Rio+20 precisa de agenda mais ousada e presença de líderes mundiais, alertam debatedores
Para garantir um lugar na história ao nível da Cúpula da Terra de 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) deverá ter uma agenda mais ambiciosa e atrair a presença, no Rio de Janeiro, de um grande número de chefes de Estado e de governo. A advertência foi feita nesta segunda-feira (12) por participantes de audiência pública promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE).
O presidente da comissão, senador Fernando Collor (PTB-AL), considerou “tímido e desnorteado” o documento-base das negociações, divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU), conhecido como zero draft. Em sua opinião, é preciso garantir uma definição “clara” do que seja a economia verde, além de se estabelecer no documento o princípio do não retrocesso, por meio do qual a nova conferência não poderá adotar medidas que contrariem as decisões da Rio 92.
O senador ressaltou a necessidade de atrair para o evento o maior número possível de líderes mundiais.
– O sucesso da Rio+20, no qual ainda teimo em acreditar, depende das decisões a serem tomadas e do número de chefes de Estado e de governo que estiverem presentes. Nenhuma desculpa deverá ser aceita pelo não comparecimento. Na Inglaterra, diz-se que o primeiro ministro David Cameron não vai ao mesmo país mais de uma vez por ano. Nos Estados Unidos, dizem que há eleições em curso. Não se trata de convidar as autoridades, mas de convocá-las. A hora é de união e de ação – afirmou Collor.
Ex-secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, o professor José Goldenberg recordou o esforço feito por Collor, três meses antes da Rio 92, para conseguir atrair para a cúpula mundial um grande número de chefes de Estado e de governo.
Enviado à China pelo então presidente, o professor relatou ter sido inicialmente recebido pelo ministro do Meio Ambiente, que decidiu levá-lo ao primeiro ministro chinês. Nesse momento, ele argumentou ao primeiro ministro que seria do próprio interesse da China adotar um novo modelo de desenvolvimento. Cético, o primeiro ministro lhe pediu um exemplo. O professor recorreu à diferença entre as geladeiras em uso na China e as mais eficientes já em produção naquele momento.
– Com geladeiras mais eficientes vocês gastariam três vezes menos energia e queimariam três vezes menos carvão – lembrou Goldenberg.
Ao expor os preparativos para a realização da Rio+20, por parte do governo brasileiro, o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, subsecretário-geral de Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores, lembrou que a Rio 92, organizada por Collor, foi um “marco inacreditavelmente forte para tudo o que veio depois”. Ele informou ainda que o presidente da comissão tem “pleno e total apoio do governo” na tese de que não se pode agora retroceder.
Populações vulneráveis
O professor Sérgio Besserman Vieira, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, disse não existir mais a “dicotomia perversa” entre o desenvolvimento e a preservação do meio ambiente. Ele alertou que os mais graves impactos da crise ambiental se abaterão justamente sobre as populações mais vulneráveis do planeta.
– Combater a pobreza é enfrentar a crise ecológica. A Rio+20 será avaliada pela coragem que terá de assumir de frente a gravidade dos problemas. Se tentar tergiversar e não reconhecer que estamos frente a um dos maiores desafios da história da humanidade, talvez não seja bem lembrada – advertiu.
Por sua vez, o professor Eduardo José Viola recordou que o cenário internacional do momento não favorece o sucesso da Rio+20. Segundo ele, nos Estados Unidos existe hoje uma sociedade dividida, onde uma parte tem consciência ambiental e outra é “extremadamente irracional”, composta principalmente por setores do Partido Republicano, que busca derrotar o presidente Barack Obama nas eleições deste ano.
– A administração Obama está paralisada na capacidade de implementar políticas e coliderar o mundo – alertou Viola.
Mais empenho
Durante o debate, a senadora Ana Amélia (PP-RS) disse ter ficado impressionada com informações apresentadas durante a audiência por Goldenberg, a respeito dos crescentes níveis de consumo no planeta.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) lamentou não ver um “empenho decisivo e forte do governo brasileiro” pelo sucesso da Rio+20 e sugeriu a Collor que transmitisse a preocupação de toda a comissão à presidente Dilma Rousseff.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) lembrou que haveria uma oportunidade para isso já nesta terça-feira (13), para quando se espera a presença de Dilma em sessão especial de homenagem ao Dia Internacional da Mulher e entrega do Prêmio Bertha Lutz.
Marcos Magalhães
12/03/2012
Agência Senado
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