Pesquisa dá larga vantagem a Rigotto









Pesquisa dá larga vantagem a Rigotto
Tarso Genro, candidato do PT ao governo do Rio Grande do Sul, tem 23 pontos percentuais a menos

PORTO ALEGRE - A primeira pesquisa do segundo turno no Rio Grande do Sul, realizada pelo instituto Cepa, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), mostrou 23 pontos percentuais de vantagem do candidato peemedebista, Germano Rigotto, em relação a Tarso Genro (PT).

Rigotto tem 58,8% contra 35,8% dos votos totais. Há 1,4% de brancos ou nulos, além de 4% que não sabem ou não opinaram.

No primeiro turno, levando-se em conta os votos totais, Rigotto teve 37,94%. Tarso teve 34,33%. Isso indica que o peemedebista está absorvendo o eleitorado do terceiro colocado, Antônio Britto (PPS), e do quarto, Celso Bernardi (PPB), que declaram apoiá-lo.

O Cepa mostra que 79,7% dos eleitores que preferiram Britto dariam seus votos a Rigotto, e apenas 8% a Tarso Genro. Dos que votaram em Bernardi, o quarto colocado, 77,8% votarão em Rigotto, e 15,6% em Tarso.

Para a pesquisa, encomendada pelo jornal Zero Hora, o Cepa entrevistou 1.750 eleitores no dia 8, em 49 municípios gaúchos. A margem de erro é de 2,4 pontos percentuais para mais ou menos.

O quadro se complica ainda mais para o candidato petista na medida em que o PDT, partido que poderia apoiá-lo no segundo turno (PPS e PPB manifestaram apoio a Rigotto), está dividido nas bases. Quanto aos deputados do partido, a maior parte tem se manifestado favoravelmente a Rigotto. O federal Alceu Collares, por exemplo, um dos principais incentivadores da aliança com Britto no primeiro turno, apóia Rigotto. O estadual Vieira da Cunha, que se manteve afastado do apoio a Britto, está indeciso. Outros querem liberar os filiados.

Há expectativa quanto à reação de Tarso em relação à morte, ontem, do seu principal coordenador, José Eduardo Utzig.

Para substituí-lo, são cotados os nomes do deputado estadual eleito Estilac Xavier e do ex-secretário municipal da Indústria e Comércio, Cézar Alvarez. A Agência Folha apurou que os dois provavelmente atuem em conjunto na função.

Outro dado importante da pesquisa é o de que, no Rio Grande do Sul, o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, tem apenas 8,8 pontos percentuais a mais do que o tucano José Serra. Lula tem 49,4% contra 40,6 de Serra. Tradicional reduto petista, o Estado é uma das regiões que, surpreendentemente, mais votos deram ao tucano, já no primeiro turno.


PTB recomenda, mas não obriga, voto em Lula
Roberto Jefferson impede apoio formal ao candidato do PT

BRASÍLIA - O PTB decidiu ontem que recomendará o voto em Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Nos Estados onde existem problemas entre os partidos, os diretórios regionais estarão liberados de fazer campanha para o PT. O apoio só não aconteceu incondicionalmente por interferência do líder o partido na Câmara, Roberto Jefferson (RJ). O deputado chegou ao encontro disposto a pedir a independência do partido. Aceitou a recomendação ao perceber que seria voto vencido. Com o apoio do PTB, Lula consegue trazer para a campanha a Frente Trabalhista (PPS-PTB-PDT), que sustentou a candidatura de Ciro Gomes.

- Durante o primeiro turno, nós marchamos com a oposição. Não faria sentido se mudássemos esta postura agora - afirmou o presidente do partido, deputado José Carlos Martinez (PR).

O apoio do PTB chegou apesar dos apelos da campanha de José Serra. Martinez foi procurado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical e candidato a vice na chapa de Ciro, também foi contatado pelo ex-ministro do Trabalho Francisco Dornelles. Ontem, Martinez e Jefferson tinham encontro marcado com FH e com o presidente do PSDB, José Aníbal, em São Paulo. Depois da reunião, Martinez ligou para FH e cancelou o encontro.

Jefferson também acusou o PT do Rio de fazer campanha contra o PTB. Segundo o parlamentar, foram distribuídos panfletos que classificavam o partido de ''inimigo dos trabalhadores''.

- Você podem apoiar Lula. Mas eu não aceito. Se sair o apoio, eu vou vomitar - disse Jefferson, segundo um dos presentes.

A liberdade nos Estados será útil para Paulinho, da Força Sindical. Em São Paulo, ele apóia Geraldo Alckmin - candidato à reeleição - e para presidente votará em Lula.

A hora do almoço serviu para o desabafo dos políticos do partido. Todos culparam Ciro Gomes pelo fracasso da Frente Trabalhista na eleição presidencial. Ele foi acusado de arrogante e de ''ter pulado sozinho do 28º andar'', em referência aos índices de intenção de voto. Na discussão do apoio ao tucano também não faltaram críticas. Serra foi chamado de ''semeador de ódio''.


Deputado termina protesto
BRASÍLIA - O deputado Paulo Mourão (PSDB) anunciou ontem, no plenário vazio da Assembléia Legislativa do Tocantins, o fim da greve de fome que estava fazendo há três dias. Ele se diz satisfeito com a decisão da Câmara de deixar a cargo da procuradoria parlamentar a tarefa de apurar as denúncias feitas por ele. Com a mesma roupa desde o início da semana, o deputado, que não foi reeleito, estava abatido e sem condições de levar o protesto adiante.

Mourão afirma que o órgão auxiliar da Mesa Diretora da Câmara tem mais poderes do que a comissão solicitada por ele. O deputado acredita que a procuradoria vai tomar as providências cabíveis a fim de investigar as supostas irregularidades eleitorais que teriam ocorrido em Tocantins. Cansado e com o apoio de colegas, Mourão foi obrigado a admitir a inutilidade do gesto. Ele reconheceu que uma comissão não pode ser criada apenas porque um deputado considera necessário. Pelo regimento, é preciso que haja sustentação jurídica para a instalação.

Nota divulgada ontem pelo Diretório Regional do PSDB do Estado recrimina a atitude do deputado e informa a possibilidade de sua expulsão do partido. Para Mourão, essa é uma prova do estilo político ''truculento'' adotado pelo governador Eduardo Siqueira Campos, a quem o deputado culpa por sua derrota. Campos, presidente do PSDB estadual, nega todas as acusações feitas pelo deputado.


Roseana passa bem após retirar 3 nódulos
Senadora recebeu visita de Marta Suplicy e Romeu Tuma

SÃO PAULO - A senadora eleita Roseana Sarney (PFL-MA) passa bem após uma cirurgia para a retirada de três nódulos benignos nos seios, na noite de anteontem, no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.

O médico José Aristodemo Pinotti, eleito deputado federal pelo PMDB de São Paulo, disse ontem pela manhã que Roseana está bem e que a senadora está ''completamente curada''.

Roseana não deverá passar por sessões de quimioterapia e ficará internada até a próxima segunda-feira.
Foram retirados dois nódulos do seio esquerdo e um do direito. Ela teve de retirar um quarto de cada seio. Após cerca de três horas de cirurgia, foi realizada a correção estética.

Ontem, de acordo com informações da Rádio CBN, de São Paulo, Roseana recebeu as visitas da prefeita de São Paulo Marta Suplicy (PT) e também do senador Romeu Tuma (PFL), além de pessoas de sua família.

O histórico de pelo menos 12 intervenções cirúrgicas exige de Roseana Sarney cuidados rigorosos com a saúde. Ela realiza exames de sangue de dois em dois meses e faz um check-up completo a cada quatro meses.
Roseana nunca teve diagnóstico de câncer nas cirurgias que fez. A primeira, para a retirada de cisto no ovário, aconteceu quando Roseana tinha 20 anos. Depois disso, ela extraiu outro cisto do ovário e fez quatro cirurgias para retirar pólipos do intestino. Em 1982, a hoje recém-eleita senadora pelo Maranhão retirou um ovário.

Em 1998, em plena campanha para s e reeleger governadora, foi operada em junho para a retirada de um nódulo do pulmão. E, em julho, fez uma cirurgia para retirar papilomas do seio direito e outra para a extração do útero, do outro ovário e das trompas.

Dez dias depois, por causa de aderências intestinais no pós-operatório, sofreu uma nova intervenção cirúrgica. Dessa vez, foram retirados 40 centímetros do intestino da paciente.


Assembléia de Deus apóia Serra
Candidato se compromete a condenar união civil de homossexuais e aborto

BRASÍLIA - Em troca da condenação da união civil entre homossexuais e da legalização do aborto, José Serra, do PSDB, tornou-se ontem o candidato oficial da Assembléia de Deus na disputa pela Presidência da República, em 27 de outubro. O apoio dos evangélicos foi capitaneado pelo bispo Manoel Ferreira, candidato derrotado do PPB ao Senado pelo Rio e presidente vitalício das Assembléias de Deus no Brasil.

O projeto que beneficia os homossexuais é de autoria da ex-deputada e atual prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, do PT. Serra prometeu rever, ainda, a posição do governo Fernando Henrique Cardoso, a favor da cobrança de taxas sobre os templos evangélicos. O tributo consta de uma emenda constitucional de autoria do ex-deputado Eduardo Jorge (PT-SP).

No primeiro turno, a orientação para os fiéis da Assembléia de Deus era apoiar Anthony Garotinho, do PSB. Agora, a congregação preferiu apoiar a candidatura tucana por unanimidade, alegando maior compatibilidade com suas propostas.

De olhos fechados, Serra recitou o Pai Nosso evangélico, com final diferente da oração católica , de mãos dadas com os bispos Manoel e Samuel Ferreira.

- Serra é o melhor candidato e foi um bom ministro da Saúde - afirmou o bispo Manoel Ferreira.

Na solenidade, Serra agradeceu o apoio, comprometendo-se a defender a liberdade religiosa no país, como parte da luta pelos direitos humanos e a liberdade individual.

- As propostas de Serra têm mais compatibilidade com as nossas que as do Lula, do PT. Insistimos e Serra concordou em não apoiar o casamento civil entre homossexuais. Queremos acabar, ainda, com as restrições à instalação de novos templos nos centros urbanos - anunciou o bispo Manoel Ferreira.


Lula na mira dos EUA
NOVA YORK - Uma vitória de Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno da eleição presidencial brasileira desagradará o Governo de George Bush e a comunidade financeira dos Estados Unidos, afirmou ontem, em um editorial, o jornalThe New York Times. Apesar de ter moderado seu radicalismo - segundo o jornal -, Lula deixou claro que vai se opor à maioria das reformas econômicas defendidas pelos EUA nos últimos anos, assim como a política de Washington para Cuba e Colômbia.

O jornal nova-iorquino afirma ainda que se Lula vencer, ''Washington necessitará prestar atenção à mensagem que os eleitores quiseram transmitir nas eleições''. Além disso, o jornal ressalta importância de as reformas de liberalização de mercado na América Latina beneficiarem mais que uma restrita elite.

O editorial lembra que em seus 113 anos como República, o Brasil foi governado por militares e civis procedentes de uma elite culta e preparada da próspera ''Região Sul''. De acordo com o editorial, Lula vem do Norte empobrecido, trabalhou desde cedo para sustentar a família e se converteu rapidamente em líder sindical quando ainda os militares estavam no poder.

Ao contrário do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, diz o jornal, Lula está comprometido com a democracia e passou anos dedicado a uma organização política nacional, o Partido dos Trabalhadores. O jornal também lembra os sucessos do presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso, na adoção da reforma e na consolidação da democracia, assim como o candidato governista, José Serra.

O jornal reconhece que no primeiro turno Serra não conseguiu mais votos devido à atual situação econômica do país e a altivez com que se apresentou na campanha eleitoral. ''O Brasil é uma terra de grandes desigualdades, que o próximo presidente deverá combater com mais força. Um distanciamento muito brusco da ortodoxia econômica, no entanto, pode assustar os investidores e doadores, deixando os cidadãos mais pobres do Brasil ainda mais afundados na miséria''


A voz, a vez, o voto
Com o apoio de Ciro Gomes e Garotinho, além das manifestações de Sarney, Roseana, Antônio Carlos Magalhães e Brizola, consolidou-se em torno da candidatura Lula, como os fatos demonstram, a maior frente de sustentação eleitoral da história moderna do país. Desde a redemocratização de 45 até hoje, passando pela escala da recuperação do voto direto no desfecho de 89, não se encontra nada igual. Ficou inegavelmente muito amplo o espaço do candidato do PT e pequeno o de José Serra. O primeiro congrega, seja porque motivos forem, todas as esperanças que inerentemente a política fornece em busca de reivindicações não concretizadas depois do Plano Real, como é o caso da aceleração do desenvolvimento econômico, crescimento do mercado de empregos ao nível do aumento da população e, pelo menos, equilíbrio entre inflação e reajustes salariais. O segundo, além de tudo isso, é claro, exprime por igual tantos os êxitos quanto o que o governo Fernando Henrique Cardoso deixou de realizar em oito anos.

Nada mais natural do que isso, tornando a divisão bastante nítida. Como aliás ficou claro nos debates otimamente dirigidos por Casoy e Bonner. Como também chamou atenção há poucos dias Carlos Augusto Montenegro, do Ibope. A pesquisa da próxima terça-feira deve balizar o confronto derradeiro.

Quanto aos apoios que voaram para Lula, eles fluiriam naturalmente mesmo sem a voz de Ciro e Garotinho. Mas estes não poderiam, é claro, perder a oportunidade de embarcar no expresso que parte tentando Brasília. Em política, como na vida, nada se faz sem um objetivo, tampouco sem um reflexo. Tanto da parte de uns, quanto de outros, como Marco Maciel e Bornhausen, que vão seguir com Serra. O horário eleitoral retorna segunda-feira, junto à perspectiva de um debate na Globo, como deseja Lula, ou vários debates, como espera José Serra na tentativa de alterar o panorama do primeiro turno. Missão indispensável e difícil. Antes de mais nada, o ex-ministro da Saúde tem que sair do bloco de gelo que o separa do voto. Tem que encontrar dentro de si mesmo mais entusiasmo e calor humano para chegar aos eleitores. Ao contrário do que disse Sartre, o céu também são os outros.

Este aspecto, de fato, pesa muito mais no confronto político do que a imagem que o presidente do Banco Central, Arminio Fraga, destacou ontem de que a crise brasileira é de confiança no futuro e na fidelidade aos compromissos financeiros e com a estabilidade monetária. É mais importante. Tanto assim que o dólar, por exemplo, subiu mais em função de declarações sobre a necessidade de uma recomposição de dívidas e prazos do que em consequência do resultado do primeiro turno. É possível que tenha sido coincidência.

De qualquer forma, o fato essencial será eternamente político. Até porque, como a imprensa, a política é a síntese dos conflitos humanos. Não fossem eles, não haveria na face da Terra nem jornalismo, nem eleição. É um equívoco condicionar o rumo de um país a qualquer continuidade. Se assim fosse, o poder não poderia perder eleição no mundo. Os governos mudam, as nações continuam. Lula e Serra dependem dos que vão às urnas. Dos que tanto têm voz, como voto.


Artigos

O recado das urnas
Newton Rodrigues

O resultado das eleições inovou e surpreendeu. Quem poderia imaginar que, de uma tacada só, seriam derrotados Paulo Maluf, Orestes Quércia, Fernando Collor, Íris Resende, Leonel Brizola, Artur da Távola, Bernardo Ca bral, Hugo Napoleão, Newton Cardoso, Gilberto Mestrinho, Luiz Antônio Fleury, Rubem Medina e outras lideranças e personalidades, algumas há décadas na vida política?

Mais do que uma opção ideológica, o recado dos eleitores foi de renovação. Senão como explicar que, no Rio de Janeiro, uma candidata sem experiência administrativa, abrigada numa legenda quase inexpressiva, tenha derrotado em primeiro turno seus adversários do PT, do PDT e a da tríplice aliança de três grandes partidos (PSDB-PMDB-PFL)? O voto evangélico não explica tudo, pois perfaz apenas 28% da população do Estado, e a vencedora teve perto de 52%, quase o dobro, portanto. Se vai ou não fazer um bom governo, isso o tempo dirá. Mas um recado foi dado: por estar muito dividido o eleitorado da capital, venceu a candidata do interior, repetindo o fenômeno Garotinho, seu marido. Província e periferia conquistaram a ex-Cidade Maravilhosa.

Em São Paulo, a polarização se deu entre a esquerda (PT) e a centro-esquerda (PSDB), alijando a direita, que no entanto recebeu mais de 4 milhões de votos. Os conservadores entretanto continuam fortes: um dos seus representantes mais evidentes, o delegado Romeu Tuma, fez-se senador pelo PFL, e o exótico Enéas, do Prona, uma espécie de neo-integralista, mesmo contando com apenas 17 segundos no horário eleitoral, foi o deputado federal mais votado do país, com 1 milhão e meio de eleitores. Várias vezes mais do que José Dirceu e Michel Temer, presidentes do PT e do PMDB. Foi um voto de protesto ou indica uma tendência? É preciso analisar tudo isso com muita atenção, pois também aqui um recado, seja qual for, está sendo transmitido pelas urnas.

Na Câmara nota-se um nítido avanço das chamadas forças progressistas. Os quatro partidos principais continuarão os mesmos, embora mudada sua hierarquia numérica. Se antes tínhamos, pela ordem, PMDB, PFL, PSDB e PT - agora teremos PT, PFL, PSDB e PMDB. E, no Senado, PMDB, PFL, PT e PSDB. Bem poucas vezes houve um panorama tão favorável a reformas, mas se elas vão se articular e como, é outro problema. Se houvesse voto distrital e os Estados mais populosos não estivessem sub-representados frente aos periféricos, tudo estaria bem melhor. Isso mais cedo ou mais tarde vai ter de ser corrigido, pois atenta contra o princípio democrático de ''um homem, um voto''.

Um fato a assinalar é a relativa indiferença, até agora, do grosso do eleitorado por esse assunto fundamental, indicativa do desgaste do Legislativo e das chamadas (ou supostas) elites dirigentes.

Quanto ao pleito presidencial, que vai a segundo turno, as possibilidades de Lula são evidentes e apontam para a iminência de uma alteração radical em todo o sistema. Se no Legislativo pode haver negociação e mesmo algum tipo de coalizão com os novos deputados e senadores eleitos, um confronto com o Judiciário, sempre o poder mais conservador, não seria desejável mas pode ser inevitável. Isso criaria uma grave crise institucional. Mais do que nunca é preciso investir nas reformas política, tributária e judiciária. A hora de fazê-lo é ainda no primeiro ano de mandato, e não vai ser tão fácil como alguns pensam e quase todos desejam. Negociar é preciso. O jeitinho brasileiro tão proclamado tem funcionado razoavelmente em questões secundárias, mas permaneceu inócuo nas crises mais sérias. É esperar para ver.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer

Lafer critica 'excessos retóricos'
O ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, não discrimina: critica José Serra e Luiz Inácio da Silva pelo que considera ''excessos retóricos'' dos candidatos e alerta os dois finalistas da eleição presidencial sobre as conseqüências daquilo que dizem.

A exemplo do que ocorre na economia, razão de sucessivas cobranças de Pedro Malan e Arminio Fraga por clareza e firmeza nas posições dos postulantes à Presidência da República, o chanceler está preocupado com a recepção que o mundo dará ao eleito, vis-à-vis as opiniões emitidas durante a campanha.

''Demagogia pode ser útil para ganhar votos, mas não garante uma inserção qualificada do Brasil no cenário internacional.''

Na visão do ministro, basta o desafio que o próximo presidente enfrentará ao substituir Fernando Henrique Cardoso, cuja posição na América do Sul é de liderança. Sem contar a imagem altamente positiva no exterior.
Qualquer um dos dois - Lula mais, Serra menos, é óbvio - que vença a eleição dia 27, terá problemas na comparação com o antecessor. Isso, na opinião de Lafer, já representa problema suficiente para que ainda sejam criados inutilmente outros obstáculos.

''Não se pode dizer qualquer coisa, imaginando que não haverá repercussão internacional, que isso não servirá para formar um juízo antecipado sobre o próximo governo nem terá efeitos sobre as relações comerciais do Brasil, no futuro e desde já.''

Celso Lafer cita exemplos de inadequações verbais tanto da parte de Lula quanto de Serra. Este, na concepção do ministro, erra e exagera quando faz críticas ao Mercosul.

Lafer acha que as críticas do tucano à união aduaneira acabam enfraquecendo as posições brasileiras nas negociações em andamento.

''Afinal, as tratativas com a União Européia e as conversas sobre a Alca são feitas no âmbito do Mercosul. As críticas soam mal e põem em questão uma política de Estado.''

O chanceler pondera que, em matéria de política externa, as posições de Estado transcendem decisões de governo: ''Não se muda uma orientação a menos que haja mudanças internas muito fortes ou alterações no sistema internacional.''

Por isso, Celso Lafer manifestou-se quando da declaração de Lula contra o Tratado Sobre a Não-Proliferação de Armas Nucleares.

''Fiz ver que o uso pacífico da energia nuclear é pressuposto constitucional, e que, o mesmo Mercosul que Lula apóia, foi criado por José Sarney e Raúl Alfonsín, sob a égide do princípio de que a América Latina seria uma zona livre de armas nucleares. Isso, em boa medida, para conter a ação dos militares.''

Os candidatos, na avaliação de Lafer, devem ''prestar mais atenção ao mundo'', e atinar para os riscos de ferirem interesses nacionais. Aqui, refere-se especificamente à eventualidade de posições de confronto com os Estados Unidos.

''O fato de os Estados Unidos serem hoje uma potência mundial hegemônica é um dado da realidade'', diz ele, ressaltando que, devido às mudanças no sistema internacional, países que no tempo da bipolaridade eram inimigos dos EUA, agora se interessam pela manutenção de boas relações.

Cita os exemplos de Cuba, China e Rússia. E, à luz desse argumento, considera equivocada a idéia do PT de ter uma relação mais forte com um bloco formado por Índia, China e Rússia.

''Se pensam, com isso, substituir o relacionamento com os Estados Unidos, estão enganados, porque a nenhum daqueles três países interessa firmar uma aliança de confronto com os norte-americanos.''

Celso Lafer não é diplomata, define-se como ''ministro político'' e, é exatamente por não ser da carreira, que se sente à vontade para lembrar que o Itamaraty não funciona no piloto automático.

''Segue a orientação do presidente da República, através do ministro das Relações Exteriores.''

Sendo assim, Lafer credita importância vital à escolha do próximo chanceler. ''Nela será dado ao mundo o sinal sobre o rumo que o Brasil vai tomar.'' Ele não vê razão alguma - ao contrário - para mudanças de eixo na política externa.

Vai além e recomenda vagar com o andor: ''Não dispomos de recursos de poder para organizar o mundo à nossa imagem e semelhança.''

Superdimensionar o peso político do país é tão equivocado, na visão do ministro, quanto acreditar que a hist ória do Brasil começará com a posse do próximo presidente e que as críticas ao passado têm o poder de resolver problemas futuros.

''Os candidatos me parecem que estão lendo a Bíblia com atenção em dois livros apenas: o do Gênesis e o dos profetas. Seria prudente que se fixassem nos trechos da sabedoria.''

Fundamentalmente para evitar voluntarismos de efeitos nefastos.


Editorial

MAIS TRANSPARÊNCIA

Não é de hoje que o mercado financeiro exibe os nervos à flor da pele. Ao longo do processo sucessório, parte da tensão foi provocada por pura especulação. Agora, porém, conhecidos os dois finalistas, o nervosismo deixou de ter motivação etérea. A oscilação do dólar ganhou fundamento. Sua origem não está nos compromissos dos candidatos mas, sim, nas conversas de bastidor sobre os rumos da política econômica. Observa-se divergência flagrante entre os pronunciamentos públicos e o que é dito em reuniões fechadas. E o mercado se ressente.

Por menos diplomático que possa parecer, o presidente do Banco Central, Arminio Fraga, agiu corretamente ao dar nome aos bois. Os compromissos do primeiro turno com a estabilidade, o câmbio flutuante e a responsabilidade fiscal foram, de fato, superficiais. Precisam ser aprofundados. Os candidatos têm de explicitar seus programas, da forma mais consistente possível. Só assim a sociedade saberá se conflitam ou não com a realidade.

As promessas de crescimento e emprego não condizem com a conjuntura econômica mundial, delicadíssima. O horizonte da economia é sombrio e o Orçamento da União para o ano que vem está comprometido. Lula, especialmente, deve agir com prudência. Não interessa ao PT uma transição tumultuada. Só há um caminho a seguir: expor o pensamento sem subterfúgios. Às claras.


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10/11/2002


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