Racha deve causar a suspensão da CPMF









Racha deve causar a suspensão da CPMF
O governo considera inevitável a suspensão, por pelo menos duas semanas, da cobrança da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) a partir de 16 de junho. A crise entre o PFL e o governo impediu a conclusão da votação na Câmara e atrasou a tramitação no Senado.

Apesar de a cúpula do PFL anunciar que o partido votará a emenda que prorroga a CPMF na próxima semana, o líder do partido na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), fez ameaças. "A bancada vota a favor, mas na semana que vem, não. A bancada quer um tempo para reflexão."

O líder condicionou a votação à decisão dos deputados do partido em reunião que fará na próxima terça. O presidente do PFL, Jorge Bornhausen, afirmou que participará da reunião da bancada e defenderá a votação da emenda.

Roseana
O presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), relatou após encontro com a presidenciável e governadora Roseana Sarney (PFL-MA), que haverá empenho do PFL para votar a emenda na próxima semana. Segundo Aécio, Roseana disse que o PFL não vai prejudicar o país.

O Ministério do Planejamento já estuda onde serão feitos os cortes no Orçamento para adequar a perda de receita, prevista em R$ 400 milhões por semana.

Na avaliação do líder do governo na Câmara, Arnaldo Madeira (PSDB-SP), a emenda que prorroga a CPMF deverá ser promulgada no final de março. Para evitar interrupções na cobrança, a promulgação deveria acontecer até o dia 18 de março, para cumprir o prazo de 90 dias antes de entrar em vigor. Pela regra atual, a cobrança acaba em 17 de junho.

Em 1999, a suspensão da cobrança por decisão judicial levou o governo a aumentar o Imposto sobre Operações Financeiras.

Além da CPMF, há outros projetos de interesse do governo para serem votados. No dia 1º de abril, vence o prazo para votação de sete medidas provisórias, que entram automaticamente em primeiro lugar na pauta de votação.

Paulo Renato
O ministro da Educação, Paulo Renato Souza, classificou a decisão do PFL de "lastimável para o governo". "Será preciso muito água e muitos bombeiros. Se o presidente quiser, posso ajudar a apagar o incêndio", declarou.

Na avaliação dele, o governo não pode prescindir do PFL em sua base de sustentação política.


Na saída, PFL critica governo e comportamento do PSDB
Nota oficial diz que partido deu apoio irrestrito a FHC e condena atuação de Aloysio Nunes

Em clima de retaliação, o PFL formalizou ontem o afastamento do governo federal e o rompimento da aliança política que deu sustentação parlamentar ao presidente Fernando Henrique Cardoso por quase oito anos. A aliança entre PFL e PSDB foi firmada no dia 2 de maio de 1994, ainda durante a campanha eleitoral.
Os últimos três ministros da cota do PFL se demitiram, o deputado Heráclito Fortes (PI) não é mais líder do governo no Congresso, mas os demais cargos ocupados por pefelistas deverão ser entregues ""em outro momento", segundo o presidente do partido, senador licenciado Jorge Bornhausen (SC).

A justificativa oficial para o rompimento é a suspeita de que setores do governo estivessem por trás da operação realizada pela Polícia Federal na empresa Lunus, de propriedade da pré-candidata do PFL à Presidência, governadora Roseana Sarney (MA), e do seu marido, Jorge Murad.

Na nota oficial, o PFL diz que Roseana foi ""vítima de insólita violência", critica a atuação do ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, no episódio e reclama do comportamento do PSDB no processo sucessório.
""O governo está envolvido até a medula [...". E o PFL foi tratado com chacota pelo ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, pelo líder do PSDB na Câmara, Jutahy Júnior (BA), e pelo presidente do PSDB, José Aníbal (SP), o Zé Inábil", disse o líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE).

Na nota aprovada por aclamação em reunião da Comissão Executiva Nacional, que teve a presença de governadores, prefeitos, congressistas e representantes de diretórios estaduais, o PFL anunciou que sua atuação no Congresso será de ""independência". Como primeira consequência prática, o líder do PFL na Câmara avisou que a bancada pode deixar de votar na próxima semana a emenda constitucional que prorroga a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira).

""Vamos discutir na terça, mas, pelo que tenho ouvido, a bancada quer adiar a votação por umas quatro ou cinco semanas, para fazer uma reflexão sobre o assunto", disse Inocêncio.

Os pefelistas dizem que votarão a favor de propostas de interesse do país, não do governo. ""A esta altura, a CPMF é mais um interesse de governo do que do país", afirmou o governador César Borges (BA), aliado do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). O ultimato dado por Roseana, ameaçando abandonar a disputa presidencial caso não houvesse o rompimento, deixou o partido sem alternativa.

""Nossa candidata está mais bem posicionada nas pesquisas, mas o PSDB insistiu em manter a cabeça de chapa, não se importando com o coração e o desejo do povo brasileiro", disse Jorge Bornhausen. Ele disse que continuará mantendo relacionamento com FHC como presidente de partido.

O prefeito Cesar Maia (RJ) fez um relato das divergências entre PFL e PSDB, entre elas a aliança dos tucanos com o PMDB para eleger o então senador Jader Barbalho (PA) presidente do Congresso. E chamou a operação da PF de ""golpe desesperado" para prejudicar Roseana e favorecer a pré-candidatura do senador José Serra (PSDB-SP) a presidente.

Contrário ao rompimento, o governador Jaime Lerner (PR) chegou atrasado, dizendo que atuaria ""como bombeiro", mas não teve voz na reunião.

Entre os oito governadores do PFL, o único ausente era Siqueira Campos (TO), que defende apoio a Serra.
Roseana fez um discurso em tom emocional na reunião. Disse que não tem ""nada a esconder" e transformou a operação da PF em questão partidária. ""Não nos restava outro caminho senão este. Como governadora de um Estado brasileiro e pré-candidata, fui vítima de uma violência inominável, que, sob qualquer pretexto ou montada formalidade, só tinha um objetivo: destruir a candidatura do PFL. O que está em jogo não é questão partidária, mas a lisura do processo sucessório."


FHC se diz desapontado e vê "equívoco" na atitude do PFL
Em carta a Bornhausen, presidente lamenta rompimento e diz que acreditava na convergência

O presidente Fernando Henrique Cardoso reagiu ao rompimento do PFL com seu governo dizendo ter ficado "desapontado" com a atitude do partido. FHC lamentou a decisão em carta ao presidente do partido, Jorge Bornhausen (SC). Durante reunião com líderes governistas, FHC considerou exagerada a atitude do PFL.
FHC reuniu líderes dos três partidos governistas (PSDB, PMDB e PPB) no início da noite de ontem para avaliar as consequências da decisão do PFL nas votações no Congresso. Na primeira reunião sem os pefelistas, o presidente afirmou que não admitirá rótulo de que o governo agiu de maneira incorreta para beneficiar a pré-candidatura do tucano José Serra a presidente da República.

Para os pefelistas, a operação de busca e apreensão de documentos na empresa Lunus, de propriedade da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), e de seu marido, Jorge Murad, foi incentivada pelo governo.

A carta a Bornhausen foi divulgada um pouco depois do encerramento da reunião de líderes, que também teve a presença dos ministros Pedro Parente (Casa Civil) e Arthur Virgílio (Secretaria Geral da Presidência).
Segundo Arthur Virgílio, a intenção do governo é deixar claro que o presidente "não perdeu o controle" do processo político e que a atitude do PFL foi consid erada "absurda".

FHC foi oficialmente informado da decisão do PFL no início da manhã de ontem por telefone.
O presidente falou com Bornhausen e com o vice, Marco Maciel. Lamentou que o PFL tivesse decidido romper com o governo antes de seu retorno ao Brasil -o presidente estava no Panamá e chegou ontem de madrugada a Brasília. A volta foi antecipada em 15 horas em razão da crise.

FHC disse na carta a Bornhausen que esperava que o PFL "tivesse sido capaz de encontrar melhor solução para nossos partidos, para o governo e para o Brasil. Disso deriva meu desapontamento". Segundo o presidente, a operação na empresa Lunus foi um "episódio desafortunado" e decorreu exclusivamente da decisão da Justiça, motivada por ações do Ministério Público.

A operação foi realizada pela Polícia Federal, o que gerou especulações dos pefelistas de que o ministro Aloysio Nunes Ferreira (Justiça) estaria atuando para favorecer a candidatura Serra. O presidente afirmou na carta que não admitiria uso político-eleitoral de órgãos públicos e se declarou "revoltado" com o vazamento de informações imprecisas sobre a operação.

"Insisto em que me parece um equívoco dar conotação política a uma investigação policial e judiciária que, espero, fará justiça à governadora Roseana", diz FHC no encerramento da carta.

Para rebater críticas que pefelistas vêm fazendo contra seu governo, FHC disse que em suas declarações públicas continuou "sustentando que nossos partidos têm pré-candidatos que bem poderiam, no primeiro turno ou na pior das hipóteses no segundo turno, convergir".

Duas candidaturas
Em conversas com tucanos ao longo do dia, FHC lembrou que em suas manifestações públicas costumava repetir que havia duas candidaturas governistas -se referindo ao tucano José Serra e à pefelista Roseana Sarney.

Apesar de avaliações duras em trechos da carta, FHC fez questão de demonstrar apreço ao presidente do PFL. Ele escreveu de próprio punho no início da carta "estimado senador Bornhausen".

Em outro trecho da carta, que tem duas páginas, FHC reconhece que os pefelistas sempre foram leais ao governo, mas afirma que jamais deixou "de agir de forma correta para atender ao PFL, o que me pareceu justo". "Lamento, portanto, que a despeito de sete anos de frutífero convívio político, tenha o PFL decidido interrompê-lo." Após ler a nota que o PFL divulgou anunciando o rompimento com o governo, FHC avaliou que o teor do documento não era agressivo.


Presidente diz que desejava aliança no primeiro turno
Leia abaixo a íntegra da carta enviada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso ao senador licenciado Jorge Bornhausen, presidente do PFL, após receber nota informando a decisão do partido de entregar os cargos que ocupava no governo federal

Brasília, 07 de março de 2002
Excelentíssimo senhor senador Jorge Bornhausen
Acuso recebimento da nota emitida esta tarde pelo PFL na qual Vossa Excelência me informa da decisão do partido de renunciar às posições que ocupa no governo e de colocar-se politicamente de forma independente no Congresso Nacional.

O relato feito por Vossa Excelência das condições que levaram o PFL a apoiar minha primeira candidatura à Presidência em 1994 e meu governo, até hoje, é a expressão da verdade.

Sempre trabalhamos orientados por um programa que nos pareceu -e a mim continua parecendo- o melhor para o Brasil nas presentes circunstâncias.

Por isso mesmo, até em minhas declarações públicas desta semana, continuei sustentando que nossos partidos têm pré-candidatos que bem poderiam, no 1º turno ou, na pior das hipóteses no 2º turno, convergir. Assim garantiríamos mais facilmente a continuidade das modificações que estamos introduzindo no país.
Lamento, portanto, que a despeito de sete anos de frutífero convívio político, tenha o PFL decidido interrompê-lo.

Lembro a Vossa Excelência que, se é certo que o partido sempre sustentou lealmente as posições do governo, também eu jamais deixei de agir de forma correta para atender ao PFL no que me pareceu justo.

Esperava diante de tantas demonstrações de confiança recíproca que o PFL tivesse sido capaz de encontrar melhor solução para nossos partidos, para o governo e para o Brasil. Disso deriva meu desapontamento.
Por fim, quero reiterar o que já lhe disse e a todos os correligionários do PFL com os quais pude conversar nos últimos dias: o episódio, desafortunado, que terminou por envolver a governadora Roseana Sarney, decorreu exclusivamente da decisão da Justiça, motivada por ações do Ministério Público. A participação da Polícia Federal deu-se no âmbito de suas atribuições constitucionais, como polícia judiciária que é.

Registro mais uma vez este fato porque não admitiria o uso político-eleitoral de órgãos públicos porque revolta-me também o vazamento de informações imprecisas, do qual todos temos sido vítimas. O governo não admite esse tipo de procedimento e todas as providências já foram tomadas para apurar eventuais responsabilidades.

Por outro lado, estou certo de que jamais passaria por sua consciência ou pela de seus correligionários que o governo pudesse prejudicar diligências policiais, informando-as de antemão a eventuais destinatários delas. Acresce que, no caso e por norma, o presidente da República não é informado desse tipo de procedimento.
Para finalizar, insisto em que me parece um equívoco dar conotação política a uma investigação policial e judiciária que, espero, fará justiça à governadora Roseana.


ACM afirma que aliança PFL-PSDB pode ser "reatada"
O ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) não descarta a possibilidade de a aliança governista, rompida formalmente pelo seu partido, vir a ser reatada futuramente. "Não sei, isso só o tempo dirá", afirmou ACM, em entrevista à Agência Folha, por telefone. "Só sei que, no dia de hoje, [essa possibilidade" está difícil."

Para ele, a saída do PFL da base governista não implicará necessariamente na maior aproximação entre o PMDB e o PSDB. "O PMDB é uma federação", afirmou. "Não tem unidade para tomar posição para um lado só", disse.

ACM acredita que a aproximação dos peemedebistas com outros partidos ocorrerá de acordo com os interesses regionais -o que, na prática, significaria a formalização de coligações "brancas", se mantida a verticalização das alianças decidida pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Uma vez definido o rompimento com o governo federal, o PFL, segundo ele, deve agora dar início ao processo de conversações para a formalização de uma aliança e a escolha de seu candidato a vice. Sobre o impacto eleitoral da saída do PFL da base governista, afirmou que isso deverá provocar um crescimento da candidatura de Roseana nas pesquisas.

"Na medida em que ficar provado que não existia nada, que foi uma violência, uma arbitrariedade [a ação da Polícia Federal no Maranhão", a Roseana vai crescer bastante."

Sobre a decisão tomada pelo vice-presidente Marco Maciel (PFL) de permanecer no governo, o ex-senador disse que ele "está certíssimo".


Três ministros entregam cargos
Os três ministros do PFL que ainda estavam no governo entregaram ontem à noite seus pedidos de demissão a Fernando Henrique Cardoso. A saída é consequência do rompimento do partido com o governo federal. José Sarney Filho (MA) já havia deixado o Ministério do Meio Ambiente na última segunda-feira.

A reunião oficializando o pedido de demissão coletivo dos três ministros do PFL ocorreu, no Palácio do Planalto, sucedida por um encontro reservado entre FHC e o presidente do partido, Jorge Bornhausen.

Bornhausen entregou a nota oficial do PFL anunciando o rompimento com o governo. Na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PPB-PR) assumiu a liderança do go verno no lugar do deputado Heráclito Fortes (PFL-PI).
José Jorge (PE), que ocupava a pasta de Minas e Energia, volta para o Senado Federal. Carlos Melles, que deixou o Ministério do Esporte e Turismo, e Roberto Brant, que saiu da Previdência Social, vão reassumir seus mandatos de deputado federal por Minas Gerais.

Também deixaram seus cargos pessoas indicadas pelo partido para órgãos públicos ligados aos ministérios pefelistas.

Dois nomes da área econômica foram confirmados no cargo pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan: Emílio Carazzai, presidente da Caixa Econômica Federal, e Everardo Maciel, secretário da Receita Federal. Ambos foram indicados pelo PFL de Pernambuco.

O presidente da Eletrobrás, Cláudio Ávila, entrega hoje o cargo. Indicado pelo PFL para a presidência da estatal que comanda o setor elétrico, Ávila é uma das baixas do partido nessa área.

O presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz Lopes, não foi indicado pelo PFL, mas sua situação é complicada por causa dos vínculos com a família Sarney.

O presidente de Furnas, Luiz Carlos Santos, filiado ao PFL, deve antecipar sua saída do cargo. Ele tinha até abril para deixar a empresa para concorrer a cargos eletivos, mas deve sair antes.


Serra não vence sem PFL, diz Tasso
O governador do Ceará, o tucano Tasso Jereissati, diz que será "difícil" o pré-candidato do PSDB ao Planalto, José Serra, ganhar a eleição após o rompimento do PFL com o governo. Também crê que o presidente Fernando Henrique Cardoso deve tentar se recompor com o partido para evitar uma crise no fim do mandato.
""Acho que fica mais difícil o PSDB ganhar a eleição depois do rompimento do PFL com o governo e com a dificuldade de uma aliança entre os dois partidos, seja no primeiro ou no segundo turno", afirmou o governador, em entrevista à Folha por telefone.

Tasso se diz solidário com a governadora e pré-candidata Roseana Sarney (PFL-MA) em relação à operação da Polícia Federal que apreendeu documentos e R$ 1,3 milhão no escritório da Lunus, empresa da pefelista e do marido dela, o gerente de Planejamento do Maranhão, Jorge Murad. E diz concordar com a posição da governadora de ter pressionado o PFL a deixar o governo.

"A governadora Roseana está, com razão, bastante aborrecida, revoltada e dou razão para essa sua revolta, porque foi um gesto de brutalidade o que foi feito com ela e, a meu ver, inadmissível", disse. "Ela teve seu sigilo judicial vazado para a imprensa", diz.

"Momento de conciliar"
Tasso envia um recado a favor da conciliação ao PSDB, especialmente aos setores ligados a Serra, que pregam uma escalada na guerra com o PFL e pressionam o presidente FHC a tirar os cargos de segundo escalão da sigla.

""O momento é de conciliar, e não de ficar botando mais lenha na fogueira ou criando conflitos. O presidente Fernando Henrique deve fazer todos os esforços para ter o PFL ao seu lado."

O tucano, arquiteto da aliança selada em 94 entre PSDB e PFL, prevê dificuldade para o governo. ""O PFL foi o aliado mais fiel nesses quase oito anos de aliança. É uma perda para o governo, que, no Brasil, precisa muito do Congresso", afirma o governador.

Segundo Tasso, em 1994, FHC e ele avaliavam que o Plano Real seria suficiente para levar o PSDB ao poder. ""A aliança com o PFL tinha mais sentido para governar. Agora ela é fundamental para ganhar a eleição e para governar, porque o quadro é outro", diz.

""Neste ano, o peso de lideranças regionais e dos partidos nos Estados vai ser determinante para vencer a eleição. Por isso, acho que fica mais difícil para o PSDB [ganhar" sem chance de entendimento com o PFL", diz.

Tasso, que sempre esteve mais próximo dos pefelistas do que dos peemedebistas, acredita que o PMDB possa ter dificuldade para se aliar ao PSDB e que um entendimento com o PFL ainda seria o melhor caminho para Serra.

O governador nega que essa análise tenha algo a ver com a possibilidade de ele vir a ser um ""plano B". ""As candidaturas que já estão colocadas serão as mesmas que irão até o final", diz.

Atuação de FHC
Tasso diz não acreditar na participação de FHC no episódio. ""Tenho certeza de que o presidente Fernando Henrique Cardoso não sabia [da operação" e de que não divulgou informações". Recuso-me a acreditar que outros membros do governo tenham se comportado de forma diferente."

O governador conversou com FHC no sábado. Tasso diz que não está atuando como bombeiro e que, no telefonema, o presidente comentou a operação da PF e marcou encontro com ele para a próxima semana em Fortaleza.


Artigos

Breve história do PFL
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - Depois de 500 anos, o PFL deixa o governo. Não, leitor, não é engano. O PFL, com esse nome, só tem 18 anos, mas seus caciques descendem, em linha direta, dos donos das capitanias hereditárias.
Estiveram, pois, no poder na colônia como no país independente, no Império e na República, na democracia como na ditadura.

Pena que saiam do governo não por um motivo nobre. O PFL não se rebelou, durante o regime militar, com as continuadas violações aos direitos humanos.

Não rompeu com Sarney por causa do descalabro econômico, que levou a uma inflação obscena de 80% ao mês. Não viu na falta de decoro de Collor motivo para deixar o governo. Ao contrário, foi até o fim, a ponto de Luís Eduardo Magalhães (que seria presidenciável, não tivesse morrido) ter feito o discurso de defesa na sessão em que a Câmara autorizou o início do processo de impeachment.

Só agora, uma operação policial determinada pela Justiça indigna o PFL a ponto de levá-lo ao rompimento. Os antecedentes e o gesto de agora dizem muito sobre o partido.

Está usando a velha tática de, ante uma suspeita, reagir atirando. De repente, o público acredita nos tiros do PFL e não nos tiros que potencialmente atingem a sua presumível candidata presidencial.

É eloquente sobre essa tática a versão do senador José Sarney para o fax enviado por policiais federais ao Planalto. Para Sarney, o texto festejava o resultado da operação. Agora, vem o próprio advogado da família e diz que não foi nada disso. Fax houve, mas para enviar o mandado de busca e apreensão.

De todo modo, uma versão apimentada sempre pega aqui e ali.

O fato é que essa história é briga pelo poder apenas. Nada tem a ver com o meu, o seu, o nosso interesse.


Colunistas

PAINEL

Tirar do foco
Reunidos ontem com Roseana Sarney, governadores do PFL tentaram, sem sucesso, convencê-la de que FHC não está por trás da ação da PF no Maranhão. Motivo: de olho nas verbas federais, não querem uma guerra do partido com o presidente.

Alvo duplo
Para os governadores pefelistas, Serra é o grande responsável pela operação e o partido deveria concentrar nele seus ataques. Roseana, no entanto, não se convenceu. Continuou a culpar também FHC. "O presidente está por trás disso", disse.

Xadrez brasiliense
FHC antecipou sua volta do Panamá porque estava decidido, sim, a antecipar a saída de todos os ministros que disputarão a eleição para ofuscar a saída do PFL do governo. Mas os pefelistas souberam da decisão e anteciparam o rompimento.

Rindo à toa
O PT quer alimentar a briga entre o PFL e o PSDB para tentar fazer com que Roseana e Serra cheguem bem desgastados à eleição. "Nossa função no caso é apagar esse incêndio com gasolina para queimar Roseana e Serra", diz um cacique do PT.

Trânsito perigoso
Os próprios pefelistas ironizaram a saída do partido de Jorge Bornhausen do governo. "O PFL vai ter de entrar na auto-escola. Nos últimos 30 anos, só andamos de carro oficial com motorista", disse um deputado.

Risco govern ista
Pergunta feita por vários tucanos ontem no Congresso: "E se depois disso tudo o Serra não subir nas pesquisas?".

Pelas beiradas
Anthony Garotinho (PSB) voltou a procurar o PL. O governador do Rio está convencido de que Lula e o PT não terão o apoio dos liberais na campanha em razão da nova orientação do TSE para as eleições.

Disputa pelos restos
A saída do PFL do governo FHC despertou no PMDB o que seus adversários estão chamando de "instinto de hiena". Há um grande corre-corre para ver quem fica com os cargos que o partido de Roseana largou.

Afirmações e ações
Roseana diz que em 15 dias conseguirá provar sua inocência. Ao mesmo tempo, no entanto, atravancou a investigação, obtendo ordem de transferência do caso do TO para o STJ.

Pela dissensão
Aécio Neves e Arnaldo Madeira telefonaram a deputados do PFL tentando convencê-los a votar a favor da CPMF. Argumento: ao romperem com o governo, os caciques do PFL "estão pensando neles próprios".

Dano colateral
Se foi arquitetada pelo PSDB, a ação da PF provocou pelo menos um efeito ruim para a campanha de Serra: abafou o programa de TV do PSDB e a volta do tucano ao Senado. Hoje, um eventual discurso de Sarney na Casa causa muito mais expectativa do que um do ex-ministro.

Menos mal
O PFL acha que a ação da PF poderia ter provocado estrago maior à campanha de Roseana se tivesse ocorrido em outro momento. Lá atrás, antes da subida nas pesquisas, teria abortado completamente sua candidatura. Mais para frente, não haveria tempo para a recuperação.

Sucessão presidencial
O jornalista Ricardo Kotscho deixou a equipe de reportagem especial da Folha para trabalhar na assessoria de imprensa da campanha presidencial do PT.

Visita à Folha
Adjarma Azevedo, diretor-presidente da Alcoa América Latina, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Antônio Salvador Silva, presidente da Casa da Imprensa.

TIROTEIO

Do petebista Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força Sindical, sobre a decisão do TSE de verticalizar as coligações na eleição:
- Geraldo Alckmin foi vendido pelo PSDB nacional. O governador foi quem mais perdeu com a decisão do TSE de padronizar as coligações. Ele tem de reagir ou perderá o PTB.

CONTRAPONTO

Inimigo íntimo
A convite do governo de Cuba, os deputados do PFL Marcondes Gadelha (PB) e Betinho Rosado (RN) passaram uma semana na ilha, no início do mês, conhecendo a economia, a educação e a saúde do país.
Em janeiro, o presidente dos EUA, George Bush, havia classificado Irã, Iraque e Coréia do Norte como "o eixo do Mal".
Gadelha foi assistir, no Centro de Convenções de Havana, um discurso do líder cubano, Fidel Castro. Segundo o deputado, Fidel estava indignado com a exclusão de Cuba do rol dos inimigos do governo dos EUA. O cubano desconfiou:
- O fato de não nos incluir [na lista de adversários] é uma tentativa ou de nos seduzir ou de comprar nossa consciência!
Um dos presentes à palestra, um europeu, virou-se para Gadelha e comentou, sorrindo:
- Paga-se por ter cão e por não ter cão...


Editorial

PFL EM VÔO SOLO

O que parecia impossível aconteceu. O Partido da Frente Liberal, que se mantinha no poder desde pelo menos 1985, quando ajudou a eleger Tancredo Neves à Presidência, rompeu a aliança com Fernando Henrique Cardoso. Mas a saída por ora não significará a entrega de todos os postos de segundo e terceiro escalões ocupados por pefelistas. A candidata do partido à sucessão de FHC, Roseana Sarney, exigiu e obteve de seus correligionários um voto de confiança. A disputa pelo Planalto ganha, assim, nova configuração.

Nenhuma informação apurada até agora atesta que tenha havido interferência indevida do Poder Executivo na busca e apreensão executada pela Polícia Federal na empresa Lunus, fato gerador da crise política que culminou no rompimento do PFL. Permanecem, no entanto, dúvidas sobre a fundamentação jurídica do mandado e sobre o vazamento de informações de um processo que corre sob regime sigiloso.

A estratégia do "staff" da governadora do Maranhão foi a de tratar o caso como político desde o início. Desse ponto de vista, Roseana Sarney venceu uma importante batalha em seu partido ao provocar o maior acontecimento político dos últimos tempos. Se a candidata fica por ora com o bônus de ter reassegurado a confiança do PFL, é possível antever obstáculos de monta ao seu objetivo de vencer as eleições.

A pefelista do Maranhão continua sendo um fenômeno ancorado nas pesquisas eleitorais. Da manutenção de seu destacado desempenho nas sondagens depende a sobrevivência política de seu projeto. O ex-presidente José Sarney, que é filiado ao PMDB, afirma que os tucanos "destruíram todas as pontes" para uma aliança com o PFL. Mas é altamente provável que, na hipótese de uma queda substancial de Roseana nas pesquisas, essas pontes comecem a ser rapidamente reconstruídas.

Raciocínio análogo pode ser feito sobre as suspeitas que surgiram contra a governadora e contra seu marido e secretário de governo, Jorge Murad. Roseana, como pleiteante ao cargo máximo da República, terá de dar satisfações à opinião pública sobre o assunto a fim de tentar dissipar rumores que persistem. Caso não sejam convincentes ou caso surjam informações mais comprometedoras, a sua força político-eleitoral tenderá a ser abalada inclusive no PFL.

Outro elemento que deve minar mais as pretensões de Roseana é a atuação da máquina do Executivo federal. O senador José Serra já levava vantagem nesse quesito por ser o candidato do partido de FHC e por ter atuado em cinco dos últimos sete anos como titular de dois importantes ministérios. Com a saída do PFL, é bastante provável que essa tendência se intensifique. Num país como o Brasil, o poder do Executivo de influir no processo eleitoral -ainda que atue estritamente na legalidade- não deve ser menosprezado.

A cúpula do PFL está ciente das dificuldades geradas por sua escolha de romper com FHC. Porém a sua estratégia está longe de ser suicida. Caso Roseana seja um fenômeno de vida curta, o partido poderá perder a condição de sócio privilegiado da candidatura situacionista. Mas esse prejuízo dificilmente será grande a ponto de inviabilizar um acordo, mesmo que em bases mais modestas, dos pefelistas com a chapa que tiver mais condições de antepor-se à esquerda. O PFL é um partido nacionalmente forte. Sua bancada federal é indispensável a qualquer projeto de centro-direita neste país.

Diante do que o PFL pode conquistar pela primeira vez -a Presidência da República-, os prejuízos de uma eventual frustração da sua nova estratégia parecem menores e perfeitamente administráveis.


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03/08/2002


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