Trocas de legenda reduzem as bancadas do PSDB e PFL



Trocas de legenda reduzem as bancadas do PSDB e PFL A um ano da eleição, congressistas e governadores atropelam o debate sobre fidelidade partidária, instalam-se em legendas mais confortáveis para seus interesses eleitorais e aproveitam os últimos dias do troca-troca partidário. Nos últimos dez dias, 15 deputados e quatro senadores oficializaram a troca de partido. O número é de ontem à noite, mas vai aumentar: o prazo para os futuros candidatos mudarem de partido termina no próximo sábado. Desde o início da legislatura, em 1999, até ontem, 156 deputados haviam mudado de partido (30% do total). Entre a véspera e o dia da posse, 20 eleitos trocaram de legenda. No Senado, o vencedor da corrida é o PTB, que começou a legislatura apenas com Arlindo Porto (MG) e agora tem cinco senadores. Na Câmara, o campeão é o PPS: elegeu três deputados e ontem à noite somava 13. O efeito Ciro Gomes, candidato do PPS à Presidência, empurrou a legenda. Ao se colocar como uma terceira via eleitoral, o PPS abriu seu projeto eleitoral para o PTB. Assim, da mesma forma que no Senado, os petebistas apresentaram um crescimento acentuado na Câmara neste ano. Somavam apenas 23 deputados em janeiro e ontem à noite tinham 31. "Além do fator Ciro, crescemos porque não há atritos e temos a clara marca de um partido de centro", disse Luiz Antônio Fleury Filho. Outro bom desempenho na Câmara foi o do PL. Em 1998, o partido mandou para Brasília 12 deputados. Ontem à noite, tinha 22 -um crescimento de 83%. Nos bastidores, diz-se que o PL é hoje o principal partido para viabilizar o projeto político dos evangélicos. Figura conhecida nos tapetes verdes da Câmara, o deputado Bispo Rodrigues (RJ) trabalha como líder informal do PL -formalmente a liderança cabe a Valdemar Costa Neto (SP). Rodrigues passou os últimos dias articulando para aumentar a bancada. Dentro e fora do PL, Rodrigues, da Igreja Universal do Reino de Deus, é o principal porta-voz da bancada evangélica na Câmara, que soma 51 deputados. "Deixa eu correr para ver se consigo mais um", disse Rodrigues ontem à Folha, apressado. Nesta reta final, a tendência é que os grandes partidos percam quadros para os pequenos. Trata-se de uma conveniência eleitoral, pois a disputa interna em legendas menores facilita a eleição com menos votos e abre palanques para as disputas majoritárias. À custa de uma baixa no PSDB, o PV voltou a brilhar no painel eletrônico da Câmara, com a migração do ex-tucano Clovis Volpi, que chegou a Brasília como suplente e quer um outro mandato. Entre os três maiores partidos na Câmara, o único que apresenta um número de deputados superior ao que elegeu é o PMDB (elegeu 83, ontem tinha 93). PSDB e PFL perderam, respectivamente, sete e dez representantes na Casa. Mas há reveses peemedebistas pontuais, como na Paraíba, onde o partido elegeu cinco deputados e perdeu quatro para os tucanos. No Senado, dos três representantes peemedebistas, o estado ficou com apenas um -Ney Suassuna- e perdeu Ronaldo Cunha Lima para os tucanos e Wellington Roberto para o PTB. Caminho inverso seguiu o senador Sérgio Machado, que trocou o ninho tucano pelo PMDB para conseguir subir no palanque e disputar o governo do Ceará. O senador José Alencar trocou o PMDB pelo PL, que sonha emplacar com o mineiro a candidatura a vice na chapa de Lula (PT). Na semana passada, na reunião de líderes de partido que discutiu a possibilidade de votar na Câmara a reforma política aprovada no Senado, representantes do PDT, PPS e PTB discordaram. A discussão sobre fidelidade partidária ficou para outra oportunidade. PSDB adia definição sobre prévia Em reunião de presidentes de partidos que apóiam o Palácio do Planalto, o PSDB comprometeu-se formalmente ontem a responder em 15 dias se aceita a realização de uma prévia para escolher o candidato a presidente da aliança governista na eleição de 2002. O PSDB é contrário à proposta, feita pelo vice-presidente do PPB, Pedro Corrêa (PE), e logo apoiada pelo presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC). Com o objetivo de ganhar tempo, o presidente tucano, deputado José Aníbal (SP), disse que iria consultar o partido. O encontro dos presidentes das siglas aliadas foi esvaziado pela ausência do deputado federal Michel Temer (SP), presidente do PMDB. Temer alegou estar atarefado com o problema da filiação do governador do Espírito Santo, José Ignácio Ferreira. Mas o fato é que considerava a reunião inoportuna, em pleno troca-troca partidário no Congresso. Prévia interna Os tucanos, na realidade, não admitem abrir mão da cabeça de chapa na eleição presidencial em 2002. Mas a discussão de uma prévia interna para a escolha do candidato do PSDB ganhou corpo dentro da sigla e deve se transformar num dos principais temas da reunião que o partido realiza amanhã, em Goiânia (GO). Ontem, o presidente da Câmara, deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), saiu em defesa da proposta: "A prévia é saudável. Mobiliza as bases e cria o compromisso dos que concorreram a apoiar o vitorioso", disse. Na reunião de Goiânia, o governador tucano de Mato Grosso, Dante de Oliveira, deve formalizar a proposta da prévia interna. Na avaliação de Aécio, não existe clima entre os tucanos para uma escolha feita só pela Executiva do partido. Se a proposta da prévia não vingar, Aécio defende a ampliação das consultas para outras instâncias partidárias. A reunião de Goiânia, convocada por José Aníbal, esteve ameaçada de esvaziamento. O ministro da Saúde, José Serra, que é o principal nome tucano à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso, temia ter seu nome prematuramente lançado por algum correligionário. Isso criaria problemas com Tasso Jereissati, governador do Ceará, que disputa a indicação com o ministro. O ministro Aloysio Nunes Ferreira (Secretaria Geral) também considerava a hora imprópria para encontro dessa envergadura. Para evitar o esvaziamento da reunião, José Aníbal pediu a ajuda a Serra. O ministro, que nem queria ir, ligou para colegas do governo federal e outros líderes tucanos para garantir o nível do evento. O próprio ministro Aloysio Nunes Ferreira decidiu comparecer, segundo o PSDB. Lula deve se encontrar com líder da Universal para discutir aliança O presidenciável petista Luiz Inácio Lula da Silva deve se encontrar com o bispo Edir Macedo, dirigente da Igreja Universal do Reino de Deus, para discutir apoio dos evangélicos à sua candidatura. O primeiro passo para o encontro, ainda sem data marcada, será um jantar em Brasília na casa do deputado bispo Carlos Rodrigues (PL-RJ) quando Lula voltar de sua viagem à Europa. Pelo lado da igreja, já houve um aceno. De acordo com o bispo Rodrigues, coordenador político da Universal, por determinação de Macedo, o Conselho de Bispos decidiu que não deve haver animosidade da igreja a Lula. "A Igreja Universal não ser contra a candidatura de Lula já é meio caminho andado", afirmou o presidente do PT, deputado José Dirceu (SP). "Apoio e voto não se rejeitam", disse o líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), que é evangélico ligado à Igreja Batista. O deputado José Genoino (PT-SP) foi mais cuidadoso. "O PT é pluralista. Tem relação com todas as igrejas. Não temos restrições e não estamos negociando com igreja, mas com partidos políticos", disse Genoino. Estima-se em cerca de 30 milhões os evangélicos no país. Na Câmara, Lula deverá se reunir em breve com a bancada evangélica. O PT está discutindo apoio com o PL, partido no qual está parte da bancada da Universal na Câmara. "O PL abriu discussão e nós vamos fazer esse debate. Eu defendo que o partido faça essa aliança. O partido já vem trabalhando com a oposição, participando da Marcha dos 100 Mil e da Marcha do Apagão", afirmou Dirceu. Um fator político entre os evangélicos afasta a Igreja Universal do presidenciável do PSB e governador do Rio, Anthony Garotinho. O governador é mais ligado às igrejas Renascer e Presbiteriana. Parte dos evangélicos da Assembléia de Deus também articula apoio ao petista. O fato de Garotinho ter anunciado que tinha o apoio dos evangélicos gerou um certo ciúme, porque a igreja não havia sido consultada. O senador mineiro José Alencar filiou-se ontem ao PL. Ele é apontado como um possível vice na chapa presidencial de Lula. Viagem Lula defendeu ontem, em Roma (Itália), que a União Européia represente um contraponto à pressão que a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) exerce sobre o Mercosul. Segundo ele, isso evitaria a "anexação comercial" da América Latina pelos EUA. O líder petista está viajando pela Europa a fim de reatar contatos com partidos de esquerda. Ele manteve encontros em Roma com dirigentes do partido Democratas de Esquerda, com o chanceler italiano, Renato Ruggiero, e com o prefeito de Roma, Walter Veltroni. Partidos devem aprovar filiações até este sábado Termina neste sábado o prazo para os partidos aprovarem formalmente as filiações de candidatos nas eleições de 2002, mas o Tribunal Superior Eleitoral receberá até o próximo dia 15 a lista de filiados de cada partido. Em tese, esse intervalo de nove dias permite que haja filiações após 6 de outubro, desde que os partidos falsifiquem a documentação e a apresente com data retroativa, mas um ministro do TSE disse que isso é arriscado. Ele informou, reservadamente, que o candidato que tiver a filiação aprovada fora do prazo e que tentar concorrer com a ficha de filiação preenchida com data retroativa enfrentará problemas na Justiça Eleitoral se um adversário descobrir a fraude. Um dos requisitos da legislação eleitoral para as candidaturas em determinada eleição é a filiação ao partido pelo menos um ano antes. PL surgiu como dissidência do PFL O PL (Partido Liberal) surgiu em 1985, como uma dissidência do PFL articulada pelo então deputado federal Alvaro Valle (RJ). Suas bases eleitorais concentradas no Sudeste -onde o PFL era mais fraco. Em 1986, elegeu seis deputados federais (1,2%), dos quais cinco no Rio e um em São Paulo (Afif Domingos, o terceiro mais votado no país naquele ano). No Congresso constituinte (87-88), o partido integrou o bloco conservador Centrão. Em 1989, lançou a candidatura de Afif Domingos à Presidência, que ficou em sexto lugar no primeiro turno, com 4,8% dos votos, à frente dos candidatos do PMDB (Ulysses Guimarães) e PFL (Aureliano Chaves). No ano seguinte, o partido elegeu 16 deputados federais. Em 1994, o PL lançou a candidatura de Flávio Rocha à Presidência, mas este renunciou em 10 de agosto, depois que a Folha revelou seu envolvimento com a venda irregular de bônus eleitorais. O PL passou a apoiar a candidatura de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Conseguiu eleger um senador (Romeu Tuma, em São Paulo), mas sua bancada na Câmara caiu para 13 deputados. O PL integrou a base governista até junho de 1998, quando passou a apoiar a candidatura de Ciro Gomes (PPS) à Presidência. Após a eleição daquele ano, sua bancada na Câmara diminuiu para 12 deputados federais, dos quais 3 eram evangélicos: Silas Câmara (AM), da Assembléia de Deus; Glycon Júnior (MG), da Igreja Batista; e Cabo Júlio (MG), da Comunidade Evangélica. Igreja Universal Em 1º de fevereiro de 1999, o coordenador político da Igreja Universal, bispo Carlos Rodrigues (eleito pelo PFL-RJ), se filiou ao PL, que passou a liderar um pequeno bloco parlamentar, integrado pelo PSL, PST, PSD e PMN. O bloco reunia só 17 deputados. Inicialmente, a bancada na Câmara diminuiu: os evangélicos eleitos pela legenda deixaram o partido (que chegou a ter só oito deputados em outubro de 1999), enquanto evangélicos de outras agremiações se concentravam em partidos aliados ao PL (PST, PSL). Em 9 de janeiro de 2000, o presidente do PL, Alvaro Valle, morreu, sendo substituído na direção pelo deputado federal Valdemar Costa Neto (PL-SP). Após a mudança, o bispo Rodrigues articulou a migração dos evangélicos ao PL: atingiu 10 deputados em janeiro de 2000, passou a ter 15 em janeiro de 2001, e tinha ontem 22. Desses 22, sete são ligados à Universal e dois à Assembléia de Deus. Na Câmara, o PL forma um bloco com o PSL. Dos 5 deputados do PSL, três são evangélicos: De Velasco (SP), ligado à Universal; Valdeci Paiva (RJ), ligado à Universal; e Lincoln Portella (MG), da Igreja Batista Renovada. Até o mês passado, o PL ainda apostava na filiação do governador mineiro Itamar Franco ao partido. O namoro com Itamar era antigo: em 1º de março de 1999, o bispo Rodrigues, já no PL, participou de uma reunião com Itamar, na qual estavam presentes os deputados De Velasco (PSP-SP), Lincoln Portela (PST-MG) , Paulo Gouveia (PST-RS), Valdemar Costa Neto (PL-SP) e Jorge Pinheiro (PMDB-DF). O encontro terminou com uma oração: "Oramos para que Jesus abençoe o seu governo", disse Rodrigues. No dia 4 de dezembro de 2000, Itamar recebeu um convite formal para ingressar no PL. O convite foi feito, em encontro no Rio, pelo presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto (SP), acompanhado pelo bispo Rodrigues (RJ). Em 17 de setembro deste ano, porém, Itamar anunciou que ficaria no PMDB, deixando o PL sem candidato à Presidência. Itamar ameaça sair, ganha cargo e continua no PMDB O governador Itamar Franco (MG) agitou anteontem e ontem o PMDB por conta de uma ameaça de deixar o partido. No final, anunciou que fica na legenda. Com a manobra, o grupo mineiro conseguiu da ala governista do partido o compromisso de ficar com a primeira vice-presidência da Executiva Nacional -antes ocupada pelo senador José Alencar (MG), que vai para o PL. Após a convenção, os itamaristas haviam ficado sem cargo no órgão. Michel Temer (SP), presidente do partido, negou ontem em Brasília que tenha sido fechado acordo para segurar Itamar. Mas Renan Calheiros (AL), líder no Senado, confirmou que o grupo do governador ganhou o cargo. "Ainda não temos o nome [do substituto de Alencar", mas será alguém de Minas", disse Calheiros. Marcello Siqueira, presidente da Copasa (estatal de saneamento de Minas), será o itamarista indicado para a vice-presidência. O governador mineiro também garantiu sua participação no programa eleitoral do partido que, no dia 11, vai anunciar a prévia para escolha do candidato à Presidência em 2002. Também devem disputar a indicação o senador Pedro Simon (RS) e o governador Jarbas Vasconcelos (PE). A ameaça de deixar a sigla foi desencadeada diante de dificuldades criadas para a participação de Itamar nos programas que servirão de campanha para a prévia. A ala governista ameaçava não lhe dar tempo na TV caso insistisse em atacar o presidente Fernando Henrique Cardoso. A articulação de Itamar foi iniciada anteontem, no Rio, quando ele chamou aliados próximos para uma reunião de emergência. Já se especulava que Itamar poderia ir para o PDT, de Leonel Brizola. O assessor especial Alexandre Dupeyrat era o único que defendia a candidatura ao Planalto pelo PDT. Henrique Hargreaves (secretário de Governo) e Djalma Morais (presidente da Cemig) se filiaram ao PMDB, sinalizando que o governador ficaria. No começou da tarde de ontem, o vice-governador Newton Cardoso (MG) disse que estava difícil segurar Itamar no partido. Horas depois, o governador teve reunião com o PMDB mineiro, de onde saiu anunciando o "fico". PPS descarta Itamar no 1º turno O presidente nacional do PPS, senador Roberto Freire, afirmou ontem que seu partido desistiu de buscar a adesão do governador Itamar Franco à candidatura presidencial de Ciro Gomes no primeiro turno das eleições. ""Não vou mais aguardar Itamar e seus humores", declarou Freire, sobre a segunda ameaça do governador mineiro de abandonar seu partido em menos de um mês. O articulador da aliança entre Itamar e Ciro foi Leonel Brizola, presidente do PDT, que anteontem anunciou seu rompimento com o presidenciável do PPS. Os partidários de Ciro sempre viram como mínimas as chances de uma chapa formada por seu candidato e por Itamar, ainda que o governador se filiasse ao PDT. Apostavam em um cenário em que o mineiro permaneceria no PMDB e seria derrotado nas prévias presidenciais da legenda. Fora do prazo legal para ingressar em uma nova sigla e sem a possibilidade de concorrer ao Planalto, apoiaria o candidato do PPS. Acreditavam na declaração pública de voto do governador mineiro ao PPS como um grande impulso ao nome de Ciro. Um eventual acordo poderia inclusive dar ao governador o direito de influir na escolha do vice da chapa. Mas há socialistas que defendem essa hipótese e alegam ser cedo para rediscutir a participação de Itamar na aliança. Esperam que o contra-ataque do governo federal para isolá-lo dentro do PMDB facilite as negociações entre ele e o PPS em um futuro próximo. Jader viaja hoje para renunciar por carta O senador Jader Barbalho (PMDB-PA) disse ontem que ainda não decidiu se vai ou não fazer discurso na entrega de sua carta de renúncia ao Senado hoje, em Brasília. Também não quis revelar o conteúdo da carta que decreta o fim do seu mandato. "Cada dia com a sua agonia. Amanhã [hoje", vocês saberão", afirmou aos jornalistas, em Belém. Jader viaja hoje pela manhã para Brasília. O senador confirmou que vai fazer a entrega da carta de renúncia pessoalmente à Mesa do Senado. No último dia 18, ele já renunciou à presidência do Senado. Na última segunda-feira, em entrevista à TV RBA, de sua propriedade, Jader admitiu pela primeira vez que deveria renunciar, mas disse que apenas entregaria um comunicado de renúncia e não faria qualquer discurso porque não tinha mais nada a dizer. Em seu último dia como senador, Jader se reuniu com políticos aliados, amigos e advogados. Na reunião, reforçou sua disposição para se candidatar ao Senado novamente no ano que vem ou ao governo do Pará. "Encomendei uma pesquisa no Estado para avaliar se o povo do Pará quer que eu me candidate ao Senado ou ao governo em 2002. Nas outras pesquisas que tenho, o meu nome está em primeiro lugar tanto para o Senado quanto para o governo", disse. Uma ação do Ministério Público do Pará acabou com as últimas esperanças do senador de enfrentar um possível processo de cassação. Se o processo for iniciado, Jader perde a opção de renunciar e corre o risco de perder os direitos políticos por oito anos. Na ação, a Promotoria pediu a suspensão da perícia determinada pela Justiça paraense na auditoria que o Banco Central mandou fazer no Banpará. Jader tinha a expectativa remota de que a perícia pudesse ficar pronta durante a tramitação do processo. Amanhã, já sem o mandato e, consequentemente, sem a imunidade parlamentar e o foro privilegiado, Jader deve ser alvo de uma nova investida do Ministério Público do Estado. Os promotores vão entrar com uma ação na Justiça pedindo a indisponibilidade dos bens do senador. Os promotores querem que Jader faça o ressarcimento de R$ 5 milhões aos cofres públicos. O valor se refere aos supostos desvios apontados no Banpará. Jader não quis comentar a possível avalanche de processos contra ele após a renúncia. Já Edilson Dantas, um dos advogados, disse que o senador está preparado juridicamente para as ações. "Acreditamos que determinadas pessoas vão querer aparece em cima disso, mas estamos prontos para enfrentar." Além das ações, Jader também pode enfrentar um pedido de prisão. Justiça quebra sigilos de Chico Lopes e de Cacciola A Justiça Federal em Brasília decretou a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico e o bloqueio de bens do ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes, de ex-diretores e técnicos da instituição, do dono do Banco Marka, Salvatore Alberto Cacciola, e do próprio Marka. Também foi determinado o afastamento da diretora de Fiscalização do BC, Tereza Grossi, e do consultor da presidência da instituição Alexandre Pundek. Todas essas medidas foram ordenadas pelo juiz Rafael Paulo Soares Pinto, da 22ª Vara Federal, por meio de sentença em ação cautelar movida pelo Ministério Público Federal. Os três procuradores da República que prepararam a ação -Alexandre Camanho, Guilherme Schelb e Luiz Francisco de Souza- contestam a validade da operação de socorro do BC ao Banco Marka, em janeiro de 1999, em torno de R$ 1 bilhão. A quebra dos sigilos atinge o período entre 1º de setembro de 1998 a 1º de março de 1999. O governo irá recorrer para tentar suspender essas medidas. A AGU (Advocacia Geral da União) informou que estuda com procuradores do BC o recurso adequado. Em 2000, Tereza Grossi chegou a ser afastada do cargo, mas o governo conseguiu cassar a liminar que continha essa ordem. Também no ano passado, Cacciola foi preso preventivamente, mas foi em seguida solto por decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Marco Aurélio de Mello. A ação cautelar em que o juiz deu a sentença é preparatória de uma ação de improbidade administrativa. Se o provável recurso do governo não for acolhido, os bens ficarão bloqueados até o julgamento da ação de improbidade e os dados que forem obtidos com a quebra dos sigilos poderão servir para a obtenção de provas. O Ministério Público afirma que houve vícios de imoralidade administrativa, ilegalidade, desvio de finalidade e inexistência de motivos na venda de dólares do BC ao Marka abaixo da cotação do mercado, em janeiro de 1999. São réus na ação os ex-diretores do BC Cláudio Mauch e Demóstenes Madureira de Pinho Neto, os técnicos Alexandre Pundek Rocha, Maria do Socorro de Carvalho e Tereza Cristina Grossi, além de Francisco Lopes, Cacciola e o Banco Marka. Algumas punições sugeridas são: ressarcimento integral do dano, estimado em R$ 1 bilhão, perda da função pública, suspensão temporária dos direitos políticos e pagamento de multa até cem vezes o valor da remuneração recebida, entre outras. Segundo eles, a operação de socorro do BC ao Marka no mercado futuro de dólar foi realizada sem que houvesse lei autorizando-a e contrariando uma circular da própria instituição. Outro argumento é que a Constituição proíbe o uso de recursos federais para resolver problemas de insolvência de instituições financeiras. Artigos Confusas sensações CLÓVIS ROSSI NOVA YORK - Que me perdoem os 79% dos brasileiros que condenam qualquer retaliação militar norte-americana aos atentados de 11 de setembro, mas ver, ao vivo e em cores, o tremendo estrago provocado pelos ataques no coração de Nova York permite entender melhor a belicosidade do americano desde então. Calma, gente, não me fuzilem ainda. Não estou dizendo que acho justificável sair por aí atacando quem quer que seja. Entre entender o estado de ânimo de uma parcela importante dos norte-americanos e justificar qualquer ação do governo vai uma boa distância. Distância, aliás, que uma parte dos nova-iorquinos se recusa a percorrer alegremente. A julgar pelas pesquisas de opinião, ainda é uma fatia aparentemente minoritária, talvez concentrada nos ambientes liberais (no sentido americano da palavra, ou seja, o mais próximo de esquerda que eles se permitem) aos quais fiquei relativamente confinado. Mas é desse ambiente que surge a seguinte e eloquente frase: se se aplicar a lei do olho por olho, logo mais só haverá gente cega neste mundo. Por mais que a mídia se tenha enrolado na bandeira e calado certos assuntos incômodos, nas redações ruminam-se temas que, cedo ou tarde, se transformarão em textos. Um deles: o terrorismo devolveu a diplomacia norte-americana aos hábitos e costumes da Guerra Fria, quando qualquer aliado era bom, desde que fosse anticomunista. Foi assim que os EUA nutriram os Pinochet, Mobutu, Suharto etc. Agora, aceitam no clube de novos amigos governos como o do Paquistão ou de antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central, que não têm o mais remoto parentesco com valores como democracia, liberdade etc. Tudo somado, parece claro que o mundo mudou em 11 de setembro. Mas parece excessivamente obscura a forma que tomará a mudança. Colunistas PAINEL Aposta perdida Dizendo-se porta-vozes de José Serra, deputados tucanos procuraram Paulo Renato (Educação) e Tasso Jereissati (Ceará) para tentar convencê-los a desistir de suas candidaturas à Presidência. Queriam que declarassem apoio ao ministro da Saúde. Não tiveram sucesso. Futuro incerto Os emissários de Serra queriam que Tasso e Paulo Renato anunciassem a desistência no encontro de amanhã do PSDB, em Goiânia. Em troca, ganhariam apoio a suas candidaturas ao Senado e participação em um eventual governo Serra. Pela culatra Como não conseguiram convencer os rivais a desistir, os aliados do ministro da Saúde passaram a dar declarações para tentar esvaziar o encontro de Goiânia. Paulo Renato e Tasso dizem que irão a Goiás reafirmar que estão na disputa. Serra também deverá estar presente. Tapas e beijos Paulo Renato chegou ontem de manhã ao Ministério da Educação e foi cercado por manifestantes. Enquanto a maioria o xingava, três garotas do movimento tiraram fotos e chamaram o ministro de lindo. Palavra de araponga Agentes da Abin infiltrados no movimento dos professores grevistas avisaram ao general Alberto Cardoso que a paralisação não acaba antes de 15 de outubro, Dia do Professor, quando está prevista a realização de uma grande manifestação em todas as universidades federais. Namoro firme O programa de TV do PL que vai ao ar hoje vai atacar FHC, mostrando que o partido é oposição desde o início do governo. É mais uma tentativa do partido de aproximar-se de Lula. Efeito Jersey O governador Neudo Campos (RR) trocou o PPB pelo PFL. Diz não querer desgastar-se com as denúncias que envolvem Maluf. Show preventivo Itamar Franco ameaçou deixar o PMDB para obter garantias da cúpula do partido de que não será impedido de participar das prévias para a Presidência. O comando do PMDB pretendia exigir que os interessados no pleito se comprometessem com o programa da base governista. Sem compromisso Aliados de Itamar procuraram a cúpula do PL ontem para saber se o partido apoiaria a candidatura do mineiro à Presidência em 2002 se ele se filiasse ao PDT. Em negociação com Lula, o PL não deu nenhuma garantia. Guerra de nervos Itamar (PMDB) também deixou Leonel Brizola na expectativa durante todo o dia de ontem. O pedetista chegou a suspeitar até que o governador mineiro pretendesse filiar-se ao PL. Tese de ocasião Tucanos covistas já estão com o discurso na ponta da língua para justificar o apoio à candidatura José Serra, contrariando a opinião do governador Covas, que defendia Tasso Jereissati: "As circunstâncias políticas mudaram. Quem garante que hoje ele manteria a mesma posição?". Operação casada Do líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), sobre a abertura de um escritório do serviço secreto dos EUA em SP: "Dentro do princípio da reciprocidade, o governo FHC deveria solicitar aos EUA a permissão para a abertura de um escritório da Abin em Washington". Hora da chacina Estudo da Secretaria de Direitos Humanos e da USP, a ser divulgado hoje, revela a violência em SP com base em relatos dos próprios moradores. No Jardim Ângela há uma "hora do alerta" - em que ninguém deve ir às ruas por causa de acertos de contas entre quadrilhas. Em busca de espaço O senador Freitas Neto (PI) decidiu trocar o PFL pelo PSDB. Para disputar o governo. TIROTEIO Do líder do PTB na Câmara, Roberto Jefferson, sobre a possibilidade de o PL apoiar Lula na eleição de 2002: - A soma de PT com PL é igual a uma célula do Taleban. É a mistura do radicalismo político com o radicalismo religioso. CONTRAPONTO Prioridade absoluta Marta Suplicy (PT) assinou na manhã de ontem, no Palácio das Indústrias, um protocolo que prevê cooperações técnicas entre a Prefeitura de São Paulo e o Ministério da Cultura da França. Estavam presentes no evento os secretários Marco Aurélio Garcia (Cultura), Paulo Teixeira (Habitação) e Jorge Mattoso (Assuntos Internacionais). Após a assinatura do protocolo, Paulo Teixeira puxou conversa com dois dos representantes do governo francês. Quando se despediam, o secretário puxou um deles pelo braço e comentou: - Já ia me esquecendo. Nós precisamos urgentemente assinar um outro termo de cooperação técnica... O francês arregalou os olhos. - ...para que o Zidane [craque da seleção de futebol da França] possa jogar nas eliminatórias pelo Brasil - completou Teixeira, gerando gargalhadas. Editorial PERIGO IMPREVISÍVEL A precária situação da Argentina continua a piorar. O risco-país (índice que reflete a sobretaxa exigida pelos compradores de títulos de dívida externa de um país em relação ao que paga o Tesouro do EUA) bateu ontem novo recorde, atingindo 1.754 pontos (17,54%). A arrecadação tributária de setembro caiu 14% em relação ao mesmo mês de 2000. Para cumprir a lei de déficit zero -sem ter de novamente reduzir os salários de funcionários públicos-, o ministro argentino da Economia, Domingo Caval- lo, pretende embargar repasses de recursos já previstos às Províncias, o que deverá agravar a crise política. O presidente Fernando de la Rúa negou ontem que Cavallo vá cair após as eleições de 14 de outubro, mas ainda assim sua saída é esperada. Especula-se também que o peso vá ser desvalorizado após essa data. Em um regime de conversibilidade, como o argentino, não cabe especulação contra a moeda nacional, pois esta só pode ser emitida com lastro. A crise final pode ocorrer por um colapso do sistema financeiro, se houver uma corrida de saques no sistema bancário. Já houve neste ano um princípio de corrida em julho e agosto, mas o nível de depósitos se recompôs parcialmente em setembro. Outra forma de crise final seria o governo não conseguir honrar seus compromissos mais próximos (cerca de US$ 20 bilhões em 2002). Para evitar um "default", seria preciso uma improvável melhora significativa da situação fiscal e/ou, o que parece mais factível, uma renegociação dos prazos desses pagamentos. Assim, tecnicamente é possível que a agonia econômica se prolongue por muito tempo. No entanto o agravamento da situação política, a dez dias das eleições, poderá precipitar o desenlace da crise. O problema é que são imprevisíveis as consequências de a saída do sistema de conversibilidade ser causada por uma crise política. Infelizmente, o governo De la Rúa não quis considerar a hipótese de propor uma alteração minimamente organizada do regime cambial. Topo da página

10/04/2001


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