Sarney Filho repudia ação policial e deixa governo









Sarney Filho repudia ação policial e deixa governo
Ministro do Meio Ambiente reage à invasão de empresa da irmã, Roseana Sarney, por agentes em São Luís

Parte do PFL começa a desembarcar do governo Fernando Henrique Cardoso.
Em solidariedade à irmã e governadora do Maranhão, Roseana Sarney, o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, entrega hoje sua carta de demissão a FH.

Outro pefelista que pode tomar o mesmo caminho é o ministro da Previdência Social, Roberto Brant. Sua permanência no cargo se tornou praticamente insustentável depois que ele atacou hoje o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, criticando duramente o apoio dado pelo colega à ação da Polícia Federal (PF), que na sexta-feira fez uma operação de busca e apreensão na sede da empresa Lunus, de Roseana e seu marido, Jorge Murad. Os agentes cumpriam determinação da Justiça Federal do Maranhão, que investiga o envolvimento de Murad em fraudes na antiga Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).

– Trata-se de uma montagem política, grotesca e malfeita. Isso desmoraliza as instituições. Se for esse o procedimento de investigação que o ministro da Justiça defende, devemos rever o Estado de Direito. Estou revoltado, com vergonha do meu país – disse Brant.

– Acho que não preciso dizer nada. Meu gesto de entregar o cargo já diz tudo – afirmou Sarney Filho.

A cúpula do PFL, no entanto, está dividida. Por enquanto, prefere dar um caráter pessoal à demissão de Sarney Filho. O presidente nacional do partido, Jorge Bornhausen, só pretende anunciar uma posição oficial depois da reunião da executiva marcada para a quinta-feira. Hoje, ele se encontrará com Roseana e Brant em Uberaba para avaliar melhor se a situação exige mesmo um rompimento imediato com o governo. O ministro das Minas e Energia, José Jorge, por exemplo, já adiantou a alguns interlocutores que só deixa o cargo se o partido decidir que está rompendo formalmente a aliança com o PSDB.

– O PFL não é partido de tomar decisões precipitadas. Uma saída em bloco só seria tomada depois de um debate interno, e só a executiva teria poderes políticos para falar sobre isso. Vamos aguardar a quinta-feira – comentou o secretário-geral do partido, deputado José Carlos Aleluia (BA).

Preocupado com a crise, o presidente Fernando Henrique Cardoso se reuniu ontem no Palácio da Alvorada com o ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, e depois jantou com o líder do PSDB no Senado, Artur da Távola (RJ). Pimenta disse que o presidente espera que os pefelistas não misturem ações da Justiça com as do governo:

– O presidente tem acompanhado o episódio, mas é bom lembrar que essa questão foi originada na Justiça. O presidente acredita que o PFL saberá distinguir a diferença.
A governadora do Maranhão, contudo, está convencida de que o governo estimulou a operação da PF e cobrará a solidariedade do partido. Ela embarca hoje cedo para Uberaba em Minas Gerais, onde se reunirá com Bornhausen e Brant.

– A opinião de Roseana é muito importante porque ela é hoje a líder mais influente do partido – adiantou o ministro da Previdência.

Mesmo tendo se solidarizado com a governadora do Maranhão num primeiro momento, Bornhausen tentou baixar o tom de indignação do partido em relação ao governo. Em outras crises com o PSDB, ele sempre conseguiu convencer a cúpula do partido que a aliança deveria ser mantida. Os aliados de Roseana lembram que Bornhausen não deu nenhuma declaração incisiva até agora em favor do rompimento.


Serra, Bornhausen e Murad divulgam notas oficiais
O candidato do PSDB à Presidência, senador José Serra (SP), e o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), e Jorge Murad, marido da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), divulgaram ontem notas oficiais relacionadas à operação policial na sede da empresa Lunus, em São Luís, na sexta-feira.

A Lunus pertence à governadora do Maranhão, Roseana Sarney, e ao seu marido, Jorge Murad, secretário de Estado, e é um dos alvos da investigação sobre desvio de verbas da extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).

– Não conhecemos os procuradores do Tocantins, muito menos suas representações e despachos – afirmou Serra, depois de qualificar como “estapafúrdias” as insinuações, feitas por pefelistas, de que os tucanos estariam por trás da operação da PF.

Bornhausen dirigiu-se ao ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira.

– Ninguém esperaria do ministro da Justiça um aviso prévio, que se vangloria de não ter feito. Esperava-se que, diante da gravidade do fato, ele tivesse examinado a fundamentação legal do mandado de busca e apreensão antes mesmo de ser sumaria e arbitrariamente executado – disse.
Segundo Bornhausen, se tivesse “lido e estudado” o mandado, o ministro teria constatado, “tal como sentenciou o presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, que não havia fundamento legal para a busca e apreensão”. Trata-se de uma referência à decisão do juiz Fernando Tourinho Neto, que no sábado suspendeu, em caráter liminar, o envio dos documentos e equipamentos apreendidos em São Luís para Palmas (TO), o centro das investigações sobre a Sudam.

Nos três últimos dias, pefelistas criticaram Aloysio, queixando-se de que o ministro saberia da operação e não teria avisado a governadora. O ministro disse que só tomou conhecimento da ação policial quando já estava em curso.

– Mas mesmo que soubesse não avisaria – declarou.

Murad divulgou ontem um comunicado de três páginas em que critica a Justiça Federal, a PF, e classifica toda a ação como fruto de “interesses partidários da política de baixo nível moral”.
Dizendo-se “estarrecido”, Murad reclamou de que não teria tido acesso às acusações que pesariam contra ele.


PMDB dissidente derrota cúpula
Grupo oposicionista fez reunião não-oficial e aprovou prévia

A ala oposicionista do PMDB comemorou ontem uma vitória sobre a cúpula do partido, alinhada à base governista.

Em convenção realizada sem o aval da direção partidária, o grupo pró-candidatura própria confirmou a prévia do dia 17, que apontará o representante do partido na corrida presidencial e aprovou as regras da escolha.

Oencontro foi patrocinado pelo governador de Minas Gerais, Itamar Franco, pelo presidente paulista do partido, Orestes Quércia, e pelo senador Pedro Simon. Após a convenção, Itamar chegou a admitir que poderia abrir mão da pré-candidatura em favor de Simon. O governador já não demonstra a mesma vontade de antes em ir até o fim na disputa pela candidatura.
– Não vejo nenhum obstáculo a uma chapa única, desde que seja com Simon – disse Itamar, ressaltando que é candidato.

– A prévia vai sair e o PMDB terá candidato próprio – disse Simon.

O evento foi um desafio aberto à cúpula nacional do partido, presidida pelo deputado federal Michel Temer (SP), que convocou outra convenção extraordinária para o dia 8, para tratar do mesmo tema. Ontem, Temer (SP), disse que iria “ignorar” o encontro da ala dissidente. Antes, a direção do PMDB havia tentado derrubar o encontro de São Paulo com pedidos de liminar ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e à Justiça Federal.

Os oposicionistas alteraram o quórum mínimo de votação na prévia, de 50% para 20% dos quase 16 mil votantes, e decidiram que o nome escolhido na disputa será homologado automaticamente pela convenção. A lei prevê que as convenções partidárias oficiais sejam realizadas em junho. Os dissidentes decidiram dar ao candidato plenos poderes para conduzir a campanha e decidir sobre coligações.

Os organizadores do evento afirma m que foi atingido o número mínimo de delegados para que a convenção tenha validade. Segundo o vice-presidente do PMDB paulista, Airton Sandoval, 250 membros com direito a voto estavam presentes durante a votação. O número mínimo exigido por lei era 247.

– A convenção é legítima e terá de ser obedecida pela executiva do partido – disse Quércia.
Na ausência de Temer, a sessão foi presidida pelo deputado federal Cezar Schirmer, primeiro vice-presidente do partido.


Bancada gaúcha festeja resoluções
O PMDB gaúcho comemorou a conclusão da convenção extraordinária do partido.
Com a presença de 51 gaúchos, entre parlamentares e delegados, o encontro teria reforçado a candidatura do senador Pedro Simon à Presidência, na avaliação da direção gaúcha da sigla.

– Foi uma mobilização válida e eficaz. Para os gaúchos, só vem a confirmar a viabilidade de Pedro Simon como o nosso candidato ao Palácio do Planalto – afirmou o deputado federal Cezar Schirmer, 1º vice-presidente nacional do PMDB, que presidiu a reunião na ausência do presidente, deputado federal Michel Temer (SP).

Schirmer prevê o cancelamento da convenção de sexta-feira, organizada pela maioria da direção nacional do PMDB.

Para o deputado estadual Alexandre Postal, a confirmação do quórum obtido na convenção – foi registrada a presença de 250 delegados – foi uma surpresa. Satisfeito com o resultado, o parlamentar acredita que o resultado da convenção mostrou que o PMDB tem um voto definido, e que não pode ficar atrelado à decisão da executiva.

– Agora não tem mais conversa. A convenção provou que o partido é maior e mais nobre que a sua executiva – disse Postal.

O deputado federal Germano Rigotto considerou a convenção uma vitória dos que defendem a candidatura própria do PMDB. E vê o resultado do encontro como um estímulo para a candidatura de Simon à Presidência.

– Foi um sucesso. Apesar de tantos boicotes, prevaleceu o bom-senso da maioria do partido. Agora, é preparar as prévias – comemorou o deputado.


TSE oficializa padronização de alianças em sessão de amanhã
Resolução é a mais polêmica da Justiça Eleitoral em 20 anos

A mais polêmica decisão proferida nos últimos 20 anos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) será oficializada até a meia-noite de amanhã.

A tendência do tribunal é aprovar a padronização das coligações, proibindo partidos que não estiverem coligados na eleição para presidente da República de se coligar nos pleitos para governador, senador, deputado federal e deputado estadual.

A definição deve ser incluída na Resolução nº 55, a ser votada pelos sete ministros do TSE em reunião no início da noite, em Brasília. Na terça-feira, o tribunal aprovou uma resposta favorável à padronização diante de consulta dos deputados do PDT Miro Teixeira (RJ), José Roberto Batochio (SP), Fernando Coruja (SC) e Pompeo de Mattos.

Embora não tenha força de lei, a resposta ao PDT será tratada na prática como jurisprudência pelo TSE. É praticamente impossível que a maioria de cinco a dois formada na terça-feira no TSE seja revertida e a padronização fique de fora da Resolução nº 55.

Na sexta-feira, em visita ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo, o relator da resolução, Fernando Neves, demonstrava segurança a respeito da matéria.

– Quem é amigo em nível nacional não pode ser adversário nos Estados – disse Neves.

A tese é defendida desde 1987 por Nelson Jobim, na época deputado federal constituinte pelo PMDB e hoje presidente do TSE. Além de Jobim, votaram a favor da padronização quatro dos sete ministros do tribunal: Ellen Gracie, Luiz Carlos Madeira, Fernando Neves e Garcia Vieira. Foram votos vencidos os ministros Sepúlveda Pertence e Sálvio de Figueiredo.

A interpretação causou alvoroço entre os partidos. Foi classificada de “golpe” pela candidata presidencial Roseana Sarney (PFL) e de “aberração” por Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O motivo da revolta é que a padronização, definida sete meses antes da eleição, interfere nas coligações que vinham sendo montadas nos Estados, muitas vezes sem coerência com as alianças nacionais. Para Jobim, porém, a medida fortalece o sistema partidário nacional.

A decisão de amanhã não deve esgotar a polêmica. O PMDB aguarda a publicação da resolução do TSE para decidir se apresenta um projeto de decreto legislativo contra a medida ou se ingressa com uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin) junto ao STF. Outro caminho para questionar a padronização, de efeito mais lento e incerto, é a proposta de emenda constitucional (PEC) em tramitação no Senado que libera as coligações nos Estados.

Se provocado, o Supremo deve se posicionar sobre o assunto de forma rápida, conforme o presidente do tribunal, ministro Marco Aurélio de Mello, que já demonstrou desacordo em relação à medida. De acordo com o ministro do TSE Luiz Carlos Madeira, uma liminar concedida pelo STF seria suficiente para garantir a realização das eleições de outubro sob as normas anteriores, de 1998.


Governo cria imposto para grande empresa
Desempregado terá ajuda

O presidente da Argentina, Eduardo Duhalde, anuncia oficialmente hoje a criação de um imposto especial para as grandes empresas. Com o novo imposto, o governo argentino vai financiar um programa de subsídios que beneficiará cerca de 2 milhões de desempregados.

Duhalde disse ontem que espera arrecadar imediatamente cerca de 2 bilhões de pesos (quase US$ 1 bilhão).

– A única decisão tomada pelo governo é impor uma taxa às grandes companhias que tomaram empréstimos em dólares e se beneficiaram da conversão em pesos (desvalorizados). E será só uma vez – afirmou Duhalde ao jornal La Nación.

Com essa quantia, que será somada a outra de 1,2 bilhão de pesos por imposições previstas no Orçamento, o governo prevê conceder subsídios de 150 pesos (cerca de US$ 73) mensais a chefes de famílias sem salário com a condição de que trabalhem quatro horas diárias. Duhalde, que assumiu no dia 1º de janeiro depois da agitação social que forçou no final de dezembro a renúncia de dois presidentes – Fernando de la Rúa e Adolfo Rodríguez Saá –, foi responsável pela desvalorização do peso depois de quase 11 anos de paridade um a um com o dólar.

Duhalde já havia manifestado há três semanas sua intenção de impor um tributo especial para financiar planos sociais, tal como o primeiro-ministro britânico Tony Blair fez para desenvolver um programa de seguro-desemprego. A idéia de cobrar das grandes empresas surgiu na chamada Mesa do Diálogo, que reuniu – sob o auspício das Nações Unidas – representantes do governo, da Igreja e dos sindicatos de trabalhadores e de empresários. Depois de um mês de reuniões com diferentes setores, essa mesa entregou na semana passada a Duhalde um documento de 75 páginas com propostas destinadas, fundamentalmente, a atender os pobres e marginalizados.

O setor agrário, cujas exportações foram beneficiadas com a desvalorização do peso, teme que também sofra a imposição da nova taxa. Por isso, eles estão dispostos a se antecipar e criar um fundo social de até 1,5 bilhão de pesos, gerido pelos próprios fazendeiros.

Segundo dados oficiais, 5 milhões de pessoas não têm emprego ou só têm acesso a trabalhos temporários, o que empurrou pouco mais da terça parte dos 36 milhões de habitantes do país a viver na pobreza ou na indigência.

Uma missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) chega amanhã à Argentina, segundo fontes do Ministério da Economia. O chefe da missão será o indiano Anoop Singh, indicado pela diretoria do FMI para substituir o chefe do Departamento Ocidental, Claudio Loser, nas negociações.

As conversas podem ser decisivas para o FMI liberar novo empréstimo ao país. O governo, no entanto, não poderá mostrar o Orçamento deste ano aos técnicos do Fundo. O presidente do Senado, José Luis Gioja, disse ontem que a Casa só começa a analisar o projeto, já aprovado pela Câmara, na quarta-feira. Ele prometeu, porém, que o Orçamento passará no Senado sem modificação.

Os argentinos, impossibilitados de sacar seu dinheiro das contas, continuam protestando quase que diariamente contra o governo e os bancos. Uma greve de professores marcada para hoje pode prejudicar o início do ano letivo em sete províncias. Os docentes lutam contra os ajustes do Orçamento para a educação e os atrasos nos pagamentos dos salários.


Artigos

O bobo das urnas
Jayme Eduardo Machado

Foi Millôr quem percebeu, lá pelos idos do início da abertura democrática que, “pelo buraquinho da liberdade, já se pode ter uma idéia da extensão da bandalheira”. O “guru do Meier” estava se referindo à tímida retomada da liberdade de informação, no início um arriscado exercício de voyeurismo do que ocorria nos bastidores da vida político-partidária brasileira, mas que – pensava-se – com a plenitude democrática seria capaz de constranger os atores políticos do bipartidarismo imposto pela ditadura a não abusar do pluralismo partidário recém conquistado.

Pois inicialmente fez-se a liberdade de constituição dos partidos e, a seguir, a liberdade de filiação dos candidatos. Com aquela, desencadeou-se a permissiva coligação das siglas, e, com esta, instalou-se o hábito da libertina movimentação dos candidatos de um partido para outro, ao sabor de suas conveniências pessoais. Enfim, pelos jejunos em democracia, fez-se o abuso, e, deste, surgiram os reclamos por mais uma reforma, a eleitoral.

Não de ofício, mas respondendo a uma consulta, como é do sistema, o Superior Tribunal Eleitoral, em decisão administrativa, e, pois, sujeita a correção mediante Ação Direta de Inconstitucionalidade perante o STF, sinalizou a reforma. A mesma impõe às siglas que se coligarem na opção por determinado candidato à presidência da República o dever de se absterem na formação de coligações para a governadoria do Estado ou Distrito Federal, senadoria, deputado federal, estadual ou distrital com outros partidos políticos que tenham, isoladamente ou em aliança diversa, lançado candidato à eleição presidencial.

Jamais passar o eleitor para trás, sem antes consultar os companheiros do partido

O ministro Luiz Carlos Madeira – de boa cepa – em matéria de capa de ZH detalhou a decisão que se pode resumir em duas palavras: “Coerência política”.

Da parte de expressiva representação de candidatos, reais ou virtuais, às próximas eleições, percebe-se um misto de perplexidade e vitimismo, pois estaria em curso uma conspiração oficial contra os seus arranjos, pessoais e partidários.

Assim, as queixas, de variados matizes, parecem carregar mais nas tintas do “casuísmo”, pois, com o jogo já em andamento, não serão poucas as rupturas que a padronização, se confirmada, causaria nas costuras já alinhavadas na multifária gama de possibilidades de coligação entre siglas de todos os tamanhos, das nanicas às mais encorpadas. Em coro, erguem-se vozes argumentando com nossas diferenças regionais em relação à unidade nacional, uma realidade apenas geográfica. Todos têm razão, inclusive os nem tão bem-intencionados.

Mas, e o eleitor, o que pensa? Da maneira como os candidatos e pré-candidatos reagiram, a opinião dos bobos das urnas – a julgar pelos resultados pró “coerência política” das pesquisas do Conversas Cruzadas e do Polêmica – não conta, ou por outras, contam-se, sim, os seus votos, depois de convencê-los de que o importante é o partido. Embora nem partidos nem candidatos tenham compromissos com os eleitores, tanto que as agremiações querem prosseguir se coligando como e com quem quiserem, e os eleitos, pulando a cerca à vontade.

Enfim, coerência política, retomando os ensinamentos do nosso guru, parece ser apenas isso: jamais passar o eleitor para trás, sem antes consultar os companheiros do partido.


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

Dificuldades no Mercosul
As empresas européias que operam no Brasil e que tentam estabelecer aqui uma base de produção destinada aos países do Mercosul encontram barreiras enormes. É mais fácil e até mais barato exportar um produto daqui para a Itália do que para a Argentina, exemplifica o embaixador da Itália no Brasil, Vicenzo Petrone. Entre as maiores dificuldades estão não apenas os elevados custos portuários e alfandegários, mas especialmente os métodos e a infra-estrutura muito atrasados nesse setor. Aliás, é essa também a queixa de empresários brasileiros que atribuem à excessiva burocracia o encarecimento das transações comerciais dentro do Mercosul. Os serviços portuários são antiquados, informa o embaixador, que, em nome dos interesses das muitas empresas italianas que estão instaladas no Brasil, tenta resolver os problemas que se arrastam por décadas.

– Essa é uma crítica construtiva – faz questão de anotar o diplomata italiano, que está no cargo faz quase dois anos. Diplomata de carreira, Vicenzo Petrone, ao avaliar as vantagens entre a associação do Brasil à Alca (Área de Livre Comércio das Américas) ou à União Européia, não titubeia em afirmar que, por motivos culturais, históricos e de interesse econômico estratégico, é mais conveniente a aliança do Mercosul com a União Européia do que a criação do projeto de integração comercial proposto pelos Estados Unidos.

Na visão da diplomacia brasileira, os dois processos não são excludentes, mas é evidente que, por imposição política, as parcerias serão feitas simultaneamente. Se depender do governo brasileiro, o acordo entre Mercosul e União Européia sairá antes da criação da Alca. Na recente viagem à Polônia e à Eslováquia, que em 2004 estarão ingressando no bloco europeu (a Polônia é o primeiro da lista de 14 pretendentes do Leste Europeu), o tema Mercosul-União Européia foi insistentemente abordado. O presidente da Polônia, Aleksander Kwasniewski, que visitará o Brasil em abril próximo, está animado com a aliança dos dois blocos. Também o presidente da Eslováquia, Rudolf Schuster, alimenta enormes esperanças no Mercosul. Uma empresa catarinense, a Embraco, se instalou em 1999 na Eslováquia. Produz compressores para a indústria de geladeiras e freezers de outros países europeus. A fábrica tem 1.350 operários, informou o diretor da empresa, Danilo Roos, que não esconde o entusiasmo com os resultados da produção dessa unidade européia.


JOSÉ BARRIONUEVO

Vitória cartorial
Graças à presença de 51 delegados do Rio Grande do Sul, a convenção extraordinária do PMDB assegurou o quórum para firmar uma posição pela candidatura própria a presidente. Lá estiveram presentes quase 300 delegados do partido, dispostos a enfrentar o boicote do comando nacional. Resta saber até que ponto o partido, que possui a melhor estrutura nos municípios em todo o país, vai conseguir mobilizar as bases. Este é um desafio maior do que assegurar o registro de um candidato, embora Pedro Simon tenha a convicção de que rouba a cena com quatro minutos na televisão.

Além da delegação gaúcha (um quinto dos presentes) e da presença de Simon, a convenção teve no comando o 1º vice do diretório nacional, Cezar Schirmer.

Nem mesmo na Bossoroca
Enquanto Olívio Dutra cruzava os ares no helicóptero comprado pelo oponente em campanha para a prévia, Celso Bernardi, candidato a governador do PPB, fez uma visita à terra natal do governador, acompanhado do 1º vice-presiden te da Assembléia, Valdir Andres, e do prefeito José Moacir Dutra. O candidato do PPB constatou que nem mesmo em Bossoroca estão sendo cumpridas as prioridades do Orçamento Participativo. Entre outras demandas da comunidade, até os repasses para a saúde de 2001 estão pendentes. Não fica difícil imaginar como andam os outros municípios.

Ocupando espaço
O Movimento Construção Socialista lançou sábado a candidatura de Maria do Rosário a deputado federal, em dobradinha com dois candidatos a deputado estadual, o vereador Aldacir Oliboni (o Jesus Cristo do Morro da Cruz) e o presidente do IPE, Luiz Henrique Mota.

Seqüestradora no Fórum Social
Na edição deste final de semana da revista IstoÉ, os gaúchos poderão ficar sabendo o que o Piratini desconhece sobre a atuação de Naila Tosca de Freitas no Fórum Social Mundial. Naila é procurada pela Polícia Federal por suspeita de envolvimento no seqüestro de Washington Olivetto. O governo, um dos principais organizadores do evento, tem dito que não tem informações sobre a participação da mulher no evento, que reuniu a esquerda mundial em Porto Alegre. A reportagem de IstoÉ revela que a foragida trabalhou como tradutora do psicoterapeuta Osvaldo Chato Peredo, um dos sobreviventes da guerrilha de Ernesto Che Guevara na Bolívia, que esteve em Porto Alegre como hóspede oficial do Estado, com passagem e estada pagas pelo contribuinte.

Sem ressentimentos
Natural de Flores da Cunha, José Fortunati retornou ontem a Caxias do Sul, desta vez acompanhado de Alceu Collares. Tudo indica que a divergência entre ambos está superada. O ex-governador foi quem ofereceu maior resistência ao ingresso de Fortunati no PDT.
Collares chegou a acusar Fortunati de estar envolvido com o Clube da Cidadania.
Em Caxias, Fortunati procura atrair segmentos importantes do PDT que ingressaram no PT, fazendo o caminho inverso do seu.

Tudo é festa
O encerramento da Festa da Uva ontem foi animadíssimo, com o prefeito Pepe Vargas e a deputada Ana Corso participando da olimpíada colonial. A edição deste ano foi um sucesso. Pepe acabou derrubando a rainha na chegada, sem tirar o brilho da festa.

Vexame – Fora da festa, o ponto negativo do fim de semana foi patrocinado por Tania Menezes, dentista, presidente da União das Associações de Bairro, que deu um vexame na madrugada de ontem, ao invadir uma festa de casamento no salão comunitário do Bairro Floresta. Com sinais de embriaguês, fez discurso, distribuiu folheto e acabou sendo recolhida pela Brigada. Na hora de entrar no camburão, reagiu à ação da polícia cidadã, atirou-se debaixo da viatura e ali permaneceu por quatro horas, das 5h às 9h da manhã. Nem o marido, Alex Tapia, coordenador do OP e ex-presidente do PT, conseguiu aplacar o entusiasmo da militante e líder comunitária. Por lá também andou o secretário do Meio Ambiente, Edio Elói Frisso, a pedido do marido, que também não teve sucesso. Tânia, que é também presidente da associação dos moradores do bairro, entrou na festa com o objetivo de que baixassem o som e resolveu ficar por lá. “Tinha autoridade para isso”, alega. Foi o pai do noivo, José Araldi, que chamou a Brigada por volta das 5h.

Mirante

• Aniversário de Tarso Genro, quarta-feira à noite no Clube Farrapos, coincide com o anúncio da construção da pista de eventos, 14 carnavais depois da posse do primeiro prefeito do PT. Estão sendo aguardadas 2 mil pessoas.

• Bertrand Kolecza é mais um jornalista que entra na longa lista de processados pelo governo popular e democrático. Um recorde que vai para o currículo do chefe de imprensa do Piratini, Guaracy Cunha.

• Secretário Hermeto Hoffmann informa que terá imenso prazer em receber em Porto Alegre os secretários da Agricultura de todo o país. Na oportunidade, pretende apresentar indicadores que mostram que a área sob seu comando alavancou o crescimento do Estado.

• Frei Irineu Costella lança hoje às 15h30min o movimento Parceiros dos Animais São Francisco de Assis (informações pelo telefone 3223.9494).

• Presidente da Comissão de Fiscalização e Controle da Assembléia, Berfran Rosado faz palestra hoje para as 26 entidades da União Empresarial, no Palácio do Comércio, ao meio-dia. Berfran apresenta números contundentes sobre os investimentos do governo nos últimos três anos. Vale conferir.

• Com o apoio dos amigos, o jornalista Luis Rache Vitello recupera-se bem de um problema de saúde.

• E Roseana Sarney começa a desabar ao primeiro sopro de vento. Não resiste a uma campanha eleitoral.

• Encerra hoje o prazo para que o governo tome providências em relação à promoção de oficiais da Brigada Militar ao arrepio da lei. Sentença é para ser cumprida.


Editorial

JOVENS SEM FUTURO

Informa-se que 160 mil argentinos deixaram o país nos últimos dois anos, configurando o maior êxodo da história nacional. Somente em janeiro último, 23 mil argentinos partiram em busca de melhores condições de vida na Europa. Conforme o historiador Décio Freitas mostrou em recente artigo neste jornal, vivemos em plena diáspora latino-americana, em que milhares de pessoas, sobretudo jovens, batem às portas dos consulados da Alemanha, da Espanha, da França, da Inglaterra, da Itália e de Israel na esperança de conseguir passaportes que garantam dupla cidadania ou mesmo vistos temporários que lhes permitam trabalhar no exterior. Se hoje a busca de novos horizontes atinge sobretudo os argentinos, não se pode esquecer que brasileiros, uruguaios, bolivianos, peruanos, cubanos, mexicanos e outros alimentam uma corrente permanente de migrantes em marcha para o Primeiro Mundo.

É a inversão do que ocorreu nos séculos 19 e parte do 20, quando milhões de europeus deixaram seus países em busca de uma chance de trabalhar e viver nos amplos espaços das nações americanas. Hoje, os descendentes daqueles europeus procuram obter o reconhecimento do jus sanguinis para com isso obterem uma cidadania que lhes permita viver longe da miséria, do desemprego e da insegurança que atualmente caracterizam a maior parte dos países do continente americano, sobretudo a Argentina.

A crise argentina de hoje é apenas o mais recente capítulo de uma interminável novela sul-americana

Se a Europa expulsou seus filhos por uma soma de fatores negativos, entre os quais vale citar salários de fome, o desemprego, as guerras freqüentes, as pestes, a imobilidade social e a superpopulação, a América de hoje reproduz a mesma falta de oportunidades para que se iniciem na vida, apesar de todas as diferenças entre as duas épocas. Enquanto, após a II Guerra, a Europa entrava num período de acentuada prosperidade, a América Latina iniciava uma fase de desacertos políticos e econômicos da qual ainda não conseguiu sair. A crise argentina de hoje é apenas o mais recente capítulo de uma interminável novela sul-americana. E de tal profundidade dramática que nada menos de um terço dos 37 milhões de argentinos declarou em recente pesquisa que deixaria o país se pudesse fazê-lo.

Em que medida as elites dirigentes latino-americanas são sensíveis a essa vergonhosa diáspora que corresponde a um atestado de total incompetência político-administrativa? A gravidade dos tumultos populares que vêm ocorrendo na Argentina e a violência criminosa que impera no Brasil, sem dúvida uma espécie de guerra civil entre classes sociais, deixam claro que se reduz rapidamente o tempo disponível para banir a corrupção, melhorar a distribuição de renda e acelerar o crescimento econômico. Países com a fartura de terras dos latino-americanos não teriam por que expulsar suas novas gerações para outras geografias.


Topo da página



03/04/2002


Artigos Relacionados


HELOÍSA HELENA REPUDIA VIOLÊNCIA POLICIAL EM BELÉM

Ação criminosa organizada em SP deixa mais de 70 mortos

Camponesa denuncia ação policial contra mulheres no Rio Grande do Sul

Duciomar repudia ação da Vale contra jornal

Expedito Júnior repudia ação do Exército em seu estado

Ativista protesta contra morte de Claudia Ferreira em ação policial no Rio