Aproximação com PL racha executiva do PT









Aproximação com PL racha executiva do PT
Declarações de candidato a vice contra MST e a favor de Armínio Fraga acirraram cizânia interna na legenda

A aproximação do PT com o PL dividiu a executiva do PT, que se reuniu ontem na sede nacional da sigla, em São Paulo.

Por nove votos a seis e duas abstenções, ficou decidido que uma eventual aliança com o PL só será discutida pelo diretório no dia 24 de março, depois das prévias da legenda, marcadas para o dia 17.

No entanto, por nove votos a seis e duas abstenções, ficou decidido que uma eventual aliança com o PL só será discutida pelo diretório nacional no dia 24 de março, depois das prévias da legenda, no dia 17.

A decisão de não debater a aliança ontem fez com que setores mais à esquerda do PT deixassem a reunião antes do término. Foi o caso da senadora Heloísa Helena (AL), da corrente Democracia Socialista (DS).

– É uma aberração da executiva impedir que o debate sobre a aliança aconteça antes das prévias. Isso mostra o pior, mostra que estão se curvando à medíocre matemática eleitoral. É vergonhoso – declarou a senadora.

A crise no partido acirrou-se ontem, depois que o senador José Alencar (PL-MG), mais cotado para vice na chapa encabeçada por Luiz Inácio Lula da Silva, ter declarado ser favorável à manutenção de Armínio Fraga à frente do Banco Central (BC) e ser contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Para Heloísa, o PT não ganha ao se aliar ao PL.

– O PL não traz nenhuma vantagem ao PT. O que está havendo é um erro – disse.

Ela acrescentou que se o PT fechar com o PL se tornará um partido “igual aos outros”.

O presidente nacional do PT, deputado José Dirceu (SP), afirmou que a aliança com o partido de Alencar não foi discutida na reunião de ontem porque, no encontro nacional do partido, em dezembro, ficou determinado que as questões de alianças seriam debatidas no diretório nacional e não na executiva.

– Fizemos o que foi determinado no encontro. Não tem nenhum sentido aprovar ou não agora as alianças porque os outros partidos ainda não se decidiram. Isso é assunto para maio ou junho – afirmou Dirceu.

Ele garantiu que o PT só fará alianças se houver um acordo em torno do futuro programa de governo.

– Não vamos abrir mão de nenhuma de nossas bandeiras fundamentais – disse.

Sobre as declarações de Alencar, Dirceu limitou-se a dizer:
– O senador pode ter a opinião dele.

Lula disse ontem que voltará a crescer nas pesquisas quando os diretórios regionais do partido definirem oficialmente os seus candidatos aos Estados.

– Vamos fazer programas eleitorais ligados às candidaturas dos governos estaduais – disse Lula, em entrevista à rádio Metrópole, de Salvador.

No domingo, uma pesquisa do Instituto Datafolha revelou que o pré-candidato petista caiu de 30% para 26% e está tecnicamente empatado em primeiro lugar com a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), que tem 23%.


Olívio e Tarso recebem instruções
O governador Olívio Dutra e o prefeito da Capital, Tarso Genro, encontraram-se ontem pela primeira vez desde a inscrição de suas pré-candidaturas ao Palácio Piratini, em reunião da comissão eleitoral do diretório estadual do PT.

Acompanhados de simpatizantes, os dois conheceram as regras da prévia, marcada para o dia 17 de março, e dos cinco debates que antecederão o confronto.

Em meio ao desconforto causado pelo manifesto lançado pelos apoiadores de Olívio no final de semana, acusando o prefeito de “expor as bases da Capital ao ridículo”, a reunião foi rápida e sem atropelos.

Por pouco mais de meia hora, os dois candidatos ouviram as orientações da executiva do partido e só se manifestaram sobre a necessidade de manter o diálogo em alto nível.

Na saíde, sem querer tecer comentários sobre o panfleto, o governador garantiu que “os erros serão discutidos dentro do partido” e ressaltou manter respeito e carinho pelo prefeito da Capital.
Antes, Tarso fizera questão de destacar que não permitirá que a campanha parta para o “ataque desqualificado” entre seus apoiadores e os de Olívio.

– Cada um expõe os argumentos que tem. Olívio, por sua história e gentileza, merecia argumentos mais sérios de defesa – ressaltou Tarso.


Partidos se unem contra verticalização de alianças
Líderes de siglas se reúnem hoje com presidente do TSE

Doze líderes partidários se reúnem na manhã de hoje com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Nelson Jobim, na sede do órgão, em Brasília.

Organizado pelo deputado Haroldo Lima (PC do B-BA), o grupo pretende pedir esclarecimentos sobre a proposta de estender aos Estados as coligações formadas para a campanha à Presidência da República e evitar que o tribunal se pronuncie precipitadamente sobre o tema.

Com o encontro, marcado na quinta-feira, deputados e líderes partidários pretendem pedir a Jobim que considere a posição das siglas. Eles vêem a padronização das alianças partidárias como um instrumento prejudicial ao pleito deste ano.

Participarão da reunião com o presidente do TSE presidentes e líderes do PC do B, PT, PSB, PL, PPS e PHS. O líder do PDT, Miro Teixeira (PDT-RJ), autor da consulta original ao TSE sobre o assunto, preferiu não participar da reunião, por manter seu posicionamento favorável à medida. Anteriormente líderes do PMDB e do PFL já tinham se reunido com Jobim para tratar do assunto.
Segundo Lima, caso a corte libere a vinculação das coligações, os parlamentares deverão se posicionar imediatamente, para “correr atrás do prejuízo”.

– Divergimos da forma como a questão está sendo revista pelo TSE. Por isso, tentaremos demover o ministro de uma decisão que prejudique as eleições – afirmou o líder do PC do B.

Ressaltando que a verticalização das alianças afetará negativamente algumas candidaturas, Lima lembra que os parlamentares têm capacidade de suspender determinações de qualquer Poder, caso julguem necessário, com base no artigo 49 da Constituição Federal. E não descarta a possibilidade de fazer uso desse recurso se o TSE realmente der resposta positiva à consulta de Miro.

– A medida, para a eleição deste ano, só beneficia a candidatura de Serra. Se aprovada pelo ministro, mostra que o TSE caminha para se tornar um fórum político do governo – afirma Lima.

Como o TSE tem até o dia 5 de março para baixar resoluções que determinarão as regras do próximo pleito, os líderes partidários também pretendem discutir com o ministro Jobim a revisão da cláusula de barreira, contida na Lei Orgânica dos Partidos, que condiciona a participação das siglas no Legislativo a um percentual de votos. Segundo a lei, só poderão ter representatividade os partidos que obtiverem 5% dos votos válidos.


FH reafirma engajamento na luta contra o terrorismo
O presidente defendeu a manutenção da aliança governista

Os presidentes Fernando Henrique Cardoso e Aleksander Kwasniewski, da Polônia, afirmaram ontem que seus países terão ativa participação na luta antiterrorista e prometeram estreitar relações comerciais.

Em entrevista, os líderes políticos ressaltaram a necessidade de lutar contra a lavagem de dinheiro, a pobreza, assim como de enfrentar “as causas do terrorismo”.

No plano bilateral, Kwasniewski e FH insistiram na necessidade de estreitar relações econômicas. FH demonstrou interesse do Brasil em parcerias no setor petroquímico.

Ontem, FH afirmou que continua a defender a aliança de partidos que sustenta a base de seu governo. A declaração foi feita dian te de pergunta sobre se a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), poderia ser também candidata da continuidade, assim como o senador José Serra (PSDB) – citado como “o candidato da continuidade, sem mesmice” em uma carta de FH divulgada no domingo na pré-convenção do PSDB.

– Essa é uma questão em aberto, porque pode ser que haja mais de um candidato que queira sair no mesmo caminho. Serei o último a dizer: não, não sigam. Se o caminho é o mesmo, que sigam. Mas se o caminho é o mesmo, e aí é o meu esforço, por que não coincidir? Por que não manter a aliança ? Essa é a minha posição – disse.

FH participou ontem do encerramento de um seminário de empresários brasileiros e poloneses e fez uma palestra na Escola de Economia de Varsóvia, na qual discorreu sobre problemas e acertos de seu governo. O presidente segue hoje para a Eslováquia, onde terá encontros com o presidente Rudolf Schuster.


Emprego formal é recorde desde 89
Setor criou 20 mil postos de trabalho no Rio Grande do Sul durante o ano passado

Seguindo a trajetória de expansão registrada em 2000, o emprego formal (com carteira assinada) cresceu 3,9% na indústria do Estado em 2001.

Com a criação de 20.223 postos no ano passado, o setor atingiu no Rio Grande do Sul 534.327 empregados, o maior número desde 1989. Em 2000, foram gerados 30.536 empregos no setor.

Os dados, do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, revelam que a indústria gaúcha criou 19,55% dos postos de trabalho abertos pelo setor no país no ano passado e 40% dos 50.309 surgidos no Estado.

Em janeiro passado, abriram-se em todo o país 44.228 postos de trabalho. É o segundo melhor resultado no mês desde 1992, só superado por janeiro de 2001 (48.796 postos). Nos 12 meses terminados em janeiro, foram criados 586.511 empregos formais no país: 315.211 no setor de serviços, 221.105 no comércio e 94.795 na indústria de transformação. No período, a construção civil perdeu 37.204 postos de trabalho, e a agricultura, outros 24.114.

O crescimento do emprego no mês passado concentrou-se na região Centro-Sul. No Sul, o saldo foi de 20.474 contratações, com destaque para o Rio Grande do Sul, com 10.652 novos empregos.

Os principais motores da expansão do emprego formal na indústria, segundo o presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Renan Proença, foram a excelente safra agrícola, as exportações e a maturação de grandes investimentos industriais no Estado. Ele afirma que a performance poderia ter sido ainda melhor “não fosse o problema argentino”.

O crescimento do emprego no setor industrial – que concentra 32% da força de trabalho no Estado – confirma o crescimento da atividade manufatureira gaúcha, de 4,17% em 2001, conforme o Índice de Desempenho Industrial (IDI/RS), calculado pela Fiergs.

Em todos os gêneros industriais avaliados pelo Caged, aumentaram as contratações. O setor de calçados lidera a expansão (4.784 postos), seguido de alimentos e bebidas (2.582), química (incluindo farmacêuticos e perfumaria), com 1.810, e mecânica (1.794 empregos. Calçados, com 125.380 contratados, e alimentos (89.335) são os dois segmentos com maior número total de empregados.

No Estado, a criação de postos de trabalho em 2001 foi maior no Vale do Sinos (4.297) – com destaque para Novo Hamburgo (1.313), impulsionado pelo segmento calçadista – e na Serra, com 3.997.

Dos 50.309 empregos criados no Rio Grande do Sul em 2001, o Caged aponta que, além dos 20.223 surgidos na indústria de transformação, 18.747 foram abertos pelo comércio e 12.599 pelo setor de serviços. O restante foi gerado na administração pública, na agropecuária, na construção civil, no extrativismo mineral e nos serviços industriais de utilidade pública.

No resto do país, também pelo segundo ano consecutivo, o mercado de trabalho formal teve saldo positivo em 2001. Foram gerados 591.079 empregos, ante 657.596 em 2000. Para o Ministério do Trabalho, mesmo inferior ao do ano anterior, o resultado “confirma a trajetória ascendente do nível de emprego formal da economia brasileira”.

Nos 12 meses terminados em janeiro, o saldo líquido acumulado é de 586.511 empregos formais. O setor de serviços criou 315.211 vagas, o comércio, 221.105, e a indústria de transformação, 94.795.

Conforme o Caged, o comércio foi o setor que gerou mais empregos no país em 2001, com 209.805 novos postos, seguido por serviços (310.962) e indústria de transformação (103.822). A construção civil fechou 33.404 vagas, e a agricultura, 17.128.

A Região Sudeste liderou a expansão, com 295.570 contratações, seguida pelas regiões Sul (156.014), Nordeste (60.467), Centro–Oeste (56.866) e Norte (22.162).


Artigos

A festa da democracia
Renato Santos de Souza

Estamos prestes a entrar em mais um processo eleitoral. Mais uma vez se dirá que é a festa da democracia, o momento em que o cidadão tem o poder de punir os maus políticos e elevar os bons, e de escolher o próprio destino. É verdade, meia verdade. O que temos visto na nossa frágil democracia é uma indústria de candidatos maquiados por agências de publicidade para serem vendidos ao eleitor como se vende sabão em pó ou cerveja. Mais uma vez se verá uma disputa de projetos indistingüíveis, de palavras fáceis que dizem o que as pessoas querem ouvir, e de performances puramente teatrais. Após as eleições, mais uma vez se verão bons projetos em andamento sendo abandonados para não dar crédito a adversários, e maus projetos sendo implementados para atender a interesses da coalizão vencedora. E mais uma vez se verá a formação de coalizões que aprisionarão os projetos vencedores em prol da governabilidade, ou então se verá governos aprisionados pela total falta de qualquer coalizão de poder. Enfim, mais uma vez se verão as ações políticas sendo condicionadas às repercussões que terão no pleito seguinte.

Na verdade, a democracia brasileira vive de eleições. Não no sentido de que ela apenas se manifesta na hora do voto, mas de que a eleição é que se manifesta em todas as ações de poder entre um pleito e outro, num jogo eleitoral permanente. Esta é a grande contradição da democracia: a eleição, que deveria ser apenas um meio seletivo para apontar quem deveria dispor dos recursos de poder necessários à realização de ações que levariam a um fim substantivo último (supostamente o bem comum), passa a ser um fim em si mesma, e movimenta um círculo vicioso cujas ações e os recursos de poder são usados quase sempre eleitoralmente. Na democracia, os recursos de poder nunca estão garantidos, e eles só podem ser renovados por meios eleitorais, o que faz com que a forma da sua utilização se torne refém do processo eleitoral.

Na verdade, boa parte do que falamos, manifestamos e sentimos é ambígua

É este círculo vicioso de eleição e poder que produz vícios de comportamento nas instituições e nas pessoas que dele participam, e que tornam o ambiente político partidário um tanto insalubre. Primeiro, e sobre isso os exemplos são fartos, parece claro que no nosso meio político os fins quase sempre justificam os meios. Segundo, as instituições partidárias se sobrepõem aos indivíduos numa relação de dominação, seja de forma ideológica ou burocrática, como no caso do PT (veja-se, por exemplo, a imolação do histórico Diógenes para preservar o partido), seja por pessoas que dominam a instituição e se confundem com o próprio partido. Terceiro, a boa performance política eleitoral cobra dos indivíduos um excessivo apego à coerência e às convicções, o que lhes reduz a possibilidade de evolução e aprendizado. Pessoas ambíguas e titubeantes, que têm dúvidas (de longe as mais autênticas, pois a dú vida é da natureza humana), não servem. Mas não evoluir e não aprender não seria muito pior do que fraquejar nas convicções ou ser incoerente? Já dizia Nietzsche que a certeza é mais inimiga da verdade do que as mentiras. Por fim, o excessivo policiamento que os mecanismos que movimentam este círculo vicioso têm sobre os indivíduos que estão dentro dele sacrifica uma outra natureza humana: a ambigüidade. Na verdade, boa parte do que falamos, manifestamos e sentimos é ambígua, e somente pessoas que falseiam a si conseguem parecer não-ambíguas. A não-ambigüidade é uma forma de deformação da natureza humana.

Esta “festa da democracia”, portanto, é ainda uma caricatura do que se espera de uma verdadeira democracia, aquela onde se possa realmente escolher entre fins substantivos, onde a eleição seja apenas o momento de escolher os nossos representantes, onde as ações de todos os poderes de governo sejam orientadas apenas pelo bem comum, e onde as pessoas possam fazer política sendo apenas elas mesmas. Talvez isso seja só uma utopia (creio que sim), talvez a nossa infante democracia se justifique mesmo, apesar dos seus vícios, apenas pelo fato das alternativas a ela serem todas inconcebíveis, e talvez esta ambigüidade seja mesmo uma natureza indelével da democracia, ou talvez a gente até chegue lá; de qualquer forma, como dizia Paulo Freire, não se pode alcançar o outro lado da rua sem atravessá-la.


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

PSDB fechará com PMDB
O presidente Fernando Henrique Cardoso tem procurado passar ao largo do debate, na imprensa, em torno da sucessão presidencial. No domingo, por exemplo, durante a visita ao centro antigo da capital polonesa evitou comentar o resultado da última pesquisa Datafolha que registrou empate técnico entre o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e a do PFL, a governadora Roseana Sarney. Mesmo que a posição de José Serra tenha melhorado, a única referência que Fernando Henrique avançou para efeito de avaliação foi admitir subliminarmente que nos dois casos isso representa a aprovação de seu governo. Todos sabem que, no momento oportuno, Fernando Henrique entrará em campo para decidir a disputa interna entre os aliados e assim garantir a continuidade de seu governo. Se dependesse dele, a aliança já estaria pronta no primeiro turno. Ontem, ao fazer uma palestra na Faculdade de Economia de Varsóvia, acabou dando uma força ao candidato do PSDB, o economista José Serra. O sociólogo e ex-professor Fernando Henrique declarou: “Precisamos de economistas para ajudar-nos a evitar as tentações da demagogia e do populismo, e não dar ouvidos tampouco ao canto de sereia das práticas neomercantilistas”.

A inviabilidade de acordo na base aliada na disputa sucessória no primeiro turno ficou evidente neste roteiro internacional a Suécia, Polônia e Eslováquia. Dois membros da comitiva oficial, um do PSDB e um do PFL, mostraram clara divergência. O ex-ministro Bresser Pereira, do PSDB, revelou ontem que seu partido homologará uma aliança com o PMDB que deverá indicar o candidato a vice na chapa do senador José Serra. Para ele, a candidatura da governadora do Maranhão (PFL) será mantida e isso impossibilita a aliança com o PSDB no primeiro turno. O ex-ministro, que vem defendendo a conclusão do plano de estabilização econômica com a redução das taxas de juros, garante que José Serra irá para o segundo turno quando então poderá ser acertada a aliança com o PFL. Já o deputado José Carlos Aleluia (PFL/BA) recebeu com visível entusiasmo o resultado da pesquisa Datafolha. Diz que os números estão consolidando a candidatura do PFL. O parlamentar, vice-líder do governo, não acredita que a verticalização das coligações será determinada pela justiça eleitoral. Em tese, como Fernando Henrique Cardoso, acha que esse é o caminho para fortalecer o sistema partidário brasileiro, mas não vê nenhuma chance de viabilidade nessa mudança agora, porque nenhum partido da base aliada ou da oposição tem interesse nessas alterações. A verticalização das coligações exigiria que o que for acordado na disputa presidencial deve valer também na eleição para os governadores.


JOSÉ BARRIONUEVO

Motivos para não votar em Olívio
Se o nível da campanha para a prévia for pautado pelo tom do manifesto redigido no Palácio Piratini, apontando razões para não votar em Tarso Genro, o grupo que apóia o prefeito de Porto Alegre poderá enviar aos filiados três dezenas de razões para não votar no governador – do expurgo da Ford ao caos na segurança pública, passando pelo jogo do bicho. O recado não chegou a ser dado nestes termos, utilizados ao longo do dia pelos tarsistas, muito irritados. Em sua fala na reunião da executiva estadual, ontem, Tarso apenas alfinetou Olívio, lembrando a responsabilidade dos pré-candidatos em sinalizar o nível do debate. Em nome do grupo do prefeito, Cézar Alvarez criticou o manifesto, pedindo à comissão eleitoral a suspensão de sua distribuição. Em nome dos apoiadores de Olívio, Laerte Meliga anunciou que o manifesto, distribuído em profusão e publicado em ZH, será alterado em três pontos, onde constam as críticas mais duras ao prefeito.

Ataque não deixa espaço para recuo
Nas avaliações feitas ontem pelo grupo de apoio a Tarso, o manifesto do grupo de Olívio com críticas contundentes ao prefeito dificultam o consenso. Tarso é obrigado pelas bases a participar da prévia. A coordenação da campanha, que tem sua base na sede do PT Amplo (Rua Sofia Veloso, Cidade Baixa), recebeu dezenas de manifestações das bases, que reagiram ao tom das críticas do grupo olivista.

Em notas à imprensa, a deputada Maria do Rosário, coordenadora do Movimento Construção Socialista, e o vereador Estilac Xavier, do PT Amplo, criticaram a disputa desqualificada e defenderam a preservação do bom nível do debate.

No início da tarde, o vice-prefeito Paulo Pimenta, do PT Amplo, reagiu:
– Não fica assim, vamos exigir explicações – avisou.

Finanças do Estado
Líder do PPS, o deputado Bernardo de Souza vai à tribuna amanhã, na sessão plenária da Assembléia, para fazer uma análise minuciosa da situação financeira do Estado. O passivo financeiro, devido a déficits acumulados, deve chegar a R$ 4,3 bilhões. Os investimentos na saúde, abaixo do índice determinado por lei, e o rombo no caixa único, de R$ 1,2 bilhão, são questões abordadas pelo deputado no grande expediente.

Cortina de fumaça – Enquanto isso, a Secretaria da Fazenda prepara um projeto para confundir o debate, acenando com aumento de salário para auditores e fiscais, juntamente com a unificação das duas carreiras.

Está embutida uma questão ideológica, de aniquilamento do controle interno, tendo em vista a possibilidade de reeleição de Olívio.

Plano
Prefeitos e vices do PPB se reuniram sábado de manhã em Tramandaí, na Câmara Municipal, para apresentar subsídios ao plano de governo de Celso Bernardi, com destaque para a educação. O ex-ministro Francisco Turra, que coordena o projeto, pretende concluir o trabalho no início de abril.

Bogo investe na juventude
Presidente da Organização das Cooperativas do RS, Vicente Bogo deu uma demonstração pública de liderança numa área dominada pelo PT. Reuniu em Barra do Ribeiro, durante três dias, 800 jovens que participaram do 1º Acampamento Gaúcho da Juventude Cooperativista. Por lá esteve o secretário da Agricultura, Hermeto Hoffmann, que deixa o cargo em abril para concorrer a deputado. Bogo é pré-candidato a governador pelo PSDB.

Seqüestradores com lugar assegurado no Fórum
Raimundo Rosélio Freire, um dos seqüestradores de Abílio Diniz, que vive em liberdade condicional no Ceará, não recebeu autorização do Judiciário em tempo de poder coordenar, como convidado de honra, uma das oficinas do Fórum Social Mundial, na área da segurança pública. Naila Tosca de Freitas, procurada pela polícia por atuação no seqüestro de Washington Olivetto, foi selecionada pela coordenação do FSM para atuar na tradução simultânea durante palestras em espanhol (residiu em Cuba e no Chile).

Uma dezena de colombianos, identificados politicamente com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), permaneceu duas semanas em Porto Alegre como convidados de honra do governo do Estado.

Frente trabalhista
Líder da bancada do PPS na Câmara de Porto Alegre, a vereadora Clênia Maranhão entregou aos colegas do PTB e do PDT um manifesto de apoio à formação de uma frente trabalhista no RS “pelo desenvolvimento com democracia e justiça social”.

Mirante
• Associação dos Oficiais da Brigada Militar promove na segunda quinzena de março um simpósio sobre “guerra revolucionária”. É destinado a oficiais da ativa e da reserva da BM e das Forças Armadas.

• A parceria com o Partido Liberal deve deixar o secretário Guaracy Cunha e a direção da TVE à vontade para dar uma cobertura 100% livre ao Fórum da Liberdade, em abril. Com a possibilidade de apresentar o contraditório.

• Mensageiros da caridade: enquanto Leonel Brizola acerta a aliança trabalhista, o PPS gaúcho brinca de recolher doação de móveis para mobiliar a sua nova sede.

• Tarso esteve ontem à noite em Eldorado do Sul, irá hoje a Canela e São Francisco de Paula, no fim de semana visita Santa Maria, Bagé, Pelotas, Uruguaiana, Livramento, Alegrete e São Borja. Olívio e Tarso estarão no mesmo dia em Santa Maria.

• O deputado Pompeo de Mattos (PDT) espera que o PT, que foi fundamental na aprovação da CPMF (seu partido votou contra), ajude a aprovar emenda de sua autoria, a ser votada hoje, que destina 22,5% para os municípios e 21,5% para os Estados. Verba vinculada à saúde.

• Germano Rigotto reúne hoje em seu apartamento bancadas de deputados federais e senadores de sete Estados, num movimento pela candidatura própria do PMDB. O senador Pedro Simon oficializa amanhã seu nome à prévia marcada para o dia 17.

• Deputado Cézar Busatto (PPS) autografa hoje, entre 19h e 21h, o livro Responsabilidade Social – Revolução do Nosso Tempo. No hall do Hospital Dom Vicente Scherer, da Santa Casa (Independência, 75). Assume posição reformista na busca do desenvolvimento com equilíbrio social. Pauta seu mandato dentro desta idéia, com uma série de iniciativas.

• Apoiadores de Tarso festejam o aniversário do prefeito dia 5 com jantar no Clube Farrapos (Cristiano Fischer, 133) a partir das 20h. Tarso completa 55 anos dia 6. É do signo de Peixes.

• José Vicente Brizola, pai do noivo, não foi convidado para o casamento de Leonel com Soraia, em Laguna, sábado passado.

• José Eduardo Gonçalves, secretário substituto da Saúde, garante que não foi devolvido nenhum recurso destinado ao combate à dengue, diferentemente do que foi publicado na coluna.


ROSANE DE OLIVEIRA

Ciranda eleitoral
Quem viu o prefeito Tarso Genro e o governador Olívio Dutra de mãos dadas, dançando animados a ciranda de Lia de Itamaracá, a musa do final do Fórum Social Mundial, não imagina o quanto é acirrada a disputa entre os dois. Cerca de duas horas antes, Tarso tinha espinafrado o vice-governador Rossetto – cabo eleitoral número 1 de Olívio – em entrevistas às rádios Gaúcha e Bandeirantes, e reclamado do que classificou de boicote da TV Educativa a sua participação na abertura do Fórum.

Diante dos convidados, o PT preservou a unidade. Sentados lado a lado, Olívio e Tarso pareciam apenas bons companheiros. Chegaram a cochichar algumas vezes, deram-se as mãos e dançaram conforme a música. Uma jovem morena os separou minutos depois na dança da ciranda e a partir daí cada um sambou para o seu lado.

Encerrado o Fórum, a campanha interna passa a ocupar toda a agenda do PT. Se nenhum dos dois se retirar da disputa – o que parece difícil faltando 10 dias para o registro das candidaturas – a guerra será inevitável. A oposição aposta que o PT não conseguirá juntar os cacos depois. Com medo de gastar numa disputa interna a energia que precisará na eleição de 6 de outubro, os principais líderes do PT defendem o consenso. Só que ninguém quer ceder e cada ala acha que seu candidato tem mais chances de vencer.

Os defensores da candidatura de Olívio criticaram o prefeito por ter precipitado o debate, quando o mais conveniente seria manter a disputa adormecida até a realização do Fórum. E passaram a acusar Tarso de estar contribuindo para a divisão do partido – que dividido está desde a prévia de 1998.

Baseado em pesquisas que apontam menor índice de rejeição, Tarso está convencido de que tem mais chances de vencer a eleição. Líderes europeus que participaram do Fórum chegaram a aconselhar o prefeito a desistir da disputa, para não prejudicar o trabalho que vem fazendo na prefeitura, mas era tarde. As correntes que apóiam Tarso exigem que os filiados escolham o candidato. Se perder a prévia, Tarso continua na prefeitura e seus apoiadores partem para uma segunda briga, a da indicação do vice. Se ganhar, Tarso terá de renunciar ao mandato de prefeito até 4 de abril, correndo o risco de ficar sem mandato até 2006.


Correção: A coluna de ontem embaralhou as datas: o 1º Fórum Social Mundial foi realizado em 2001, e não em 1999.


Aviso: As férias estão começando hoje. Até a volta, em março.
  • Coluna publicada na edição de 6/2/2002. O colunista está em férias


    Editorial

    APOIO AO PRESIDENTE

    O presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a amargar, em seu segundo mandato, índices constrangedores de impopularidade. Em setembro de 1999 o seu governo foi considerado ruim ou péssimo por 56% dos entrevistados pelo Datafolha, enquanto somavam apenas 13% que consideravam sua atuação como ótima ou boa. Essa aprovação máxima já atingira 47% em dezembro de 1996, segundo ano do primeiro mandato. Entende-se: enquanto em 1996 o controle da inflação fazia sentir seus benefícios de forma incontrastada, em 1999 a nação enfrentava um choque cambial derivado de ataques externos à moeda.

    De lá para cá as condições do país mudaram para melhor o suficiente para que o presidente possa iniciar o seu último ano de governo com uma avaliação popular que lhe atribui 31% de votos no item ótimo/bom, segundo o Datafolha. Considerados os 38% que lhe deram nota regular, alcança-se um total de 69% que podem ser entendidos como de aceitação ao governo, o que não deixa de ser um feito respeitável por parte de um presidente que há mais de sete anos governa um país extremamente problemático nas suas deficiências internas e que, além disso, atravessou períodos externos de acentuada turbulência, culminando com o ingresso da economia dos EUA em fase de forte desaquecimento.

    A principal preocupação dos brasileiros é agora o desemprego,
    seguido da violência

    A mesma pesquisa que detectou alta na popularidade do presidente da República mostrou que a grande preocupação dos consultados é neste momento o desemprego, que aparece com 32% das indicações, seguido da violência, com 21%. Ora, eis aí um ideário pronto para aqueles que almejam sentar-se na cadeira do senhor Fernando Henrique Cardoso a partir de janeiro do ano que vem. De fato, é preciso fazer com que um país que teve a sua economia inserida em padrões modernizados e globalizados volte a oferecer empregos, sobretudo aos trabalhadores despreparados para os novos tempos. E certamente a abertura de amplas frentes de trabalho contribuirá, por si só, para reduzir a ociosidade jovem, que é uma das principais causas da alta criminalidade brasileira.


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    02/26/2002


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