Segurança afetiva na primeira infância pode diminuir violência na juventude, diz especialista



O especialista francês em psiquiatria infantil, Hubert Montagner, afirmou, durante audiência pública realizada nesta quinta-feira (29) pelas comissões de Educação (CE) e de Assuntos Sociais (CAS) que a segurança afetiva das crianças tem papel fundamental para erradicar a violência, reduzir o fracasso escolar e evitar distúrbios de comportamento. Ele também criticou o uso do medicamento Ritalina para tratar a hiperatividade e déficit cognitivo das crianças.

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- É estúpido usar Ritalina para tratar a hiperatividade: não é uma doença, é um mal-estar, uma insegurança afetiva. Os prescritores de ritalina é que deveriam ser tratados - disse.

Com o objetivo de combater e prevenir a violência, Montagner defende a criação de estruturas que acolham tanto a família como as crianças pequenas, o pré-adolescente e o adolescente. Para ele, é importante que as crianças cresçam seguras para enfrentar o convívio pacífico em sociedade.

Além de creches especiais, o especialista, que estuda há 38 anos o comportamento infantil, sugeriu que as cidades também estejam adaptadas ao acolhimento dos adolescentes e pré-adolescentes. Em sua opinião deve haver estruturas que levem em conta os grupos de pares juvenis, com a "presença discreta de adultos".

Montagner contou que experiência realizada na França - cujo documento foi entregue à CE e CAS - criou creches destinadas a crianças que enfrentem problema de abandono, seja por miséria, desemprego ou excesso de trabalho dos pais, conflito conjugal e depressão, entre outros. Tais estabelecimentos, explicou, incluem ambientes, denominados de esferas, que trabalham diferentes aspectos como psicomotor, lingüístico, aquático e do sono.

As creches também contam com biblioteca e com espaços destinados aos pais, irmãos, gestantes e crianças com deficiência. Tais instituições são mantidas pelo governo federal, estadual ou municipal, associações e empresas. Ele explicou também, ao responder questionamento da presidente da CAS, senadora Patrícia Saboya (PDT-CE), que, em média, cada creche acolhe 40 crianças, podendo chegar a 60, havendo, em circunstâncias normais, dois profissionais para cada criança.

As atividades são programadas para canalizar a hiperatividade natural das crianças, explicou, o que resulta em afirmação da segurança e na geração de comportamento solidário entre elas. Em tais estabelecimentos, salientou, as agressões são quase inexistentes. Segundo disse, muitos de seus artigos com os resultados das pesquisas foram recusados por revistas científicas porque os pesquisadores americanos não concordavam com a possibilidade de não haver agressões entre as crianças.

Hubert Montagner recomendou que os governos pensassem em longo prazo pois, conforme ressaltou, apesar de o investimento financeiro ser alto, os benefícios se refletirão no futuro com a economia em programas de combate à violência.

A audiência pública foi realizada como parte da programação do Fórum Senado Debate Brasil Políticas para a Primeira Infância - Quebrando a Cadeia da Violência.



29/11/2007

Agência Senado


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