PT tenta atrair PDT para acordo
PT tenta atrair PDT para acordo
A proposta apresentada prevê presidente trabalhista em 2003 e 2004
Para eleger o vereador Estilac Xavier como presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, o PT ofereceu ao PDT a possibilidade de indicar o vice-presidente neste ano e presidir a Casa em 2003 e 2004.
A proposta, que o PDT não considera oficial, foi confirmada ontem pelo próprio Estilac.
Pelo acordo firmado no início de 2001, o presidente da Câmara, Fernando Záchia (PMDB), deve renunciar ao cargo até amanhã para permitir a eleição de uma nova Mesa. Záchia, que tem programadas reuniões para hoje, diz que o texto da renúncia será lido na sessão de amanhã.
– Não há nada de extraordinário na proposta que fizemos ao PDT: é a mesma do acordo anterior, que o bloco liberal-democrático não quis cumprir e que previa somente um ano para o PT na presidência – disse Estilac .
O acordo começou a fazer água com a troca de partido de José Fortunati, indicado pelo PT para ser o presidente neste ano. O PT entendeu que diante da saída de Fortunati tinha o direito de indicar outro nome e escolheu Estilac. O PDT passou a exigir a manutenção do nome de Fortunati, o mais votado da Capital.
O bloco democrático-liberal, integrado por PMDB, PFL, PPB, PSDB, PHS e PPS, aproveitou a confusão para romper o acordo e começou a procurar alternativas. A idéia inicial, de antecipar o mandato de João Dib (PPB), previsto para 2003, naufragou. Sem o apoio do colega Pedro Américo Leal, que insistia no cumprimento do acordo, Dib desistiu da candidatura na sexta-feira e renunciou à liderança do PPB.
A oposição fez então uma proposta de acordo pelo qual Reginaldo Pujol (PFL) assumiria a presidência neste ano, o PDT presidiria a Câmara em 2003 e Elói Guimarães em 2004.
– Não nos chamaram para conversar e ofereceram um prato pronto que não podemos aceitar – protestou o líder do PDT, Nereu D’Àvila, interlocutor nas negociações com o PT.
– Vamos ter de fazer tratativas com os vereadores que não estejam no acordo e isso passa pelo PDT – disse Záchia.
Segundo D’Ávila, a maioria da bancada trabalhista se manifesta a favor do acordo com o PT. No entanto, ainda é necessário avaliar a proposta junto ao ex-governador Leonel Brizola e à executiva estadual do partido. Uma reunião, marcada para 15h de hoje, deverá analisar a proposta. Pela manhã, D’Ávila deverá conversar com representantes do bloco democrático-liberal.
Considerado o fiel da balança na eleição, o PDT está sendo cortejado pelos dois lados. D’Ávila disse ainda que se a candidatura de Záchia for lançada, a bancada pelo PDT deverá votar em branco.
Com seu nome lançado na última sexta-feira, o vereador Elói Guimarães (PTB) diz que sua candidatura está mantida e que os vereadores ainda estão em fase de negociações.
Afastado das articulações, Dib avisou ontem que sua participação na escolha do novo presidente vai se resumir ao voto no plenário.
– Se não é para conciliar, meu nome não está à disposição nem agora nem depois – diz Dib.
Candidato do PSDB deve sair no final de fevereiro
O presidente negou que o ministro José Serra já tenha sido escolhido pelos tucanos para disputar a Presidência
O final de fevereiro é considerado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso como o momento adequado para a definição do candidato tucano a presidente da República nas eleições de outubro.
– Possivelmente depois do carnaval, no final de fevereiro – disse FH, ao ser questionado sobre quando o PSDB deve lançar seu candidato.
Fernando Henrique visitou a prefeitura de Pardinho, na segunda-feira, a cerca de 200 quilômetros de São Paulo, onde passou o réveillon na fazenda do amigo e ex-sócio Jovelino Mineiro.
O retorno do presidente a Brasília está previsto para a tarde de hoje. De acordo com a assessoria de imprensa de FH, o presidente deve permanecer na fazenda até a tarde de hoje. Ele seguirá de helicóptero para o aeroporto de Viracopos, em Campinas, de onde embarcará rumo a Brasília.
O presidente negou que o nome do ministro da Saúde, José Serra, já tenha sido escolhido no partido para disputar a Presidência da República. Segundo ele, há outros tucanos na condição de pré-candidatos e caberá ao PSDB, no “momento adequado”, fazer a escolha.
– O PSDB, no momento adequado, dirá: neste momento, a candidatura mais viável no PSDB é a do ministro José Serra. Mas (a candidatura de Serra) não foi ainda lançada, ainda há outros candidatos, há muito tempo para uma decisão mais firme – disse.
Fernando Henrique lembrou que seu governo tem como base de sustentação uma aliança partidária, que inclui PMDB e PFL. Diante da aposta dos pefelistas na candidatura da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), o presidente defendeu a continuidade da aliança, mas deixou claro que apoiará o candidato do PSDB.
– Presido um governo que tem uma coligação e essa coligação pode eventualmente voltar a se repetir ou não – observou.
– Voltando, para mim é melhor. Não voltando, eu saberei respeitar os interesses de cada um e naturalmente ficarei com o candidato do meu partido.
Fernando Henrique afirmou que o governo federal não vai entrar no jogo eleitoral.
– O governo não apóia ninguém – disse ele, antes de embarcar na caminhonete que o levou de volta da prefeitura até a sede da fazenda, a uma distância de sete quilômetros, a maior parte em estrada de terra.
– As pessoas me conhecem, sabem que eu não sou pessoa nem de intransigência nem de perseguição nem de utilização da máquina do Estado para obter fins políticos.
O presidente afirmou ainda que o Brasil está solidário com a Argentina e que não teme nenhum tipo de contágio, porque “a economia brasileira é forte”. Ele evitou se aprofundar no tema:
– Não quero me imiscuir na política interna argentina.
FH declarou também “que não são verdadeiras” as informações de que teria conversado com o governador da Província de Córdoba, José Manuel de la Sota, a quem o presidente provisório Adolfo Rodríguez Saá – que renunciou no domingo – atribuiu o atual impasse na Argentina.
Urna eletrônica enfrenta seu maior teste em outubro
Eleitor dará seis votos neste ano
As urnas eletrônicas terão seu teste decisivo este ano. Embora as urnas eletrônicas estivessem presentes em todo o país na disputa municipal de 2000, eram apenas os cargos de prefeito e vereadores em disputa.
Este ano cerca de 114 milhões de eleitores no país terão de votar para presidente, governador, deputados federais e estaduais e dois senadores por Estado.
Para que não pairem dúvidas sobre o processo eleitoral, o tribunal está preparando as instruções que vão ajudar a regê-lo.
– Queremos fixar as regras do jogo antes do jogo – diz o ministro do TSE Fernando Neves, relator das instruções eleitorais no tribunal.
Uma das novidades é a urna eletrônica com voto impresso, que será testada em Sergipe, no Distrito Federal, em Maceió (AL), Cuiabá (MT), além de outros 71 municípios. O eleitor poderá verificar o voto, que cai em uma urna. O TSE está licitando a compra de 51 mil novas máquinas, 23 mil com mecanismo de impressão.
O tribunal programa outras mudanças para o dia do pleito. A cabine de votação pode ser ampliada, para deixar o eleitor menos exposto. Sessões com mais de 500 eleitores poderão ter duas urnas, para tornar o processo mais ágil. Como são seis cargos em disputa, há a preocupação de que a votação ultrapasse o tempo regulamentar.
O TSE tem de expedir todas as instruções até 5 de março. O calendário completo e as re gras já aprovadas podem ser conferidos no site www.tse.gov.br.
Tarso é o terceiro entre nove prefeitos
Marta Suplicy está em último lugar
Um ano depois da posse, a administração do prefeito Tarso Genro (PT) é aprovada por 47% dos porto-alegrenses e reprovada por 11%, de acordo com pesquisa do instituto Datafolha, divulgada ontem no jornal Folha de S.Paulo.
Com nota média 6,1, Tarso é o terceiro colocado entre nove prefeitos de capitais. O conceito regular subiu de 30% na pesquisa anterior para 37% agora.
Na liderança do ranking está Jackson Lago (PDT), de São Luís, no Maranhão, incluído pela primeira vez na pesquisa desde o início deste segundo mandato. Nas pesquisas anteriores, a liderança era da prefeita de Florianópolis, Angela Amin (PPB). Nesta pesquisa, porém, o Datafolha excluiu Florianópolis do levantamento.
O pior desempenho é o da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), com nota média 4,8, 28% de aprovação e 34% de reprovação. Apesar de ser a última do ranking, Marta melhorou em relação à pesquisa anterior, realizada em agosto. O índice dos que consideram seu governo bom ou ótimo subiu de 20% para 28%, enquanto o ruim e péssimo se manteve estável e o regular caiu de 42% para 36%.
Pelo critério de popularidade, um índice que vai de zero a 200, Tarso é o segundo, com 136, atrás apenas do prefeito de Salvador, Antônio Imbassahy (PFL), com 146. O índice de popularidade é a diferença entre a taxa de reprovação (ruim e péssimo) e a de aprovação (bom e ótimo), acrescido de 100.
O levantamento foi realizado entre os dias 12 e 14 de dezembro. Nas nove capitais foram ouvidas 4.974 pessoas. A margem de erro é de três pontos percentuais em São Paulo e de de quatro pontos nas demais capitais.
Canoas dá prioridade a pronto-socorro em 2002
Solução de problemas na área da saúde esbarra no limite de gastos imposto pela Lei de Responsabilidade Fiscal
No terceiro dia da série que aborda as obras realizadas no primeiro ano de mandato pelos prefeitos dos 10 maiores colégios eleitorais do Estado, Zero Hora apresenta hoje o balanço da prefeitura de Canoas.
Iniciada no dia 30, a série será publicada até o dia 9. Nas próximas edições, serão apresentados os balanços de Porto Alegre, Santa Maria, Novo Hamburgo, Gravataí, Viamão, Rio Grande e São Leopoldo.
Embora reconheça que a saúde pública ainda é um problema grave em Canoas, o prefeito Marcos Ronchetti (PSDB) comemora o iminente início da construção do Hospital de Pronto-Socorro do município, previsto para 2002.
Nas reuniões feitas com associações de bairros para discutir prioridades de investimento a ser incluídas no orçamento, o hospital para atendimento de emergências foi considerada a mais importante pela maioria dos participantes.
O processo de licitação para construir o prédio de dois andares no Bairro Mathias Velho está previsto para o início deste ano. De acordo com Ronchetti, o maior entrave na área da saúde não está na falta de verbas para a construção de novos espaços, mas na limitação de recursos para contratação de pessoal. Além de não conseguir atrair mais médicos para o serviço público municipal, que paga R$ 500 por 20 horas semanais, o prefeito também não pode dar aumento, sob pena de provocar um efeito cascata nos salários de todos os servidores do município. Com o limite imposto pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) ao comprometimento da receita com o pagamento do funcionalismo, criou-se um impasse.
– Temos de encontrar uma fórmula para dar aumento diferenciado ao quadro médico sem virar uma cascata – diz Ronchetti.
Realizado este ano, um processo para contratação emergencial de médicos, em que o salário oferecido era de R$ 1,1 mil, não conseguiu preencher as 85 vagas oferecidas. Apesar das dificuldades, com o recurso de contratações emergenciais, Ronchetti calcula que o município passou a oferecer, neste ano, 50 médicos a mais para a população do que havia antes.
A criação da Ouvidoria do município, uma das promessas de campanha, revelou que as principais mazelas dos canoenses são saneamento básico, iluminação e calçamento. Esses problemas, comuns aos municípios da Região Metropolitana da Capital, o prefeito atribui ao grande número de vilas formadas a partir de ocupações irregulares. Nas áreas regularizadas, ele garante, mais de 90% têm asfalto e saneamento.
Entre as obras do primeiro ano de governo na área da habitação popular, Ronchetti destaca a regularização de um lote ocupado por 130 famílias e, em parceria com o governo do Estado, do conjunto habitacional Guajuviras. Outras ocupações dentro do próprio Guajuviras, no entanto, continuam pendentes de solução.
Europa comemora chegada do euro
População de 12 países entra em filas de bancos ou caixas eletrônicos na virada do ano para obter a nova moeda
No primeiro minuto deste ano, 304 milhões de europeus passaram a adotar o euro nas transações diárias, com a implantação efetiva da maior reforma monetária da história.
A transição ocorreu sem problemas maiores, e o início do desaparecimento das moedas nacionais de 12 países se fez sem lamentações. Ao contrário, muita festa, alegria, bom-humor e curiosidade acompanharam a mudança. O verdadeiro teste de fogo da moeda começa hoje, com a volta da economia às atividades normais.
Em um primeiro balanço oficial, ao meio-dia de ontem (hora local) em Bruxelas, a Comissão Européia (CE) anunciou que os informes dos países que participam da moeda única confirmavam uma transição sem maiores dificuldades.
– O conjunto dos informes é positivo – disse Gerassimos Thomas, porta-voz do comissário europeu de Assuntos Monetários, o espanhol Pedro Solbes. – As informações da imprensa mostram igualmente que as coisas andam bem. Não há notícias, e isso é uma boa notícia – resumiu.
Mas, como a maioria das lojas e dos bancos estava fechada ontem, na zona da nova moeda, a “data crucial” é hoje, afirmou.
A CE assegurou que os caixas automáticos funcionaram sem problemas em toda a Europa. Na Finlândia, longas filas se formavam na virada do ano diante de agências do Banco Central, que funcionaram da meia-noite às 2h da manhã de ontem, e voltaram a abrir à tarde. Na Espanha, 925 agências bancárias funcionaram das 11h às 14h. Em Luxemburgo, 60 bancos abriram por três horas. Também funcionaram bancos em Portugal, Holanda e Alemanha.
– É uma mudança radical na história européia. A Europa será muito mais forte agora – disse à meia-noite o presidente da Comissão Européia, o italiano Romano Prodi, ao pagar um buquê de flores com euros em Viena.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, felicitou os europeus pela escolha “audaz e visionária da unidade em vez da divisão”.
Devido ao fuso horário, o euro circulou primeiro na ilha francesa de Reunião, no Oceano Índico. Duas horas depois, na Finlândia e na Grécia. Mais uma hora e Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, França, Holanda, Itália, Luxemburgo aderiram. Irlanda e Portugal foram os últimos.
Artigos
A Argentina, para não esquecer
Miguel Rossetto
Ocolapso da Argentina no final de 2001, o sofrimento de seu povo e suas manifestações de revolta e desespero, soam como uma grave advertência para toda a América Latina, que vem, há mais de uma década e com poucas exceções, adotando receitas políticas e econômicas semelhantes.
O modelo faliu. Não sobrou nada para a retomada de um processo de recuperação, por mais lento que seja. A Argentina não tem mais moeda, desnacionalizou a sua produção e privatizou toda a estrutura estatal. A estrutura produtiva do país foi arrasada e com ela o emp rego e a renda. O governo não tem mais à sua disposição instrumentos eficazes para governar e definir políticas. A saúde, a educação, as estradas, as telecomunicações, os combustíveis, a previdência, os bancos, os transportes, tudo foi privatizado, e a economia foi completamente subordinada aos interesses do mercado externo. Tudo vai precisar, de alguma forma e com enormes dificuldades, ser reconstruído.
Pior, não existe, no cenário atual, nenhuma possibilidade de recuperação rápida, nenhum projeto viável que seja capaz de alavancar a economia, gerando emprego e renda, no curto ou médio prazo.
Mas mais impressionante é a solidão da Argentina em sua crise. É incrível como os seus parceiros de globalização agem agora como se nada tivessem a ver com o assunto. Em busca de impunidade, os que ontem defenderam com entusiasmo a implantação do modelo lá e aqui no Brasil, tanto no que diz respeito ao seu conteúdo quanto na velocidade de sua aplicação, permanecem agora num silêncio cínico e oportunista. Nenhum organismo financeiro internacional foi capaz de manifestar uma posição autocrítica sobre o modelo imposto aos argentinos e, muito menos, de propor medidas de socorro à economia, capazes de viabilizar o país.
Foram o grande capital internacional e as elites internas quem primeiro saquearam nossos vizinhos. Os saques patrocinados pelo povo antes do Natal foram a resposta desesperada de uma sociedade que paga a conta há mais de uma década e que chegou ao seu limite de tolerância.
Quanto ao Brasil, mesmo que, apressadamente, representantes do governo federal ou de instituições financeiras falem em “descolamento” da situação argentina e sublinhem as diferenças atuais da política cambial, razão da nossa sobrevida após 1999, em tudo mais o modelo aqui implantado é idêntico.
Desde os anos 80, em razão da crise da dívida externa, enormes pressões foram feitas sobre os governos da América Latina por parte dos EUA, do FMI e dos bancos credores para forçar a adoção desse tipo de política econômica. O medo diante dessas chantagens, sempre um mau conselheiro na vida política, levou a sucessivas capitulações e, finalmente, à renúncia à autodeterminação e à adoção do modelo neoliberal. Essa é a razão fundamental do fracasso argentino, só não experimentada por nós brasileiros, em toda a sua dramaticidade e na sua gravidade, porque o governo federal foi derrotado depois de quatro anos, em sua tentativa de aplicar uma política de câmbio irreal. Que o digam a agricultura e a indústria.
Não sabemos quais caminhos a Argentina seguirá daqui para a frente. As candidaturas à presidência surgidas até agora lembram o passado. A falta de uma alternativa que tenha legitimidade e vitalidade política para apontar um novo caminho para o país parece denunciar a fadiga de uma sociedade fraturada, primeiro, por uma ditadura militar sangrenta e, logo depois, pelo arrasador modelo neoliberal.
Mas a maior lição da crise argentina talvez seja a de mostrar ao mundo que não há mais como negar uma pauta internacional que trate de globalizar a solidariedade; que rediscuta radicalmente a situação das dívidas externas e internas dos países pobres e periféricos; que restabeleça o equilíbrio nas relações comerciais entre os povos; que garanta a soberania de todos os países e estabeleça novas formas de financiar o desenvolvimento humano em todas as partes do planeta. É esta a agenda do próximo Fórum Social Mundial.
Colunistas
ANA AMÉLIA LEMOS
Fruticultura e êxodo
Afruticultura está surgindo no horizonte da atividade agrícola como a melhor alternativa para conter o crescente êxodo rural. Os filhos de famílias de agricultores estão migrando para as cidades em busca de oportunidades e escolaridade. Nas propriedades rurais, especialmente as pequenas, estão ficando os pais e os avós, informa o prefeito de Horizontina, Irineu Colato, que está coordenando na região o programa de difusão e expansão da fruticultura. Para reforçar sua tese, usa números que indicam, por exemplo, que cada hectare dedicado à fruticultura emprega de cinco a seis pessoas, produzindo uma renda compatível com os investimentos.
Não dá para insistir no plantio de trigo e soja na pequena propriedade, insiste o prefeito, lembrando que as pessoas idosas que continuam na área rural estão sobrevivendo com o que recebem do Funrural. As projeções feitas por Irineu Colato são animadoras. O programa para fruticultura do Ministério da Agricultura prevê, até 2010, no Rio Grande do Sul, plantio de 30 mil hectares com frutíferas diversas podendo gerar com isso 100 mil novos empregos. No ano passado foram investidos R$ 3 milhões em 60 municípios, contando com recursos federais extra-orçamentários.
A implantação do programa conta com a assistência de 20 técnicos da Embrapa, do apoio dos Coredes, universidades, Ministério da Agricultura e Sebrae. No levantamento feito pela Embrapa, constatou-se que 43% das propriedades na Bacia do Uruguai e região noroeste do Estado tem até 10 hectares, 32% de 10 a 20 hectares caracterizando como agricultura tipicamente familiar. O programa acompanha o produtor em todo o processo produtivo (viveiros, mudas) até a industrialização e comercialização. Existem recursos a fundo perdido para o município construir os depósitos para armazenagem chamados “packinghouse”, explica Afonso Hamm, responsável pelo programa no Ministério da Agricultura.
Na macrorregião norte, dos 220 municípios, pelo menos 109 manifestaram interesse em fruticultura, 82 já têm projetos, explica o prefeito Irineu Colato, acrescentando que a Embrapa considera a região a melhor para essa atividade, não só por causa da qualidade das terras, mas por causa da tradição cultural dos imigrantes europeus. “Para que tenha retorno garantido nosso empenho é que o plantio seja organizado e a exploracão dessa atividade muito profissionalizada”, completou o prefeito de Horizontina.
JOSÉ BARRIONUEVO
Contagem regressiva
Começou o ano eleitoral. No PT, as tendências internas já se dividem nas extremidades do cabo-de-guerra comandado pelo governador Olívio Dutra e pelo prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro. Na contabilidade dos apoios, cinco correntes já decidiram por Tarso: a Tendência Humanista, o Movimento da Construção Socialista (MCS), o PT Amplo e Democrático, o Movimento Esquerda Socialista (MES) e a Rede do PT.
Pró-Olívio está apenas a Democracia Socialista. Na lista das tendências indecisas estão a Articulação de Esquerda e a Força Socialista, esta última apoiadora de Olívio nas últimas disputas internas. No frigir dos ovos, Tarso conseguiu levar para seu lado o MCS e o MES, que não o apoiaram na eleição passada.
Abaixo-assinado
Enquanto Olívio viaja pelo interior do Rio Grande em férias, assinaturas começam a ser colhidas para formação de uma lista de apoio à candidatura de Tarso. A idéia é chegar a 12 mil nomes, um chute na Lua se levado em conta que na última prévia estadual do partido 18.975 filiados foram às urnas. Vale lembrar que Tarso já recebeu a confirmação de 1,5 mil apoiadores e que o PT gaúcho tem mais de 90 mil filiados.
Busca de consenso
Tarso só interrompe seu mandato se tiver certeza de que será o nome de consenso. Olívio só deixa o Piratini antes do tempo se for à reeleição. No fundo, a posição de ambos é a mesma. Seja Tarso ou Olívio, o importante é que o candidato petista tenha respaldo na base, o que demonstraria maturidade do PT. Não é hora de disputas pessoais e forçar uma cadidatura sem ter o real apoio dos petistas seria personalismo. Consenso, neste caso, não significa 100% de apoio, o que é impossível, mas sim a maioria dos filiados.
Zebra nas urnas
A charge publicada na capa do jornal O Globo da semana passada, despertou interesse do presidente do PDT, Leonel Brizola. Em conversa com o titular da coluna Página 10, que está no Rio, Brizola afirmou que como no desenho do chargista Chico, nenhum dos candidatos que estão postos deverá ser confirmado nas urnas no final do ano. Um enigmático Brizola afirma que uma zebra está por surgir, e o chargista captou a mensagem com perfeição.
Biografia e alfinetadas
Com prefácio escrito pelo senador José Fogaça, o livro do deputado Cézar Busatto deve chegar às bancas nos póximos dias. Responsabilidade Social, Revolução do Nosso Tempo trata em quatro capítulos da administração petista no governo do Estado, da Lei de Responsabilidade Social e do PMDB, seu ex-partido. Busatto dedica o último capítulo ao partido no qual militou por mais de 20 anos e com o qual se diz decepcionado. Sob o título “Por um partido solidário”, o capítulo 4 fala dos desafios do PMDB, da decepção com a sigla, os ideais que o levaram a deixar o partido e a esperança que representa hoje estar no PPS.
O texto de introdução da obra tem o título “Pontes da solidariedade”, no qual Busatto deixa parte de sue pensamento:
– Sempre acreditei que quando a causa é boa, as forças do universo conspiram para que possamos transformá-la em realidade.
Os seis apóstolos
Está na mão dos vereadores do PDT aí ao lado a definição, amanhã, de quem será o presidente da Câmara de Porto Alegre este ano. Decidirão se mantêm Luiz Fernando Záchia (PMDB) no cargo, ou se elegem Estilac Xavier (PT) ou Elói Guimarães (PTB).
Estilac chama de “trama sórdida” o acordo feito pelo bloco oposicionista. Záchia admitiu que os vereadores não podem deixar que Estilac, atual líder do governo, seja o presidente em um ano eleitoral. Não faz sentido. Estilac é próximo ao prefeito Tarso Genro sim, mas isso não deverá influenciar em sua atuação caso seja o escolhido para o cargo. Não colocaria em risco a seriedade da Câmara da Capital e muito menos sua própria reputação política.
Roseana faz festa no palácio
A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), tratou de buscar bons fluidos na entrada do ano no qual poderá se tornar presidente. Exuberante como sempre, vestiu branco na festa que reuniu cerca de mil convidados nos jardins do Palácio São Marcos, em São Luís. Roseana ficou cerca de duas horas recebendo os visitantes, só parou por volta das 23h30min para ouvir a leitura de trechos bíblicos e rezar um pai-nosso e uma ave-maria ao lado do pai, o senador e ex-presidente José Sarney, e da mãe, dona Marly.
Antes de assistir ao show da sambista Alcione, Roseana subiu no palco para uma breve fala de cinco minutos. Não falou de eleições nem de pesquisas.
Laços fraternos
O presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, chega amanhã ao meio-dia ao Estado. Vem ver de perto a complicada sucessão na presidência da Câmara de Porto Alegre, na qual seu partido, o PDT, virou o fiel da balança. Antes vai ao sítio de Pedro Ruas, em Eldorado do Sul, que estará comemorando seus 46 anos numa reunião em família. Vale lembrar que Brizola não é dado a festas, mas não faltaria ao aniversário de Ruas, presidente em exercício do PDT gaúcho e seu fiel amigo. Candidato a deputado federal, Ruas está em plena campanha há meses.
ROSANE DE OLIVEIRA
Senador biônico
Não tem limite o puxa-saquismo de certos aliados do presidente Fernando Henrique Cardoso. Agora inventaram essa de dar-lhe um cargo de senador vitalício – coisa que tanto pode lembrar a modernidade da Itália como o arranjo feito no Chile para acomodar o general Pinochet. Ou, com um pouco de má vontade, os senadores biônicos da velha Arena, apesar de não ter direito a voto.
Por que precisaria FH de uma cadeira no Senado, depois de ter sido senador e duas vezes presidente da República? Intelectual respeitado dentro e fora do Brasil, FH pode muito bem fazer o que faz o ex-presidente Bill Clinton e aumentar a renda proferindo conferências, sem precisar de favor.
De autoria do presidente do PTB, deputado José Carlos Martinez (PR), a proposta poderia se chamar “emenda FH”, já que a intenção é aprovar um texto moldado para o seu caso. Não beneficiaria os outros três ex-presidentes vivos – José Sarney, Fernando Collor e Itamar Franco.
Diz-se em Brasília que, discretamente, o presidente está estimulando a aprovação da emenda nos primeiros meses deste ano e que já em fevereiro deverá ser indicado o relator na Comissão de Constituição e Justiça. Nesse ritmo, daqui a pouco aparece um aliado para propor a volta da monarquia e a nomeação do rei Fernando Henrique I. Ou alguém ainda mais criativo vai propor a adoção do parlamentarismo de ocasião, com a condição de que o Chefe de Estado será o único senador vitalício do país.
Se FH tivesse resistido à tentação de mover mundos e fundos para aprovar a reeleição, hoje seria lembrado como o homem da estabilidade e talvez os brasileiros já estivessem com saudade do seu governo. Sem mandato, pode ter vida partidária ativa, quem sabe ensinando a arte da política aos tucanos, que à sua sombra não conseguiram produzir um candidato viável à sucessão presidencial.
Editorial
As opções brasileiras
Uma convenção praticamente universal desencadeia no início de cada ano uma espécie de recomeço coletivo, que se abre na forma de uma renovação das esperanças. Depois de um ano complicado como o de 2001, em que nosso país sofreu dificuldades internas e suportou ventos adversos vindos do Exterior, há razões objetivas para se crer que o ano que está começando poderá ser melhor. Não há grandes mudanças institucionais em perspectiva, mas o ano terminará com um pronunciamento democrático pelo qual serão renovadas as autoridades da União e dos Estados, tanto executivas quanto legislativas. Não há, certamente, fato mais importante do que o desenvolvimento dessa rotina democrática pela qual o cidadão vai às urnas para respaldar governos e programas ou para substituí-los.
Essa perspectiva eleitoral, com todo o seu simbolismo democrático e com a relevância que tem para a continuidade institucional, promove com freqüência mais do que o saudável confronto de idéias e de propostas, constituindo-se em fator de turbulência e instabilidade. Entendemos que o conflito é um dos elementos que dialeticamente permitem o avanço da sociedade. Nele expressam-se as opções, propõem-se alternativas e especialmente aprimoram-se os argumentos e as ações. Utilizado neste sentido e com essa dimensão, o conflito é, como afirma o sociólogo Lewis Coser, tão necessário quanto a cooperação. O que não é admissível numa democracia e o que muitas vezes se constitui em elemento nocivo é a transformação dessa saudável interação social em base para intransigências paralisantes.
Cumpre adotar com sabedoria decisões capazes de garantir a
estabilidade e o progresso
Não é o que o país espera de seus governantes e políticos neste começo de 2002, quando mais de 100 milhões de brasileiros se preparam para exercer o direito de escolha. Nenhum argumento será suficiente para justificar conflitos que, em vez de se converter em caminhos, se transformam em obstáculos. O país se mostrará maduro se, no ano eleitoral, puder manter seus poderes operando com eficiência e dinamismo. Num mundo que busca superar as dificuldades de uma economia em recessão e tenta encontrar soluções para as conseqüências do 11 de setembro, num continente que vê surgirem crises econômicas ou políticas como as da Argentina ou da Venezuela e vê crescer a ameaça do populismo, ao Brasil cumpre adotar com firmeza e sabedoria decisões capazes de garantir a estabilidade interna e as condições de retomada do progresso e do desenvolvimento.
Está aí um objetivo a ser conquistado num ano politicamente complicado, embora promissor.
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01/02/2002
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