Reale Jr. se demite da Justiça; FHC anuncia novo ministro







Reale Jr. se demite da Justiça; FHC anuncia novo ministro
Intervenção no ES provocou saída; secretário Paulo de Tarso Ribeiro deve assumir

O presidente Fernando Henrique Cardoso aceitou ontem o pedido de demissão do ministro da Justiça, Miguel Reale Júnior, e anunciou como seu substituto o atual secretário de Direito Econômico do ministério, Paulo de Tarso Ramos Ribeiro. O ex-ministro entrega oficialmente o cargo hoje, ao chegar a Brasília.

Reale Júnior, sétimo titular da nos dois mandatos de FHC, pediu demissão após ter sido desautorizado pelo presidente a levar adiante a proposta de intervenção federal no Espírito Santo, aprovada na semana passada pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana.

O ex-ministro conversou com o presidente por telefone ontem à noite. FHC afirmou que não havia motivo para a decisão, porque a confiança do ministro não teria sido quebrada. Como Reale Júnior insistiu em entregar o cargo, o presidente aceitou a demissão.

FHC conversou ontem com o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro. Segundo Brindeiro, o presidente teria dito que a intervenção era inviável politicamente e o teria convencido a desistir de apresentar o pedido ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Após a audiência, Brindeiro foi autorizado por FHC a convocar uma entrevista para anunciar a sua desistência e dizer que o governo adotará uma alternativa: promover uma força-tarefa com o apoio da PF, semelhante à que foi criada para atuar no Rio.

Na última quinta-feira, Reale Júnior encaminhou a Brindeiro um relatório aprovado pelo CDDPH sobre a intervenção no Espírito Santo, segundo o qual autoridades do Executivo e Legislativo estariam envolvidas com o crime organizado e grupos de extermínio ou seriam omissas.

Na quinta-feira, Brindeiro afirmou que a sua tendência seria encaminhar o pedido ao STF para aprovação do decreto de intervenção. Ontem, ele disse que tem dúvidas sobre a viabilidade jurídica. "Eu entendi que há inviabilidade jurídica, mas também suspeitava da inviabilidade política por razões óbvias."

Brindeiro disse que FHC e ele consideram a intervenção inviável politicamente porque ela não seria concluída antes da posse do novo governador e eventualmente ele teria que ser afastado.

O procurador-geral, que aprovou o pedido de intervenção no conselho, do qual faz parte, negou que tenha mudado de opinião. Ele disse que se declarou em princípio favorável porque não poderia desrespeitar uma decisão do conselho. A intervenção fica descartada porque somente Brindeiro poderia enviar o pedido ao STF.

Reale Júnior, 58, assumiu o ministério em 3 de abril. É segundo suplente do senador e candidato ao Planalto José Serra (PSDB).


"Sinto-me traído", diz FHC a ex-ministro pelo telefone
Em conversa tensa, Reale Jr. responde que o presidente o deixou "fragilizado"

Terminaram com um diálogo áspero os três meses de convivência do presidente Fernando Henrique Cardoso com o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Jr.

Amigos pessoais, os dois trocaram palavras duras num telefonema no começo da noite de ontem, quando Reale Jr. comunicou ao presidente que sua decisão de pedir demissão era irreversível.

"Estou no meio de uma grave crise financeira e política. Estou a cinco meses do fim de meu mandato. Como é que eu fico? Sinto-me traído", afirmou o presidente, segundo as palavras de Reale Jr., ao relatar o diálogo.
O ex-ministro respondeu no mesmo tom. Disse que tinha afeto pessoal por FHC, mas não ficaria no governo por se sentir "fragilizado para o exercício do cargo".

"E eu, como é que fico?", declarou Reale Jr. à Folha. Numa espécie de desabafo, Reale Jr. lamentou o desfecho do episódio da intervenção no Espírito Santo. Ele esperava que o presidente, depois de ouvir os argumentos contrários do procurador-geral, Geraldo Brindeiro, mantivesse a decisão de intervir no Estado.
Reale Jr. acredita que o presidente, que já havia concordado com a hipótese da intervenção, deveria ter jogado nos ombros de Brindeiro a responsabilidade pelo arquivamento do caso.

Depois do recuo de FHC, o ex-ministro passou a achar que qualquer decisão que tomasse poderia ser desfeita imediatamente. "Com que autoridade vou passar comando para a Polícia Federal? Com que cara eu fico perante a sociedade, perante mim mesmo?", disse o ex-ministro.

Ainda segundo Reale Jr., por se sentir desprestigiado pelo presidente, ele se via também desarvorado na luta contra o crime organizado.

O ex-ministro reconheceu que o presidente lhe deu força em vários episódios, como por exemplo na permissão para contratar 6.000 novos agentes federais. Ele acredita, no entanto, que também deu uma quota de sacrifício ao governo, combatendo o crime organizado com riscos pessoais.

Faria parte ainda dessa quota o desgaste que sofreu no episódio em que o PT acusou o governo de, por meio da Polícia Federal, espionar seus dirigentes. "Saí sozinho em defesa do governo. Não teve um único deputado que levantasse a voz para me defender", afirmou Reale Jr.


Ciro promete juros maiores para alongar dívida pública
Candidato do PPS foi o primeiro entrevistado no "Jornal Nacional"

O candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, propôs ontem, durante entrevista ao ""Jornal Nacional", a concessão de taxas de juros superiores para os credores que concordarem com o alongamento de prazos para o pagamento da dívida interna brasileira.

""Premiar voluntariamente o aplicador que queira alongar o prazo com uma taxa de juros mais alta. Quem emprestar por mais longo prazo recebe um pouco mais de prêmio", declarou.

Ciro enfatizou ser contrário a rompimentos de contratos e a medidas unilaterais que possam prejudicar o poupador nacional.

O ex-ministro foi o primeiro dos quatro principais candidatos à Presidência a ser entrevistado na Rede Globo. Conforme a ordem das aparições, definida por sorteio, hoje será a vez de Anthony Garotinho, do PSB.
O presidenciável do PPS ainda foi questionado sobre uma suposta dificuldade de negociação diante de sua fama de possuir um temperamento explosivo.

Segundo ele, costuma-se confundir ""pavio curto com afirmação". ""Sou indignado. O Brasil tem hoje coisas que não dá. A não ser que você seja um verme, não é para ficar bancando o lorde inglês quando a sociedade está com 11,5 milhões de desempregados."

Na avaliação do candidato, o melhor caminho para o país seria o equilíbrio entre a negociação e a mobilização. ""Se só negociar nos gabinetes de Brasília, a tendência é a de que o presidente acabe refém dos interesses de um setor privilegiado e organizado da sociedade. Se fizer só o apelo populista às massas, estará trazendo crises e tensões que não são boas."

Na entrevista, que durou 10min34s, Ciro falou por 6min47s (64,2%), e os apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes, por 2min37s e 1min10s, respectivamente, totalizando 35,8% do tempo. A conversa com o candidato fez subir em um ponto a média de audiência do "JN", segundo dados prévios do Ibope.

Antes do intervalo que precedeu a entrevista, o noticiário estava com 37 pontos. Ao começar a entrevista, a Globo tinha 36 pontos, que foram subindo até atingir pico de 39,6 pontos, às 20h55, praticamente na metade da conversa.

Ao final da fala de Ciro, o "Jornal Nacional" contava com 38,8 pontos ou cerca de 1,847 milhão de domicílios na Grande São Paulo -cada ponto do Ibope equivale a 47.600 domicílios na região. A audiência média da entrevista foi de 38 pontos. Cerca de 51% das TVs estavam ligadas no noticiário nesse período. A média de audiência do "JN" é de 40 pontos.

Em entrevista à GloboNews mais tarde, o candidato se posicionou contra a privatização da Petrobras e defendeu a participação do governo na administração de tarifas públicas.

""Isso é o governo que manda, não é interferir. Se não tivéssemos os preços administrados pelo governo hoje, a inflação estava em zero. Se você olhar a evolução dos preços nos oito anos do Plano Real, os preços administrados pelo governo, aqueles não-concorrenciais, sobre os quais o governo tem um poder regulatório de fiscalização definitivo, explodiram."


"Preferia falar de segurança", diz candidato
O candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, criticou a condução da entrevista concedida ontem ao "Jornal Nacional", da Rede Globo.

"Preferia falar de segurança, saúde e educação, mas me puxaram para discutir tecnicalidades da dívida pública", disse Ciro após a entrevista, em frente à sede da emissora na zona sul do Rio.

Ciro voltou a dizer que não se comprometerá com nenhum documento de transição que venha a ser assinado entre o Brasil e o FMI (Fundo Monetário Internacional), para dar uma suposta tranquilidade à transição política.

"Eu não posso fazer nada para ajudar o Brasil hoje. Não vou me comprometer com nenhuma dessas políticas equivocadas [do governo federal"", disse Ciro.

O documento de transição que estaria sendo discutido com o FMI para servir de base a um novo acordo prevê que os candidatos à sucessão se comprometam a manter um superávit primário (receitas menos despesas, sem contar o pagamento de juros) de 3,75% do PIB, a independência operacional do Banco Central em 2003, um sistema de metas de inflação e manutenção dos contratos já firmados.

Ciro se disse a favor da manter o superávit primário, mas não aceita estipular um índice prévio com o FMI. "Não há força nenhuma e qualquer chantagem que me imponha qual é o nível de superávit para fazer face a esse capricho de um modelo de desenvolvimento que gerou as mais baixas taxas de crescimento econômico do último meio século", disse.

O candidato afirmou que seu adversário do PT, Lula, caiu "numa armadilha de ficar replicando políticas econômicas equivocadas". Se eleito, Ciro afirmou que dará uma grande autonomia operacional ao BC para que possa desenvolver uma política monetária autônoma, sem interferência política. Ele disse que o BC terá uma "taxa de desconforto", a ser calculada pelo equilíbrio entre o piso do crescimento econômico e o teto da inflação.


Cavallo e Ciro debatem Mercosul na Argentina
Os ministros Ciro Gomes e Domingo Cavallo tomam café em Buenos Aires, após discutirem a entrada em vigor do Mercosul, em 1995; Ciro achou o café muito caro (US$ 1,90), e Cavallo retrucou que o pó vinha do Brasil


Lula diz que nunca esteve tão perto de vencer
Mesmo afirmando que não vai criticar os adversários nem o presidente Fernando Henrique Cardoso, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em seu primeiro comício de campanha, atacou a atual política econômica.

"Eles os governistas" têm medo que ganhemos porque sabem que vamos mudar a política econômica. Em nosso governo, cada centavo emprestado terá de gerar um posto de emprego", disse.

Em discurso para cerca de 15 mil pessoas, segundo os organizadores, Lula disse que nunca esteve tão perto da vitória. "O jogo começou agora, nossos adversários não agem conosco com a mesma lisura com que agimos com eles."

Para Lula, o governo embasou a estabilidade na ciranda financeira e não na produção. "Venderam quase todas as estatais e não aplicaram na educação, na saúde, na habitação, na geração de empregos e na produção. Atualmente, não temos nada o que fazer senão aumentar juros", afirmou.

Ao lado de Marina Sant'anna (PT), candidata ao governo goiano, Lula fez um discurso em defesa das mulheres, sem apresentar propostas. Lembrou apenas que, desde 1991, o estatuto do partido prevê que 30% das vagas devem ser ocupadas por mulheres.


Ciro "verbaliza melhor", admite líder tucano
A subida do presidenciável Ciro Gomes (PPS) nas pesquisas deixou os tucanos alertas em relação a uma arma do adversário: o discurso de Ciro, considerado pelos tucanos forte e bem aceito por parte do eleitorado.
Segundo pesquisa Datafolha divulgada anteontem, Serra tem 20% das intenções de voto e Ciro, 18% (sete pontos a mais do que tinha na pesquisa de 7 de junho).

Integrantes da campanha de Serra avaliam que o crescimento de Ciro é apenas um reflexo da exposição que teve na TV no mês de junho.

Por outro lado, admitem que, dos adversários, Ciro é o que tem o melhor discurso. "Vamos admitir que Ciro verbaliza melhor, mas isso não significa que é o que tem maior consistência", disse o candidato ao Senado pelo PSDB e presidente nacional do partido, José Aníbal. "As pessoas têm de saber que falar bem não significa que o candidato sabe das coisas."

Ciro possui um discurso crítico em relação à política econômica do governo FHC e ao próprio Serra.
A análise dentro do PSDB é que a retórica de Ciro deve ser neutralizada assim que começar a campanha na TV, em agosto. Nos três dias por semana de horário gratuito, Serra terá mais do que o dobro do tempo de Ciro.


PL quer vice de Lula no palanque de Maluf
Partido, coligado com o ex-prefeito em SP, pretende usar Alencar como arma contra Alckmin (PSDB)

O PL pretende colocar sua principal liderança nacional, o senador José Alencar (MG), vice de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para ajudar a campanha de Paulo Maluf (PPB) em São Paulo, a persistir o cenário de polarização do ex-prefeito com o PSDB. Apesar de aliados ao petista na esfera federal, os liberais estão coligados com Maluf no Estado.

Já há um entendimento preliminar entre a direção do partido e o senador de que, em algum momento da campanha, Alencar será chamado a dar apoio formal ao ex-prefeito -possivelmente até mesmo participando de atividades de campanha.

Este momento seria o período final da campanha (final de agosto ou setembro), quando, acredita o PL, estará mais caracterizada a polarização entre Maluf e o governador, Geraldo Alckmin (PSDB).

Caso a polarização não esteja evidente no primeiro turno, apenas no segundo, Alencar será, então, um trunfo para a etapa final. De acordo com o Datafolha, Maluf tem 43%, contra 25% do tucano. José Genoino (PT) tem 9%.

"Quando estiver caracterizada mais claramente a polarização, que se dará provavelmente entre Maluf e Alckmin, o senador Alencar será chamado pelo partido para dar sua contribuição ao pepebista"", disse Tarcísio Tadeu, secretário-geral do PL-SP.

Segundo ele, o assunto já foi debatido rapidamente pela direção do partido com o senador na convenção nacional do PL, que ocorreu em Brasília em 23 de junho.

"Não há problema por parte do senador, homem de partido. Nem haverá por parte dos petistas, tenho certeza, já que isso ajudaria a dar votos ao Lula entre o eleitorado malufista", declarou Tadeu.

Pelo fato de muitos eleitores fazerem a ligação Maluf-Lula, uma participação de Alencar na campanha do ex-prefeito não deve enfrentar oposição frontal da direção nacional petista, segundo a Folha apurou. Entre o comando de campanha de Genoino, no entanto, haveria resistência.

De acordo com o dirigente do PL, o "chamado" para que Alencar participe da campanha de Maluf não ocorrerá agora por dois motivos. Em primeiro lugar, porque a prioridade é que o senador agora se dedique a viajar com Lula pelo país.

Também porque o PL não considera impossível que o próprio Genoino passe o segundo turno, apesar de ser um cenário visto como pouco provável. "Vamos esperar um pouco", disse Tadeu.

No último sábado, Alencar, questionado se subiria no palanque de Maluf, desconversou: "Meus palanques são os do Lula." No mesmo dia, em São Paulo, ele pediu voto para Genoino, apesar d a coligação com Maluf.
"Não há problema para nós que isso ocorra, já que há um traço comum entre Genoino e Maluf: o fato de serem palanques de Lula no Estado", declarou.

Ontem, Maluf afirmou que gostaria de ter o senador mineiro em seu palanque. "Se José Alencar quiser [subir no meu palanque", com toda a alegria. Todos podem subir no meu palanque", disse.

Pesquisa
Genoino se disse ontem satisfeito com a pesquisa Datafolha. "Estou subindo residualmente e, à medida que ficar mais conhecido, vou subir a galope", declarou.

Já Alckmin considerou que, até agora, na disputa eleitoral, era "só treino". "Treino é treino, jogo é jogo", declarou.


Artigos

Renascimento?
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - Era uma vez um notável sociólogo chamado Fernando Henrique Cardoso, que, inebriado pelo poder, chegou a achar que o mundo todo passava por um novo Renascimento, uma nova idade de ouro.
Giorgio Vasari (1511-1574), considerado o primeiro a cunhar a expressão "rinascita", dela diz: "Quem contemplou a história da arte em sua ascensão e em seu declínio compreenderá mais facilmente o sucesso de seu renascimento e da perfeição a que tem chegado em nossos dias".

Muito bem. Contemplemos, pois, a "perfeição" política dos "nossos dias", ou, mais exatamente, do dia de ontem, conforme traçada pela pesquisa Datafolha a respeito das eleições nos três principais Estados brasileiros.

Há de fato um renascimento. Renasce Paulo Salim Maluf, que, se a eleição fosse agora, eleger-se-ia já no primeiro turno. Renasce Orestes Quércia, que voltaria ao Senado.

Não renasce, mas mantém-se muito vivo Romeu Tuma.

No Rio, não renasce, mas nasce uma senhora chamada Rosinha Mateus, que jamais disputou uma eleição na vida, mas pode, de saída, eleger-se governadora.

Em Minas, ainda tem grandes chances de renascer o vice-governador Newton Cardoso, segundo colocado na pesquisa,dez pontos atrás do tucano Aécio Neves.

Nada contra (nem a favor tampouco) de nenhum dos nomes que marcam esse novo "renascimento". Mas é forçoso reconhecer que todos eles carregam, aos olhos de FHC e da intelectualidade tucana, um defeito imperdoável: ou são populistas, ou são demagogos, ou são pouco responsáveis fiscalmente, ou são tudo isso ao mesmo tempo.

Claro está que seria exagerado culpar Fernando Henrique pelo fato de políticos como os mencionados estarem na bica do renascimento ou da consolidação. A culpa (ou mérito, depende do ponto de vista de cada um) é do público.

Mas os fatos provam que a revolução política prometida pelo tucanato -e que, ainda por cima, teve oito anos para tentar fazê-la- não passou de mais um engodo. Bem-vindos, pois, ao passado.


Colunistas

PAINEL

Grampolândia
Empatado tecnicamente com Serra no segundo lugar, Ciro Gomes (PPS) foi procurado por duas pessoas que, apresentando-se como integrantes da comunidade de informações, o advertiram de que o seu telefone celular, o de sua secretaria e o de um assessor foram grampeados.

Saudação padronizada
Os dois assessores identificaram-se ao candidato do PPS e disseram, inclusive, o "cargo" que ocupam na comunidade de informações. Desde então, o assessor de Ciro, ao atender o celular pela manhã, diz, ironicamente: "Bom dia, araponga".

Efeito das pesquisas
José Serra cancelou o roteiro de viagens internacionais que faria até a eleição. O comando da campanha tucana considera que, com a subida de Ciro nas pesquisas, é mais prudente se dedicar ao corpo-a-corpo da campanha pelo interior do país.

Fraquezas regionais
Serra (PSDB) iria ainda neste mês a Nova York encontrar-se com banqueiros e empresários. Em agosto, estava prevista uma viagem à Europa. No lugar da agenda externa, irá visitar Estados do Norte e do Centro-Oeste.

Merco-crime
Em sua visita hoje a Corumbá (MS), José Serra (PSDB) será cobrado pelos políticos locais sobre suas propostas para o policiamento de fronteira. A cidade, vizinha da Bolívia, registra aumento nos casos de tráfico de drogas, roubos e homicídios.

Motivo de força maior
A pedido de Lula e Serra, a TV Record adiou de julho para setembro o debate com os presidenciáveis. Há duas datas disponíveis: 2 e 9. O debate de candidatos ao governo de SP deverá ser no próximo dia 22.

Outra equipe
Lucas Pacheco, marqueteiro da campanha de Collor ao governo de Alagoas, deixou a MCI, empresa de Antônio Lavareda, que trabalha para José Serra.

Lobby da bola
Maluf, que ontem almoçou com o pentacampeão Roberto Carlos, tem gravados depoimentos de outros atletas para a sua campanha: Giovane (vôlei) e Karina (basquete). Marta, ex-pivô da seleção feminina de basquete, também deve aparecer no programa do pepebista.

Lição do passado
Tucanos usam o desempenho de Mário Covas, na eleição estadual de 1998, para dizer que o atual desempenho de Maluf (43% contra 25% de Geraldo Alckmin) não os preocupa: em julho de 98, o pepebista tinha 25% nas pesquisas, contra 18% de Covas e 27% de Rossi.

Divergência interna
O senador Roberto Freire atuou para que a Frente Trabalhista não apoiasse unida a candidatura de Esperidião Amin (PPB-SC) à reeleição. Sérgio Grando, que dera sinais de desistência, lançou-se candidato do PPS ao governo no final de semana a pedido de Freire.

Ação e reação
A decisão do PPS de ter candidato próprio balançou a intenção de Amin de apoiar Ciro Gomes à Presidência. O governador de SC continua tendo apoio do PTB e do PDT, mas assessores dizem que ele "pessoalmente" tende a ficar com Serra.

Cem testemunhas
Anthony Garotinho (PSB) ameaça demitir o cerimonial de sua candidatura caso se repita o fracasso registrado em seu comício em Jaboatão dos Guararapes (PE), onde falou para pouco mais de cem pessoas. A ordem agora é só levar o candidato para palanques quando houver a certeza de uma boa lotação.

À revelia
A coligação que apóia Fernando Collor ao governo de Alagoas (PRTB, PFL, PPB, PPS e PTB) decidirá nos próximos dias que candidato à Presidência apoiará. Collor não descarta apoiar nem Ciro nem Serra, e diz que fará campanha para o escolhido mesmo que ele não queira.

TIROTEIO

Do prefeito Márcio França (São Vicente), coordenador da candidatura de Garotinho (PSB), sobre a militância do PT na campanha de Lula:
- Agora não existe mais o militante voluntário no PT. A famosa militância petista só funciona na base do holerite.

CONTRAPONTO

Vencido pela família
Há cerca de dez dias, o candidato do PSDB ao governo de MG, Aécio Neves, discutiu com o ex-governador Leonel Brizola o apoio do PDT à sua candidatura. No encontro, Brizola recorreu à memória de Tancredo Neves, avô do deputado, para dizer que, mesmo filiado ao PSDB, Aécio deveria dar palanque a Ciro Gomes (PPS). Em troca, o PDT o apoiaria no Estado.
- Aecinho, tu tens que ser que nem o Tancredo. Saber que Minas é suprapartidária, paira acima de qualquer partido. Está no seu sangue! - disse Brizola.
O líder do PDT acrescentou:
- FHC não gostava do Tancredo, o Serra não gostava...
A arenga demorou vários minutos. Até que Aécio admitiu:
- Não posso negar. Sou do PSDB, mas tenho de estar aberto aos apoios.
Na hora, Brizola vibrou:
- É isso! Tu és o Tancredo com 40 anos a menos...


Editorial

A APOSTA DE MALUF

Muitos vaticinaram a "morte" do malufismo no Estado de São Paulo depois do melancólico governo de Celso Pitta na capital e, especialmente, depois de duas derrotas eleitorais seguidas de Paulo Maluf -para Mário Covas, em 1998, na disputa pelo governo do Estado e para Marta Suplicy, em 2000, no pleito para a Prefeitura de São Paulo. Mas a espantosa resistência dessa corrente política pode estar sendo novamente demonstrada.

Diz a mais recente pesquisa do Datafolha que, se a eleição para o Palácio dos Bandeirantes fosse hoje, Maluf teria chance de vencê-la sem necessitar de segundo turno. Com 43% das intenções de voto, o patamar do pepebista é ligeiramente superior ao atingido pelo somatório das preferências de seus adversários (40%), embora ainda se configure empate técnico entre as cifras. Vencer no primeiro turno -e evitar a repetição de uma rodada final de cunho plebiscitário- é a estratégia de campanha mais conveniente para Maluf.

O fôlego do malufismo está associado à existência de uma expressiva parcela de perfil autoritário e conservador no eleitorado. Uma breve retrospectiva dos dois pleitos anteriores ilustra bem o fenômeno.

Em 1994, Paulo Maluf não estava na disputa, mas o candidato que mais catalisou o voto popular-conservador foi Francisco Rossi, que se qualificou para o segundo turno com 22% dos votos válidos (contra 47% de Mário Covas). Em 1998, a soma das votações de Maluf e Rossi no primeiro escrutínio superou os 49%. No processo sucessório atual, Maluf não terá a concorrência de Rossi nem de nenhum outro candidato de perfil parecido ao seu, o que pode facilitar ao pepebista a obtenção da hegemonia nessa faixa do eleitorado.

A questão é saber se o malufismo conseguirá quebrar o tabu de nunca ter vencido eleição direta para o governo de São Paulo. Para isso, aos votos de seu estrato tradicional terá de acrescentar endosso de uma parte do "centro" -o eleitor normalmente mais moderado. Com o ambiente da disputa dominado, como está, pelo tema da segurança pública -em que a imagem do ex-governador exerce conhecido apelo-, Maluf talvez possa ter oportunidade única de receber apoio que extrapole o de seu eleitorado habitual.


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07/09/2002


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