REQUIÃO PROPÕE O ABANDONO DA CONCILIAÇÃO PELA CRÍTICA DURA



"Fernando Henrique deve renunciar", afirmou nesta terça-feira (dia 6) o senador Roberto Requião (PMDB-PR), ao propor o abandono da conciliação pela crítica dura e consistente ao que ele chama de modelo de internacionalização da economia brasileira. Na opinião do parlamentar, esse modelo econômico reduz o Brasil à condição de estado associado, é da responsabilidade do presidente Fernando Henrique Cardoso, e deve ser criticado por seus opositores.- Ao invés de conciliar, que a oposição cumpra o seu papel de elevar a consciência do povo, mobilizá-lo em todas as suas instâncias, participar de todas as mobilizações e exercitar o dever filosófico, ético e patriótico de oposição no Brasil hoje. Fernando Henrique deve renunciar - argumentou o senador. Requião iniciou seu discurso dizendo que, nos últimos dias, com a prestimosa colaboração da mídia, o governo tem espalhado que "o pior já passou". Ele admitiu que, até mesmo entre os que militam na esquerda, ouve-se que "a coisa já não está tão ruim assim" e recitam-se números sobre a queda da inflação e do dólar, e sobre a recuperação da confiança do mercado.O que ninguém comenta, segundo o senador, é o quanto se aprofundou a recessão, o quanto foi preciso deixar de produzir e o quanto aumentaram os desempregados do país. Referindo-se ao sacrifício que está custando essa recuperação econômica, o parlamentar afirma que a imprensa não perguntou nem quis saber, enquanto os integrantes da oposição, talvez temerosos de serem isolados como radicais, também não agiram com decisão para desmascarar o que ele chama de farsa.- Que me perdoem os companheiros, mas às vezes sinto entre nós pouca disposição para o confronto. E não vejo outra saída que não o confronto. Ou vamos a ele, ou seremos todos engolidos, ultrapassados e esmagados pelo correr dos fatos. Na opinião de Roberto Requião, o Brasil já perdeu muito tempo. "São quase cinco anos de insistência em uma direção que lança o Brasil e os brasileiros à destruição", afirmou ele, para concluir que, nesse período, o país viveu o maior e mais amplo processo de desorganização da produção industrial e agrícola, de destruição do empregado e de enfraquecimento do Estado. O senador avalia que a retração do PIB, o recuo do poder aquisitivo e o emagrecimento da renda per capita vão fazer com que "a já escandalosa e cruel desigualdade de rendas no Brasil se torne ainda mais profunda, conferindo ao país o título de mais desigual de todos os desiguais". O parlamentar condenou as políticas compensatórias e as campanhas do tipo "Natal sem fome" para resolver essa crise. "Se não há saúde, moradia, comida, escola, segurança e dignidade, vamos nós repetir os chás de caridade?", questionou Requião, pedindo o fim do modelo econômico que, segundo ele, desnacionaliza, desindustrializa, desemprega e se curva cordato à especulação, ao FMI e à banca internacional. "Destrua-se o modelo que se volta inteira e exclusivamente às multinacionais", propôs ele.Em aparte, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) disse que esse apelo à renúncia do presidente "mais e mais vai se tornar uma palavra de peso". Roberto Saturnino (PSB-RJ) concordou com a cobrança para que a oposição assuma um tom mais vigoroso na crítica ao modelo econômico. "Há uma indignação do povo brasileiro e é preciso que isso se reflita também nessa Casa", disse ele. Já a senadora Heloísa Helena (PT-AL) estranhou que parlamentares da oposição e da situação façam críticas à política econômica e esse modelo continue a retratar a subserviência ao capital especulativo internacional.

06/04/1999

Agência Senado


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