PSDB é legenda da elite, responde líder
PSDB é legenda da elite, responde líder
Pefelista reafirma preferência por união com PMDB e alega que falta candidato a tucanos
BRASÍLIA - O líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), voltou a ironizar ontem os tucanos, ao responder, com humor, ao governador Geraldo Alckmin. "Quem é especialista em salto alto é o PSDB, achando sempre que tem os melhores quadros. Eu uso é alpargatas e sandalinhas de borracha", disse.
"Quem fala com as elites e com a intelectualidade é o PSDB, eu falo é com o povo."
Apesar de estar ao lado do ministro José Serra, da Saúde, um dos pré-candidatos tucanos à Presidência, Inocêncio não escondeu sua preferência pela retomada da aliança entre PMDB e PFL. Ele insistiu em afirmar que para seu partido a parceria com o PMDB nos Estados é mais viável.
Enquanto o presidente pefelista, senador Jorge Bornhausen (SC), afirmava que ainda é cedo para excluir parcerias, Inocêncio não escondia sua aversão aos tucanos, especialmente a Serra. "O PSDB tem de se convencer de que a supremacia dos últimos anos só prevalecerá se tiver um candidato viável para vencer as eleições", comentou.
As ironias do líder, que chegou a lançar o nome do presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), como vice numa eventual chapa encabeçada pela governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), causaram diversas reações tanto no PMDB quanto no PSDB.
"Tudo que vem do Inocêncio merece respeito", brincou o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), defensor da manutenção da aliança entre PMDB, PFL e PSDB. "Ainda avançaremos para ter a aliança." O líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães Júnior (BA), partidário da candidatura de Serra, não poupou ataques. "Se vantagem significasse vitória, Inocêncio teria sido eleito presidente da Câmara", disse, numa referência à boa posição de Roseana nas pesquisas.
Já o líder do PMDB, deputado Geddel Vieira Lima (BA), telefonou a Inocêncio para agradecer sua proposta. E Temer mostrou-se gratificado. "Em termos de estratégia política é forte", argumentou, deixando claro que considera interessante uma dobradinha entre Roseana e um político de São Paulo.
Mas ele brincou, dizendo que ainda não está afastada a possibilidade de vir a disputar as prévias dentro do PMDB como candidato à sucessão presidencial.
PMDB marca data de prévia e amplia colégio eleitoral
BRASÍLIA - O PMDB realizará em 17 de março as prévias que escolherão seu candidato à Presidência. Ao adiar ontem essas eleições internas, antes previstas para 20 de janeiro, a cúpula do partido acolheu sugestão do governador de Minas, Itamar Franco, que conseguiu também ampliar o colégio eleitoral para quase 15 mil votantes. A decisão foi tomada durante reunião da cúpula partidária que, no entanto, não contou com a presença de Itamar.
Depois de aguardar o governador mineiro por quase uma hora, o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), recebeu a notícia de que ele teria sofrido uma indisposição gástrica e, por isso, não iria á reunião.
Itamar acompanhou toda a discussão, por meio de telefonemas do ex-governador Orestes Quércia e do secretário de governo de Minas, Henrique Hargreaves.
Tasso diz que falta 'audácia' ao governo para País crescer
WASHINGTON - O governador do Ceará e pré-candidato do PSDB à Presidência, Tasso Jereissati, defendeu ontem "um pouquinho mais de audácia" do governo federal para incentivar o crescimento econômico. Mesmo que isso signifique assumir maior "risco" no cumprimento das metas inflacionárias.
"A meta inflacionária tem de estar relacionada com outras metas. É fundamental, mas não é a única", afirmou em Washington, onde participa de um seminário do Banco Mundial sobre combate à pobreza. Ele aceita "um pouquinho mais de inflação" para garantir maior desenvolvimento econômico, mas ressaltou a necesidade de manter a estabilidade monetária e o ajuste fiscal.
Durante o seminário, Tasso assegurou que a idéia de que o crescimento econômico naturalmente se traduziria em melhorias sociais para os mais pobres é falsa. Segundo ele, "até o Banco Mundial já sabe" que as políticas desenhadas e aconselhadas por Washington durante décadas aos países pobres fracassaram em alcançar um desenvolvimento equitativo e maior justiça social.
"Imaginava-se que a globalização e a revolução tecnológica levariam aos países a prosperidade sem fim, inclusive para os pobres também, e que a abertura econômica e o equilíbrio fiscal eram a receita que bastava para a prosperidade mundial", disse. "Mas isso claramente não aconteceu."
De acordo com Tasso, é indispensável reformular a política econômica mundial. "É preciso mais intervenção do Estado, governos muito mais fortes", afirmou, citando como exemplo o modelo de integração da União Européia. Ele lembrou que quando a Europa decidiu abrir suas fronteiras internas, ofereceu "fortes subsídios" aos países mais pobres para fortalecê-los e prepará-los para enfrentar a abertura comercial. "Esse é um jogo mais justo, que terá de ser aceito." (DPA)
PT vai à Justiça contra programa de TV do PFL
Legenda move ação por injúria e quer que TSE suspenda propagandas pefelistas no 1.º semestre
O PT desencadeou ontem uma contra-ofensiva ao programa eleitoral do PFL paulista, veiculado na noite de segunda-feira, que atacou a administração da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. A direção do PT paulista anunciou que ingressará hoje com uma queixa-crime no Tribunal de Justiça (TJ), acusando o PFL de ter feito afirmações injuriosas contra a prefeita de São Paulo.
No âmbito eleitoral, o PT recorrerá ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para acusar o programa pefelista de ter feito propaganda antecipada da candidatura à Presidência da governadora do Maranhão, Roseana Sarney. Como punição, o PT solicita que o PFL perca o direito de veicular nova propaganda eleitoral no primeiro semestre de 2002, pague multa e ceda espaço para um direito de resposta.
Ao mesmo tempo, ontem, a prefeita Marta Suplicy rebateu as críticas de forma ríspida. "Me pergunto se esse programa tão negativo foi feito com a verba do caixa 2 de Curitiba", disse a prefeita, referindo-se às denúncias de desvio de dinheiro de campanha contra o prefeito da capital paranaense, Cassio Taniguchi (PFL).
No programa partidário, o PFL mostrou uma animação com a figura de um "trem da alegria" puxado por Marta - numa alusão à minirreforma comandada pela prefeita no primeiro semestre, em que foram criados 788 cargos de confiança na Prefeitura.
O programa também criticou o projeto do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) progressivo, que tramita na Câmara, e o aumento do bilhete de transporte público - a passagem passou de R$ 1,15 para R$ 1,40 em maio.
Depois disso, a apresentadora ainda observou que "Incompetência se escreve com P e T" e desenhou as duas letras na tela.
Polarização - As cúpulas estadual e nacional do PFL justificaram os ataques ao PT como uma ofensiva diante da polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva e Roseana nas pesquisas eleitorais à Presidência. "Criticamos o PT porque o Lula está em primeiro e Roseana em segundo", observou o vice-presidente estadual Gilberto Kassab. "Lula tem 30% nas pesquisas e o programa foi só um percurso que faremos na direção dele, sujeitos a chuva e trovoadas", afirmou o diretor da executiva nacional do PFL, Saulo Queiroz.
Ele observou, no entanto, que nos demais Estados o programa do partido não seguiu a mesma orientação de criticar apenas o PT. "Exaltamos a Roseana e ponto final", disse. Queiroz aproveitou, porém, para dar a tréplica à prefeita de São Paulo, que também provocou Roseana. "Gostaria de saber da pretensa postulante ao cargo de presidente da República o que ela acha desse caixa 2 do Taniguchi", disse Marta.
Queiroz seguiu a mesma linha, aproveitando-se do escândalo envolvendo o PT no Rio Grande do Sul: "Queria saber o que a Marta acha de uma sede do partido ser financiada pelo jogo do bicho."
Tática - O presidente estadual do PT, Paulo Frateschi, disse que o PFL "se desqualifica e se presta a um servicinho sujo" ao levar "tanto ódio" para o debate político. "Mas essa vai ser a tática da campanha estadual: o PSDB mostrando realizações e o PFL batendo na gente", acredita.
O vice-presidente do diretório paranaense do PFL, deputado federal Abelardo Lupion, disse que as afirmações de Marta não atingem o partido. "Lastimo que o PT já se utilize politicamente de algo que está na Justiça e que vamos provar que não existiu."
PT e OAB contestarão trem da alegria no Supremo
Idéia é entrar com ação se fim de aposentadoria compulsória para titular de cartório não for vetado
BRASÍLIA - O PT e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) vão arguir a inconstitucionalidade do projeto que acaba com a aposentadoria compulsória aos 70 anos para os titulares de cartório caso o presidente Fernando Henrique Cardoso não o vete. "Estamos certos de que o presidente vetará, mas se ele não o fizer nós entraremos com uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF)", disse o deputado José Genoíno (PT-SP).
"Trata-se de uma concessão pública que está sujeita às mesmas regras dos servidores", acrescentou o deputado Jaques Wagner (PT-BA). O presidente da OAB, Rubens Aprobatto, também garantiu que agirá nesse caso. O presidente dispõe ainda de dez dias úteis para decidir o que fará com o projeto, mas a tendência é de vetá-lo.
Ontem, o porta-voz do Presidência, Georges Lamazière, disse que Fernando Henrique ainda não recebeu nenhum estudo indicando se deve vetar ou sancionar integralmente a proposta. O parecer jurídico está sendo preparado pelo Ministério da Justiça, que vai levar em consideração as avaliações do STF, que já firmou jurisprudência estabelecendo que os notários e oficiais de registros de cartórios são funcionários públicos e, como tal, têm de se aposentar aos 70 anos, e seu substituto deverá ser escolhido por concurso público. O parecer deverá ser entregue na semana que vem à Casa Civil.
O PT votou contra o projeto na Câmara e no Senado, mas foi vencido. O deputado Jaques Wagner entende que não é possível criar regras diferenciadas para os donos de cartórios, que têm um poder de lobby fortíssimo no Congresso.
O presidente da OAB concorda que a pressão dos cartórios "é muito forte".
Aprobatto classificou como "absurda" a permanência do titular do cartório no cargo depois dos 70 anos. "Apesar de os cartórios estarem na mão de particulares, eles prestam um serviço público, que está subordinado ao Poder Judiciário", comentou. Portanto, segundo ele, esse setor tem de ser fiscalizado e seguir as mesmas regras do funcionalismo, que incluem limite de idade para aposentadoria.
Aprobatto lembrou que a situação nos cartórios "já foi muito pior, quando eram hereditários e passavam de pai para filho". Na sua avaliação, a mudança nessa legislação "já foi um avanço".
Ele ressalvou, no entanto, que isso não é suficiente. "A Ordem vai examinar os aspectos constitucionais da matéria com vista a entrar com uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo", contou. (Tânia Monteiro, colaborou Paulo de Tarso Lira)
País depende dos tributos, diz FHC
Mesmo evitando críticas diretas, presidente diz temer as perdas na arrecadação do IR
BRASÍLIA - O presidente Fernando Henrique Cardoso reafirmou ontem que o governo depende da cobrança de tributos para executar programas sociais, mas evitou críticas diretas ao projeto que corrige a tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física e leva a uma perda de arrecadação de R$ 3 bilhões por ano. "O dinheiro pago pelos ricos e menos pobres vai para os mais pobres", ressaltou, durante cerimônia de entrega do Prêmio Qualidade do Governo Federal, no Palácio do Planalto.
Mais uma vez, Fernando Henrique aproveitou para se defender dos que classificam de neoliberal sua gestão à frente do País. "Quando dizem isso, eu rio", afirmou. "São pessoas que não entendem nada do mundo nem do Brasil."
O presidente informou também que o governo vai criar um cartão único para pagar os benefícios sociais, na tentativa de coibir fraudes e eliminar a interferência política de prefeitos, vereadores e deputados. O desafio das políticas públicas, segundo ele, é atingir as populações mais carentes: "É algo muito fácil de falar, mas difícil de fazer", concluiu.
Elogios - A sociedade brasileira, disse Fernando Henrique, já está convencida de que a busca da qualidade, principalmente no setor público, deve ser um esforço constante e ajuda o País a participar da globalização da economia. "O Brasil tem de se preparar de forma crescente para enfrentar essa realidade com galhardia, sem um complexo de inferioridade por ser do terceiro mundo", comentou.
Receberam elogios do presidente as empresas vencedoras do prêmio: Furnas, Petrobrás, Empresa de Correios e Telégrafos e Instituto Estadual de Hematologia ASC - Hemocentro Rio. "A busca da qualidade passa pelo serviço público e o nosso é um dos melhores, comparado aos países equiparados a nós", disse Fernando Henrique, que anunciou a criação de uma organização civil de interesse público, o Movimento Brasil Competitivo (MBC), para batalhar pela qualidade total.
Artigos
Um ministério para o comércio exterior
RUBENS ANTONIO BARBOSA
Ao propor a criação de um Ministério do Comércio Exterior, em encontro com exportadores (Enaex) na semana passada, o ministro José Serra pôs em debate uma questão essencial para uma estratégia de abertura da economia diante dos crescentes desafios colocados a nosso país por concorrentes cada vez mais competitivos.
Coerente com posições públicas sobre esse tema, assumidas nos últimos dez anos, parece-me oportuno voltar ao assunto agora.
Por sua atualidade, transcrevo trecho de artigo que publiquei no Estado em 22 de agosto de 1994: "A liberalização comercial terá de estar respaldada numa organização institucional simples, com pessoal treinado e com visão clara dos objetivos estratégicos do comércio exterior para o desenvolvimento econômico e social.
Dentro desse quadro, faz falta uma estrutura de coordenação, em nível alto, que visaria basicamente a:
Fortalecer institucionalmente o setor de comércio exterior, como resultado da vontade política do governo em considerar essa área um fator de real significado para o êxito da política de desenvolvimento traçada pelo governo.
Agilizar o mecanismo administrativo, ampliar a coordenação dos diferentes órgãos que interferem no processo negociador interno e externo e buscar o entrosamento e a compatibilização da política de comércio exterior, em especial com a política industrial e a política de abastecimento interno.
Esse núcleo, necessariamente reduzido e desburocratizado, poderia ser uma secretaria especial vinculada à Presidência da República, que trabalharia em tempo integral em matérias relacionadas com o intercâmbio comercial externo.
A secretaria, entre outras, poderia ter as atribuições de formular uma política de comércio exterior, bem como determinar, orientar e coordenar a execução das medidas necessárias à expansão das exportações e das importações de bens e serviços e de diretrizes para uma política de financiamento e de seguro à exportação.
A secretaria especial poderia também servir de ligação entre o Ministério da Fazenda e os demais órgãos intervenientes no processo de comércio exterior e entre esses órgãos e o setor privado da área de comér cio exterior, além de promover a integração dos esforços setoriais desenvolvidos por todos os órgãos públicos, federais e estaduais, e setores privados interessados, acompanhando a execução e fazendo o indispensável acompanhamento das iniciativas das diversas áreas.
O funcionamento dessa secretaria não acarretaria nenhuma modificação nas atribuições dos órgãos competentes em matérias relacionadas com o comércio exterior nem duplicaria o trabalho, que continuaria a ser feito, como até aqui, pelos órgãos diretamente interessados."
Nos últimos sete anos, o processo decisório na área de comércio exterior experimentou transformações importantes com o objetivo de ampliar a coordenação entre os diversos setores da administração competentes na definição de políticas nessa área.
Nesse sentido, foi promovida a reformulação da Camex como fórum de coordenação, envolvendo os ministérios diretamente responsáveis pela operação interna e externa do comércio. Hoje nenhuma medida que afete o setor exportador poderá ser editada sem discussão prévia da Câmara. O que aumenta o grau de estabilidade das regras e diminui o risco de surpresas para o exportador.
Mais recentemente, com a criação da Câmara de Gestão do Comércio Exterior, foi estabelecido um núcleo executivo colegiado, presidido pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Alcançada maior coordenação - grande conquista para o setor exportador, que deve ser creditada ao presidente Fernando Henrique Cardoso -, cabe tratar agora do próximo passo para dar a esse setor o lugar de relevo que merece, sobretudo na atual conjuntura.
Chegou a hora de discutir a conveniência, do ponto de vista do interesse nacional, de ser criado o Ministério do Comércio Exterior ou a Secretaria Nacional de Comércio Exterior, vinculada diretamente ao presidente da República e com status ministerial. A idéia de um órgão responsável pelo comércio exterior foi explicitada pela primeira vez quando da criação do Ministério do Desenvolvimento, que, significativamente, teve "Comércio Exterior" incluído na sua denominação, antes restrita a "Comércio".
Na prática, o ministério ou a secretaria nacional não significaria a criação de mais um órgão decisório para dificultar o trabalho do empresariado. As decisões, ao contrário do que ocorre hoje, passariam a ter um ponto focal, já que lhe seria dada a atribuição de comandar e coordenar os diferentes órgãos que intervêm na área de comércio exterior. A Camex seria mantida como órgão colegiado de coordenação, em nível ministerial, preservando a atual composição: Fazenda, Itamaraty, Desenvolvimento e Indústria, Agricultura e Casa Civil e Planejamento.
Comando único e coordenação se impõem pela necessidade de dar respostas rápidas e eficientes aos desafios de um mundo globalizado e crescentemente restritivo para as exportações dos países em desenvolvimento; pela necessidade de ampliar rápida e consideravelmente as exportações brasileiras para ajudar na geração de saldos na balança comercial, para compensar o déficit nas transações correntes; por causa das próximas negociações comerciais na Organização Mundial de Comércio (OMC), as negociações no âmbito hemisférico (alca) e as regionais (Mercosul, América do Sul, União Européia); pela necessidade de coordenação cada vez mais estreita entre o governo e o setor privado; pela estreita relação entre comércio exterior, política industrial e investimentos.
Com uma estrutura permanente reduzida, o ministério ou a secretaria Nacional, em tempo integral, seria responsável pela política de comércio exterior e, finalmente, teria poderes para negociar dentro do governo e com o setor privado, entre outras muitas medidas urgentes, a lei única de comércio exterior, para facilitar a vida do exportador e reduzir o custo Brasil, e a separação (gradual) da alfândega da Receita Federal, como ocorre com países industriais desenvolvidos.
Exportar, hoje, tornou-se um fator crucial para o crescimento econômico e para a geração de empregos. Sem perder de vista a necessidade de ampliar e desenvolver o grande potencial do mercado interno, o comércio exterior continuará a ser uma variável estratégica para a economia brasileira e, como tal, deveria ser um dos temas da campanha eleitoral de 2002.
Pão, escola e paz
JOSÉ NÊUMANNE
Um dia destes, o escritor Ariano Suassuna, numa daquelas suas entrevistas engraçadíssimas para a televisão, definiu um dos maiores empecilhos que o Brasil tem encontrado para o desenvolvimento pleno e a chegada até a maioria da população de vantagens e benefícios de fazer parte do clube das dez maiores economias do mundo. Ele se referia a um episódio familiar: o assassínio de seu pai, o deputado João Suassuna, no calor da explosiva situação que terminaria na derrubada do presidente Washington Luiz pelos revolucionários de 1930. O autor de O Auto da Compadecida, grande sucesso do teatro e maior êxito de bilheteria do cinema brasileiro, recordava que, desde então, a cidade tem representado tudo o que é moderno e avançado e o campo, o atraso, o país ao qual o Brasil não pode regredir.
De fato, de 1930 para cá, mesmo tendo a industrialização sido financiada basicamente por recursos produzidos pela agricultura, esta passou a ser desprezada, mantida de lado e até perseguida. Trata-se de uma mentalidade para a qual contribuem os preconceitos da esquerda marxista e da direita plutocrática, com uma mãozinha de parte da própria elite rural brasileira, que resistiu à desconcentração fundiária até o ponto de ela não ser mais necessária e até hoje vive de pires estendido para os recursos escassos do Estado, sem falar nas vergonhosas anistias periódicas de suas dívidas, bancadas pelo bolso furado do contribuinte.
As vantagens comparativas da agricultura brasileira são, contudo, tão grandes que a associação da competência técnica e científica de órgãos como a Embrapa com o espírito empreendedor de alguns pioneiros tem produzido verdadeiros milagres no campo. Estamos prestes a cruzar o marco-símbolo dos 100 milhões de toneladas de grãos já na próxima safra e, neste mundo abalado pelo terror e pela crise argentina, o agronegócio superou os US$ 16 bilhões de superávit previstos para este ano, podendo chegar a US$ 18 bilhões, conforme anunciou o ministro da Agricultura, Marcus Vinicius Pratini de Morais.
Se o futuro presidente tiver juízo, pertença ele ao partido ou à corrente ideológica que pertencer, dará prioridade absoluta à produção primária na política interna, investindo mais em tecnologia e trabalhando para virar pelo avesso essa mentalidade idiota segundo a qual a produção primária é passado e o futuro está apenas na transformação manufatureira. E também deverá seguir os passos de Fernando Henrique no front externo, denunciando e combatendo o financiamento da improdutividade agrícola dos países ricos ao custo de US$ 1 bilhão por dia, arrancado da boca de nossos pobres.
Além disso, o novo presidente terá de fazer o oposto do que faz a prefeita petista de São Paulo, Marta Suplicy: aumentar o investimento em educação, mas não para engordar os privilégios das academias e, sim, para dar excelência ao ensino básico. Chegou a hora de assumir que é uma vergonha insuportável ver pais desesperados formarem filas disputando vaga na escola pública da maior cidade do País. Uma sociedade que convive com isso passivamente não pode reivindicar papel nenhum no futuro, a não ser o de mendigos catadores de sobras no banquete da globalização. As sociedades que pretendem ter um lugar no trem para o futuro estão mandando para a cadeia os pais que se recusam a matricular os filhos em idade escolar em sua rede pública de ensino - e não relegando ao relento os que querem educar a prole e ainda ameaçando de expulsão os companheiros de partido que não aceitem reduzir ain da mais os minguados recursos para o setor, como faz dona Marta.
Esses dois temas - agricultura e educação - já preencheriam uma agenda construtiva para o sucessor de Fernando Henrique. Talvez o bom candidato só precisasse atacar mais dois pontos nos quais o tucanato no poder há oito anos malogrou: uma reforma tributária para desonerar a produção e tirar o ineficiente Estado brasileiro das costas de quem trabalha; e uma política de segurança pública capaz de deter os índices alarmantes de violência urbana.
Entre a demagogia e o oportunismo, os candidatos que apareceram até agora não têm abordado esses quatro temas como deveriam. Quando o fazem, emitem sinais de não terem entendido patavina. Lula, o favorito das pesquisas, deixou-se engabelar pela lábia dos franceses, que mascaram o subsídio a seus agricultores preguiçosos e improdutivos com aquela conversa mole da segurança alimentar. E seus adversários do centro e da direita não têm demonstrado consciência nenhuma da necessidade de concentrar esforços em pão, escola, menos impostos e mais paz.
Pior para nós, que corremos o risco de ter de escolher o menos pior no momento em que mais precisamos do melhor.
Colunistas
RAQUEL DE QUEIROZ
A grande eleição
Ano que vem teremos eleições e é bom lembrar aos eleitores - que somos todos nós - os nossos direitos e deveres de cidadãos.
Teremos de fazer escolhas importantíssimas numa eleição que será provavelmente a mais demorada em toda a história do País. Isso porque o eleitor terá de digitar os números de candidatos a seis cargos: deputado estadual, deputado federal, dois senadores, governador de Estado e presidente da República. O que exige de cada eleitor 25 toques nas teclas das 404 mil urnas eletrônicas oferecidas aos 116 milhões de eleitores em todo o território nacional.
Isso tudo é muito sério. Lembremo-nos que acima do direito estamos exercendo um dever da maior importância pois que a vida do país depende das boas leis provindas do Poder Legislativo e daqueles que vão executá-las e nos governar durante o seu futuro mandato. No final de contas tudo depende mesmo de nós: nós, que escolhemos pelo voto, os homens e mulheres que vão governar em nosso nome.
Mas aí surge a questão: até que ponto nós escolhemos realmente os nossos governantes? Nós somos a parte fraca. Nós sofremos pressões, pedidos, exigências e até ordens. Em tempo de eleição, os candidatos fazem toda espécie de apelo. Discursam, adulam, imploram, abraçam, beijam crianças, prometem empregos, dinheiro, dão presentes. E, quando pensam que podem, ordenam. E você não sabe como resistir se, por exemplo, o seu chefe ou o seu patrão lhe exige que vote em fulano ou beltrano. Como negar, e enfrentar a vingança do mandão?
Ah, meus queridos, por saber que nós, o eleitor, somos realmente a parte mais fraca em todo o processo, foi que a lei criou o voto secreto. E, na hora da eleição, os juízes, os mesários, os fiscais, a polícia estão todos ali, para garantir o segredo do nosso voto.
Dentro da cabine indevassável ninguém pode saber em quem você votou. Então, se você não tem condições para resistir às ameaças de quem quer mandar no seu voto, não se considere obrigado por uma promessa que não foi dada, mas arrancada. O compromisso que impuseram a você pela força não tem nenhum valor moral. Ninguém pode ser culpado por resistir a um crime. E quem quer obrigar o seu voto está cometendo um crime. Errado, criminoso, não é você; erradas e criminosas são as pessoas que estão querendo manipular a sua consciência de cidadão.
Portanto, lembre-se disto: se você puder resistir abertamente às pressões, ótimo. Estará dando um belo exemplo a todos. Mas se você não pode dizer não, e faz a contragosto uma promessa eleitoral, não fica com obrigação nenhuma de cumprir o que prometeu. Promessa extorquida não tem valor. Prometa o que prometer, na hora de votar esqueça tudo e vote com a sua consciência. Vote nos candidatos que lhe parecerem os melhores, os mais sérios, os mais honestos, os mais confiáveis. Só assim você estará sendo um bom cidadão, merecedor do seu título de eleitor.
E não tenha medo. O segredo do seu voto lhe pertence.
Dentro da cabine indevassável, você é um homem livre; e uma mulher, livre também.
Editorial
O torneio da morte no Oriente Médio
Existe apenas uma certeza em relação ao interminável conflito entre israelenses e palestinos: as coisas sempre podem ficar piores. E, no entanto, mesmo os pessimistas respaldados pelo retrospecto admitem que, um dia, essa tendência histórica acabará sendo revertida de forma duradoura, pelo simples motivo de que a alternativa - o estado de guerra permanente no Oriente Médio, com períodos de menor ou maior derramamento de sangue - representa uma fonte de tensão cada vez menos suportável pelo sistema internacional.
Basta ver que os Estados Unidos, para trazer os países árabes seus aliados à coalizão antiterror, foram obrigados a fazer o que, antes do 11 de setembro, o presidente George W. Bush não concebia: apoiar formalmente a criação do Estado da Palestina - palavra que ele usou nas Nações Unidas - e voltar a engajar a diplomacia americana no esforço para a cessação das hostilidades entre as partes e a sua recondução à mesa de negociações. Há, portanto, algum fundamento objetivo na afirmação de que árabes e judeus estão condenados à paz.
A grande questão, obviamente irrespondível, é quão pior a situação terá de ficar antes de melhorar. Em meio a mais um ciclo de exacerbação da violência - com os atentados da organização terrorista Hamas, em Jerusalém e Haifa, que mataram 25 pessoas e feriram pouco menos de 200 outras, e a resposta militar israelense, que desta vez incluiu ataques com mísseis ao QG do líder palestino Yasser Arafat -, ninguém duvida de que, em um dos lados, a grande maioria aprova o terrorismo, enquanto, no outro, maioria talvez igual aprova "a guerra contra o terror" recém-declarada pelo primeiro-ministro Ariel Sharon.
Desde o início da atual intifada, que em 14 meses deixou cerca de 740 mortos e 25 mil feridos palestinos, e perto de 230 mortos e mil feridos israelenses, cresceu exponencialmente a proporção de palestinos que consideram os atentados contra quaisquer alvos inimigos uma forma legítima de lutar pela desocupação dos territórios tomados por Israel em 1967 na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, e uma vingança igualmente válida pela eliminação de dirigentes de movimentos extremistas locais - a implacável política de Sharon, merecedora de amplo respaldo popular, que até os Estados Unidos vinham condenando.
Os novos ataques suicidas, por exemplo, foram uma retaliação ao assassínio do chefe militar do Hamas, Mahmoud Abu Hanoud, a 23 de novembro, uma entre inumeráveis outras ações punitivas praticadas por Israel nessa infernal sucessão de mortes, destruição material e confinamento de populações. Em outubro, outra organização terrorista, a Frente Popular pela Libertação da Palestina, havia assassinado o ministro do Turismo de Israel, Rehavam Zeevi, de extrema direita, que defendia a deportação ou a eliminação de Arafat, provocando nova onda de violentos castigos aos palestinos.
"O verdadeiro problema é como parar este ciclo de retaliação que traz levas de mortes, uma após outra", definiu, com lucidez, o ministro de Cooperação Internacional da Autoridade Palestina, Nabil Shaath, em entrevista ao Global Viewpoint, em seguida aos atentados do fim de semana, publicada pelo Estado na segunda-feira. "No momento em que o lado palestino esfria, o lado israelense começa a assassinar e matar", disse Shaath. "Quando os israelenses esfriam, os palestinos extremistas começam a revidar." Cruzar os braços depois de um ultraje é a última coisa que passa pela cabeça de judeus e árabes.
Quando a repórter Christiane Amanpour, da CNN, perguntou ao então primeiro-ministro Ehud Barak, em outubro do ano passado, por que Israel não abandonava a contraproducente política do olho por olho, ouviu: "Você pensa que isto é a América ou a Europa? Aqui, quem não responde a uma agressão recebe em troca desprezo e novas agressões." Hoje, não resta dúvida de que esse torneio da morte deixou por um fio o poder de Arafat - tido por Israel, no mínimo, como cúmplice do terrorismo, e acusado pelos palestinos radicais de colaborar com os sionistas, quando manda prender militantes radicais.
Desde os Acordos de Oslo, em 1993, nunca tantos israelenses, a começar de Sharon, gostariam de ver Arafat pelas costas. Mas é ínfima a hipótese de que ele venha a ser sucedido por alguém que trate os terroristas com a dureza que Israel e os EUA reclamam. A esta altura, forçar a sair de cena o septuagenário líder da OLP, cuja popularidade entre os seus se esvai a olhos vistos, talvez seja a forma mais certeira de piorar as coisas no Oriente Médio.
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12/05/2001
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