Relator aponta contradições no depoimento do ex-tesoureiro do PT



O ex-tesoureiro do PT, Jairo Carneiro, reafirmou ontem na CPI da Segurança Pública que inventou as afirmações aos jornalistas do Diário Gaúcho envolvendo a compra de um imóvel pelo Clube de Seguros da Cidadania com recursos oriundos do jogo do bicho. Também os dois ex-proprietários do imóvel foram ouvidos a respeito dos detalhes da negociação. Jairo Carneiro, no início da sessão, solicitou depoimento em sigilo alegando prejuízos profissionais e familiares, mas o pedido foi negado pela CPI.

Disse que fez os primeiros contatos para a locação do imóvel e supervisionou a reforma do prédio. Sobre a negociação de compra, ficou sabendo quando já havia sido efetuada por Diógenes Oliveira, do Clube da Cidadania. Carneiro explicou que saldou sua dívida de R$ 37 mil com o PT através de arrecadação financeira em sua família, uma vez que ao ser expulso do partido ficou sem fonte de renda. Negou qualquer conversa com membros do PT no dia de seu primeiro depoimento à CPI, em 26 de junho. Contou que falou apenas com o presidente da CPI, deputado Valdir Andres (PPB) e com o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke. Apesar de a quebra de sigilo telefônico confirmar duas ligações do PT para o seu celular naquele dia, Carneiro negou a conversa. Também revelou que no dia 26, antes de depor, esteve com os jornalistas do Diário Gaúcho no Shopping João Pessoa e em seguida procurou seu advogado.

O ex-tesoureiro do PT admitiu ter concedido, por celular, pouco antes de se dirigir à CPI para depor, uma rápida entrevista para a Rádio Guaíba. O relator identificou a ligação como tendo sido feita às 16h40min, com duração de 100 segundos e questionou o depoente sobre sua negativa em atender ligação anterior de um telefone fixo da sede do PT para o mesmo telefone celular, efetuada menos de uma hora antes (às 1545min). No mesmo dia, às 19h21min, o celular de Jairo recebeu ligação de um celular que está em nome do PT. A conversa dura 2 min e 50 segundos e também foi negada pelo depoente. Jairo Carneiro insistiu na negativa de ter contactado com alguém do PT no dia do seu depoimento, admitindo que talvez sua esposa tenha recebido as ligações. Confirmou que no dia anterior falou por telefone com Paulo Ferreira, da Executiva do PT, para uma orientação sobre o depoimento na CPI, mas o petista teria dito para ele "se virar".

Ivo Toledo Borne e sua filha, Betina, ex-proprietários do imóvel na Av. Farrapos, confirmaram os detalhes da negociação de venda para o Clube de Seguros da Cidadania, através de Diógenes Oliveira. A compra foi parcelada 18 vezes, mas o Clube sempre antecipava, em dinheiro, as parcelas mensais, até quitar totalmente o imóvel (R$ 310 mil) em dezembro de 98.

Sonegação fiscal- Para o relator da CPI, deputado Vieira da Cunha, o relatório final vai apontar os fatos, os indícios e as provas, que poderão configurar a prática de atos ilícitos, como sonegação fiscal. O testemunho de Carneiro não será analisado de forma isolada, adiantou.

Vieira estranhou que o ex-tesoureiro ainda mantenha relação de amizade com militantes do PT que o expulsaram do partido. Outra dúvida do relator é quanto a renda de Carneiro, que mesmo desempregado devolveu os R$ 37 mil para saldar sua dívida com o PT em dinheiro, atribuindo a origem a sua família, o que não convenceu o relator. "Quem não tem a esconder a origem do seu dinheiro trabalha com cheque", afirmou Vieira, estranhando que pagamentos e negócios envolvendo grandes somas tenham sido feitos sempre em dinheiro, "que não deixa rastro", concluiu.



10/19/2001


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