Relatório da educação será apresentado em outubro, diz Cristovam Buarque



Em pronunciamento nesta terça-feira (25), o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) disse que pretende apresentar em outubro o relatório final da "Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Apagão Intelectual Brasileiro". Embora a CPI não tenha sido de fato criada, o senador explicou que vem trabalhando de forma "silenciosa", a partir da troca de informações com especialistas e da leitura de publicações sobre o tema.

De autoria de Cristovam, o requerimento para a criação da CPI da Educação havia sido lido em 15 de maio último, junto com os pedidos de criação de duas CPIs sobre a Petrobras e uma sobre as questões indígena, fundiária e ambiental na Amazônia. A comissão teria o objetivo de apurar as causas estruturais do retrocesso na qualidade da educação básica, indicado pelo resultado do último sistema de avaliação do setor, que caracterizaria "o rumo do Brasil para um crítico apagão intelectual". No dia 18 daquele mês, dez senadores retiraram suas assinaturas do requerimento, fazendo com que fosse arquivado. As demais comissões foram mantidas.

O senador disse que o relatório da comissão, intitulado Uma Nação em Risco e dividido em dois capítulos, irá apontar os principais riscos a que estará exposto o país caso não sejam adotadas medidas futuras para o aprimoramento da educação. O título do relatório é inspirado em documento do governo Bill Clinton no qual as autoridades dos Estados Unidos apontavam as dificuldades enfrentadas pela educação daquele país nos anos 90.

Entre os setores que estarão em risco no futuro em razão da educação precária destaca-se o a defesa nacional, disse Cristovam Buarque. Segundo ele, de pouco vai adiantar a compra de equipamentos sofisticados de segurança para as Forças Armadas, a exemplo de submarinos, se o Brasil não dominar a tecnologia que possibilita a operação desses armamentos.

- O Iraque era um dos mais armados. Os Estados Unidos o invadiram e acharam um país aberto, pois o funcionamento dos equipamentos dependia de conhecimento produzido no exterior. Um país deseducado é um país desarmado. Passou o tempo que bastava ensinar um soldado a olhar a mira do fuzil. Hoje as armas são sofisticadas. Somos um país absolutamente vulnerável por falta de ciência e tecnologia para fazer funcionar a defesa nacional - alertou.

Cristovam também apontou o risco futuro de divisão do Brasil entre os que detêm e os que não detêm conhecimento. Essa divisão, segundo ele, se agravará e o país terá uma ruptura em sua unidade social, que já se manifesta pelo quadro atual de violência, "que tem muito a ver com o grau de deseducação, não porque os pobres sejam violentos, mas porque os pobres não têm alternativa a não ser usar a violência"

- Caímos na violência por falta de alternativas à parcela pobre, que não tem alternativa porque não tem educação - afirmou.

Cristovam também afirmou que o Brasil caminha para o apagão da mão de obra, problema que já viria impedindo o avanço da economia do país em diversos setores. Para ilustrar o fato, o senador contou o caso de dois empresários que desistiram de montar um haras em determinado estado do país em razão da falta de trabalhadores qualificados. O senador os questionou sobre as exigências para a escolha, e os empresários responderam que os custos envolvidos no projeto e o alto valor dos animais, cujo desempenho é analisado em computador, impediam a contratação de um "vaqueiro que não soubesse inglês", idioma em que se encontram escritas as bulas dos medicamentos usados pelos cavalos.

- O PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] não tem sentido sem uma revolução intelectual e educacional. Com 66% da população no analfabetismo informal é impossível a economia avançar - afirmou.

O senador disse ainda que o que caracteriza a modernidade "não é fabricar, mas inventar", e que muitos dos produtos fabricados pelo Brasil, a exemplo dos aviões da Embraer, não apresentam "conteúdo de inteligência".

- Se nós pegarmos os aviões da Embraer e analisarmos os equipamentos, vamos ver que a parte substancial de engenharia está na fuselagem e mais nada. A navegação, a propulsão, os sistemas internos todos são importados. Basta ver a balança comercial. Nós exportamos ferro e importamos chips - disse.

Em aparte, o senador Mesquita Júnior (PMDB-AC) lembrou que a Lei de Responsabilidade Fiscal vem favorecendo o controle dos gastos públicos, sugerindo a Cristovam a criação de norma legal semelhante para o setor da educação. Já o senador Gerson Camata (PMDB-ES) saudou Cristovam pela elaboração do relatório.

Ao concluir seu discurso, Cristovam disse que o risco da corrupção a que continua exposto o Brasil só poderá ser combatido com a educação, "não porque os doutores são menos corruptos, ao contrário, mas porque, no processo eleitoral, os não-educados têm tantas necessidades que votam, sem poder esperar o futuro, em qualquer coisa que resolva seus problemas naquele momento".

- A falta de oportunidade leva à corrupção pela sobrevivência. Por isso, a educação é um dos caminhos para que este país saia do quadro de corrupção em que nós estamos - concluiu.



26/08/2009

Agência Senado


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