Ruído em incubadora traz risco para a audição de recém-nascidos



Ruídos de máquinas, manuseio de equipamentos e conversas atingem níveis que podem comprometer a capacidade auditiva dos bebês no futuro

Uma pesquisa com 35 bebês prematuros internados na unidade neonatal de cuidados intermediários em um hospital de Ribeirão Preto (interior de São Paulo), avaliou as fontes e níveis de ruído e as respostas fisiológicas dos recém-nascidos nas incubadoras. O estudo, realizado pela fonoaudióloga Milena Rodarte, aponta que os ruídos de máquinas, manuseio de equipamentos e conversas atingiram níveis que podem comprometer a capacidade auditiva dos bebês no futuro.

Entre os recém-nascidos pesquisados, 20 bebês foram analisados durante duas horas, sendo expostos a ruídos diversas vezes dentro desse período, ocasionados pelo cuidado natural com eles na unidade neonatal. "Não desencadeamos ruídos, a observação foi em cima dos ruídos do próprio cuidado com o bebê na unidade neonatal”, conta Milena. “Não constatamos indício de dor, mas houve mudanças significativas de comportamento, como movimentos corporais, manifestações faciais e mudanças no estado de sono e vigília".

A pesquisa usou a escala de compensação A, medida em decibéis  (dBA), que é a mais usada e requerida pelas normas por apresentar respostas similares ao ouvido humano. "Os bebês estavam numa média de ruído entre 47,6 a 88, 7 decibéis, acima do limite de 45dBA recomendado por organizações internacionais", diz a pesquisadora. Mais da metade dos bebês estavam expostos a limites médios superiores aos 60dBA permitidos para incubadoras pelas normas brasileiras.

A fonoaudióloga ressalta que, no Brasil, o berçário está incluído nas normas do conjunto de enfermarias do ambiente hospitalar (45dBA como permitido e 35dBA como desejável), não existindo nível específico para ambiente neonatal. "No País, temos normas para incubadoras que são de 60dBA como permitido e 80dBA com alarme soando”, afirma Milena. “Esta é uma diferença gritante, pois os dBs são medidos em logaritmos e a literatura traz que a cada 6dB a intensidade sonora triplica, ou seja, uma variação de 15dB significa um aumento de 45dB".

Repouso

O repouso auditivo é fundamental para o recém-nascido, afirma a pesquisadora. “O bebê precisa de energia para o desenvolvimento e crescimento e não para responder estresses provocados pelos ruídos, por exemplo, que podem levá-lo à demora no ganho de peso e até atrasar sua alta hospitalar", explica. "Também é necessário se preocupar com a exposição em longo prazo, pois muitos desses recém-nascidos já têm outros fatores de risco para deficiência auditiva, como uso de drogas pela gestante e a permanência em UTI por mais de 48 horas."

A pesquisa de Milena faz parte da tese de doutorado Exposição e Reatividade do Prematuro ao Ruído Intenso Durante Cuidado em Incubadora, apresentada na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP. "Os resultados mostram a necessidade de reavaliação e mudanças nas normas de conforto acústico, com ênfase no cuidado neonatal e na regulamentação de fabricação de equipamentos, principalmente das incubadoras e seus feches das portinholas”, diz a professora Carmem Silvan Scochi, da EERP, orientadora da tese.

Carmem observa que a questão do equipamento deve ser contemplada pela instituição hospitalar quando da sua aquisição. "As incubadoras são feitas de acrílico, material que não absorve o ruído, que entra na incubadora e fica certo tempo naquele ambiente. Fração de segundo, mas fica”, alerta. “Os bebês são manuseados pelo menos, 30 vezes ao dia, e a redução mínima de ruído será sempre significativa, já que cada 6dB triplica o nível de ruído."

Segundo a orientadora, as instituições devem trabalhar paralelamente com programas de intervenções junto à equipe de cuidadores, para que ela participe da construção e implementação de estratégias de mudanças de comportamento. "Nós, latinos, falamos muito alto e a conversação na unidade é uma importante fonte de ruído, por isso toda a equipe deve estar envolvida”.

Da Agência USP de Notícias

(S.M.)



10/05/2007


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