PSDB se une e Tasso vai ao lançamento de Serra
PSDB se une e Tasso vai ao lançamento de Serra
Governadores e líderes tucanos de todo o País estarão presentes na solenidade hoje
BRASÍLIA – Não faltará ninguém. Depois de quase uma semana de esforços, os dirigentes do PSDB conseguiram na última hora convencer o governador do Ceará, Tasso Jereissati, a comparecer hoje no lançamento da candidatura presidencial do ministro da Saúde, José Serra. Só o presidente Fernando Henrique Cardoso, em viagem oficial à Ucrânia, não estará presente à reunião da executiva nacional tucana montada exclusivamente para o evento. Mas se trata de uma ausência programada para evitar ciúmes de aliados.
A estratégia da campanha será montada a partir do lançamento. Mas Serra já agirá como candidato, baseado em acertos com os principais articuladores de seu nome no PSDB.
De agora em diante, qualquer ataque ao ministro não terá resposta do pré-candidato, mas de terceiros. Um time de tucanos – do presidente nacional do partido, deputado José Aníbal (SP), ao líder tucano na Câmara, Jutahy Júnior (BA) – tratará de responder à altura. Nada ficará sem resposta. Nem nos próximos dias, nem depois que o ministro reassumir a cadeira de senador.
Os serristas planejam a volta do ministro ao Congresso para o dia 20 de fevereiro, data-limite para inscrição da candidatura na pré-convenção tucana. No discurso de hoje, no Espaço Cultural da Câmara, Serra fará um resumo de sua trajetória e de suas idéias sobre o País e a economia mundial, sem estabelecer confrontos com a equipe econômica do governo.
Intrigas – A fase final da construção da candidatura consumiu três meses e meio de negociações, intrigas, queixas e até bate-bocas envolvendo as figuras mais importantes do PSDB. Com a presença de Tasso e de seus principais aliados – como Renata Covas, filha do governador Mário Covas –, os tucanos pretendem dar uma demonstração de que a etapa de divergências acabou. Para reforçar a mensagem de unidade, também comparecerão os outros cinco governadores tucanos: Geraldo Alckmin (SP), Marconi Perillo (GO), Albano Franco (SE), Dante de Oliveira (MT) e Almir Gabriel (PA).
Só ontem Tasso confirmou a ida a Brasília. “Meu compromisso é com PSDB. Se essa é a decisão do partido, estarei desse lado”, disse. Na véspera, ele recebera apelos de Aníbal e do presidente da Câmara, Aécio Neves (MG). Por fim, veio o telefonema mais esperado: do próprio Serra. Informado da boa vontade de Tasso em rever sua posição, Serra sentiu-se à vontade para telefonar ao companheiro de partido, pedindo sua presença. “Não o fiz antes até por uma questão de respeito à posição que Tasso havia tomado”, contou o ministro a um interlocutor.
Pressão – A cúpula do PSDB decidiu reforçar a pressão sobre Tasso depois que ele acertou a composição política no Ceará, anunciando anteontem o nome do vice-presidente nacional do PSDB, Lúcio Alcântara (CE), como candidato à sua sucessão e lançando, a si próprio, na corrida por uma das duas vagas ao Senado. Os serristas consideraram a manifestação do governador do Ceará como demonstração de que estava fechado com o projeto nacional. “O Tasso é o político que tem a maior identidade com o projeto de poder do PSDB”, disse Aníbal. “É preciso lembrar que em 1990, quando o PSDB perdeu todos os principais governos de Estado, foi Tasso quem, na presidência da legenda, garantiu sua sobrevivência.”
Na quarta-feira passada, ao receber Aníbal em Fortaleza, o governador perguntou: “Será que alguém ainda tem a ilusão de que vou apoiar um candidato de fora do PSDB?” Aníbal respondeu sem rodeios: “Olha, ninguém tem dúvidas porque hoje o pré-candidato é o Serra, o candidato é o Serra, a campanha é do Serra. A posse será do Serra e o exercício da Presidência será dele também.”
Aníbal disse ainda que, a partir daquele momento, o PSDB era “uno”. Explicou que, se um vereador tucano de Xapuri (AC) manifestasse possibilidade de abrir uma dissidência, ele iria pessoalmente ao Estado dizer que o tempo de ficar à margem passou: “Agora ninguém sai mais.” Tiveram força, ainda, ponderações pragmáticas dos amigos do governador. A avaliação geral era de que não convinha isolar-se no Ceará, enquanto a candidatura Serra ganhava terreno.
Roseana acha impraticável ser vice e antevê racha
Para governadora, não haverá como apoiar Serra se ela continuar tão à frente nas pesquisas
A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), garantiu ontem que não abrirá mão de sua candidatura à Presidência em favor do ministro da Saúde, José Serra (PSDB), se continuar em posição confortável nas pesquisas. “Será impraticável se eu tiver 21% das intenções de voto e o outro, 7%”, afirmou, numa referência ao segundo lugar ocupado por ela atualmente. Mesmo assim, Roseana desejou “boa sorte” ao ministro, que será lançado hoje à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso, depois de demorada crise na seara tucana.
Apesar de dizer que “seria interessante” a manutenção da base governista formada pelo tripé PSDB, PFL e PMDB, Roseana deixou claro que a possibilidade de racha é evidente. Animada com o estrelato no time de presidenciáveis, ela não admite ser vice. Ao menos por enquanto.
“O PSDB é um partido forte e, mais adiante, vamos conversar, sim. Sou uma pessoa que tem o pé no chão e sei que tudo dependerá muito da conjuntura, mas não posso desprezar pesquisas nas quais estou com um patamar na casa de 20%”, observou a pré-candidata. Na terça-feira, a governadora conversou sobre o assunto com o prefeito do Rio, César Maia (PFL). “Ele entende muito de pesquisas, fez uma análise política e, evidentemente, há uma expectativa grande.”
Para o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), estas sondagens é que devem definir quem encabeçará a chapa. “O que pregamos é manter a aliança até maio para, se possível, chegar a uma convergência”, destacou. Bornhausen e Roseana despistam quando o assunto é o governador de Minas, Itamar Franco (PMDB), lembrado para vice tanto do PFL como do PSDB. “A conversa não é em torno de nomes e, se tiver de fazer coligação, a decisão será partidária”, disse a governadora.
Programa – Roseana ficará em São Paulo até amanhã para gravar o programa nacional do PFL, que vai ao ar no dia 31. Nos comerciais exibidos desde terça, ela aparece fazendo críticas indiretas a Serra e ao provável candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Produzida pelo publicitário Nizan Guanaes, a propaganda diz que o sucessor de Fernando Henrique não pode ser apenas “o presidente da república do Maranhão, da república de São Paulo, da república da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e da república do MST (Movimento dos Sem-Terra)”.
Com a observação, Roseana reforça comentários de adversários tucanos de que Serra, por ser de São Paulo, só defende os interesses do Estado. Além disso, a intenção é associar Lula à CUT e ao MST. Não sem motivo: pesquisas indicam que eleitores temem desordem de movimentos sindicais e de sem-terra num eventual governo petista. No comercial, a crise argentina também é lembrada. A estratégia do PFL é insinuar que oposição é sinônimo de incerteza e instabilidade.
“Em primeiro lugar, todo mundo sabe que o PT não governa para essa ou aquela facção política”, reagiu o presidente do PT, deputado José Dirceu (SP). “Em segundo, Roseana não tem autoridade para falar de crise argentina: o PFL apoiou o confisco do governo Collor, ela foi o braço direito do então presidente José Sarney (1985-1990) e seu governo é beneficiado por recursos desviados do Ministério do Meio Ambiente.” Roseana é filha de Sarney, atual senador pelo PMDB, e irmã do ministro do Meio Ambient e, José Sarney Filho (PFL).
“Eu não ataquei ninguém”, respondeu Roseana. “Não faz parte da minha biografia a destruição de pessoas.” A governadora também discordou do documento divulgado pela seção regional da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que critica os indicadores sociais do Maranhão – onde 62,3% da população vive com menos de R$ 80,00 por mês. O texto alerta os eleitores para o risco de propaganda enganosa e políticos personalistas.
“O Estado não pode crescer se nem o Brasil cresce. O Maranhão está melhorando, mas dentro da média do País”, argumentou Roseana.
Visita – A governadora visitou ontem o Estado, onde foi recebida pelo diretor-responsável, Ruy Mesquita.
Itamar já admite acordo com governistas
Governador mineiro destaca sua boa relação com Serra e diz que “tudo é possível”
BELO HORIZONTE – O governador mineiro, Itamar Franco (PMDB), admitiu ontem, pela primeira vez, uma eventual composição com o PSDB ou o PFL para a eleição presidencial. Ele disse que “tudo é possível”, ao ser questionado sobre a possibilidade de acordo com o candidato tucano, o ministro da Saúde, José Serra, ou com a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, pré-candidata pefelista.
“Às vezes, para atravessar o rio faz-se uma pinguela. Eu como engenheiro sei fazer pontes, mas lá (do lado do governo) também há bons engenheiros que fariam uma boa ponte”, disse, após conversa com o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), sobre a prévia do partido, prevista para março. Ele disputará a indicação com o senador Pedro Simon (RS) e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann.
Itamar destacou suas boas relações com Serra, que foi cogitado para ser seu ministro do Planejamento. A possível aliança com o tucano, com o governador na condição de vice, foi sugerida na semana passada pelo empresário paulista Antônio Ermírio de Morais.
Lados – Acordos com outros candidatos, como o petista Luiz Inácio Lula da Silva, não foram descartados. O governador afirmou, porém, que sua principal preocupação no momento, não é com a oposição, de que faz parte, mas “com a outra margem do rio”. Referia-se ao próprio PMDB – onde haveria governistas dispostos a minar sua candidatura à Presidência –, ao PFL e ao PSDB.
Numa reação às especulações sobre alianças que estaria fazendo, Itamar disse que assumirá diretamente qualquer negociação. “Não há mais intermediários nas minhas conversas. A partir de agora, converso eu, só eu”, garantiu. “As rédeas sempre estiveram comigo, mas agora estarão mais firmes.”
Nesse sentido, ele anunciou que a partir de quarta-feira estará em São Paulo por quatro dias para discutir o quadro eleitoral nacional com o ex-governador Orestes Quércia, presidente estadual do PMDB. Também se reunirá com o presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), que busca a reaproximação com o governador e seu apoio à candidatura de Lula.
Segundo ele, outras conversas podem ocorrer na capital. “Vou encontrar uma figura mineira, com a qual posso discutir o quadro eleitoral no Estado”, disse, sem revelar nomes. Uma possibilidade é que seja o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB), que tem boas relações com Itamar e gostaria de candidatar-se ao governo de Minas.
Ironia – Ao falar da candidatura, o governador aproveitou para descartar a hipótese de participar de um debate com Jungmann e Simon, dentro da programação da prévia do PMDB.
O debate foi sugerido por Jungmann. Itamar foi irônico ao recusar o convite, citando o fato de que o ministro foi seu subalterno quando ocupou a Presidência da República. “Ele foi auxiliar, trabalhou no nosso governo, veio numa situação dificil de vida, foi acolhido por nós na época e se tornaria uma convera difícil”, argumentou.
Candidatura do PSDB já provoca divergência no PT
Christovam acha que Serra cresce, mas Dirceu não acredita na força eleitoral do tucano
BRASÍLIA - O lançamento da candidatura à Presidência do ministro da Saúde, José Serra (PSDB), marcado para hoje, já provoca divergências dentro do PT. Para o líder do partido na Câmara, Walter Pinheiro (BA), a entrada definitiva de Serra na disputa será boa para o pré-candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva. "Está aberta a temporada de troca de acusações e de críticas entre os integrantes da base governista. Isso é ótimo para a oposição e, principalmente, para o PT", avaliou. "A base aliada tende a se desagregar."
Segundo Pinheiro, os "desentendimentos" entre os candidatos dos partidos aliados, principalmente entre a governadora Roseana Sarney (PFL) e Serra, só servem para prejudicar o governo de Fernando Henrique. Isso pode ainda, na sua avaliação, forçar os partidos da oposição a buscar um entendimento em torno de um nome das esquerdas.
O presidente nacional do PT, deputado José Dirceu, não acredita na força eleitoral de Serra. "Serra é fraco eleitoralmente e o PSDB é um partido dividido e com muita rejeição", acredita. "Nunca tivemos dúvidas de que Serra seria imposto goela abaixo ao PSDB pelo presidente Fernando Henrique."
O senador Tião Viana (AC) concorda com Dirceu e comemora o lançamento oficial da candidatura de Serra.No entendimento do senador, Lula terá mais chances de ser eleito presidente numa disputa com o tucano. Segundo ele, o PT não vê com bons olhos o confronto com Roseana, porque ela pode ser a "surpresa" da eleição de 2002. "Os eleitores podem dar um crédito à governadora por ela representar uma novidade e por ser mulher", disse. "Já o ministro, apesar de seu passado na esquerda, representa a continuidade do governo Fernando Henrique Cardoso."
Aposta - Não é o que pensa o ex-governador do Distrito Federal Cristovam Buarque, que aposta no crescimento do ministro, cujo desempenho nas pesquisas, atualmente, gira em torno de apenas 7%. "O Serra vai crescer, porque além de ser do governo é um homem preparado."
Cristovam enfatizou que, para enfrentar o ministro nas urnas, o PT precisará apresentar propostas que "suplantem" o programa de governo tucano. "Se nós, do PT, não percebermos isso, o ministro é um candidato muito forte."
Ele atacou a disposição dos pré-candidatos de curvar-se a pesquisas que traduzem o sentimento da opinião pública. "Líder não é quem segue a opinião pública, mas quem pensa no conjunto da sociedade", sentenciou. Cotado para ser o candidato do PT à Presidência, caso Lula não concorresse, o ex-governador planeja disputar uma vaga ao Senado.
Realista, o senador Eduardo Suplicy (SP) acredita que tanto Serra como Roseana "darão trabalho" ao PT. "Em eleições, qualquer adversário dá trabalho e nãopodemos menosprezá-los", profetizou.
Suplicy diz ter mais chance do que Lula contra Roseana
Senador se considera mais habilitado a vencer resistências de empresários
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) afirmou em entrevista ao programa Tribuna Independente, da Rede Vida, ter mais condições de vencer a governadora Roseana Sarney (PFL), num eventual segundo turno, do que teria o presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. “Havendo um segundo turno, Roseana vai passar um cortado muito mais difícil disputando comigo do que se o candidato for o Lula”, disse. O programa foi ao ar na terça-feira à noite.
Ontem, Suplicy afirmou que a declaração não foi uma crítica a Lula. “Não foi com esse propósito. Foi reflexo do que as pessoas têm dito a mim nas ruas.” O presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), reagiu com ironia às declarações do senador à TV. “A opinião do Suplicy tem bastante validade partindo dele mesmo”, provocou. “Tem muito valor político.”
Na entrevista à Rede Vida, o senador disse que pode vencer mais facilmente resistência s de setores como o empresariado do que Lula e teria uma taxa de rejeição menor.“Em alguns aspectos, Lula tenta atingir os mesmo objetivos que nós, mas de uma maneira que causa resistências muito grandes”, afirmou. “Tenho uma facilidade para conversar com os empresários que nem sempre observei no Lula.” De qualquer forma, o senador ressaltou que, seja qual for o resultado da prévia marcada para 3 de março, ele e Lula deverão trabalhar juntos na campanha petista. “Podemos fazer uma grande tabelinha, como o Pelé e o Coutinho”, brincou.
Suplicy também fez críticas à atuação da governadora do Maranhão.“Roseana e o PFL são responsáveis pela estrutura fundiária, o atraso social, a desigualdade e a pobreza no Maranhão”, atacou. Ele reservou alguns elogios ao candidato do PSDB, o ministro José Serra, dizendo que ele “não será moleza” nesta eleição. “Até já votei no Serra. Para presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1963”, lembrou. O senador destacou, porém, que algumas das realizações mais elogiadas de Serra na Saúde são propostas lançadas pelo PT, como o médico da família e o incentivo à produção de genéricos.
Morre o ex-deputado e jornalista Herbert Levy
Hospitalizado há um mês, proprietário da 'Gazeta Mercantil' teve falência de rins e pulmões
O ex-deputado, empresário e jornalista Herbert Levy, de 90 anos, morreu anteontem, às 23h50, no Hospital Santa Isabel da Casa de Misericórdia de São Paulo, após falência dos rins e dos pulmões. Levy era o proprietário do jornal Gazeta Mercantil, no qual ocupava o cargo de presidente do Conselho de Administração. Acompanhado de políticos, empresários e velhos amigos, seu corpo foi enterrado na tarde de ontem no Cemitério Gethsemani, no Morumbi, zona sul.
Levy nasceu em São Paulo, filho de Alberto Eduardo Levy - natural da Ilha de Malta, que chegou a ser vice-cônsul inglês em São Paulo - e de Ana de Martino Levy, já falecidos. Era casado com Wally Ferreira Levy e deixa nove filhos. "A vida intensa que ele levou praticamente até os 90 anos é a maior gratificação que a família pode ter", afirmou seu filho Luiz Fernando Ferreira Levy, de 62 anos, diretor-presidente da Gazeta Mercantil.
Lembranças - O ex-deputado, empresário e jornalista estava havia um mês no hospital. "A vida pública de meu pai foi a grande motivação da linha editorial do jornal", disse Luiz Fernando, que há 20 anos se mantém no comando da publicação. "Felizmente, ele sofreu pouco e deixou muitas boas lembranças para a família e para seus amigos."
Durante a manhã e parte da tarde de ontem, compareceram cerca de cem pessoas ao velório, entre elas velhos colegas de Congresso, importantes empresários e companheiros dos 90 anos de vida.
Artigos
A bomba atômica nazista
Antonio Amaral de Sampaio
A Alemanha nazista - também conhecida nos anais da infâmia como o 3.º Reich - detinha, em termos de potencialidade para a produção da arma definitiva, mais do que qualquer outra potência, capacidade científica, tecnológica, industrial, econômico-financeira e, também, recursos naturais (as minas de urânio de Joachimstall, na Checoslováquia, e a água pesada do nordeste norueguês, ambas situadas em países ocupados). Tudo isso habilitaria o governo de Berlim a ser o pioneiro na construção da bomba atômica.
Aquele governo, dirigido pelo gênio maligno de Adolf Hitler, era, ademais, totalitário, o que facilitava a mobilização de recursos humanos e materiais.
Além disso, nas décadas de 1930 e de 1940, a física atômica germânica era a mais avançada no plano internacional. Assim, a primeira fissão nuclear havia sido empreendida, em 1935, em Berlim, no Kaiser Wilhem Institute, por Otto Hahn e Fritz Strassman. De resto, aquele centro de ensino e pesquisa, sem rival na esfera mundial, congregava brilhante geração de cientistas, dirigida pelos físicos Max von Laue, Max Planck e Werner Heisenberg, todos detentores do Prêmio Nobel, este último formulador do princípio da incerteza e, como autor da obra pioneira Die Physikalischen Prinzip der Quantuntheorie, publicada em 1930, o formulador dos princípios da física quântica.
Como se explica, pois, à luz do que precede, que os Estados Unidos, na época subdesenvolvidos em física, tenham logrado, com algum auxílio britânico, construir a arma definitiva, muito antes de que os alemães progredissem no campo experimental, a ponto de se tornarem habilitados a produzir a bomba atômica em perfeitas condições de operacionalidade; e, usando-a, vencer a 2.ª Guerra e impor internacionalmente seu monstruoso domínio?
Matéria publicada no último dia 9, neste matutino, referindo-se à peça teatral Copenhage, atualmente em cartaz em São Paulo, refuta a concepção, até agora vigente, de que o professor Heisenberg - a quem coube a direção do projeto conhecido como KAT (Klaränlage-Torgau) -, cujo objetivo era a construção da arma atômica nazista, impelido por motivações éticas, teria deliberadamente sabotado o projeto. Para tal foi suficiente ao cientista induzir Hitler a desviar para outros fins bélicos os recursos alocados para a produção da arma final. O argumento de Heisenberg, formulado em 1941, era o de que seria impossível construir o engenho nuclear antes de um qüinqüênio. Ora, naquele ano, o Führer acreditava já haver vencido a guerra, cujas operações, então, ainda corriam bem para os alemães.
A História não se escreve com base na especulação inócua de "se" a Alemanha nazista houvesse tido a bomba atômica e ganho a guerra, o que teria acontecido com a civilização ocidental e o gênero humano. Os fatos são que a bomba nazista não chegou a existir; o 3.º Reich perdeu a guerra; o nazismo foi para o lixo, onde merece permanecer; e o Führer, suicida, disputa com Stalin a sinistra láurea de maior genocida do século.
No entanto, houvesse o 3.º Reich, em tempo hábil, disposto da arma final, o destino da humanidade teria sido outro. A Inglaterra estaria obrigada a negociar uma paz equivalente à rendição; com a saída do conflito de sua protegida, Washington cuidaria de preservar a neutralidade. A era de trevas se espalharia; eventualmente, até poderia atingir o sul de nosso país, onde numerosa colônia germânica, ainda em processo de assimilação e empolgada pela propaganda nazista, certamente pleitearia inclusão no espaço vital teutônico.
Tais perspectivas não se materializaram. No entanto, com o respaldo de Heisenberg, ou sem ele, a arma atômica estava longe de tornar-se parte integrante do arsenal bélico nazista. O que faltou mesmo naquele esforço armamentista foi a vontade política de Adolf Hitler. O ditador, de baixa escolaridade, perpetrou, na matéria, dois enganos fatais:
Nunca assimilou os princípios da física nuclear, assim, descria da potencialidade militar da arma suprema; e, inebriado com seus êxitos militares iniciais, julgava, no ano crucial de 1941, antes de Stalingrado, de El-Alamein, de Pearl Harbour e da beligerância norte-americana, que já havia vencido a grande conflagração.
Quando o Führer despertou, e deslocou recursos, cada vez mais escassos, para o projeto KAT, já era tarde. A maré havia mudado. As Forças Aéreas aliadas (Operação Grenbier) dominavam o espaço aéreo alemão e bombardeavam diuturnamente os centros industriais e de pesquisas empenhados na produção da bomba e de seus vetores.
Para o bem da humanidade, o perigo passou. Caberia aos norte-americanos, com o inestimável auxílio de cientistas, teóricos e experimentais, muitos deles judeus, todos foragidos do nazi-fascismo (Einstein, Neumann, Fermi, Szilard, Teller, Rabi, Segrè, Pauli, Meitner, Wigner, Frisch), formular o chamado Projeto Manhatan, entregá-lo à supervisão administrativa do general Groves e científica do professor Oppenheim, construir a p rimeira bomba atômica, testá-la no Deserto de Alamogordo e, finalmente, usá-la em Hiroshima e Nagasaki. Tudo isso a fim de abreviar uma guerra já estrategicamente ganha e, portanto, para evitar as perdas humanas inerentes ao prosseguimento das operações bélicas, pois o assalto final ao arquipélago japonês demandaria, conforme cálculos da US Army, mais de meio milhão de baixas.
Agora que a arma atômica se banalizou e até a Índia e o Paquistão, países paupérrimos, se ameaçam mutuamente com seu emprego militar, vieram-me à mente estas breves considerações.
Colunistas
De um punhado de barro
Rachel de Queiroz
Pensando bem, nós, os humanos, somos todos uns mal-agradecidos. A começar pelo dom da vida, que ninguém agradece e recebe como coisa que lhe é devida.
E não é. Nós, cada um de nós, não somos planejados coisa nenhuma, nascemos do encontro ocasional dos "micróbios da criança" (como dizia uma conhecida minha, contando como se dera a sua indesejada gravidez).
Mesmo os casais que desejam ter filhos se entregam ao acaso, ou mesmo a Deus, na suposição de que Deus se envolva em assuntos tão íntimos.
Aliás, em menina, sempre me preocupava o fato de Deus, Todo-Poderoso, não criar a gente como criou Adão, de um punhado de barro. Poderia, querendo privar-se da cansativa tarefa, delegar poderes ao homem para a reprodução direta da espécie. E aí algo me diz: mas foi exatamente o que Ele fez!
Apenas não facilitou demais, dividiu entre Adão e Eva a fonte criadora, cabendo a ela ser o receptáculo ou o hospedeiro do futuro ser e a ele, Ele, Deus, produzir a centelha criadora, sem a qual o milagre não se operaria.
Deus, que é mágico e gosta de operar suas mágicas sem interferências, criou os órgãos de reprodução nos seres masculinos e femininos, determinou que só funcionassem quando o casal atingisse idade adulta (quer dizer, tivessem capacidade para alimentar e criar o filho que iriam gerar).
Ah, como dizem agora os jovens: Deus é 10! Faz tudo pelo melhor, pensa nos ínfimos detalhes. Acho que, ofendido talvez com o nosso orgulho em sermos os "senhores da criação", Deus nos mostra que gasta o mesmo tempo e trabalho em produzir um besouro, um cachorro ou um homem. Talvez até Nosso Senhor goste muito mais de reproduzir bichinhos inocentes do que soprar vida nesses atrevidos e ingratos bípedes que se chamam homens e que, por cada poeta, por cada santo que veja nascer, tenha de aturar milhões e milhões de empedernidos pecadores.
Ou será que um santo é um ser tão especial que Nosso Senhor se sente bem pago com uma magra colheita de justos, em relação aos milhões de - diga-se - injustos?
O fato, talvez, é que o limo da terra, com fomos compostos, seria material de má qualidade, repleto de impurezas. Pegue um punhado de terra, aparentemente limpo e o examine a um microscópio potente. Cada caroço de terra parece um torrão, mas o espantoso é que fervilha de vida, coisas quase invisíveis que se mexem, e não se sabe a que reino da natureza pertencem - mineral, vegetal ou animal.
Dá susto. Por essa ninguém espera. E me dizem que, se pusermos sob o tal potente microscópio um pedaço qualquer do nosso corpo, se verá que em nós, na nossa pele, na nossa carne, pululam os seres invisíveis, hóspedes constantes da nossa pessoa.
É humilhante, não é? Como também é humilhante a narrativa bíblica de que Eva foi feita de uma costela de Adão. Por que a costela, osso tão inexpressivo, que serve apenas junto com as demais costelas, para armar o arcabouço do peito humano? Por que não nos retirar, a nós mulheres, do coração dele - ou melhor ainda, da cabeça, do cérebro?
"Deus é 10", sim, mas às vezes faz coisas que a gente não entende e, por isso, ressente. Se deu ao homem força e tamanho para oprimir a mulher, e até espancá-la, se raivoso - por que entregou à frágil mulher, à dominada mulher, a sede própria da vida, onde o feto se forma e vira gente?
Aliás, nós, mulheres, sabemos que somos a parte mais confiável do casal humano. Se não fosse a gente, o homem não trabalhava, não assumia responsabilidades, ficava na flauta, se divertindo, se contentando em morar debaixo de uma árvore.
Toda mulher sabe o trabalho que lhe deu educar o seu homem; e, se não proclamamos isso, é porque eles podem fazer greve, e então quem é que vai ganhar para nós o pão de cada dia?
Editorial
A ENCENAÇÃO POLICIAL
As favelas onde se registram os casos mais graves de violência de Campinas amanheceram, na terça-feira, ocupadas por 750 policiais civis e militares, numa demonstração de força jamais ocorrida na história da cidade.
Da capital, partiu reforço de 432 homens - liderados pelas cúpulas da Polícia Civil e da Polícia Militar - para a polícia campineira. A megaoperação ocorreu cinco dias depois que Rosana Melotti, de 52 anos, foi fuzilada na porta de sua casa, supostamente pelos seus seqüestradores, inconformados com o não-pagamento do resgate. Foi a gota d'água para que a população de Campinas e municípios vizinhos, região há muito tempo escolhida pelos marginais, mas ignorada pela Segurança Pública, protestasse contra o descaso das autoridades. Diante dos protestos, as polícias decidiram agir e realizaram um grande desfile, com 250 viaturas, pelas ruas das áreas mais pobres de Campinas.
A blitz terminou com a prisão de nove pessoas, sendo três suspeitos de pertencer à quadrilha do seqüestrador Wanderson Newton de Paula, o Andinho, acusado de liderar a quadrilha que matou Rosana Melotti.
O delegado-geral da Polícia Civil, Marco Antônio Desgualdo, negou que o objetivo da blitz fosse a prisão do bandido mais temido da região. "Viemos mostrar que a polícia está aí para levar a sensação de segurança para os moradores", disse.
A única sensação que a encenação das polícias provocou foi a de indignação, como mostraram as entrevistas feitas pelas emissoras de rádio e televisão locais. Os moradores dos bairros de classes média e média alta sabem que tudo não passou de uma manobra para convencer a opinião pública de que a polícia está atuante. Se de fato estivesse, a população não seria refém dos criminosos.
Os moradores dos bairros carentes sabem que, ao contrário do que diz o delegado-geral, a polícia não está lá quando dela precisam. No Jardim Monte Cristo, onde os policiais invadiram barracos e pré-escolas, só existe um posto policial porque foi construído pelos próprios moradores, que o equiparam com geladeira e televisão.
A região de Campinas precisa de muito mais do que um dia de policiamento ostensivo. A realidade de cidade interiorana, pacata e segura, se desfez há muito tempo e, ao que parece, só a Secretaria da Segurança não notou. A polícia atua na maior parte desses municípios com recursos mínimos, sem equipes treinadas para combater crimes como seqüestros e roubo de cargas, tão comuns na região. Graças à falta de policiamento constante e adequado, Andinho age em Campinas, mantém cativeiros em Limeira e seus comparsas atacam em Jundiaí, Sumaré, Americana e outras cidades.
"A polícia do Estado é eficiente e o trabalho da Delegacia Anti-Seqüestro de Campinas é notável", considerou o delegado-geral da Polícia Civil ao comentar estatísticas que mostram que, dos 16 seqüestros ocorridos na cidade desde setembro, data de inauguração da delegacia, 13 foram esclarecidos.
Mas o número de seqüestros ocorridos na região é muito maior, principalmente se forem considerados os seqüestros com duração de um dia e os conhecidos como relâmpago, em que as vítimas percorrem caixas eletrônicos em companhia dos bandidos. O que ocorre é que as vítimas dos seqüestros e seus familiares não comunicam a ocorrência à polícia, porq ue estão descrentes de sua eficiência.
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01/17/2002
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