virá o reconhecimento implacável de que os Estados Unidos estão em guerra e que desta vez o campo de batalha está dentro de casa. O próximo ataque pode não ser um avião seqüestrado, para o qual nós iremos nos preparar, ainda que com atraso. É mais provável que o ataque venha na forma de um míssil nuclear terrorista ou numa barreira de bactérias mortíferas, despejadas no reservatório de água de uma grande cidade. Isto nos põe diante de uma questão importante: o que estamos fazendo para proteger o nosso céu, para desenvolver vacinas imunizantes e para levar a guerra para a casa do inimigo? Um mundo diferente ANTHONY LEWIS BOSTON — Um homem que trabalhava num dos andares mais altos do World Trade Center percebeu que estava encurralado. Telefonou para sua mulher. Disse que queria se despedir, queria que ela se lembrasse de que ele a amava e amava os filhos. Que têm 1 e 3 anos de idade. Foi a história que me contou um amigo. Até mais do que as imagens pela televisão, ela mostra o que foram a dor e o terror. Milhares e milhares de americanos têm ligação pessoal com alguma vítima. Ou podemos imaginar os sentimentos dos passageiros naqueles aviões, sabendo que estavam voando para a morte. Crianças em escolas por todo o país vão se lembrar do dia em que as aulas foram interrompidas para que soubessem das notícias. Ficaremos todos marcados, para sempre, por este dia. O que os atacantes queriam era provocar o terror, e tiveram sucesso. Não só lançaram morte e destruição sobre símbolos do poder econômico e político dos Estados Unidos. Mostraram como é vulnerável a única superpotência do mundo: como são imperfeitos nossos sistemas de segurança em aeroportos, como são desprotegidas até mesmo as nossas sedes militares. “Como estes foram atos de guerra”, disse um locutor da televisão durante o dia, “é importante saber onde está nosso centro nacional de comando”. Ao contrário: parecia irrelevante. O que pode fazer um comando militar contra um inimigo sem rosto, que causa danos devastadores, utilizando talvez não mais do que uma dúzia de atacantes? Se isso era guerra, estava muito longe do ataque mais lembrado contra os Estados Unidos. Pearl Harbor era muito claro. Na escola, no dia seguinte, nós nos reunimos num auditório e ouvimos o presidente Roosevelt: “Ontem, 7 de dezembro de 1941, uma data que ficará na infâmia...” Ninguém tinha dúvidas sobre quem era o inimigo ou como a América tinha de reagir. Hoje, são estas exatamente as dúvidas. Nenhum de nós pode achar que sabe como lidar com essa ameaça recém-revelada de terrorismo sofisticado, em larga escala. Mas algumas noções básicas são evidentes. O mais importante é que os Estados Unidos devem buscar uma posição unida com o resto do mundo contra o terrorismo. Quase todos os países, seja quais forem as políticas de cada um, têm interesse comum em segurança elementar. Assim é com a China. Assim é com a Rússia. A cooperação mundial é essencial para que se possam encontrar e destruir os autores desse ataque. A ONU deve exigir de todos os países que neguem abrigo aos terroristas e que ajudem a esmagá-los. Os governos que rejeitarem esta exigência deverão ser alvos de ação militar. É essencial também que nossa política externa, daqui em diante, evite qualquer impressão de unilateralismo. Mesmo os nossos aliados se defrontaram com um governo sem interesse pelo que os outros pensam e disposto a impor suas posições. O presidente Bush faria bem em adotar o tom de quem reconhece que os Estados Unidos, sozinhos, não podem garantir sua própria segurança. O ataque terrorista deve inspirar reflexões sobre todas as nossas políticas nacionais de segurança, inclusive a proposta do sistema de defesa contra mísseis. Seus críticos sempre disseram que este país, no futuro, estará mais exposto ao perigo de bombas em malas ou outros dispositivos terroristas do que de mísseis, e agora este argumento ganhou uma força devastadora. Seja qual for a direção que a política tomar, precisamos de uma ação conjunta para proteger o mundo contra o terrorismo, nuclear ou não. “Este é um crime contra as fundações de nossa humanidade comum”, disse ontem a presidente da Irlanda, Mary McAleese. “Nossa resposta deve ser ficarmos ombro a ombro.” Este é o tema que o presidente Bush deve acentuar. Seus comentários ontem, compreensivelmente, não puderam realmente capturar o horror ou suas implicações. Nós e o mundo ainda estamos procurando palavras que nos unam contra o mal. Um perigo, acima de tudo, deve ser evitado: o de tomarmos medidas que, em nome da segurança, comprometam a maior qualidade dos Estados Unidos, que é a sua sociedade aberta. Esta posição foi apresentada, de maneira convincente, pelo ex-secretário de Estado George P. Shultz. “Não vamos permitir que essa gente terrível mude o nosso modo de vida”, disse o sr. Shultz. “Rejeito isso inteiramente.” Colunistas PANORAMA POLÍTICO – TEREZA CRUVINEL Terror: FH com aliados e oposição O chamado do presidente Fernando Henrique aos líderes aliados e de oposição no Congresso não chegou a surpreendê-los. Já a pauta específica sim, e esta não foi revelada nem aos governistas. Supõem os líderes que o presidente esteja buscando o respaldo de toda a classe política para alguma posição que o Brasil venha a tomar. O apoio a alguma medida de retaliação por parte dos Estados Unidos, por exemplo, violaria toda a tradição diplomática pacifista que o Brasil construiu nos foros internacionais. Mas se os EUA pedirem o apoio do Conselho de Segurança da ONU, a situação ficará delicada. Medidas de segurança interna e mesmo de prevenção contra os efeitos econômicos também devem ser discutidas. Todos os partidos devem atender ao chamado. — É claro que iremos, e achamos que o Brasil deve agir como nação, não apenas como governo — diz o líder do PT, Walter Pinheiro. — A defesa do Brasil nunca nos separou — completa Miro Teixeira, do PDT. Em 1989, a sucessão andava célere por aqui. Caiu o Muro de Berlim, o mundo começou a mudar. Lula era favorito, deu Collor. Agora de novo o mundo treme, e não passaremos ao largo.Malan x Malan Quando falou no Senado, em agosto, o ministro Pedro Malan fortaleceu a crença em sua candidatura com a defesa candente do governo e o ataque certeiro ao PT. Ontem, na Câmara, duelou com o deputado Aloizio Mercadante (PT-SP), que levou como arma os textos do jovem Malan, com duras críticas ao FMI. Um bom debate, mas o ministro já não exibia o apetite político de antes. Tanto que encerrou com uma jura de que não foi, não é, nem será candidato e desafiou quem tenha honestidade intelectual de confirmar que ele disse isso há um ano e nove meses. De fato, aqui mesmo neste espaço ele fez uma das primeiras declarações nesse sentido. Ocorre que em política existe a distância entre declaração e gesto, e seus últimos movimentos (e os de FH) insinuaram o contrário. Mas ao debate. Há tempos Malan recorre a documentos do PT e a registros do site do partido para fundamentar seus ataques. Ontem, na Comissão de Economia, Mercadante usou a mesma arma. Estava ali o ministro para explicar o acordo com o FMI e acabou fazendo também sua avaliação do grande ato terrorista nos EUA. Acredita que os países vão superar a repercussão econômica, mas que os efeitos políticos serão sentidos por muitos anos. Mercadante, primeiro deputado a falar, criticou o acordo e desfiou dados para mostrar que com Malan o Brasil andou para trás, uma lista de indicadores do tipo a dívida externa saltou de 1,7% do PIB em 1994 para 24,6% em 2000. Em seguida, passou a ler o jovem Malan para um inquieto ministro. Coisas do tipo: “Esse endurecimento dos critérios monetaristas é ilustrativo do comportamento intrusivo do FMI em aspectos da economia brasileira que não estão no âmbito de suas atribuições”. Ou: “Aqui cabe uma forte crítica ao FMI, que insiste numa redução cavalar do financiamento do setor público”. — Esse economista eu queria ter no Ministério da Fazenda — encerrou Mercadante. Um tanto desconcertado, Malan disse não negar nem se arrepender de nada do que escreveu, mas invocou Keynes, que, cobrado por uma mudança de posição, respondeu: “Se uma situação muda, eu mudo minha avaliação sobre ela”. E o Brasil e o mundo já não são os mesmos de 1983 (data que cobrou do deputado juntamente com a identificação da publicação: uma coletânea publicada pela “Gazeta Mercantil” sob o título “Brasil x FMI — A armadilha da recessão”). Mudar avaliação é uma coisa, outra é mudar de lado, disse o petista. Malan contra-atacou com a conhecida história do apoio do PT ao plebiscito da CNBB sobre o pagamento da dívida externa. Discussão já conhecida. Mercadante disse que o PT apenas apoiou a iniciativa, Malan que o partido a patrocinou. Malan prosseguiu lendo declaração recente do “presidente de honra do partido que há 12 anos disputa a Presidência”. Em recente entrevista, Lula o comparou a tio Patinhas, que guarda a chave do cofre onde só ele entra, nada sobre as moedas e, quando quer, beneficia amigos. E dizia, no fim, que dará um jeito no Brasil. — É preocupante que uma pessoa com tão altas pretensões tenha visão tão simplista do processo orçamentário — disse o ministro. Na defesa de Lula, Mercadante recordou sua trajetória de migrante que fugiu da fome e por isso tem uma percepção diferente dos problemas do povo. — Por isso ele está à frente nas pesquisas, enquanto Vossa Excelência tenta viabilizar sua candidatura atacando a oposição. Essa Malan não engoliu. Cobra indignado que se recordassem suas negativas, cobrou reconhecimento pelo fim da inflação, “como se antes o povo fosse feliz e não soubesse”, e mostrou-se atualizado em literatura petista ao citar um trecho do programa preliminar de governo, condenando o “voluntarismo ingênuo e utópico”, coisa que já praticaria. No Senado, Malan não encontrou um debatedor como Mercadante, nem seu fantasma da juventude. Mas alguém dirá, para contrariá-lo, que a performance foi mais branda porque a candidatura saiu de cena. Editorial Em guerra Nenhum pronunciamento das autoridades americanas deixa dúvidas: o ataque suicida a Nova York e Washington está sendo tratado pelo governo americano como ato de guerra — o que representa uma escalada em relação aos atentados terroristas a que o mundo lamentavelmente já se acostumou. O secretário de Estado, Colin Powell, especificou que a guerra contra os terroristas será travada em todas as frentes: na política, na diplomacia, na espionagem — e nas trincheiras militares. Definindo o campo de luta, o presidente Bush já advertira, na véspera, que os Estados Unidos não farão distinção entre terroristas e países que lhes derem guarida. A ser verdadeira a tese — que tem alto grau de probabilidade — de que o cérebro do atentado seja o milionário saudita Osama bin Laden, o Afeganistão, que lhe concedeu cidadania, seria o campo de batalha. Nele, os soldados americanos entrariam com mais facilidade do que, alguns anos atrás, no Kuwait invadido pelo Iraque. Mas só até esse ponto a guerra seria convencional. Nem a prisão de bin Laden teria efeito análogo ao da prisão de um chefe de Estado inimigo. Os serviços de inteligência do Ocidente — fortes na espionagem eletrônica mas, desde o fim da guerra fria, relativamente frágeis no uso de agentes humanos — têm tido, nas décadas recentes, raros êxitos marcantes na guerra ao terror. Para ficar em dois exemplos, não conseguiram evitar o quase amadorístico primeiro ataque ao World Trade Center, demoraram anos e anos para levar a julgamento os dois acusados pela queda de um avião repleto de passageiros na Escócia, e não tiveram qualquer aviso prévio dos atentados simultâneos contra embaixadas americanas na África Oriental. Com bin Laden, quantos poderiam tomar o seu lugar? Não há resposta conhecida a essa pergunta. Mas a guerra ao terror é tão inevitável quanto justa. E não pode ter o objetivo limitado de chegar aos culpados pelo crime desta semana. Se a mobilização dos EUA já está assegurada, do resto do mundo civilizado esperam-se ainda ações concretas mais eficazes do que candentes discursos de solidariedade. Se o terror pode estar em toda parte, associado ou não ao fanatismo religioso, também em toda parte devem estar os instrumentos para combatê-lo. Em primeiro lugar, a comunidade internacional de informações estratégicas deve ter um grau de entrosamento bem superior à bolsa de informações da Interpol. Em outro plano, é preciso fortalecer a competência de uma Justiça internacional para os crimes do terror. O conceito já existe, assim como precedente. Resta receber o aval de todas as grandes potências. A situação pede mecanismos ágeis para julgar terroristas de qualquer nacionalidade por crimes cometidos em qualquer país — ainda que isso exija um entrosamento diplomático como talvez só se tenha visto em alguns momentos da guerra fria. O atentado contra os EUA exige resposta mundial — pronta, eficaz e enérgica. E ela deve ser também o ponto de partida para uma prontidão coletiva permanente nesse tipo de guerra para a qual o mundo ainda não parece preparado como deveria estar. Sem monopólio AUnião Nacional dos Estudantes sem dúvida teve real importância em momentos críticos da história da democracia no Brasil. Hoje, seu destino é melancólico: para muitos jovens, não passa de uma porta de entrada para uma carreira política; para outros, não passa de uma fornecedora de entradas de cinema. A instituição é menina-dos-olhos de estudantes filiados ou vinculados a partidos de esquerda — principalmente o PCdoB — e de membros juvenis de organizações de direita. Talvez não aconteça por coincidência: a renda obtida com as carteiras pode financiar a panfletagem política de candidatos, novatos ou nem tanto. Como qualquer organização civil, a UNE tem o direito de se organizar politicamente. Por outro lado, tratando-se de entidade sem fins lucrativos, que recebe subsídios governamentais, tem o dever de apresentar impecáveis prestações de contas sobre suas atividades filantrópicas — e imunes à militância partidária de seus membros. De que vale o dinheiro arrecadado entre estudante, senão para permitir o acesso de um número maior de jovens aos bancos escolares? A própria carteira de estudante visa a facilitar o acesso a manifestações culturais. A quebra do monopólio no fornecimento do documento, que a UNE denuncia como uma tentativa de enfraquecê-la, na verdade pode abrir caminho para dar-lhe uma autenticidade que hoje é, pelo menos, discutível. Se os estudantes continuarem a se filiar — sem precisarem disso para ir ao cinema — a UNE terá comprovado e legitimado sua representatividade como órgão estudantil. Topo da página

09/13/2001


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