PSDB convoca jantar de emergência
PSDB convoca jantar de emergência
Partido quer acelerar lançamento da candidatura própria à Presidência da República para não perder terreno para o PFL
BRASÍLIA - A divulgação da pesquisa CNT/Sensus indicando a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, como a única candidata governista com possibilidade de derrotar Lula no segundo turno deve acelerar o lançamento de uma candidatura tucana à presidência da República. A executiva do PSDB foi convocada para marcar a pré-convenção do partido logo após o Carnaval. O presidente Fernando Henrique Cardoso convocou para quarta-feira um jantar no palácio da Alvorada com os pré-candidatos do PSDB, governadores e dirigentes do partido para discutir a viabilidade da pré-convenção.
O jantar foi pedido pelo governador Dante de Oliveira, do Mato Grosso, e pela cúpula do PSDB há duas semanas, mas só atendido ontem após a divulgação da nova pesquisa. Agora, os tucanos querem pressa na definição das regras temendo perder a cabeça da chapa governista para o PFL. O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Artur Virgílio (AM), parabenizou o crescimento de Roseana, comemorou a queda de Lula e disse que o PSDB precisa demonstrar o mesmo desempenho nas pesquisas. Virgílio vem admitindo que o PSDB pode perder a cabeça de chapa se não conseguir rápido um candidato que decole nas pesquisas.
O grupo ligado ao ministro da Saúde, José Serra, liderado pelo deputado Jutahy Magalhães Júnior (BA), recebeu a pesquisa com desconfiança. Serra não se manifestou. Mas Jutahy disse que a divulgação de pesquisa política distante da eleição pode ser fator de indução. ''Nem todos os institutos de pesquisa têm resultados confiáveis por vinculações notórias com os partidos políticos e as candidaturas'', comentou.
Pré-candidatos - Já os governadores do Ceará, Tasso Jereissati e do Mato Grosso, Dante de Oliveira, confirmaram que continuam pré-candidatos apesar das pesquisas favorecendo Roseana. O ministro da Educação, Paulo Renato, disse a amigos que está fora da disputa. Tasso mostra-se tranqüilo com o desempenho pefelista. ''Ela tem todo o direito de pleitear ser a candidata governista'', afirmou Tasso. ''O fenômeno Roseana só poderá ser enfrentado com mobilização. E para isso temos que realizar prévias e trabalhar o candidato. Aí sentaremos com Roseana em março para discutir o candidato da aliança'', defendeu Dante.
No PMDB, o presidente Michel Temer (SP) alertou: com pesquisa ''não se brinca''. Ele adiantou que o fenômeno Roseana poderá dificultar a mobilização dos pré-candidatos do PMDB. Já o líder do partido na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), admitiu ser possível o PMDB compor uma aliança com o PFL ou com qualquer partido da base que tenha candidaturas bem colocadas nas pesquisas em maio de 2002.
Garotinho repete estratégia do PFL
A bem-sucedida estratégia televisiva da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, com vistas ao Palácio do Planalto fez escola. No programa nacional de TV apresentado ontem, de dez minutos de duração, o PSB imitou o PFL e usou o tempo a que tem direito no semestre para promover seu candidato à Presidência da República, governador do Rio, Anthony Garotinho. Com a manobra, a maranhense ganhou notoriedade e assumiu o segundo lugar na corrida presidencial.
Como Roseana no PFL, Garotinho foi estrela absoluta. Falou sozinho por pelo menos quatro minutos e meio; o resto do tempo também foi quase todo dedicado a ele e às realizações no Rio. Apenas outro político do partido foi citado, o presidente Miguel Arraes. Sobraram cerca de dois minutos para um jingle do partido que prega ser possível transformar o país e promover justiça social.
Garotinho criticou a política econômica do presidente Fernando Henrique Cardoso, que ''favorece os banqueiros, asfixia a produção e aumenta dramaticamente o desemprego''. Afirmou que a taxa de desemprego no Estado é a menor no Brasil e contrapõe o salário mínimo nacional ao do Rio.
Para bater em FH, valeu até atribuir ao governo federal a responsabilidade pela questão da segurança, de cunho estadual. Garotinho disse que ''esse é um problema muito amplo, fruto principalmente da falta de ação do governo federal''.
O governador expôs projetos executados no Rio, como as casas populares, o cheque-cidadão - com o qual, diz, 200 mil pessoas recebem mensalmente R$ 100 - e os restaurantes populares - por enquanto, apenas um foi inaugurado no Estado.
O PSB terá direito ainda a 40 inserções televisivas de 30 segundos em cadeia nacional, que começaram no último sábado e vão até o dia 19. Nelas, Garotinho também desempenha papel solo. É comparado subliminarmente a grandes realizadores de utopias, como o aviador Santos Dumont, primeiro homem a voar, e a astronautas pioneiros. É apresentado como o homem capaz de resolver os problemas do país, que é ''possível''. A partir do slogan ''Deu certo no Rio, vai dar certo no Brasil'', o PSB pretende mostrar ao país o candidato, ainda desconhecido de 60% dos eleitores. Garotinho considera essa a maior dificuldade no caminho para o Planalto.
Desembargador e juízes participaram do curso
Ex-ministro do STJ é o diretor de ensino do Instituto
O empresário Tarcísio Márcio Alonso é um velho conhecido do Poder Judiciário. Basta uma consulta ao site do Tribunal de Justiça do Distrito Federal para encontrar 45 registros de processos e recursos envolvendo o nome dele. São acusações de crimes fiscais e grilagem de terra. Nos computadores do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ele aparece em sete processos. Com essa experiência, Alonso investiu na preparação de futuros juízes. Criou o Instituto Nacional de Formação de Magistrados, um cursinho pela internet, preparatório para as provas do Judiciário. Incorporou ao corpo docente três ministros e um ex-ministro do STJ.
O Instituto Nacional de Formação de Magistrados está oficialmente registrado em nome da mulher de Tarcísio Alonso, a pedagoga Elyane Alonso. Mas quem aparece como representante da instituição em processos trabalhistas é Tarcísio. Além dos ministros do STJ, um desembargador e dois juízes já prestaram serviços ao curso. Um deles, o juiz aposentado Ronaldo Pinheiro Rocha, preside o instituto. Foram contratados para preparar as apostilas e dar aulas no curso. Em média, cada livro valia R$ 20 mil. Os alunos chegam a pagar R$ 3 mil pelo curso virtual.
O Instituto Nacional de Formação de Magistrados (INFM) foi criado em 10 de outubro de 2000 com a presença, registrada em ata, de dois ministros do STJ - Fátima Nanci Andrighi e José Augusto Delgado. O ex-ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, atual advogado de Tarcísio Alonso, é o diretor nacional de ensino do instituto. Ele ficou conhecido por ter comandado a comissão de notáveis responsável pelo projeto do novo Código Penal. Outro ministro, Vicente Leal de Araújo, foi contratado em seguida. Os pagamentos eram feitos diretamente na conta corrente de cada um. O INFM ocupa três salas de um prédio comercial do Lago Sul, área nobre de Brasília. Não há nenhuma placa ou letreiro de identificação nas portas.
Há dois meses começou a circular no STJ a notícia sobre o curso. A maior parte dos magistrados debandou do instituto. O primeiro foi o ministro José Delgado. Em 6 de novembro, enviou uma carta a Cernicchiaro e Rocha. Pediu demissão do IFNM, por ter descoberto que Tarcísio Alonso era o financiador do instituto. ''Não era do meu conhecimento que o referido cidadão é parte em várias ações judiciais no STJ'', escreveu. Delgado é ministro-relator do processo onde o governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PMDB), é acusado de participar de grilagens de terra ao lado de Pedro, Eustáchio, Alaor e Márcio Passos.
Os irmãos Passos, assim como Alonso, foram denunciados pela CPI da Grilagem da Câmara Distrital de Brasília. Eles eram sócios em duas empresas: a Cidade Campo e a Companhia Nacional de Imóveis - da qual Elyane, dona oficial do INFM, e dois filhos, Márcio e Marco Wesley, se tornaram sócios depois. Ela não sabe dizer se Cernicchiaro sabia da vida pregressa do marido. ''É uma coisa pessoal da minha família'', argumenta. ''Estou sendo vítima de preconceito'', diz a pedagoga.
''Me sinto rigorosamente traído'', diz o ministro José Delgado. O magistrado recebeu R$ 30 mil do INFM. Além das apostilas, ministrava aulas por um chat na internet. Dos dez bate-papos que participou, cinco foram interrompidos, por problemas técnicos. ''Os alunos reclamavam muito do curso'', lembra. A empresa responsável pelo suporte técnico é um certo Instituto de Estudos Avançados (IEA) de Florianópolis (SC). Em fax enviado a Tarcísio Alonso em 24 de agosto, Luiz Alberto Ferla, diretor do IEA, informa ter tomado providências a respeito: retirou do ar as mensagens de insatisfação dos alunos.
A ministra Fátima Andrighi alega ter participado apenas da criação do curso. Afirma ter abandonado o instituto em outubro de 2000 por não ter tempo para preparar as apostilas. ''Por causa da minha carga de trabalho, tive um estresse que me colocou numa cadeira de rodas'', conta. Outro contratado era o juiz Roberval Casemiro Belinati, titular da 4a Vara de Fazenda Pública, onde tramitam duas ações contra Alonso. Desligou-se do curso há um mês, mas não revela quanto ganhou. Com ele trabalhava o desembargador Pedro Aurélio Farias, do Tribunal de Justiça do DF.
Nos últimos três dias, a reportagem do Jornal do Brasil telefonou seis vezes para o ex-ministro Cernicchiaro. Deixou recados na casa dele e no escritório. Ele não retornou as ligações. O JB também procurou o gabinete do ministro Vicente Leal, no STJ. Ele não atendeu à reportagem. O juiz Ronaldo Rocha foi procurado no INFM. A resposta foi que ele está em Aracaju (SE), recuperando-se de estresse, e não poderia atender.
Conselheiros recebem reportagens
BRASÍLIA - O secretário nacional de Direitos Humanos, Paulo Sérgio Pinheiro, vai apresentar as reportagens do Jornal do Brasil sobre violência no Pará na próxima reunião do Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH). Durante a reunião, na terça-feira, os conselheiros vão solicitar informações às autoridades de segurança pública do Pará sobre a violência no Estado.
Para o secretário, o objetivo é encontrar soluções conjuntas dos governos federal e estadual. ''Em colaboração com as autoridades do Pará, vamos enfrentar os problemas que o JB tão bem vem denunciando.'' Além de apresentar as denúncias do Jornal do Brasil ao conselho, o secretário pretende incorporá-las ao extenso dossiê sobre violência no Pará.
Todas as cópias das reportagens foram entregues ontem ao secretário pelo coordenador de Direitos Humanos do Movimento dos Sem-Terra (MST), Nei Strozake. Participaram da reunião um dos diretores nacionais do movimento, Valdir Misnerovicz, e o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, do PT paulista.
Assassinatos - O MST pediu providências para vários casos de violência no país. Segundo Strozake, um levantamento entregue ao secretário lista 12 assassinatos e 179 prisões de pessoas ligadas ao MST este ano, além de 30 despejos violentos. Pinheiro recebeu cópia do depoimento do sem-terra Cristiano José Batista da Silva, torturado dia 23 de julho por soldados da Polícia Militar em Caruaru (PE). Todos os casos serão levados ao CDDPH.
Strozake solicitou que o governo federal revogue a medida provisória que suspende por dois anos as vistorias de fazendas ocupadas. Para Misnerovicz, só o assentamento urgente de 80 mil famílias que estão em acampamentos pode evitar conflitos agrários no país.
As denúncias que têm sido feitas pelo JB desde domingo podem contribuir, considera o MST, para evitar mortes no Pará, caso sejam investigadas e haja punição. ''O alerta do JB pode evitar a criação de um novo Chiapas no Pará'', diz Strozake, fazendo referência ao Estado mexicano. ''A única saída daquele povo, se não estiver organizado em movimentos sociais, serão as armas.''
Lula cai e Roseana vence petista no segundo turno
Denúncias contra governador gaúcho afetam campanha do concorrente do PT
BRASÍLIA - Pela primeira vez no ano, o petista Luiz Inácio Lula da Silva tem um concorrente nos calcanhares - a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL). A mais nova pesquisa do Instituto Sensus sobre as eleições presidenciais, divulgada ontem, revela que a eventual candidata do PFL encostou em Lula e, mais ainda, venceria a disputa no segundo turno. Pouco mais de três pontos separam os dois hoje. Ele tem 27,1%, ela 23,7% das preferências. Na etapa final, Roseana somaria 42,7% dos votos, o petista, 38,4%. No levantamento, os tucanos José Serra e Tasso Jereissati não se saem bem. O melhor ainda é o ministro da Saúde, com 5,5%.
O Sensus ouviu 2 mil pessoas entre os dias 6 e 11 de dezembro, na pesquisa encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT). O crescimento de Roseana, menos do que um fenômeno de mídia, é atribuído por técnicos do instituto à perda de popularidade do PT no Sul do país depois das denúncias envolvendo o governador gaúcho Olívio Dutra com bicheiros de Porto Alegre.
Lula desceu, num mês, oito pontos no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande de Sul. A governadora do Maranhão foi a beneficiária dos votos. Subiu dez pontos e lidera a corrida pelo Planalto na região. Soma 28,7%. A crise da administração Olívio Dutra é acompanhada com atenção pelos sulistas. Mas apenas 28,5% dos brasileiros tomaram conhecimento das irregularidades. ''Foi o suficiente para prejudicar o PT'', afirmou o presidente do Sensus, Ricardo Guedes.
Prejuízo - Com aparição certa nos programas partidários nacional e estaduais do PFL, a governadora afetou os índices de Ciro Gomes (PPS). Ele desceu de 12,8% para 8,8%. Os outros eventuais concorrentes variaram para menos, mas dentro da margem de erro de 3 pontos. O governador de Minas Gerais, Itamar Franco, está com 9,1%. O do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, conseguiu 7,9%.
Se a maranhense derrota Lula no segundo turno, o petista venceria a disputa se o adversário fosse qualquer outro. Caso concorra com Ciro, Itamar, Serra ou Tasso ganhará a faixa presidencial com vantagem superior a 15 pontos. Com uma aliança do PFL, PSDB e PMDB em torno de seu nome, Roseana terminaria o primeiro turno em empate técnico com Lula. Tal performance não se repetiria com a união em torno de Serra. Ele teria 8,9%. O levantamento, contudo, deixa uma esperança para o ministro. A melhora na avaliação da Saúde, percebida pelos entrevistados, pode render votos para o tucano.
Agitação no Congresso
Visita de candidatas a miss tira senadores do foco
BRASÍLIA - Por instantes, Álvaro Dias (PDT-PR) deixou de lado o relatório da CPI do Futebol. Ramez Tebet (PMDB-MT) engasgou na leitura de um requerimento. E Eduardo Suplicy (PT-SP) - como sempre - sorriu. Não dá para culpar os senadores. Por mais que Emília Fernandes (PT-RS) capriche nos tailleurs e Heloísa Helena (PT-AL) tenha usado uma saia estalando de nova na semana passada, os parlamentares da Casa não estão acostumados com tudo aquilo. Ainda mais daquele jeito, rompendo plenário adentro, em modorrenta manhã de quinta-feira, último dia útil da semana parlamentar. O motivo: a turma das 27 candidatas ao concurso de Miss Brasil 2001, numa prosaica visita ao Congresso Nacional.
Desfilaram pelos corredores, visitaram os deputados no plenário da Câmara e no Salão Verde. De lá rumaram para o Salão Azul do Senado, onde posaram ao lado das bandeiras de cada Estado. Todas em vestidinhos elegantes, logo acima dos joelhos. Com faixas de identificação e olimpicamente mudas para a i mprensa, mas sorrindo para políticos e fotógrafos.
A grande final do Miss Brasil 2001 será, amanhã, no palco do cinco estrelas Lakeside, às margens do Lago Paranoá. Brasília tem abrigado a decisão da láurea nas últimas sete edições. E as moças sempre fazem o tour parlamentar.
Se depender do voto dos senadores, a grande favorita é a Miss Goiás.
Artigos
Modo de viver
Leonardo Boff
Neste dia 7 de dezembro, junto com outros quatro militantes pela paz e pela beleza da Terra, recebi no Parlamento Sueco o Prêmio Right Livelihood (reto modo de viver), também chamado Nobel alternativo. Prêmio imerecido, pois há nomes mais notáveis e meritórios como Thomas Berry, o pai da ecologia integral norte-americana, ou o astrofísico Brian Swimme, que une cosmologia e espiritualidade. Mas o prêmio vem fortalecer uma teologia da libertação integral que venho defendendo a partir dos anos 90, teologia que se propõe ouvir não apenas o grito dos oprimidos mas também o grito da Terra. Dentro da opção pelos pobres, marca registrada da teologia da libertação, deve estar inserido o grande pobre, nossa Terra ofendida pelo tipo de civilização vigente, depredadora e consumista.
Permito-me transcrever parte do pequeno discurso que fiz naquele Parlamento:
''Já fizemos demasiadas intervenções na natureza e contra ela. Temos modificado a base físico-química da Terra. O que precisamos, urgentemente, é modificar nossa mente e nosso coração. Se quisermos salvar a biosfera e garantir um futuro bem-aventurado para todos, precisamos principalmente de uma ecologia mental e espiritual. A Terra está doente porque nós, indivíduos e sociedade, estamos espiritualmente doentes. Temos em nossas mentes e corações demasiada arrogância, vontade de poder como dominação, tendências à discriminação, à subjugação e à destruição do outro. O projeto da tecnociência, que tantos benefícios trouxe para a vida humana, propiciou o surgimento do princípio de autodestruição. A máquina de morte já construída pode devastar toda a biosfera e impossibilitar o projeto planetário humano. Precisamos, em contrapartida, criar o princípio de co-responsabilidade e de cuidado por tudo o que é e por tudo o que vive.
A forma dominante de globalização representa uma tragédia para a maioria da humanidade. A razão reside no fato de que tanto a economia mundialmente integrada quanto o mercado se regem pela competição e não pela cooperação. Se dermos livre curso à competição sem a cooperação podemos nos devorar e colocar em alto risco todo o sistema vida. Desta vez não há uma arca de Noé que salve alguns e deixe perecer os demais. Queremos nos salvar todos juntos.
Precisamos desentranhar tendências que estão também presentes em nossa mente e em nosso coração: a solidariedade, a compaixão, o cuidado, a comunhão e a amorização. Tais valores e forças interiores poderão fundar um novo paradigma de civilização, a civilização da humanidade reunificada na Casa Comum, no Planeta Terra.
Viver tais dimensões significa viver a verdadeira espiritualidade humana. Ela não é monopólio das igrejas e das religiões, mas a dimensão mais profunda do ser humano. Por ela percebemos que as coisas todas do universo não estão justapostas umas às outras mas inter-retroconectadas entre si. Um elo liga e religa tudo, constituindo a sagrada unidade do universo. Esse elo secreto é a Fonte originária de todo o ser. É aquilo que todas as religiões chamam de Deus, mistério de ternura e de vida, cujo nome não se encontra em nenhum dicionário, só no coração humano.
Meu empenho, já há 30 anos, como teólogo da libertação integral, foi pensar e repensar, viver e transmitir esta mensagem: Terra e humanidade formamos uma única realidade. Na verdade, nós, seres humanos, somos a própria Terra que sente, pensa, ama e venera. Temos uma mesma origem e um mesmo destino. Somos chamados a ser não o Satã da Terra mas seu Anjo bom. Chegamos a uma encruzilhada em que devemos decidir pelo futuro que queremos. E queremos manter a família humana unida junto com a grande família biótica, inseridos nas forças diretivas que regem todo o universo. Nossa missão é de celebrar a grandeza da criação e religá-la ao Seio de onde veio e para onde vai, com cuidado, leveza, alegria, reverência e amor.
Agradeço o prêmio Right Livelihood que consagrou essa perspectiva, porque foi vista como benfazeja para o futuro dos pobres, da humanidade e do sistema-Terra.''
Colunistas
COISAS DA POLÍTICA – DORA KRAMER
Cada um com seu cada qual?
No jantar de confraternização do PTB, ontem, em Brasília, o candidato de honra seria Fernando Henrique Cardoso, o ''ser mais desprezível do mundo'', na visão do candidato apoiado pelos petebistas, Ciro Gomes. Já é possível detectar algo de estranho, que ficaria só por aí se, um dia antes os partidos governistas não tivessem anunciado que este ano, está combinado, eles vão brincar separados. E, na visão do presidente do PFL, Jorge Bornhausen, isso é estritamente necessário porque - palavras dele - se o governo tiver candidato único, Luiz Inácio Lula da Silva ganha no primeiro turno.
O senhor e a senhora entenderam a lógica do raciocínio? Pois é, o problema não é vosso, é exatamente da falta de lógica do raciocínio. Até porque Bornhausen tem idade e experiência suficientes para saber o que houve em 1989, quando todos os partidos tiveram, cada um, seu próprio candidato e a conseqüência nefasta daquela dispersão.
Pois bem, mas a aparente esquisitice do momento sucessório está plena de outros fatos. Todos os partidos que lançam seus candidatos fazem questão de pontuar seu amor por Fernando Henrique Cardoso. Há até os que atribuem a ele a condição de presidente inesquecível. Por exemplo, Pratini de Moraes, ministro da Agricultura e lançado candidato do PPB.
Supõe-se que, como os outros, para disputar e derrotar o candidato apoiado por FH, que, se é tão adorado e festejado assim, qual a justificativa para que saiam em campanha falando mal de quem gostam tanto? Ou vão todos de candidato próprio, defendendo o governo com discurso em uníssono?
Se for assim, aí mesmo é que a conta de Bornhausen não fecha. Muitos candidatos podem tirar muitos votos de Lula, mas isso não significa que suas individualidades sejam tão bem-sucedidas a ponto de conseguir votos suficientes para chegar ao segundo turno.
Para, então, fazer como estão dizendo que vão fazer: a unidade para derrotar o PT. Existe um ditado excelente que os mais antigos repetiam: quem tudo quer, tudo perde.
Considerando que esses senhores, que agora provocam certa barafunda na cabeça do eleitor, conhecem bastante bem essa lição, lícito supor que estejam agora jogando para confundir e nos deixando aqui à espera do momento em que se movimentem para explicar.
Por exemplo, porque tantos elogios e rapapés a Fernando Henrique. Mas essa é fácil: pela incerteza de que o governo esteja assim tão mal eleitoralmente quanto fazem supor os índices tucanos nas pesquisas de opinião. Vai que chega lá por março o governo está bem, o cenário mudou, Roseana Sarney desinflou, Lula estacionou e Serra deslanchou, o governismo tem onde se abrigar.
E, por governismo, vamos entender também os atuais aliados de Ciro Gomes, o PTB, cuja firmeza ideológica nada fica a dever ao restante do quadro partidário, salvo as conhecidas exceções.
Recuo tático
Depois de meses vivendo a fantasia de que poderia vir a ser candidato à Presidência da República, o ministro da Educação, Paulo Renato, ontem finalmente desistiu de seus planos de concorrer à convenção do PSDB e disse que, na opinião dele, o candidato do Planalto será José Serra.
A decisão de Paulo Renato deve-se ao fato de que estava começando a ter problemas com o partido em São Paulo. Contestado como candidato a senador, estava sofrendo também restrições para a vice de Geraldo Alckmin - em tese, reservada para uma coligação pefelista ou pemedebista - e arriscando-se seriamente a ficar de mãos abanando, apenas por insistir no confronto com Serra.
Ao sentir a força do inimigo fez com se faz: aliou-se a ele.
Asfalto tucano
A análise tucana a respeito do episódio Roseana Sarney é tão otimista que a gente ouve e fica em dúvida se trata-se do efeito uvas verdes ou se os argumentos guardam realmente relação com a realidade.
O que se ouve no PSDB é que o crescimento da governadora nas pesquisas foi, não apenas excelente, a melhor coisa que poderia ter acontecido à candidatura governista.
Por três alegados motivos: primeiro, ela aniquilou com o segundo escalão - Ciro, Garotinho e Itamar. Segundo, abalou convicções sobre a invencibilidade de Lula. E, em terceiro lugar, Roseana fez, segundo essas análises, o favor de mostrar que uma candidatura do campo governista tem chance junto ao eleitor. Sendo, portanto, um mito a história de que governo não tem voto.
A tese chega à conclusão de que Roseana acabou pavimentando o caminho para a entrada em cena do candidato de Fernando Henrique.
Está tudo muito pensado e arrumado, mas para que o raciocínio dê certo é fundamental que ela seja só uma chuva de verão. E se não for?
Se não for, respondem os tucanos dos mais variados matizes: vai ser uma confusão para a qual ninguém ainda pensou na solução.
Editorial
Chávez e o Alicate
O presidente venezuelano Hugo Chávez provavelmente chegou a um momento decisivo de sua polêmica gestão, ensanduichado de um lado pelas lideranças empresariais que fizeram o locaute de segunda-feira e do outro pela maior central sindical do país (a CVT), que ameaça desencadear greve geral na próxima semana. Fardado, falando ao lado de Fidel Castro com quem esteve reunido na Ilha Margarita, brandiu um alicate e prometeu “apertar as porcas” dos opositores... Quando assumiu o poder, pelo voto, no final de 1998, tendo passado dois anos na cadeia por tentativa de golpe militar em 1992, falou-se numa virada de página na política venezuelana. Mas até agora ainda não se sabe o que está escrito na página seguinte. A ascensão de Chávez significou o sepultamento dos partidos tradicionais que se revezavam, quase na qualidade de cúmplices, no poder, nos últimos 40 anos, montando a democracia de fachada que soçobrou com a crise econômica, o clientelismo e a corrupção. A gota d’água na curta porém tumultuada trajetória de Chávez foi o pacote de leis baixado em novembro que mexe com a propriedade de terras e a indústria pesqueira, impõe a expropriação de imóveis na costa venezuelana, interrompe o investimento estrangeiro em petróleo e toca em outros assuntos que provocaram insatisfação do empresariado. Mesmo o governo dos EUA, que até então considerava Chávez apenas “falastrão inconseqüente”, passou a manifestar preocupação. Até então Washington confiava nos conselhos que o presidente Fernando Henrique Cardoso e recentemente o presidente mexicano Vicente Fox davam a ele, mas Chávez transpôs um certo limite ao criticar a ação militar dos EUA no Afeganistão, que comparou a uma espécie de terrorismo contra o terrorismo. O problema com relação a Chávez, no entanto, é que ele confia demasiado numa presença internacional que em verdade não tem e, ao ser contestado pela oposição que enfim se organizou e submergiu, pode recorrer à repressão, isto é, usar literalmente o alicate exibido na Ilha Margarita. Basta rememorar sua trajetória política, rumo ao poder legal. Foi eleito primeiramente contra os interesses oligárquicos. Acabou com o Congresso Nacional. Elegeu uma Constituinte quase toda favorável a ele. Convocou nova eleição geral, em que ele próprio se candidatou de novo, para exercer mandato espichado de seis anos com direito a reeleição. Como tudo corria bem, completou, com aparente legalidade, voto a voto, um golpe de Estado por etapas – conseguindo pela via legal o que não obteve na quartelada de 1992. Esgotou-se, no entanto, o prazo relativamente curto para satisfação das expectativas despertadas. Ao pulverizar os partidos tradicionais, comprometeu-se a solucionar várias frentes complicadas: corrupção, empregos, investimentos privados, saúde, educação, segurança. Mas a economia informal venezuelana absorve quase 55% da mão-de-obra – mais do que a economia brasileira.
Menos de um terço dos venezuelanos paga imposto. Não há possibilidade de fazer gastos sociais com parcela tão pequena de contribuintes. Tais investimentos entram em crise sempre que cai o preço do petróleo. A Venezuela oscila entre o colapso econômico e a ditadura legal – alternativa terrível a coroar anos de gastos faraônicos, manutenção de privilégios e desordens sociais mal resolvidas. O presidente Rafael Caldera, que entregou o poder a Chávez, sucessor do governo corrupto de Andrés Pérez (varrido da presidência pelo impeachment) governou sob estado de emergência financeira e suspensão de algumas garantias constitucionais. O antecessor de Pérez, Jaime Lusinchi, fugiu do país com a secretária e amante para escapar à Justiça. Tanto Chávez como seu fiel escudeiro Ortiz Contreras, pais da Constituição bolivariana aprovada no referendo de 1999, não tinham qualquer formação política e jamais haviam participado de grupos de esquerda ou direita. Passaram a vida na caserna (e, depois da tentativa de golpe, dois anos no cárcere), onde desenvolveram ideologia radicalmente militarista e nacionalista. Segundo o ministro da Defesa da época, o nacionalismo exacerbado aproximouos do fascismo na medida em que combatiam o pluralismo democrático. A Constituição resultante destas origens é vazada em terminologia estatizante embora contemple o livre mercado em sintonia com a mixórdia ideológica da coalizão de 13 partidos que apoiaram Chávez, na qual predominam sindicalistas, políticos de esquerda radical e militares populistas. A frustração pelos maus resultados da gestão governamental pode virar o feitiço contra o feiticeiro. Chávez e sua Constituição bolivariana varreram para baixo do tapete a História do último meio século. De nada valem precedentes democráticos se a democracia não chega a todos sem demagogia, ou se os únicos a lucrar com ela são os afoitos ou os corruptos.
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12/14/2001
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