PT gaúcho quer expulsar militante







PT gaúcho quer expulsar militante
Executiva petista gaúcha abre processo de expulsão contra assessor que admitiu ter usado o nome do governador Olívio Dutra para beneficiar banqueiros do jogo do bicho

PORTO ALEGRE – O PT gaúcho abriu ontem o processo de expulsão do presidente do Clube de Seguros da Cidadania, Diógenes de Oliveira, que diz ter dado um “carteiraço” no ex-chefe de Polícia, delegado Luiz Fernando Tubino, usando o nome do governador Olívio Dutra para pedir que bicheiros não fossem reprimidos pela polícia. A executiva estadual do partido aprovou uma resolução considerando falta grave a atitude do petista e remeteu o caso para a comissão de ética. Se a expulsão for confirmada, será a segunda desde o ano passado, quando o tesoureiro Jairo Carneiro dos Santos foi punido por ter desviado R$ 39 mil dos cofres partidários.

Pelo regimento, Diógenes – que foi um dos coordenadores da campanha de Olívio Dutra em 1998 – poderá ser advertido, suspenso ou expulso, mas na prática são remotas as chances de ele continuar nas fileiras do PT por causa das conseqüências políticas do episódio. Ao final do processo de julgamento interno, que levará pelo menos 30 dias, o próprio réu poderá concordar com seu afastamento para poupar mais desgastes, como já fez ao assumir a responsabilidade pela conversa com o delegado Tubino. “Temos de ser céleres, porque devemos uma explicação para a sociedade e para os filiados, mas temos de dar todo o direito de defesa a Diógenes, porque o PT não é um partido stalinista”, justificou o presidente estadual da sigla, Júlio Quadros.

Além de ser o principal contato do PT com os empresários, Diógenes tem relações políticas e de amizade com os maiores líderes do PT gaúcho. Não assumirei nenhuma posição de linchamento nem de demonização do companheiro Diógenes, afirmou ontem o prefeito Tarso Genro, dando uma mensagem para os setores que defendem sua expulsão sumária.
Para alguns líderes petistas, os depoimentos de Diógenes na Comissão de Ética também devem servir para esclarecer melhor os fatos. Uma das questões levantadas internamente, por exemplo, é se apenas a amizade de Diógenes com apontadores do jogo do bicho do Mercado Público, como declarado por ele, o levaram a convocar o ex-chefe de polícia para uma conversa. Apesar das garantias oferecidas pelo governador de que não autorizou ninguém a falar em seu nome, mesmo os petistas ainda estão em dúvida.

LULA – O presidente nacional do PT, deputado José Dirceu (SP), disse ontem à tarde que a acusação de envolvimento de Olívio Dutra com os contraventores do jogo do bicho não prejudicará a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República. Dirceu insinuou que o Governo Fernando Henrique Cardoso ou os partidos da base aliada podem estar por trás da gravação e da divulgação da fita onde Diógenes aparece conversando com o delegado Luiz Francisco Tubino, e usa o nome do governador para pressioná-lo a não reprimir o jogo do bicho.


Projeto altera promoções na PM
Proposta prevê novo critério para a reforma dos oficiais. Hoje, um coronel ocupa o posto por sete anos. Pelo projeto, ele ficará apenas quatro anos

O Governo do Estado enviou ontem à Assembléia Legislativa um projeto de lei alterando o processo de promoções para os coronéis da Polícia Militar. Se aprovada pelos deputados, a proposta reduzirá o tempo de permanência dos graduados de mais alta patente da PM, estabelecendo um novo critério para a reforma dos oficiais. Desde 1997, um coronel deveria trabalhar durante 30 anos, ocupando o posto por mais sete anos. Agora, o tempo de permanência no cargo será de quatro anos e, após esse tempo, o graduado deve ir para a reserva remunerada. Com a medida, o Governo pretende “arejar a corporação”, privilegiando os oficiais mais novos.

No projeto encaminhado ontem à Assembléia, Jarbas Vasconcelos faz uma ressalva. Não serão atingidos pela redução do tempo de permanência nos postos mais altos os militares dos cargos de chefia. Com isso, o comandante-geral da PM, o chefe do Estado Maior da PM e o chefe da Casa Militar que completarem o novo prazo estabelecido só irão para a reserva em caso de exoneração.
Além de alterar o processo de reforma de coronéis, o projeto determina que as promoções para os postos de tenente e capitão só serão feitas pelo critério de antigüidade. A proposta extingue, assim, a promoção por merecimento, criada em 1997. Com essa medida, o Governo quer dar mais tranqüilidade aos oficiais para trabalhar sem o fantasma das disputas internas. “Com essas alterações nas promoções de coronel vamos oxigenar os comandos. Também permitiremos que os oficiais de menor posto adquiram mais experiência antes das promoções”, afirmou o secretário de Defesa Social, Gustavo Lima.

As mudanças tiveram boa aceitação entre os líderes das associações da PM. Para o presidente da Associação de Oficiais, capitão Alberto Feitosa, a lei tem um lado positivo. “A PM deixará capitães e tenentes mais unidos, sem a competição natural de quem busca a promoção pelos critérios de merecimento”, disse. Feitosa, entretanto, faz uma ressalva em relação aos moldes de elaboração do projeto. Segundo ele, o Governo deveria ter aproveitado para fazer um estudo amplo para abrir novas vagas na corporacão.

O advogado da Associação de Cabos e Soldados, Sérgio Vasconcelos, concorda com Feitosa em relação à extinção das promoções por merecimento. “Vai acabar com o famoso ‘quem indica’”, declarou. O advogado, no entanto, se queixa da falta de uma lei semelhante para os praças


Perfis parlamentares serão lançados hoje
A partir de hoje a sociedade pernambucana poderá conferir as biografias dos ex-deputados Agamenon Magalhães, Estácio Coimbra e Paulo Cavalcanti. Esses são os três primeiros volumes da série “Perfil Parlamentar Século XX” – uma das promessas de gestão do presidente da Assembléia Legislativa, deputado Romário Dias (PFL) – que serão lançados, às 18h, no plenário da Casa.

As edições, com produção e edição cuidadosas, vêm com capa assinada por Manoel Falcão, bisneto de Joaquim de Arruda Falcão, um dos 22 ex-deputados contemplados na coleção, que estará disponível em bibliotecas e escolas. Os ex-parlamentares escolhidos para compor a série foram selecionados em uma relação de mais 400 nomes. A comissão que indicou os homenageados esteve composta por Manuel Correia de Andrade (Fundação Joaquim Nabuco), Mário Márcio de Almeida Santos (Academia Pernambucana de Letras), Carlos Bezerra Cavalcanti (Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano), Marcus Accioly (Conselho Estadual de Cultura), Marc Jay Hoffnagel (UFPE) e Antônio Correia, ex-presidente do Legislativo.

O presidente da Assembléia, Romário Dias diz que a edição Perfil Parlamentar Século XX traz um resgate da política estadual e servirá de motivação para sociedade conhecer mais as ações do Poder Legislativo. “Pretendo atrair a atenção da sociedade e acho que esse trabalho é um grande gancho para começar”, aposta.

TROFÉU – A Assembléia Legislativa também anuncia hoje os vencedores da trigésima edição do Troféu Leão do Norte. Em sessão solene marcada para às 15h, no plenário, representantes de 19 instituições – entre elas o Jornal do Commercio – irão eleger os parlamentares que mais se destacaram, este ano, nas categorias Desenvolvimento Cultural, Desenvolvimento da Educação e Desenvolvimento Econômico e Administrativo.

Os eleitos serão contemplados com um troféu, confeccionado pelo artista plástico Jobson Figueiredo. A sessão solene de entrega só acontece no próximo dia 29, na Assembléia.
O Troféu Leão do Norte é uma promoção do Banco do Brasil e coordenado pela Diretoria Geral da Assembléia Legislativa. O parlamentar só pode concorrer uma vez na mesma categoria. Os vencedores do ano passado foram os deputados Gilberto Marques Paulo (PSDB) em Educação; Romário Dias (PFL) em Desenvolvimento Econômico e Administrativo e Antônio Moraes (PSDB) na categoria cultura.


Para Tarso Genro, partido deve fazer uma autocrítica
PORTO ALEGRE – O escândalo político criado pela gravação em que o presidente do Clube de Seguros da Cidadania, Diógenes de Oliveira, pede para a polícia não reprimir o jogo do bicho deve servir de lição para o partido e constitui uma prova de que o PT não é o único depositário da moral e da ética, nem está imune a desvios de conduta por parte de seus dirigentes. Essa opinião foi expressa ontem pelo prefeito de Porto Alegre, o petista Tarso Genro, garantindo, entretanto, ter confiança de que o governador Olívio Dutra (PT) não tem nada a ver com isso. “Não me sinto surpreso com o problema que o PT está passando, porque quando um partido se torna grande é natural que surjam condutas irregulares”, disse Tarso no início de sua entrevista coletiva. “Nenhum partido está imune a isso.”

De acordo com o prefeito, o partido erra ao pensar que é o único portador da moralidade. “Isso faz parte da nossa cultura, eventualmente até eu posso ter verbalizado esse pensamento”, admitiu.
O prefeito petista entende que o episódio envolvendo o presidente do Clube de Seguros da Cidadania, que intercedeu em favor de bicheiros em nome do governador, deve servir para o partido apertar os mecanismos internos de controle sobre os quadros partidários. “É um duro golpe político, mas acho que é uma lição que temos de receber com responsabilidade”, afirmou.

Segundo Tarso, os fatos ocorridos no Rio Grande do Sul deverão ser utilizados pelos adversários do PT nas eleições estaduais e nacional, desviando o debate do terreno dos projetos políticos para a ética. “Isso faz parte do jogo democrático e nós tivemos comportamento semelhante em outras oportunidades”, afirmou, reconhecendo que o PT já tratou do tema de forma equivocada.
“Quando a discussão ética é feita isoladamente, isso despolitiza o debate de projetos. A ética não deve ser o centro, mas a base do discurso.” Como exemplo dos desvios que acha que podem acontecer, Tarso citou as eleições de 1989. “O Collor se elegeu dizendo que era caçador de marajás e o Sarney, ladrão.”


Congresso nacional do PT vai ser realizado em Pernambuco
Pela primeira vez, desde a sua fundação, o PT vai realizar o seu mais importante encontro nacional na região Nordeste. De 13 a 15 de dezembro, o congresso nacional do PT acontecerá no Centro de Convenções do Recife, com a presença das principais lideranças da legenda no País. A escolha da capital pernambucana não é por acaso. O Recife está sendo visto como estratégico nos planos do partido para 2002 e será o pólo irradiador da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva na Região.

A indicação da capital pernambucana para sede do congresso nacional do PT é uma deferência ao prefeito João Paulo, mas também encaixa-se no jogo de xadrez e nas articulações petistas visando a fortalecer o partido e assegurar um palanque forte para Lula em 2002. “É uma forma de prestigiar o Nordeste e a gestão de João Paulo, e fortalecer as candidaturas do PT na Região”, alega o secretário de Saúde do Recife e pré-candidato a governador, Humberto Costa.

Desde a vitória do ano passado, o PT tem priorizado Pernambuco, com visitas freqüentes de dirigentes – especialmente Lula e José Dirceu – e assessores nacionais. No encontro, os petistas vão analisar a conjuntura econômica e política nacional e internacional e projetar cenários para o próximo ano. “O Recife tem um significado importante para o PT, e nós iremos discutir os fatores que poderão influir nas eleições para presidente da República, governadores, senadores e deputados”, adianta o prefeito do Recife, João Paulo.

Afora São Paulo, berço do Partido dos Trabalhadores, congressos nacionais da legenda somente haviam ocorrido no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília. O PT é o maior partido de esquerda do País, em número de filiados, e com a maior bancada entre a oposição no Congresso Nacional.


Justiça anula quebra de sigilo da família de Maluf
Decisão foi anulada pelos desembargadores da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, mas evitará somente a quebra de sigilo bancário, uma vez que o telefônico foi enviado à promotoria em setembro

SÃO PAULO – Os desembargadores da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo anularam ontem a decisão do juiz-corregedor do Departamento de Inquéritos Policiais (Dipo), Maurício Lemos Porto Alves, que no último dia 20 de agosto decretou a quebra de sigilo bancário e telefônico de familiares do ex-prefeito Paulo Maluf, a pedido do Ministério Público do Estado.
A decisão que julgou definitivamente o habeas-corpus contrariou a posição do vice-presidente do TJ, Gentil Leite, que em setembro indeferiu liminarmente o pedido da defesa. O pedido em favor de Maluf foi protocolado em separado e ainda não foi julgado. Na prática, a decisão do TJ evitará somente a quebra do sigilo bancário, já que o telefônico foi enviado pelas operadoras à promotoria em setembro.

Mas as informações que constam dos extratos telefônicos não poderão ser utilizadas para a promotoria instruir eventuais ações civis contra Maluf e familiares. O criminalista Arnaldo Malheiros Filho, um dos responsáveis pela defesa de Maluf, acredita ainda na abertura de precedente que pode levar à suspensão da quebra dos sigilos do próprio ex-prefeito.

O juiz Porto Alves determinou a devassa bancária, fiscal e telefônica de Maluf a pedido da promotoria, e fiscal e telefônica, a pedido da CPI municipal da Dívida Pública, cujos trabalhos já foram concluídos. O repasse de informações relativas à movimentação financeira no Brasil, porém, está condicionado à quebra do sigilo bancário da família no exterior, não autorizado pelas autoridades da Suíça e da Ilha de Jersey.

Para Malheiros, a decisão de ontem também tornaria sem valor o pedido de quebra de sigilo bancário internacional feito pelo Ministério da Justiça, em outubro. Mas esse pedido também se baseia na decisão do juiz federal Fernando Gonçalves, que decretou a quebra dos sigilos bancários e fiscal da família. Maluf recorreu, mas a decisão foi confirmada em segunda instância.
Maluf, sua mulher, Sylvia, os quatro filhos – Lígia, Otávio, Flávio e Lina – e a nora Jacqueline, mulher de Flávio, são beneficiários de contas abertas na Suíça, em 1985, e transferidas para a Ilha de Jersey, em 1997. Os depósitos nos paraísos fiscais europeus foram confirmados pelo próprio Governo suíço em ofício enviado ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras, órgão do Ministério da Fazenda. A família nega ter dinheiro no exterior.


Ciro lamenta possibilidade de fazer oposição a Tasso
CAMPINAS (SP) - O presidenciável Ciro Gomes (PPS) disse ontem, neste município paulista, que lamenta que o cenário atual da disputa presidencial possa colocá-lo em posição oposta a do governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), seu padrinho político. O nome de Tasso foi lançado, há uma semana, na corrida sucessória com o apoio da família do ex-governador de São Paulo, Mário Covas, que morreu no último mês de março.

Ciro Gomes disse que Tasso Jereissati e o ministro da Saúde, José Serra (PSDB), não estão sendo coerentes quando criticam o Governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, que defenderam durante sete anos. Disse ainda que Serra, de todos os pré-candidatos, “é o de menor boa-fé”. O presidenciável do PPS também afirmou não temer uma possível candidat ura da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), nem mesmo a de Tasso. Ciro Gomes disse que o pré-candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, “é uma boa pessoa, mas tem como fragilidade a falta de experiência.”

O ex-ministro da Fazenda aproveitou para alfinetar o presidente FHC, declarando que “o setor da mídia, a serviço do Governo, tem transformado o governador Itamar Franco (PMDB-MG) em um palhaço”. Sobre o escândalo do PT no Sul, provocado por denúncias de envolvimento com banqueiros do jogo do bicho, Ciro Gomes disse que “o PT mordeu a língua”, e voltou a culpar os petistas pela dificuldade da união das esquerdas. “O PT quer exercitar um hegemonismo vazio sobre todo o campo da oposição brasileira com o mesmo candidato de sempre, que é aquele mesmo que nos levou à derrota (Lula).”


Artigos

Um dia de liberdade
FÁTIMA QUINTAS

A tia o convidara para passar o domingo na Fazenda Santa Luzia. Alguns hectares de terra, pequena plantação, uma pecuária modesta. O menino não se continha de tanta euforia. Longe dos olhos vigilantes dos pais, maquinava mil maneiras de ser – uma oportunidade única que o fazia vibrar de expectativa. Enfim, livre por um dia. O campo representava uma atração para o seu espírito aventureiro. Gostava de animais, da natureza, das árvores grandiosas... Como se comportaria? indagava-se impaciente.

Exibir-se-ia inteligente. Na verdade, poucos apreciavam o seu talento. O irmão mais velho se sobressaía, sempre com notas boas, estudioso, cumprindo as tarefas com precisão. Já com ele, sucedia o contrário: no colégio chamavam-no de preguiçoso porque prolongava o horário do recreio o quanto podia. Também a fila do lanche era enorme! E, quando acabava de saborear o seu alentado sanduíche de fiambre e queijo, estava na hora de retomar à sala de aula. Ignorava a estridente sirene, implacável na exatidão das 10 horas.

Escondia-se sorrateiramente por trás do galpão com um grupo de colegas que o acompanhavam. Interessava-lhe jogar futebol no terreno de areia macia, ao fundo do imenso sítio, entregue ao abandono pelas diretoras do colégio. Durava pouco a esperteza. Logo se via apanhado por alguma professora mais atenta que fazia a ronda do pátio. De volta à classe, não se concentrava nas lições, o que provocava sérias reclamações dos mestres carrancudos. Não gostava de estudar, embora explorasse com esmero a sua capacidade de criar. Nas redações de português, deixava-se devanear através de uma inventividade incomum. Caprichava numa certa malícia, a injetar nos textos uma dubiedade que lhe aguçava a mente, já por si voltada a inspirações pouco virtuosas. Dotado de tamanha astúcia, não poderia decepcionar o domingo especial.

E a tia, o que pensaria dele? Irmã mais nova de sua mãe, nunca chegou a estabelecer relações de proximidade, prevalecendo um convívio formal. Estranhava, inclusive, aquele convite repentino. Tia Elvira não tinha filhos, o que a distanciava dos sobrinhos, sobretudo pela dedicação exclusiva à profissão. Dentista conceituada, não perdera as chances de qualificar-se no exterior, com diplomas de doutora e pós-doutorada. As suas visitas aos familiares aconteciam esporadicamente. O diálogo entre a mãe e a irmã tombava na mesmice dos enfadonhos problemas caseiros. Enquanto tia Elvira lançava-se ao desafio do mercado de trabalho, sua mãe retraia-se na moldura doméstica. Nada disso importava, todavia.

Importava o dia de liberdade que se avizinhava. E com uma tia singular, modelo de mulher independente, de nariz para cima, consciente das suas responsabilidades no domínio público. Se os filhos faltaram, a lacuna preencheu-se, pelo menos aparentemente, com a vocação odontológica.

A semana transcorreu devagar, tal a ansiedade que o dominava. Não. Não optaria por se distinguir pela inteligência. Escolheria a timidez. Quase anárquico na jovialidade de seus 10 anos, ainda não experimentara o gosto da discrição. Reverteria o papel de menino traquino e se imbuiria de uma intensa pacatez. Levaria um livro para ler, e reservar-se-ia na tranqüilidade de um lar disciplinado, racional, ordenado. Tia Elvira simbolizava o pódio do sucesso.

Às sete horas de um domingo imprevisível, acomodava-se no carro que o conduziria à estrada de Moreno. A rústica mochila, ao seu lado, albergava calções, camisas de malha, um boné, uma sandália franciscana, e um livro. Tio Horácio dirigia a camionete Picasso com prudência.
A porteira se abriu, o carro entrou vagarosamente. Desceu vitorioso. A empregada, de imediato, aproximou-se e disse: “Fique à vontade. Coloque as suas coisas no quarto de hóspede. Sua tia viajou para um Congresso de Odontologia em Brasília, mas recomendou-me que o atendesse no que precisasse”.


Colunistas

Pinga-Fogo - Inaldo Sampaio

O Funape agüenta?
Confirmou-se o que já se sabia. O comandante-geral da PM, coronel Iran Pereira, reuniu ontem os seus subordinados no QG do Dérby para lhes dar uma informação que supostamente acabara de receber do Palácio do Campo das Princesas. O governador Jarbas Vasconcelos, disse ele, enviaria uma mensagem à Assembléia Legislativa sacramentando em 30 anos de “efetivo serviço”, e quatro no posto, o tempo de permanência de um coronel nos quadros da corporação.

Traduzindo melhor: mesmo que tenha menos de 50 anos de idade e esteja no auge de sua capacidade profissional, coronel que completar 30 anos de caserna e quatro no posto vestirá o pijama. A explicação oficial é que o projeto se destina a “arejar” os quadros da PM, substituindo antigos coronéis por “sangue novo”. Conversa fiada. Se fosse assim, se deveria defender esse mesmo limite de idade para o serviço público no seu todo, “arejando” as repartições com gente jovem, e não apenas para a PM. Mas a Previdência suportaria?

No fundo, no fundo, o objetivo desta Lei é a promoção de apadrinhados, sem qualquer preocupação com os gastos previdenciários. Como se sabe, para cada um dos sete coronéis que vestirá o pijama, aos 49 anos de idade, em média, haverá um substituto.

Final (quase) feliz
Final feliz para o caso da garota cubana Anabel Soneira, de 14 anos, cujos pais, Miguel e Letícia, residem em Catende (PE). O embaixador de Cuba no Brasil, Jorge Perez, prometeu ontem a Severino Cavalcanti (PPB-PE) que vai liberá-la para viajar. Basta apenas uma declaração dos pais como a querem aqui, e outra da avó, que reside em Havana, autorizando a viagem. O avô paterno da garota, que também se chamava Miguel, foi um dos heróis da revolução de Fidel.

Quase “serrista”
Chefe do PSDB pernambucano, o secretário Sérgio Guerra andou balançado pela candidatura do governador Tasso Jereissati (CE), mas deu marcha à ré. Num telefonema para o secretário Guilherme Robalinho (saúde), ele admitiu que optará pelo ministro José Serra com quem tem uma boa relação desde a Assembléia Constituinte.

Demissão sumária
Atendendo a uma recomendação do Ministério Público, o secretário Guilherme Robalinho exonerou o diretor da Unidade Mista Maria Rafael de Siqueira, de São José do Egito, odontólogo Benone Leão de Oliveira. Ele fora indicado para o cargo pelo deputado José Marcos (PFL). O odontólogo está respondendo a vários processos na Justiça.

Ministro do TCU coloca quatro pontes de safena
Passa bem no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, o ministro do TCU e acadêmico pernambucano Marcos Vilaça. Ele foi operado para a implantação de quatro pontes de safena. A alta médica está prevista para a próxima semana.

Tucano do ex- PSB defende prefeito de Arraes
Pedro Eurico (PSDB) fez a defesa do prefeito de Tamandaré, Paulo Guimarães, que ameaçou “quebrar no pau” os vereadores da oposição. “Eles querem impedir que o prefeito governe, mas não conseg uirão”, disse o deputado.

Financiamento 1
De Roberto Magalhães sobre a CPI da Assembléia gaúcha que apura o envolvimento do governo Olívio Dutra (PT) com o jogo do bicho: “O importante não é saber se a polícia reprime o jogo e sim a discrepância entre os R$ 2 milhões que foram declarados ao TRE e os 5 milhões de dólares efetivamente arrecadados”.

Financiamento 2
Quando estava na Câmara, Magalhães participou de uma comissão que elaborou um projeto de lei visando legalizar doações pelas empresas às campanhas eleitorais. Foi um avanço. Mas como os TREs analisam apenas o “aspecto formal” dessas doações, só resta um caminho: financiamento público das campanhas.

Embora não tenha nada a ver com o pato, o secretário de educação de Jaboatão, Admaldo Matos, teve sua imagem chamuscada por causa da suspensão da merenda às 93 escolas do município. Restou comprovado no “affair” que empresa Coan Pampas fornecia regularmente os alimentos. Como não recebeu... suspendeu a entrega.

Jarbas criou um grupo de trabalho para fazer o levantamento do passivo do Estado para com os Poderes Legislativo, Judiciário e Ministério Público relativamente à diferença de vencimentos dos servidores quando da conversão da URV (Unidade Real de Valor) para Real. Jatobá (fazenda) é o presidente.

Foi para se vingar de Tasso (CE), que desde o 1º mandato de governador (está no 3º) jamais deu bola para deputado, que a Assembléia Legislativa do Ceará criou uma CPI para apurar supostas irregularidades na administração do BEC (Banco do Estado). Ele acha que por trás da CPI há o objetivo de prejudicá-lo na campanha presidencial.

Jarbas será homenageado, 6ª, na Exposição de Animais do Cordeiro, pela Associação Nordestina dos Criadores. Quem organiza o jantar é o secretário André de Paula (produção rural). Ele está avisando aos convidados que o traje recomendado para a ocasião será o mesmo do governador: calça jeans e tênis


Editorial

Encontro sobre árvores

O Recife tem garantido, pela Lei 16.348/97, o plantio de 50% de vegetação nativa, em suas praças, parques e logradouros públicos. Talvez isso não seja possível, mas há notícias de que técnicos da Prefeitura vêm se preocupando com o assunto. Alguns deles participaram, em Brasília, na semana passada, do IX Encontro Nacional de Arborização Urbana, evento complementado por feiras de flores e equipamentos, lançamentos de CD-ROMS e de livros sobre os problemas da vegetação nas cidades.

Os avanços e recuos da arborização urbana, no Brasil e no mundo, foram objeto de comunicações técnico-científicas, naquele encontro. Contribuíram com sua experiência e conhecimentos paisagistas, engenheiros florestais, urbanistas, arquitetos, sociólogos e planejadores. Reunindo mais de mil especialistas, foi promovido pela Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, que pretende com isso haver contribuído para o melhoramento da gestão do ambiente urbano e da qualidade de vida nas metrópoles brasileiras.

Foi esta a primeira vez em que a grande reunião interdisciplinar sobre as árvores ocorreu em Brasília, uma cidade criada artificialmente que, conforme o poeta pernambucano Carlos Moreira, se fez “trocando rapidamente/ o verde da clorofila/ pela brancura da cal”. Talvez mais do vidro do que de cal e tijolo, acrescentaria Gilberto Freyre.

Sabe-se que antes de se tornar um caso de sucesso em arborização urbana, Brasília pareceu a muitos poetas e sociólogos um mau exemplo que não deveria ser seguido por futuras cidades criadas na prancheta. Nos seus inícios, a grande preocupação era construir as avenidas e os edifícios, depois é que se pensou no verde. E, na hora de se cuidar do assunto, foram levadas mudas de árvores exóticas que pereceram antes de cinco anos de plantadas. Só então, apelou-se para uma vegetação facilmente adaptável ao Planalto Central Brasileiro. O sucesso foi, então, completo. Segundo Ozanan Correia Coelho de Alencar, chefe do Departamento de Parques e Jardins da Novacap, “Brasília é, hoje, a primeira cidade do País em área verde por habitante, pois são 120 metros quadrados de floresta urbana por pessoa”. Informa esse professor que, depois da experiência fracassada com plantas exóticas, o governo do Distrito Federal teve que “trocar cerca de 50.000 árvores e plantas que fossem resistentes ao clima do cerrado”. Há em Brasília uma espécie de “banco de sementes”, que garante uma produção anual de 300 mil mudas de árvores.

Os pesquisadores nacionais e estrangeiros que participaram, em Brasília, do IX ENAU deixaram para a administração pública municipal brasileira valiosos ensinamentos, que deverão brotar e crescer, como as árvores e as plantas que os motivaram. Várias são as faces ocultas que compõem o trabalho racional de recompor, parcial e localizadamente, as florestas que os próprios homens devastaram ao longo dos séculos. Assim, a representação pernambucana no IX ENAU voltou certamente enriquecida de novas informações sobre a gestão urbana, com enfoque no desenvolvimento sustentável, planejamento e arborização urbana, utilização de espécie nativas, áreas degradadas, parques urbanos, jardins tradicionais e modernos.

Todo esse conjunto de enfoques virá fundamentar um dos mais importantes projetos da atual administração municipal do Recife, que é o Plano de Arborização Urbano, com sólido embasamento científico, segundo seus executores. De fato, consta ter sido ele elaborado sob o método de engenharia florestal. Sente-se, em todo esse esforço técnico-científico, uma espécie de nostalgia da floresta perdida, a sempre lembrada Mata Atlântica, como se quiséssemos ter uma relíquia dela em cada espaço público de nossa cidade.

O Recife tem, apesar dos pesares, uma situação confortável, como uma das cidades mais arborizadas do País, com 418 árvores para cada grupo de 6,5 mil habitantes, ou uma árvore para cada grupo de 15,5 moradores.


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10/31/2001


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