RENATA ALVES INCRIMINA WANDERLEY LUXEMBURGO



qualidade de ex-procuradorado técnico Wanderley Luxemburgo, com plenos poderes, a estudante de Direito cariocaRenata Alves revelou nesta quinta-feira (dia 9) à Comissão Parlamentar de Inquérito(CPI) do Futebol Brasileiro como o ex-treinador da seleção montou e operou uma rede denegócios que envolvia o recebimento de comissões pela escalação de jogadores, uso deimagem, compra e venda de veículos e transferência de dólares ao exterior. Uma partedas informações foram fornecidas por meio de documentos ou na parte secreta dodepoimento.

As revelações mais importantes foram feitas a partir de perguntas do relator da CPI,senador Geraldo Althoff (PFL-SC), que obteve da depoente respostas quase sempre precisas,e mesmo detalhes, sobre o complexo e tumultuado dia a dia de Luxemburgo. Conforme RenataAlves, que trabalhou com o treinador de 1993 a 1997, Luxemburgo se dizia um homem"muito rico e poderoso", titular de contas correntes e imóveis no exterior,cujo sonho era um dia morar na Europa.

De 1990 a meados de 1991, a relação de Luxemburgo e Renata não teria passado de umnamoro, iniciado depois de uma abordagem do técnico ao carro da estudante. Só em 1993,quando ela já tinha outro namorado e um filho, é que Luxemburgo a teria convidado paraser sua "procuradora". No entanto, durante a fase profissional dorelacionamento, Luxemburgo a "chamou" várias vezes a São Paulo para"acalmá-lo", segundo relatou. O motivo alegado pelo treinador para convocá-laera sua tensão em face das pressões para convocar este ou aquele jogador do Palmeiras.

Renata afirmou que Luxemburgo ganhava muito dinheiro escalando ou indicando jogadores paracontratação. Citou os apoiadores Mancuso e Macula, do Palmeiras. Entre os empresárioscom quem ele mantinha estreita conexão estavam Sérgio Maluccelli, do Paraná, e oespanhol Juan Figer. Maluccelli era também conselheiro de Luxemburgo. Reuniam-se comfreqüencia na "embaixada", mansão localizada na Barra da Tijuca, bairro do Riode Janeiro, aonde também iam integrantes da Comissão Brasileira de Futebol (CBF). Aprincipal função de Renata era comprar carros em leilões judiciais, transferindo-os emseguida para a Luxemburgo Veículos, que os revendia logo em seguida com alta margem delucro. Em função dessas operações, a ex-procuradora está sendo processada pelaReceita Federal por sonegação de imposto de renda.

- Quando procurei o Luxemburgo para saber o que fazer em relação a esse processo ele medisse simplesmente "vire-se" – contou Renata em seu depoimento. Além deacusar Luxemburgo de ser o verdadeiro sonegador, ela reclama dele R$ 1,4 milhão emdireitos trabalhistas, já que viajava pelo Brasil, sem feriado ou fim de semana, paraarrematar os carros e trazê-los até o Rio. Ela recebia dez salários mínimos fixos mais20% de gratificação sobre o valor dos lotes arrematados.

Renata usava o seu apartamento como base das operações com Luxemburgo. Ali ele assinavacheques e ela, folhas de papel ofício em branco, necessárias à transferência devalores e titularidades dos veículos comercializados. Na casa dela, Luxemburgo tambémdeixava a pasta 007 em que guardava os dólares recebidos pelas comissões de seusnegócios com jogadores. O treinador dizia receber de US$ 100 mil a US$ 130 mil por semana,dinheiro que era transferido para contas bancárias em paraísos fiscais, inclusive nasIlhas Cayman.

- Muitas vezes ele estava em reunião e eu atendia o celular. Era alguém dizendo que odinheiro já estava no exterior. Eu achava que as comissões eram normais e éticas,porque ele falava sobre isso de maneira aberta – relatou a Renata.

Em várias ocasiões, Renata foi encarregada por Luxemburgo de transportar a pasta 007para entregá-la ao treinador ou guardá-la em casa . Sempre que os dois fizeram viagensinternacionais, ela pôde testemunhar outro aspecto do fausto e poder vividos pelotécnico:

- Ele nunca era revistado na alfândega – contou Renata. Esse privilégio eraestendido a ela, que disse pagar com rotina estressante e submissão o ingresso no mundomilionário dos negócios com o futebol.

- O Luxemburgo não me deixava falar com ninguém, mas me falava muita coisa. Me disse queganhava comissão até por beber um copo d"água ou usar um boné – completou. Renatadisse suspeitar que o treinador contratava outras pessoas para função semelhante emoutros pontos do Brasil. Certeza mesmo ela tem sobre o esquema montado pelo treinador paralegalizar suas atividades extra campo: cinco contadores da Parmalat, ex-patrocinadora doPalmeiras, se encarregavam de maquiar balanços, declarações de renda e outrosdocumentos contábeis, permitindo tranqüilidade a Luxemburgo para realizar operaçõescomo a compra de imóveis no exterior.

- Ele me disse que comprou um apartamento nos Estados Unidos – Disse Renata. Segundoela, Luxemburgo a obrigou a contrair empréstimos bancários fictícios.

09/11/2000

Agência Senado


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