Rigotto comemora resultado de pesquisa com caminhada









Rigotto comemora resultado de pesquisa com caminhada
Candidato mantém estratégia de enfatizar apresentação de programa de governo

Satisfeito com os resultados obtidos nas mais recentes pesquisas eleitorais, o candidato ao governo do Estado pela coligação União pelo Rio Grande (PMDB-PSDB-PHS), Germano Rigotto, fez ontem uma caminhada pelas ruas centrais de Porto Alegre e ressaltou a importância da participação dos militantes e a entrada na campanha de simpatizantes de outros partidos.

Para ele, as pessoas já reconheceram “qual é o projeto mais apropriado para fazer com que tenhamos um Rio Grande melhor”.

– Precisamos estar unidos, trabalhando para alcançar a retomada do desenvolvimento em todo o Estado e contando com o apoio necessário para criar ambiente favorável à atração de novos investimento – afirmou.

Rigotto garantiu que vai manter sua campanha centrada na apresentação de propostas para demonstrar que a polarização “está definitivamente superada nesta eleição”.

– As pessoas sabem que existe uma alternativa para levar o Estado de volta ao caminho do crescimento social e econômico – disse Rigotto, enquanto caminhava pela Rua da Praia acompanhado de militantes que carregavam bandeiras e distribuíam material de campanha para os transeuntes.

O candidato conclamou os aliados e os simpatizantes a manter a “demonstração de garra” até o dia 6 de outubro e ampliá-la na campanha do segundo turno.

Durante o trajeto, Rigotto foi saudado por transeuntes, recebeu aplausos vindos de janelas de prédios comerciais e conversou com comerciários nas portas dos estabelecimentos. Ele lembrou que o crescimento da campanha merece destaque pela determinação de todos, da coordenação aos militantes.

– É notória a disposição de levar o nosso projeto à frente, sem olhar para o passado, sabendo aproveitar o que de bom foi realizado pelos últimos governos.

Na Esquina Democrática, Rigotto fez um pequeno discurso, usando um carro de som improvisado.

– Aqui, neste local histórico para a política gaúcha, estamos mostrando que temos partidos, garra da militância, poder de aglutinar forças democráticas, e que vamos garantir mais uma grande luta para fazer o Rio Grande que a gente quer – sustentou.

A caminhada encerrou-se na Rua Doutor Flores, onde Rigotto conversou com taxistas.


Britto busca votos em redutos do PT
Candidato do PPS intensifica roteiros na Região Metropolitana disposto a conquistar eleitores que havia perdido em 1998

Convencido de que a Região Metropolitana foi decisiva para a vitória de Olívio Dutra nas eleições de 1998, o candidato do PPS a governador, Antônio Britto, escolheu justamente essa fatia do eleitorado para abordar nos últimos dias de campanha.

Com o mapa de roteiros refeito, Britto cumpre hoje o terceiro dia consecutivo de caminhadas pelas ruas da Grande Porto Alegre, numa média de quatro cidades por dia. Somente ontem, o candidato pisou em quatro redutos petistas: Viamão, Alvorada, Cachoeirinha e Gravataí.

Cercado por um batalhão de militantes com bandeiras no ombro e carros de som que reproduzem em volume alto os jingles da campanha, Britto aposta em dois pontos críticos desses municípios para tentar reverter a votação que perdeu para o PT na eleição de 1998 para o Palácio Piratini.
– Aqui se sente mais do que em qualquer outra região do Estado os efeitos da insegurança e do desemprego. Esta é uma região que decidiu a vitória para o PT, e se decepcionou muito – afirmou ontem, antes de deixar Gravataí e retornar para Porto Alegre.

Embora poucos candidatos do PDT costumem acompanhar os roteiros de Britto – ontem, nenhum deles estava presente –, militantes do partido de Leonel Brizola têm marcado presença com suas bandeiras nas caminhadas do candidato pelas ruas. É do PPS o maior número de candidatos a deputado que escoltam Britto em suas agendas, além de Germano Bonow (PFL), candidato da aliança a vice-governador.

No mesmo momento em que Britto circulava por Gravataí cercado por bandeiras pedetistas, na Capital, Tarso Genro recebia um documento com o apoio formal de integrantes do PDT. Britto ignorou o fato.

Mesmo a queda de Britto nas pesquisas nas últimas semanas sendo assunto praticamente ignorado entre seus apoiadores, os índices provocaram uma reação nas ruas. Nos últimos dias, a quantidade de pessoas nos roteiros do candidato aumentou visivelmente.

– A ordem lá no comitê central foi de não dar bola para a subida do Rigotto (Germano Rigotto, do PMDB) e ir todo mundo para a rua trabalhar – comentou ontem um dos militantes.

A interpretação do apoiador combina com a fala de Britto. Perguntado sobre a estratégia de final de campanha, Britto não demora a responder:
– Agora é dormir cada vez menos e trabalhar cada vez mais.


Petistas temem ascensão de Rigotto
Frente Popular aguarda pela divulgação de novas pesquisas e já começa a debater estratégias

Desde que Germano Rigotto (PMDB) começou a decolar nas pesquisas de intenção de voto, a cúpula da Frente Popular (PT-PCB-PC do B-PMN) estuda o quadro eleitoral como se fosse mover as peças de um delicado xadrez político.

Embora negue o brete estratégico, a coligação debate internamente a nova fotografia da disputa: de potencial aliado no segundo turno, Rigotto passa a ser considerado um adversário temível no confronto direto.

Ontem pela manhã, a coordenação de campanha reconhecia a força de Rigotto, mas admitia não ter uma estratégia definida. A coligação aguarda a divulgação de novas pesquisas antes de optar pela melhor tática. Outro elemento de suspense é a reação de Antônio Britto (PPS) diante da ameaça de não participar do segundo turno.

Líderes do PT têm um temor adicional: a migração de apoio financeiro de Britto para Rigotto. Considerado eticamente menos frágil, Rigotto também é temido pela estrutura do PMDB: são 468 diretórios e 136 prefeitos. Para o presidente estadual do PT, David Stival não haverá mudanças substanciais.

– A diferença entre Britto e Rigotto é ética. Rigotto, embora não tenha os problemas do governo anterior, está vinculado a Fernando Henrique Cardoso e a José Serra.

O coordenador da campanha da Frente Popular, José Eduardo Utzig, prefere concentrar as atenções na consolidação de Tarso como líder nas pesquisas. Ataques diretos e mais agressivos a Rigotto são sugeridos pelo ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont:
– Temos de vincular o Rigotto ao britismo.


Tarso recebe apoio de mais de 400 pedetistas
O racha que a desistência de José Fortunatti de concorrer ao Palácio Piratini produziu no PDT já tem uma dimensão: 13 prefeitos e 79 vereadores anunciaram ontem o apoio à candidatura de Tarso Genro (PT). Os pedetistas entregaram aos coordenadores da Frente Popular (PT-PCB-PC do B-PMN) um documento assinado por 489 militantes de 102 municípios.

A coligação projeta que até o dia 6 de outubro cerca de mil integrantes do PDT terão optado por contrariar a orientação de Leonel Brizola de apoio a Antônio Britto (PPS).

No manifesto Carta Aberta a Tarso e Rosseto, os pedetistas argumentam a impossibilidade de apoiar Britto. Segundo a carta, o PDT tem uma história de lutas em favor dos direitos do trabalhador e de defesa da intervenção do Estado na economia. Nos discursos dos prefeitos, preponderou a idéia de que o abraço político a Tarso não significava rebeldia partidária, mas coerência ideológica.

– A Frente Popular representa a ideologia do trabalhismo no Estado. Não podíamos nos conformar com uma decisão da cúpula – disse o prefeito Geraldo Mânica, de Estrela.

O ex-pedetista Sereno Chaise (PT) garante que a base do partido está 90% ao lado da Frente Popular. Tarso lembrou a vinculação histórica do PDT às causas sociais. Ao comentar a falência do atual modelo econômico e a necessidade de substituí-lo, Tarso abriu as portas aos pedetistas em um eventual governo:
– É impensável governar com esse novo grau de responsabilidade sem a presença efetiva dos setores mais avançados do PDT.

O insólito apoio de um prefeito do PSDB surpreendeu aos presentes. O prefeito de Itajuca, Deoclécio Pancotte, anunciou o voto em Tarso já no primeiro turno:
– Meu partido não tem candidato, tem coligação. Tarso representa melhor o Estado.


Direção do PDT não reconhece dissidências
Na contabilidade do presidente regional do PDT, Pedro Ruas, 90% dos 232 mil filiados do partido no Estado estão engajados na campanha de Antônio Britto (PPS) ao governo gaúcho.

Como desconhece o manifesto assinado por 489 trabalhistas – dos quais 13 são prefeitos – em apoio a Tarso Genro (PT), Ruas se recusou a antecipar se os dissidentes serão punidos, tampouco a que tipo de sanção estão sujeitos:
– Cada caso será avaliado individualmente.

O presidente regional do PDT lembrou que em episódios similares, alguns pedetistas supostamente dissidentes não confirmaram suas participações. Hoje, a direção estadual deverá apurar se os nomes que constam no manifesto entregue a Tarso decidiram trabalhar pela eleição do petista.

Em visita ao Estado, em agosto, o presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, não empregou claramente a palavra “expulsão” para o que deve ocorrer com os correligionários que não apoiarem Britto, mas deixou claro que espera dos próprios trabalhistas a desfiliação da legenda. Segundo Brizola, os casos seriam enviados à comissão de ética do partido.

No balanço do coordenador da campanha de Britto, Nelson Proença, o peso do apoio do PDT também equivale a 90%. Ele reconhece que, dos 66 prefeitos atuando pela eleição dos candidatos do PPS há líderes mais atuantes que outros. Entretanto, argumenta, a contribuição estratégica dos pedetistas é a cobertura de 482 municípios.

Sobre o suposto distanciamento de Brizola na campanha gaúcha – sua última visita foi no início de setembro, acompanhando Ciro Gomes –, Proença garante que há uma ativa participação do trabalhista, por meio de contatos telefônicos. E Ruas lembra que o líder nacional está engajado em sua própria campanha a senador, no Rio. Ainda assim, até o primeiro turno, deverá comparecer pelo menos mais duas vezes ao Estado.


Garotinho afaga Região Sul
A chuva forte no Rio reforçou a campanha do candidato à Presidência pelo PSB, Anthony Garotinho, no Estado.

Como não poderia cumprir sua própria agenda, a mulher do candidato e líder das pesquisas para o governo fluminense, Rosinha Garotinho (PSB), acompanhou o marido no domingo em parte do roteiro pelo Estado. A participação de Rosinha foi mais um ingrediente na estratégia do PSB de reforçar a campanha de Garotinho na Região Sul.

Segundo o partido, o Sul será responsável por levar o candidato ao segundo turno contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O objetivo é conquistar 15% dos votos de gaúchos, catarinenses e paranaenses. Os dirigentes do PSB acreditam que se o candidato chegar ao índice desejado no Sul terá os votos necessários para superar José Serra (PSDB) na disputa para enfrentar Lula no segundo turno.

– Vou procurar visitar mais os três Estados do Sul – anunciou o candidato.

Para justificar a presença de sua mulher na comitiva, Garotinho disse:
– Estava chovendo no Rio, e ela não pôde fazer campanha. Se ela quiser vir comigo outra vez, será um prazer.

Rosinha participou de um comício em Pelotas e de uma janta em Rio Grande, ambos na noite de domingo. Na Zona Sul, Rosinha roubou a cena e garantiu aplausos, durante um jantar promovido pelos coordenadores da campanha de Garotinho em Rio Grande.

O jeito simples e, no entanto, forte de se expressar contagiou as mais de 500 pessoas que estavam no local.

– Ela é melhor do que eu – afirmou o candidato do PSB.

Depois, Rosinha ouviu e aplaudiu o marido quando ele prometeu conceder incentivos fiscais à Metade Sul do Estado, proposta que, segundo ele, removeria a região da estagnação. Ontem pela manhã, ela voltou ao Rio.

Sozinho, Garotinho visitou ontem Santana do Livramento e Santa Maria. Na Fronteira, o candidato propôs a criação de um convênio previdenciário entre Brasil e Uruguai para os trabalhadores de dupla nacionalidade, conhecidos como doble-chapas, conquistarem a aposentadoria. Garotinho convidou seus companheiros de partido para uma foto no Obelisco da Paz.

Em Santa Maria, onde fez uma caminhada à tarde, Garotinho atacou José Serra (PSB):
– A política econômica de Fernando Henrique é um acúmulo de erros, e Serra, se eleito, só vai continuar o que já está aí.


“A Metade Sul necessita de apoio fiscal”
Entrevista: Anthony Garotinho

Na primeira entrevista da série que a Rádio Gaúcha e Zero Hora iniciaram ontem com os candidatos a presidente da República, Anthony Garotinho (PSB) (na foto, com a mulher, Rosinha Garotinho, no domingo, em Pelotas) prometeu dar prioridade à Metade Sul do Estado. Disse que a região precisa de apoio fiscal para retomar o crescimento, crédito para suas empresas e um programa de recuperação das rodovias federais.

Garotinho foi entrevistado durante meia hora, no programa Atualidade, da Rádio Gaúcha, pelos jornalistas Armindo Antônio Ranzolin, Ana Amélia Lemos e Rosane de Oliveira. Até o final desta semana, deverão ser ouvidos Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PPS) e José Serra (PSDB). As entrevistas serão reproduzidas no dia seguinte em Zero Hora.

Garotinho, que ontem passou o dia em campanha no Estado, concedeu a entrevista por telefone, antes de viajar para Santana do Livramento. A seguir, a síntese da entrevista:

Armindo Antônio Ranzolin – O senhor tem feito críticas às pesquisas. Chegou a dizer que as pesquisas são manipuladas para ajudar o candidato do governo, José Serra (PSDB). E tem dito que pesquisas do PSB mostram que Serra está em terceiro lugar e que o senhor é o segundo. Ibope, Vox Populi e Datafolha estariam contra a sua candidatura?
Anthony Garotinho – O Datafolha publicou ontem (domingo) uma pesquisa que aponta empate técnico entre o candidato do governo e o candidato Anthony Garotinho. O Datafolha não tem nada a ver com Ibope ou Vox Populi, porque só trabalha para o jornal Folha de São Paulo. Não vende pesquisa para banco ou para confederação, é exclusivamente voltado à pesquisa. As pesquisas estavam sendo utilizadas não como instrumento de acompanhamento da eleição, mas instrumento de campanha, dando a entender que esse ou aquele candidato iria vencer a eleição para levar o eleitor a optar pelo voto útil. Tenho convicção de que a nossa diferença em relação ao candidato do governo é mínima, de apenas um ponto, ou pelo menos era até sexta-feira, porque ele está num processo de estagnação e queda, enquanto minha candidatura vem num movimento crescente em razão da coerência das propostas.

Rosane de Oliveira – As pesquisas que o senhor critica são as mesmas que no Rio mostram sua mulher, Rosinha Garotinho, em primeiro lugar na eleição para governador, com possibilidade de vencer no primeiro turno. No caso dela as pesquisas estão certas?
Garotinho – Quando a diferença é de quatro, cinco ou seis pontos, você pode manipular na margem de erro. Rosinha tem 50%, e o segundo lugar tem 15%. Então, mesmo que você errasse dois pontos para baixo ou para cima não faria diferença.

Ranzolin – O senhor quer auditar as pesquisas?
Garotinho – Quero. Já solicitamos ao Tribunal Superior Eleitoral. Vamos examinar os formulários.

Ana Amélia Lemos – Sua presença no Estado reflete o esforço da sua candidatura numa área onde Serra está melhor posicionado nas pesquisas. O senhor acha que pode ir para o segundo turno, superando o candidato tucano?
Garotinho – Em primeiro lugar, temos um programa para o Estado que prevê o desenvolvimento da Metade Sul. Essa região ficou muito aquém do desenvolvimento do Estado. Ela necessita de apoio fiscal para que tome a iniciativa de retomar o crescimento, precisa de crédito para que possamos reabrir as indústrias de conservas que foram fechadas. Precisamos desenvolver um programa de recuperação das rodovias federais. Veja, por exemplo, a BR-293 que liga Bagé a Livramento: uma situação de total abandono. A BR-392, que liga São Sepé a Santa Maria, está na mesma situação. É lamentável que as estradas estejam assim e que o governo federal tenha se utilizado de pedágio, cercando a população, encarecendo o custo dos produtos e atrapalhando a exportação pelo porto de Rio Grande, onde estive ontem (domingo) à noite. Acredito que minha campanha vai ganhar força porque o povo gaúcho entende que votar no candidato do governo é dar apoio à continuidade dessa política que prejudicou o Estado.

Ana Amélia – Qual seria a diferença entre um governo Lula e um governo Garotinho?
Garotinho – Tenho um carinho muito grande por Luiz Inácio Lula da Silva, mas fui deputado estadual com 25 anos, prefeito com 27, secretário da Agricultura com 32 anos, prefeito novamente com 36 e governador do segundo Estado mais importante da economia brasileira, o Rio. Tenho experiência administrativa, aprendi a negociar bem. A própria equipe econômica do governo reconhece que a melhor negociação de dívidas dos Estados foi feita à época em que eu era governador do Rio. Portanto, há uma diferença fundamental, um governo com experiência, uma oposição testada e aprovada. Saí do Rio, segundo o instituto Datafolha, com o maior índice de aprovação que um governador já teve. Não há risco de fracasso administrativo.

Rosane – A mais conhecida das suas promessas de campanha é aumentar o salário mínimo para R$ 280. De onde o senhor pretende tirar o dinheiro para esse aumento, já que o custo de um aumento do salário mínimo, dizem outros candidatos, quebraria a Previdência?
Garotinho – É muito simples. O governo gastou no ano passado para pagar juros e amortização da dívida aos bancos R$ 108 bilhões. O impacto do salário mínimo sobre a Previdência é de R$ 21 bilhões. Cada ponto percentual reduzido dos juros é uma economia de R$ 6 bilhões. Pretendo diminuir no primeiro ano porque também o salário não vai ter um impacto de R$ 21 bilhões num primeiro momento, é ao longo do ano. Pretendo diminuir quatro pontos percentuais na taxa de juros básica da economia.

Neste trecho da entrevista, o candidato do PSB, Anthony Garotinho, fala de suas propostas para Previdência, geração de emprego e política externa, entre outros temas.

Rosane – É com um canetaço que se diminui a taxa de juros?
Garotinho – A R$ 6 bilhões por ponto percentual, quatro pontos equivalem a R$ 24 bilhões de economia, dinheiro que deixará de ser transferido para os bancos para complementar o salário mínimo para o aposentado, o trabalhador, a pensionista, aqueles que são mais humildes, aqueles que hoje ganham um salário. O Paraguai, que tem uma economia tão pobre comparada ao Brasil, paga um salário mínimo maior que o do Brasil. Não é com canetaço que vou diminuir a taxa de juros, é com uma decisão política porque o cidadão brasileiro não está votando para eleger o ministro da Fazenda, e sim para eleger o presidente. O Brasil não pode se equivocar achando que a economia é fim. Economia é meio. Portanto, essa é uma decisão política. Não pode é acontecer o que nós verificamos no primeiro semestre deste ano. O jornal Folha de S.Paulo fez uma reportagem mostrando que, enquanto no primeiro semestre deste ano o lucro dos bancos foi de R$ 10 bilhões, toda a indústria brasileira, que emprega muito mais gente, lucrou R$ 5 bilhões. Precisamos redirecionar a economia do sistema financeiro para o setor produtivo.

Ranzolin – Os brasileiros que pagam impostos transferiram R$ 48,6 bilhões para sustentar aposentadorias de apenas 3 milhões de funcionários públicos. Gastos com saúde, mais segurança e mais educação em 2000 somaram R$ 40 bilhões. Há alguma saída que não passe por perdas de privilégios dos funcionários públicos para fechar essa conta?
Garotinho – Precisamos fazer um novo sistema previdenciário. Sair do atual sistema de repartição onde todos contribuem para um bolo e depois ele é repartido entre todos para um sistema de capitalização onde cada um contribua para sua aposentadoria. Nesse período teremos de fazer uma transição entre o modelo atual fracassado, o modelo falido que prejudicou milhares de aposentados em todo o Brasil, para o sistema novo no qual as pessoas contribuam para a sua aposentadoria.

Ranzolin – O senhor não vai pagar juros se for presidente?
Garotinho – Vou diminuir a taxa de juros porque quem estabelece a taxa de juros é o Banco Central, não é o mercado. O Brasil precisa acabar com essa lógica de favorecimento aos bancos e precisa entender que não é Garotinho que está falando.

Ana Amélia – Qual é, na sua opinião, a relação mercado-eleição?
Garotinho – O dólar e o problema dos juros têm a ver com a fragilidade externa da economia e com a fragilidade interna das medidas adotadas pela equipe econômica.

Ranzolin – Lula disse que não se deve esperar milagres no início de 2003, em caso de uma eventual vitória dele. Isso parece revelar a dificuldade de governabilidade que terá, com minoria no Congresso.
Garotinho – Não é questão de ter maioria ou minoria no Congresso, e sim da dificuldade que qualquer presidente terá em administrar esse país após oito anos de FH. A dívida, que era de R$ 60 bilhões, vai ser entregue com mais de R$ 750 bilhões, há o caos social do desemprego, há falta de crédito para o setor produtivo, taxas de juros que são as maiores do mundo. Quando Lula disse que não esperem milagres no primeiro ano, ele está se referindo ao fato de que no primeiro ano terão de ser tomadas medidas para retomar o crescimento e aplacar essa fúria de transferência de dinheiro do povo para o sistema financeiro.

Ana Amélia – O senhor e o PSB poderão dar sustentação a um governo Lula?
Garotinho – Nosso partido não irá dar sustentação a Lula porque nós vamos para o segundo turno com Lula e vamos ganhar a eleição. As pesquisas estão mostrando que, apesar do esforço de uma mídia governista, a população está em massa com a oposição. Lula tem mais de 40%, tenho em torno de 15%, e o candidato Ciro Gomes, 13%. Sete em cada 10 brasileiros querem mudança. O segundo turno será entre mim e Lula, e o povo brasileiro vai ter a oportunidade de escolher entre uma oposição com experiência, preparada, e outra sem experiência.

Rosane – José Serra promete 8 milhões de empregos, e Lula, 10 milhões. Qual é a sua meta e o que pretende fazer para alcançá-la?
Garotinho – Existe uma teoria na economia que vale para qualquer parte do mundo. Juro alto é igual a pouco crédito, pouco crédito é igual a pouco emprego. Vamos diminuir os juros. Com juros menores vai haver mais crédito e mais emprego para a agricultura, para a indústria, para o comércio. A única forma de se criar emprego é aumentar a oferta de crédito para os setores produtivos.

Ranzolin – O senhor apoiou o recente movimento alegadamente plebiscitário que condenou sumariamente a participação do Brasil no acordo da Alca?
Garotinho – Condeno a Alca. Ela não serve aos interesses brasileiros. Não podemos deixar de proteger as empresas nacionais. É um crime de lesa-pátria contra o Brasil ingressar na Alca nos termos atuais. Quando a zona do euro foi constituída, os países mais ricos inv estiram pesadamente em Portugal e Espanha a fim de prepará-los para o ingresso. Há condição de uma empresa brasileira competir com uma americana com a carga tributária que tem, com imposto cobrado no consumo? Há condição de um empresário brasileiro que produz calçado, tecido, produtos manufaturados, carne ou qualquer outro produto competir com o concorrente americano, que trabalha com taxas de juros de 1% ao ano? É impossível, isso não interessa ao povo brasileiro. Esse processo da Alca tem de ser tratado dentro da lógica que interessa ao Brasil, e não aos Estados Unidos.

Ana Amélia – Qual é a sua visão sobre o Mercosul?
Garotinho – O papel que cabe ao Brasil é de liderança da América do Sul. É mais do que o Mercosul. Temos de atrair os países do Pacto Andino. Como a maior economia e o maior território da América do Sul, o Brasil tem de liderar o bloco da América do Sul para negociar com os outros blocos.

Ranzolin – Qual é o projeto que o senhor tem para a reforma agrária?
Garotinho – Se a reforma agrária tivesse sido feita no passado de forma calma, pacífica, ordeira, como nós desejamos, não haveria os problemas que temos. As cidades não estariam totalmente cheias de favelas, de pessoas que foram morar nas cidades por falta de trabalho no Interior. A reforma agrária só pode ser entendida como reforma urbana e agrícola. Não adianta só dar terra. Tem de dar condições de o cidadão produzir, tem de ter crédito, linha de financiamento, organizar a cooperativa. Faremos uma reforma agrária em paz, sem tomar terra de ninguém e evitando criar qualquer confusão.

Rosane – Gostaria de saber sua opinião sobre legalização do aborto, descriminalização do uso de drogas e controle da natalidade.
Garotinho – Sobre o aborto, você tem de se perguntar se a vida começa quando a criança é concebida ou quando ela nasce. Para mim, começa na concepção. Uma vez concebida uma criança, ninguém tem o direito de tirar sua vida. Portanto, sou radicalmente contra o aborto. Sou contra a legalização das drogas porque em toda parte do mundo onde houve liberação ou qualquer tipo de flexibilização não houve diminuição do consumo. Sou a favor do controle da natalidade a partir do planejamento familiar, que é fundamental em qualquer sociedade.

Ranzolin – Entre criação de empregos, segurança, saúde, educação e erradicação da fome, qual é a sua prioridade?
Garotinho – Não existe prioridade número 1, existem prioridades, e você praticamente elencou todas. Quero trabalhar para recuperar essas BRs no Estado e encaminhar uma solução para o metrô de Porto Alegre. Eu queria assumir esses compromissos, além, claro, de falar a você, agricultor, a você, homem do campo gaúcho, que conte conosco para apoiar concretamente a produção agrícola do Rio Grande.


Presidente do TRE critica nível da campanha
O uso do horário eleitoral gratuito para troca de ofensas pessoais foi condenado ontem pelo presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), desembargador Marco Antônio Barbosa Leal. Depois de ter de interceder, por meio de voto, em duas decisões do Pleno do Tribunal que julgavam direitos de resposta.

Leal afirmou que a atual campanha tem fugido do nível ético aceitável. Segundo ele, os principais candidatos ao Palácio Piratini têm utilizado o horário eleitoral gratuito para atingir seus oponentes, em vez de apresentar propostas.

– A campanha tem de ser norteada pela ética e pelo respeito à troca de idéias. Hoje, em vez de soluções para problemas, os candidatos preocupam-se tão-somente em afrontar seus concorrentes, menosprezando o debate de idéias – afirma Leal.

Para o presidente do TRE, os excessos apresentados pelos principais candidatos têm desqualificado o horário eleitoral. Ele lembra que, antes do início da propaganda eleitoral, o Tribunal já havia pedido para que os partidos e coligações mantivessem o “alto nível da disputa”. Segundo o presidente do TRE, o eleitorado tem desaprovado este tipo de conduta, e demonstra isso nas intenções de voto:
– Tanto no Estado quanto em nível nacional, os candidatos que mais crescem são os que não agridem nem ofendem ninguém. O eleitor não compactua com essa baixaria de campanha, essa é uma conduta inadmissível – diz Leal.

Para ele, a campanha atual tem sido muito mais agressiva e desqualificada do que a de 1998. Esse “baixo nível ético”, segundo Leal, só será realmente comprovado nas urnas.
– O voto jamais reverterá em benefício para o candidato que agride. Pois o eleitor não é bobo – diz Leal.

A briga dos candidatos no rádio e na TV também tem sido estendida ao Tribunal. Desde o início do horário eleitoral gratuito, 84 pedidos de direito de resposta deram entrada no TRE. Desse total, 50 estão concentrados na Frente Popular e na coligação O Rio Grande em 1º Lugar. Só os pedidos de propaganda irregular já somam 359 processos. Segundo Leal, essa demanda será reduzida nos últimos dias.

– Os candidatos precisam retomar votos e sabem que o eleitor é politizado. Permanecer nesse tipo de embate prejudica a todos os lados – diz Leal.


PSDB tenta dar novo impulso a Serra
Números de pesquisas que apontam estagnação do candidato e alta de Garotinho preocupam

A campanha do senador José Serra (PSDB) à Presidência da República vive sua pior crise.
Não bastasse o risco de vitória do PT no primeiro turno, o tucano tem o candidato do PSB, Anthony Garotinho, em seu encalço e apenas 12 dias para tentar reverter o quadro que o apresenta estacionado na faixa dos 19% da preferência do eleitorado.

Diante deste cenário, estrategistas do PSDB e do PMDB confessam-se perdidos. A única certeza, por ora, é que o programa eleitoral do tucano não deve mais bater pesado no PT como vinha fazendo.

Ontem, Serra passou o dia em conversas com marqueteiros e assessores mais próximos, reajustando o tom e regravando algumas passagens do programa eleitoral. O recado de que a maioria do eleitorado reprova os ataques mais pesados ao PT veio ainda na noite de sábado, quando, por determinação judicial, a campanha de Serra tirou do ar todas as cenas contra o PT. O rastreamento telefônico feito pela equipe de marketing identificou que o programa foi muito bem avaliado, o que já não vinha ocorrendo.

O cientista político Antônio Lavareda, um dos estrategistas da campanha de Serra, tinha deixado claro que a tática dos ataques, embora inevitável, impunha riscos à candidatura tucana. O risco, apontado por Lavareda e comprovado pelo Datafolha, chama-se Garotinho. Foi ele quem capitalizou a pancadaria. Enquanto a popularidade de Serra cai nas grandes metrópoles, o candidato do PSB ganha votos.

O retrato da crise na campanha da aliança PSDB-PMDB, com sinais de desolação em alguns casos, é exposto por aliados.

– Eu já estou para ficar doido com estas pesquisas e não sei mais de nada – admitia ontem o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), confuso entre os resultados do Ibope da semana passada, que mostrou Lula em queda de dois pontos percentuais e o Datafolha de domingo, que registrou alta de quatro pontos do petista.


Protestar com Lula não adianta, diz Ciro
O candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, disse ontem que “não adianta o voto de protesto e amanhã tocar fogo no que está aí”. Em discurso no centro de São Paulo, o presidenciável atacou mais uma vez os adversários José Serra (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ciro afirmou que Lula é “homem de bem” e tem boas intenções, mas ressaltou que votar no candidato do PT não resolverá as questões da violência e do desemprego no país.

– Não adianta o voto como um ato de protesto, porque a violência, o desemprego e a corrupção continuarão. No dia seguinte ao voto de protesto (referência a Lula), haverá no pa ís um governo que não saberá tirar o Brasil da crise econômica em que está mergulhado – afirmou.

O candidato participou com a mulher, Patrícia Pillar, de caminhada organizada pela Frente Trabalhista. A atriz foi bastante assediada pelas pessoas, deu beijos e autógrafos. A caminhada terminou em frente ao Teatro Municipal. Em cima de um carro de som, Patrícia discursou e criticou o governo, pedindo votos para o marido. Ciro disse que a campanha tem sido marcada “por muito tiroteio, muita baixaria e muita pancada”, em referência aos ataques de José Serra (PSDB).

– É muita prepotência, gosto pelo poder e privilégio de quem está na situação – afirmou Ciro.

O candidato criticou o preconceito em relação ao petista:
– Condenar o Lula só porque não tem diploma? Que adianta ter diploma para roubar, insultar e deixar o país de joelho para a agiotagem internacional?

Lembrou depois o caso de Roseana Sarney (PFL), governadora do Maranhão, que foi “destruída” porque ameaçava a candidatura do governista Serra.


Candidato defende voto obrigatório
Apesar da queda nas pesquisas, o candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, disse ontem à noite em entrevista ao Jornal Nacional, da Rede Globo, que o segundo lugar na disputa pela Presidência ainda está indefinido.

– Nossas indicações são de que há um empate muito tenso – disse Ciro, na segunda rodada de entrevistas dos candidatos ao telejornal.

Para reverter o desempenho nas pesquisas, Ciro disse que sua proposta é “abraçar o povo brasileiro” e reforçar o compromisso com jovens e negros. Segundo ele, na população negra concentram-se os piores indicadores sociais. O candidato respondeu a perguntas de internautas e defendeu o voto obrigatório:
– Se o voto não fosse obrigatório, talvez a classe média, que está revoltada com a corrupção e violência, deixasse de votar. Somente as classes menos favorecidas é que iriam às urnas.

Ciro se disse favorável à modernização da CLT, e não à flexibilização. Os jornalistas Fátima Bernardes e William Bonner lembraram que o candidato a vice de Ciro, Paulo Pereira da Silva (PTB), já defendeu a flexibilização. Ciro respondeu que ele já não pensa assim.


Lula é considerado mais preparado
Pesquisa realizada pelo instituto Vox Populi mostra que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é considerado o candidato à Presidência mais preparado para manter a inflação sob controle, reduzir o desemprego e até paramelhoa situação dos empresários.

O instituto apurou a opinião dos eleitores sobre a capacidade dos candidatos em 10 itens. Lula é considerado o mais capaz em nove, perdendo apenas na saúde. A pesquisa, publicada ontem pelo jornal Correio Braziliense, foi realizada entre os dias 15 e 17 de setembro. Foram ouvidas 2,9 mil pessoas em 172 municípios. A margem de erro é de 1,9 pontos percentuais.

Em relação à pesquisa de julho, Lula cresceu em todos os índices. José Serra (PSDB) apresentou queda nos 10 itens apresentados, assim como o candidato do PPS, Ciro Gomes. Anthony Garotinho, do PSB, caiu em sete assuntos e ficou estável em três.


FH confirma conversa com presidente do PT
O presidente Fernando Henrique Cardoso confirmou ontem, por meio de seu porta-voz, Alexandre Parola, que recebeu um telefonema do presidente nacional do PT, deputado federal José Dirceu (SP), no sábado.

A conversa foi sobre declarações do candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva, a respeito da alta do dólar.

Lula disse na semana passada que pediria explicações a FH sobre a recente instabilidade no mercado financeiro, responsável pela alta do dólar e o aumento do risco-país. A declaração gerou a expectativa de que poderia haver nova reunião dos dois.

No final de semana, o candidato tucano à Presidência, José Serra, criticou o telefonema de Dirceu a FH. Segundo ele, o telefonema foi “publicitário” e teve como objetivo chamar atenção e gerar notícias na imprensa. O presidente também confirmou que está disposto a convidar o presidente eleito para acompanhá-lo em viagens internacionais no final do ano.

FH participou ontem, no Rio, da abertura da ExpoAbras, uma feira da Associação Brasileira de Supermercados (leia mais na página 16), e fez um discurso de defesa de seu governo.

O presidente disse que muitas críticas são fruto de uma “ignorância” sobre a economia da qual ele chega a sentir “pena”, numa crítica indireta aos ataques que vem sofrendo pelos candidatos de oposição.


Os santinhos contam a História
Mais do que a propaganda de um candidato, santinhos, adesivos e brindes distribuídos em campanhas eleitorais simbolizam o momento histórico de um país.

Com essa concepção, o Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa está abrigando a exposição Eu Prometo!, na qual eleitores e estudantes podem analisar a evolução das peças ao longo da vida política brasileira.

A exposição, que se encerra em 1º de novembro, pretende mostrar as mudanças ocorridas na maneira como os candidatos se comunicam com os eleitores. Raridades como o cartaz da campanha de Getúlio Vargas e João Pessoa de 1930 e as vassourinhas de lapela de Jânio, em 1960, estão entre as cerca de cem peças do acervo do Museu. Há ainda exemplares mais recentes como o da campanha das Diretas Já, em 1984, e da campanha presidencial de 1989.

O acervo começou a ser montado a partir de 1974, com coletas e doações. A maior dificuldade encontrada pelos pesquisadores e voluntários foi catalogar os exemplares mais antigos, já que até 1965 não havia a necessidade da publicação do partido junto ao nome do candidato. Em 1950, as propagandas eleitorais podiam ser usadas como cédulas, já que a cédula eleitoral oficial não era obrigatória. Segundo Liana Martins, historiógrafa do Museu, a ausência mais sentida é a dos materiais de divulgação dos candidatos ao pleito de 1950, quando Getúlio Vargas voltou ao poder com 48,2% dos votos válidos. Um dos objetivos da exposição é mostrar como se pode contar a História do Brasil por meio de papéis que de tão comuns no período eleitoral se tornam raridades históricas.


Lições da arte de conquistar votos
O ex-prefeito de Canoas Hugo Lagranha, 85 anos, se recusa a beijar crianças nas ruas quando está em campanha. O ex-deputado Alberto Hoffmann, 81 anos, mantinha fichas com os nomes de 28 mil pessoas que recebiam cópias de seus discursos. O ex-deputado e ex-ministro Nestor Jost, 85 anos, fumante até hoje, às vezes era aconselhado a esconder o vício. Eles, o ex-vereador Índio Vargas, 64 anos, e a ex-deputada e ex-vereadora Terezinha Irigaray relembram eleições de décadas passadas, falam dos macetes da arte de conquistar votos e do comportamento dos políticos hoje e dão conselhos aos candidatos.

• Hugo Lagranha, 85 anos, ex-prefeito de Canoas. Militou no PSD, extinto em 1964, na Arena, no PDT, no PDS, no PTB e no PMDB:

“Participei de nove eleições e venci sete. Nunca prometi nenhuma obra e nunca fiz promessa pessoal. O finado Getúlio (ex-presidente Getúlio Vargas) não prometia, só fazia depois. Não gosto de participar de churrasco, janta, festa de campanha. Quando vinham pedir dinheiro para remédio, eu dizia: não dou. E pedia que me dessem a receita. Se fosse remédio para criança, ia à farmácia e comprava. Nas campanhas de hoje, há excesso de propaganda, uma sujeirama. Poste é para luz, não é para essas coisas. E vejo muitos beijando crianças quando tem fotógrafo por perto. Nunca fui fotografado beijando criança. É demagogia. Fora da campanha, eles não conhecem as crianças”.

Conselho
“Não prometer coisa nenhuma e ser autêntico. E, em campanha política, não adianta beijar ou agarrar criança pequena no colo.”

• Alberto Hoffmann, 81 anos, ex-depu tado estadual e federal, ex-secretário da Agricultura do Estado e ex-presidente do Tribunal de Contas da União. Militou no PRP, extinto em 1964, e na Arena:

“Percebo que há uma desordem partidária. São mais de 50 partidos e não existe fidelidade partidária. Isso é ruim. A disciplina prende a princípios, programas e companheiros. Hoje ninguém confia em ninguém. Enxergam mais adversários do que companheiros dentro do próprio partido. O sistema antigo de fazer campanha, cara a cara com o eleitor, era melhor. Eu tinha os nomes, endereços e telefones de 28 mil pessoas em fichas batidas à máquina de escrever. Fazia um discurso e mandava a correspondência. Sabia o nome dos eleitores e das pessoas da minha comunidade. Hoje, as campanhas estão menos cívicas, menos patrióticas”.

Conselho
“Ser autêntico e não procurar enganar o eleitor. Não dar argumento que possa ser contestado como não exato depois. A chamada atochada não pega.”

• Índio Vargas, 64 anos, ex-vereador de Porto Alegre. Militou no antigo PTB, extinto em 1964, e no MDB:
“Fui vereador por 20 dias, eleito em novembro de 1968 e cassado em dezembro, depois de fazer dois discursos. Me elegi com uma propaganda que usava a frase: Índio Vargas, candidato a vereador com as teses de Brizola. Era uma ousadia. Brizola estava exilado no Uruguai. Naquela época, toda a energia era usada contra a ditadura. Fui preso em 1970 e só recupei meus direitos políticos em 1979. Hoje, os partidos perderam força, estão desfigurados. Os políticos trocam de partido, e muitos dos recém-chegados desbancam inclusive militantes históricos do partido que os recebeu”.

Conselho
“Inspirar credibilidade, ter honra. Mas, considerando-se a consciência ingênua do povo brasileiro, tem de chegar e pedir o voto. Deve dizer: eu preciso do teu voto, pois só com a tua delegação poderei fazer o que pretendo.”

• Nestor Jost, 85 anos, ex-deputado estadual e federal, ex-presidente do Banco do Brasil e ex-ministro da Agricultura. Militou no PSD, extinto em 1964, e na Arena:

“A TV domina as campanhas hoje. O eleitorado é essencialmente urbano, e o eleitor das grandes cidades não tem mais um chefe político. Também não há mais disciplina partidária. A fidelidade partidária deve ser restabelecida, com a proibição de eleição de quem troca de partido durante o mandato. As campanhas sempre levam em conta algumas pecualiaridades. Sou fumante e, na primeira campanha para deputado, em 1947, aparecia fumando nas fotografias. O prefeito de Taquara pediu uma foto sem cigarro, para garantir os votos de adventistas. Mas não sei se o fumo interfere mesmo na decisão. Se cigarro espantasse voto, José Serra (candidato à Presidência pelo PSDB e antibagista) seria eleito por unanimidade”.

Conselho
“O candidato deve ter uma conduta que agrade ao eleitor. Ele tem que falar o que eleitor quer ouvir”.

• Terezinha Irigaray, ex-deputada estadual e ex-vereadora de Porto Alegre. Militou no PTB antes do golpe de 1964, no MDB, no PDT e no PTB:

“Fui eleita deputada em 1966, no bojo de um acontecimento excepcional, a cassação do prefeito de Porto Alegre, Sereno Chaise, em 1964 (Terezinha, que era casada com Sereno, aparece na foto acima levando cobertas para o marido na prisão). Foi um gesto de desagravo, de inconformismo, e os votos jorraram de todos os cantos, numa campanha discreta, sem comícios e sem a distribuição de santinhos. Fiz 51,4 mil votos. Em 1969, fui cassada. Hoje, as campanhas são ruidosas, com muita mídia e compra de votos. Não existe mais campanha feita com sentimento. Antes, se fazia política com respeito à militância e aos partidos”.

Conselho
“A campanha deve ser conduzida com dignidade e com compromissos com o interesse popular. O candidato deve pregar a qualidade e a dignidade de vida.”


Candidato promete mais policiais nas ruas
A RBS TV deu início ontem a uma série de entrevistas com os principais candidatos ao governo do Estado. Todas terão seis minutos de duração no telejornal RBS Notícias, que vai ao ar às 18h40min, e serão conduzidas pelos apresentadores Elói Zorzetto e Mônica Teixeira.

O primeiro participante sorteado foi o candidato do PPS, Antônio Britto, que se comprometeu a aumentar o efetivo de policiais nas ruas já no primeiro ano de governo. Britto disse que pretende enviar à Assembléia Legislativa um projeto de lei prevendo soluções como a convocação de policiais reformados, a colocação nas ruas de brigadianos que estão em atividades administrativas ou até um pedido de apoio ao Exército.

– Não vamos esperar dois ou três anos para se formar uma nova geração de brigadianos – disse.
O candidato também prometeu propor uma lei prevendo incentivos maiores para empresas que quiserem se instalar em municípios onde o índice de desemprego seja maior. Na entrevista, Britto atacou o PT em duas oportunidades: ao falar dos salários do magistério e dos recursos para a área da saúde.


Bernardi faz visita ao Vale do Taquari
Em visita a Teutônia, no Vale do Taquari, no final da tarde de ontem, o candidato do PPB ao governo do Estado, Celso Bernardi, esteve na Cooperativa Regional de Eletrificação Teutônia Ltda (Certel), onde discutiu propostas para repotencializar as pequenas usinas no Rio Grande do Sul.
Em seguida, Bernardi se reuniu na Câmara de Vereadores com líderes do partido da região. O candidato também apresentou propostas de governo para empresários no Centro Social do Serviço Social da Indústria (Sesi).

A carreata pelas principais ruas do município, programada para ocorrer a partir das 18h, foi cancelada. O comício no bairro Canabarro, que encerraria a programação, também teve o local alterado e foi realizado em frente ao prédio do Sesi.

A agenda do candidato do PPB se iniciou na Capital, com uma palestra para os integrantes da União Empresarial, no Hotel Sheraton, seguida de um encontro com os defensores públicos do Estado, na sede da entidade.


Olhar 43
O candidato do PSDB à Presidência da República voltou a dançar. Depois de ter sambado durante visita a Porto Alegre, em agosto , José Serra arriscou-se em outros ritmos. No domingo, dançou e cantou com o trio pop romântico KLB. A música era Olhar 43, do RPM.

Tamanco (1)
O candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, levou todas as mulheres da família para uma caminhada, ontem, no centro de São Paulo. Participaram Patricia Pillar, a mãe do candidato, Maria José, e a filha, Lívia.

O objetivo era chamar a atenção do eleitorado feminino.

Recentemente, o candidato envolvera-se em polêmica ao afirmar que o papel mais importante de Patricia na campanha era dormir com ele.

Nesta segunda, durante a caminhadam ele arriscou uma declaração de amor ao microfone:

– Patricia, você sapateia de tamanco no meu coração.

Tamanco (2)
O camelô José Henrique, que teve sua barraca de óculos de sol derrubada no chão pela multidão que seguia Ciro Gomes e Patrícia Pillar, ontem, em Sãso Paulo, declarou que “se fosse ela a candidata, eu votava, mas no Ciro não voto não”.

Atropelo
Domingo, volta do Litoral Norte pela RS-030. Com as duas pistas do sentido Tramandaí-Osório congestionadas, o caminhão de som de um famoso candidato a deputado federal avança pela direita e vence o engarrafamento usando o acostamento. O político, que não estava no caminhão, foi fartamente xingado.

Maranhão
A Justiça Eleitoral decretou a prisão preventiva do prefeito de São Francisco do Maranhão, José Willis (PTB), por coação eleitoral. Em entrevista a uma rádio local, o prefeito admitiu ter cortado o fornecimento de energia elétrica da fazenda de adversários políticos e ameaçou demitir e cortar salários dos servidores públicos municipais que não votarem em seus candidatos.

Ronco
Candidato a deputado estadual pelo PSB, o professor Wainer Machado não resistiu ao cansaço, ontem, enquanto esperava a chegada de Anthony Garotinho, no Aeroporto de Rivera, no Uruguai. Wainer capotou no gramado do estacionamento do aeroporto. O candidato explica-se: nos últimos três meses, ele tem dormido menos de quatro horas por dia.

Camas separadas
Ontem, em visita a Santana do Livramento, Anthony Garotinho (PSB) fez projeções para seu casamento no caso de ele se eleger presidente da República e sua mulher se eleger governadora do Rio de Janeiro:

– Se a gente ganhar, não haverá problemas. Ela (Rosinha Garotinho) dormirá toda a semana no Rio e eu em Brasília. Nós ficaremos juntos um final de semana no Rio e outro em Brasília – contabilizou.

Tira-dúvidas
O voto em branco vai para a legenda do candidato mais votado?

Não. O voto em branco não favorece candidato algum. Ele é igual ao voto nulo.


Artigos


A saúde rompeu o círculo vicioso
Barjas Negri

Nos últimos oito anos, o governo federal se dedicou a estender uma rede de proteção social baseada em políticas de inclusão, no aumento dos gastos, na estabilidade de investimentos, na descentralização de recursos, na redução das desigualdades regionais, na participação e no controle da sociedade civil sobre as ações do poder público.

No caso da saúde, a atuação governamental fez com que o país rompesse o círculo vicioso da ineficiência e da insuficiência e assim começasse a recuperar a rede pública de saúde e a reverter condições há muito degradadas do sistema de hospitais e todo atendimento à população. Um exame sobre o noticiário de saúde em 1994 documenta as condições que o governo Fernando Henrique encontrou a saúde pública: fraude no credenciamento de unidades, desvio de recursos, hospitais sucateados, superlotação, diminuição de leitos disponíveis para o Sistema Único de Saúde, interrupção do atendimento ao SUS e greve de hospitais e de funcionários por causa dos atrasos de repasse de recursos aos hospitais conveniados.

Os avanços nos últimos oito anos resultaram na significativa queda
da taxa de mortalidade infantil

O editorial da Folha de S. Paulo de 30/11/1994, por exemplo, registrava “uma mulher dá à luz sobre uma pia enquanto dinheiro do SUS é desviado para comprar chope e salgadinhos. Doentes esperam horas para serem atendidos num hospital enquanto um hotel no Maranhão é credenciado fraudulentamente como hospital e obtém dinheiro da saúde”. Os avanços nos últimos oito anos resultaram na significativa queda da taxa de mortalidade infantil, na ampliação do sistema público, no aumento da cobertura vacinal e da oferta de vacinas, na diminuição das filas por cirurgias e no crescimento dos transplantes.

As vacinações contra poliomielite, sarampo e BCG atingiram e mantiveram-se no patamar de cobertura vacinal de 100%, a tríplice DPT saltou de 74% (1994) para 95% (2001). As cirurgias eletivas também tiveram um forte crescimento em decorrência dos mutirões e do aumento da capacidade hospitalar. Entre 1997 e 2001, as cirurgias de catarata saltaram de 130 mil para 266 mil (crescimento de 103%) e as cirurgias de varizes passaram de 23 mil para 67 mil (mais de 190% de aumento). O número de transplantes realizados por ano passou de 3.932 (1997) para 7.229 (2001) – aumento de 84%. O gasto total com transplantes (transplantes, procedimentos associados e medicamentos) passou de R$ 71 milhões para R$ 220 milhões (aumento de 210%). Os transplantes de rins variaram em 70%, coração, 80%; córnea, 81%; medula óssea, 99%; e fígado, 168%.

Sem dúvida, a saúde é melhor do que ontem e amanhã será melhor do que hoje. O governo federal tomou decisões que vão repercutir no contínuo aperfeiçoamento da saúde pública. O progresso da saúde nos últimos anos está pautando os programas de todos os candidatos à Presidência da República. Em recente apresentação ao Conselho Nacional de Saúde, os representantes dos candidatos à Presidência reconheceram a importância de algumas ações e a necessidade de mantê-las e aprofundá-las. Esses foram os casos das políticas de descentralização com controle social, da ampliação do acesso de medicamentos, do aumento da produção nacional de remédios, e principalmente da substituição do modelo assistencial por uma atuação mais preventiva proporcionada pelo vertiginoso crescimento do Programa Saúde da Família.

As propostas dos candidatos, os resultados obtidos e a comparação do desempenho do Sistema Único de Saúde provam que o presidente Fernando Henrique Cardoso está concluindo o seu segundo mandato tendo levado o país a um patamar muito superior de desenvolvimento social.


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

Lá e cá
Tive a oportunidade de acompanhar nas duas últimas semanas, na Alemanha, a limpa e civilizada campanha eleitoral. Uma disputa acirradíssima entre o chanceler social-democrata Gerard Schroeder (SPD) e o conservador Edmund Stoiber (CDU), o governador da Baviera. Vinte dias antes da eleição de domingo, o representante da Democracia Cristã estava com 10 pontos percentuais de vantagem nas pesquisas. Dois fatos novos mudaram o quadro, beneficiando a reeleição do chanceler Schroeder por margem muito apertada. As enchentes que destruíram parte da bela Dresden, na Alemanha, e importantes cidades como Praga e Bratislava, capitais da República Checa e Eslováquia, respectivamente.

O chanceler, imediatamente, visitou as áreas atingidas e liberou recursos para a recuperação das cidades alemãs afetadas. Também promoveu reuniões com os países vizinhos, levando apoio da Alemanha para a recuperação.

O outro fator foi a firme oposição do chanceler Schroeder à investida do presidente norte-americano George W. Bush em atacar o Iraque com o apoio da Europa.

Esses dois fatos novos mudaram a tendência do eleitor, que continua irritado com o governo porque hoje são 4 milhões os desempregados na Alemanha. A vitória do atual chanceler foi apertadíssima. Vai ter dificuldade, no sistema parlamentarista, com a governabilidade. No Brasil fatos novos não ocorreram. O cenário eleitoral pode se manter inalterado. E se Luiz Inácio Lula da Silva vencer o pleito já no primeiro turno, terá de fazer enorme esforço para conseguir a necessária governabilidade.


JOSÉ BARRIONUEVO

Tarso conquista apoio de pedetistas
Terminou ocorrendo ontem o anúncio do proclamado apoio de setores do PDT a Tarso Genro. A colheita foi bem menor do que a imaginada por Sereno Chaise, que articulou os apoios: apoiaram Tarso 13 dos 79 prefeitos do PDT, 12 vice-prefeitos de um total de 94 e 78 vereadores de um total de 980 filiados ao partido.

Um aspecto que não foi considerado pela equipe de Tarso: mais do que o apoio de meia dúzia de gatos pingados, o dado mais impactante está na pouca influência de Brizola, que já foi um grande cabo eleitoral no RS. Na primeira fase, Brizola conseguiu impedir a formação da Frente Trabalhista no período das convenções – com apoio do PTB nacional colocou Sérgio Zambiasi e o PTB gaúcho contra a parede, sob ameaça de intervenção –, não somou tempo de TV para a campanha de Britto em decorrência da demora, e quando decidiu rifar José Fortunati, não acrescentou absolutamente nada nos índices do candidato do PPS, Pior: Britto começou a cair.

Hohlfeldt reforça campanha na Capital
Primeiro vereador do PT, Antônio Hohlfeldt reforça a campanha de Rigotto no chamado campo progressista. Mesmo estando hoje no PSDB, ninguém tira do vereador sua condição de número 1 do partido nos três Estados do Sul (o PT só assegurou outros detentores de mandato na eleição de 1986, para deputado estadual e federal). No exercício do quinto mandato (os dois últimos depois de ter largado o PT), Hohlfeldt deixou o partido depois que Tarso Genro optou por Pilla Vares para a Secretaria da Cultura, desconhecendo o reconhecimento obtido nas urnas em 1992, como o mais votado da bancada do PT. Naquela eleição, foi Hohlfeldt que levou Sérgio Zambiasi e o PTB a apoiarem Tarso no segundo turno contra Cezar Schirmer.

O vereador tucano se destaca pelo bom trânsito entre todas as bancadas na Câmara. Se Rigotto for eleito, os tucanos ficarão com um terço das secretarias (um terço ficaria com o PMDB e o restante com os partidos que apoiarem Rigotto, na hipótese de o caxiense se classificar para o segundo turno e ganhar a eleição de Tarso).

Renovação na Câmara
A Câmara de Vereadores só não tem nenhum representante como candidato a governador (José Fortunati, indicado pelo PDT, concorre a deputado federal). São dois candidatos ao Senado (João Bosco e Valdir Caetano), um a vice-governador (Hohlfeldt), três a deputado federal (Fortunati, Raul Carrion e Juarez Pinheiro) e 13 a deputado estadual.

É provável que pelo menos três assegurem a eleição, o que representará uma mudança a partir de 1º de janeiro, com a posse dos suplentes, que estão na torcida.

Menos de cem dias
O placar da Federação dos Servidores Públicos (Fessergs), na Avenida Cavalhada, marcava ontem uma data redonda. Faltavam cem dias para o término do governo Olívio.

Nesta terça, restam 99 dias de mandato. O favoritismo de Tarso nas pesquisas, com 8,6 pontos acima do segundo colocado, pode ser interpretado como aprovação do governo. Há quem soma os votos dos três candidatos de oposição, para concluir que a maioria não quer o PT (51,6% a 34,3%). As projeções para o segundo turno mostram que não ocorre uma transferência completa de votos para o candidato de oposição que se classificar. Tarso vence em algumas simulações.

Esquerda aposta no RS
A eleição no Rio Grande do Sul ganha uma importância que transcende ao embate de forças políticas na Província de São Pedro. Para a esquerda, a eleição no Rio Grande do Sul tem uma dimensão nacional e internacional. A eleição de Tarso representa a consagração da corrente revolucionária do partido, firmando o Estado como principal pólo da esquerda mundial, distinção que começou a ser conquistada com a realização de duas edições do Fórum Social em Porto Alegre. E não foi por acaso que o lançamento do FSM aconteceu ontem, a 13 dias da eleição.
A eleição de Tarso também significa o fortalecimento da esquerda revolucionária junto ao governo Lula, que assumiu uma linha mais social-democrata.

Esta dimensão nacional e internacional do confronto no RS será visível no segundo turno, principalmente se Lula se sagrar presidente da República já no dia 6 de outubro.

Rosinha em alta
Seja qual for o resultado do primeiro turno, Anthony Garotinho já pode se considerar vitorioso. O ex-governador passou o cargo para Benedita da Silva, do PT, adversária política, enfrentando a descrença em relação às suas possibilidades eleitorais. Cresceu em meio ao confronto entre Ciro e Serra, beneficiando-se dos debates na TV. Bom comunicador, já ultrapassou Ciro e está no limite de um empate técnico com Serra. Esta posição já o consagra nacionalmente.Como acréscimo, Rosinha Mateus, sua mulher, aparece em todas as pesquisas com possibilidade de vencer no primeiro turno – está com 46%; Jorge Roberto (PDT), 13%; Benedita, 12%.

Mirante
• Há uma mudança nos programas eleitorais na TV desde ontem, a 12 dias da eleição.

• Fogaça apresentou os suplentes, Arnaldo Prieto (PFL) e Hilda Souza (PPS). Deve ser imitado pelos demais. Afinal, duas dezenas de suplentes exercem mandato no Senado.

• Finalmente, o PPS acordou e melhorou o programa na TV, ontem à noite. Abordou questões fundamentais, como as privatizações, reagindo às críticas do PT com argumentos. Bonow passou a ser melhor aproveitado. Só falta o candidato deixar de lado o gênero ternurinha, que fica bem em Lula, mas já comprometeu uma eleição do ex-governador.

• Mudou também o programa de Tarso, embora o candidato insista em atacar o modelo neoliberal de FH, deixando de lado questões locais. Bem produzido, o programa procurou associar a imagem positiva de Lula, que pediu votos para o candidato do PT a governador. Diz que as conquistas do PT, quatro para a prefeitura da Capital e o governo do Estado, “são avais para Lula, que sempre teve a confiança dos gaúchos”.

• Duas dezenas de entidades têm audiência hoje às 11h com o presidente da AL, Sérgio Zambiasi, para pedir a votação imediata do projeto que cria o Código Estadual de Proteção aos Animais, de autoria do deputado Manuel Maria. Os vereadores Beto Moesch (PPB), Adeli Sell (PT) e o presidente da Câmara, José Fortunati (PDT), levam contribuições ao projeto que dará ao RS a legislação mais avançada do Brasil.

• Um jantar hoje no galpão Crioulo no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, a partir das 20h, reúne apoiadores da candidatura de Berfran Rosado (PPS). O deputado completa 43 primaveras.


ROSANE DE OLIVEIRA

Pânico no ar
Bateu o pavor nos mais entusiasmados defensores da candidatura do ministro José Serra. Agora, já não é apenas o fantasma da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno que assombra os tucanos. Pior ainda é a perspectiva de perder o segundo lugar para Anthony Garotinho, o candidato que faz a campanha mais pobre, concorre por um partido pequeno e só conseguiu dois nanicos como aliados.

A pesquisa do Datafolha, em que Lula aparece com 44%, fez com que Serra deixasse seus seguidores a ver navios em duas cidades do interior de Minas. Entre falar para alguns milhares de eleitores já conquistados e regravar programas que serão assistidos por milhões de brasileiros, Serra optou pelo mais produtivo. O programa que irá ao ar hoje no horário eleitoral é uma tentativa de subtrair votos de Lula, com o cuidado de não fornecer oxigênio para Garotinho.

O roteiro em Minas já era parte de uma estratégia de investir nos grandes colégios eleitorais. Foi sacrificado como fora, no final de semana, a visita ao Rio Grande do Sul.

Tão preocupante para Serra quanto a pesquisa de intenção de votos do Datafolha é outra, do Vox Populi, publicada ontem no Correio Braziliense, sobre a percepção dos eleitores em relação à capacidade de cada candidato para resolver os problemas do país. Lula é considerado o mais habilitado a resolver os 11 problemas definidos como as maiores preocupações dos eleitores.

Na lista encabeçada pelo combate ao desemprego inclui-se, em 10º lugar, a situação dos empresários, e até nesse item o candidato do PT leva vantagem sobre os adversários. Entre julho e setembro, os índices de Lula cresceram em todos os quesitos. Os de Serra, Garotinho e Ciro caíram em todos.

Até agora, a associação do nome de Lula ao caos econômico, patrocinada por Serra, não surtiu efeito. Ninguém pode garantir que a disprada do dólar, que ontem bateu o recorde do real, mude esse quadro.


Editorial

A DISPARADA DO DÓLAR

A moeda norte-americana bateu ontem o recorde de valorização no Plano Real, atingindo o patamar de R$ 3,575 no fechamento, o que colocou praticamente a brasileira ao par do depreciado peso argentino. Trata-se de uma taxa irrealista, quando se considera que o Brasil firmou um acordo de US$ 30 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que o ano deve encerrar-se com um déficit em conta corrente de 3%, contra 5% de 2001, e o governo obteve compromisso da banca internacional de que as linhas de crédito ao país não seriam reduzidas. Deve-se considerar no entanto que o cenário global continua intranqüilo, muitas empresas vêm adiantando o pagamento de dívidas por temer que o câmbio suba ainda mais, enquanto outras, além de bancos e investid ores, mantêm ou aumentam suas reservas em divisa forte.

Duas outras causas eram apontadas para a inédita elevação de ontem. A primeira delas, a notável discrepância entre a pesquisa de opinião pública do Ibope, divulgada na sexta-feira, que atribuía a Luiz Inácio Lula da Silva 39% das intenções de voto, e a do Datafolha, difundida no fim de semana, segundo a qual o candidato petista alcançara 44% das preferências, o que lhe abriria a possibilidade de vitória no primeiro turno. Por isso mesmo, os analistas de Wall Street, como de resto os brasileiros, aguardavam o novo levantamento do Ibope, a sair hoje. A segunda razão da disparada seria o vencimento amanhã de US$ 1,52 bilhão em contratos de swap cambial – ou seja, de troca de indexador de remuneração –, dívida que não foi rolada pelo BC, devendo assim ser integralmente liquidada em reais, com o valor do fechamento de hoje do dólar. Quanto maior tal valor, mais receberão as instituições que têm os títulos em mão.

O aviltamento da moeda diz respeito a todos, pois de algum
modo ela é também um símbolo de soberania

Em verdade, o quadro negativo se alastrava ontem muito além do câmbio. A Bolsa de São Paulo experimentou acentuada queda, bem maior do que a registrada em sua congêneres de Nova York. O risco-país voltava igualmente a pronunciar-se, ultrapassando os 2 mil pontos e refletindo temores do mercado com o possível triunfo do aspirante oposicionista ao Planalto. Quando o panorama se deteriora dessa forma, a única certeza é a de que poucos ganham e muitíssimos perdem, a começar porque cresce um débito bilionário, sobe o custo interno do dinheiro e pressiona-se a inflação. É preciso admitir que há benefícios em algumas áreas: na última semana a balança comercial contabilizou, isoladamente, superávit de US$ 929 milhões – o saldo anual já passa de US$ 7,2 bilhões. Processa-se também crescente substituição de importações, sem os vícios da época em que essa era uma política oficial e as reservas de mercado condenavam os brasileiros a pagar mais por bens tecnologicamente defasados. No cômputo geral, contudo, o prejuízo é muito superior ao proveito. Pois o aviltamento da moeda diz respeito a todos, já que de algum modo ela é igualmente um símbolo de soberania.


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09/24/2002


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