Semiárido precisa de políticas públicas específicas, diz professor
Ao analisar as possibilidades de desenvolvimento do Nordeste, o professor Armando Avena, da Universidade Federal da Bahia, defendeu a implementação de políticas públicas voltadas para o semiárido, "cujo fenômeno da seca desorganiza periodicamente a produção regional". Ele também ressaltou que o Nordeste vem crescendo economicamente, mas de forma localizada – sem incluir o semiárido – e muito aquém do que seria necessário.
O professor foi um dos convidados da audiência pública realizada nesta quarta-feira (10) pela Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado (CDR). Os convidados, como o próprio Avena e a presidente do Centro Industrial do Ceará, Vivian Nicolle de Alcântara, fazem parte do movimento Integra Brasil - Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo, que visa discutir propostas de desenvolvimento para o Nordeste.
O professor ressaltou que, a cada vez que ocorre a seca no semiárido, há uma redução no produto interno bruto (PIB) da região, "que leva entre dois e três anos para se recuperar".
– O semiárido é o que une os estados do Nordeste. Mas o semiárido não conseguiu se desenvolver. Por isso, é preciso uma política pública específica para ele – reiterou.
No entanto, Avena alertou para a diferença entre uma política para o semiárido e uma política para o Nordeste como um todo. Ambas são necessárias, mas não se confundem, explicou. Para o Nordeste, ele defende uma "política nacional com viés regional". E citou como exemplos as ações do governo federal para a área de infraestrutura.
– As políticas para as ferrovias e os portos, por exemplo, devem privilegiar o Nordeste. Se isso não acontecer, ficaremos sempre atrás no Brasil – declarou, acrescentado que "esse viés regional será melhor para o país".
Caminho político
A presidente do Centro Industrial do Ceará, Vivian Nicolle de Alcântara, e o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará, Carlos Prado, enfatizaram que o caminho para implementar políticas de desenvolvimento do Nordeste (como um todo, e não apenas no semiárido) é político.
– O que sabemos, pela história econômica, é que não se sustenta uma unidade federativa se persistirem tantas desigualdades. E o caminho para fazer as mudanças é político e passa pelo Parlamento – frisou Carlos Prado, também membro do Integra Brasil.
Tanto Vivian Nicolle como Carlos Prado citaram a União Europeia como referência de integração econômica entre diferentes regiões. Carlos Prado observou que, quando um país está para aderir à União Europeia, há um grande investimento nesse país para que seu PIB per capita aumente, evitando assim que sua população migre para os países do bloco com economias mais ricas.
Entre as desigualdades mencionadas por Carlos Prado está o déficit comercial do Nordeste com a Região Sudeste, que, assinalou, foi de R$ 22 bilhões em 2006 (com destaque para o estado de São Paulo). Atualmente, frisou, o valor deve ser ainda maior.
Na avaliação do vice-presidente da Fiec, o Nordeste equivale a um mercado cativo e "isso pode ser utilizado como moeda de troca na hora de negociar".
– Quanto vale esse mercado cativo para outras regiões? Qualquer empresário sabe quanto vale seu cliente, quanto vale seu mercado – ressaltou, acrescentando que isso é importante para que o Nordeste não seja visto apenas como "uma região recebedora de esmolas".
A audiência foi conduzida pelos senadores Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) e Inácio Arruda (PCdoB-CE), respectivamente presidente e vice-presidente da CDR. Também participaram os senadores Lídice da Mata (PSB-BA) e Ruben Figueiró (PSDB-MS).
10/07/2013
Agência Senado
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