Senado homenageia Allende e vítimas do golpe de estado no Chile



Em 11 de setembro de 1973, bombas atiradas por aviões da Força Aérea chilena destruíram uma das primeiras experiências democráticas de socialismo do mundo, enquanto abriam o caminho para uma ditadura que impôs ao Chile o modelo econômico neoliberal, algo também inédito no planeta.

O bombardeio do Palácio de La Moneda  e o suicídio do presidente Salvador Allende marcaram o  golpe de estado no Chile e são considerados alguns dos momentos mais importantes da Guerra Fria. Allende e as vítimas da violência e do arbítrio do golpe de estado chileno, que completa 40 anos, foram homenageados nesta segunda-feira (9) em sessão solene do Senado Federal brasileiro.

Parlamentares e outros participantes da sessão lamentaram a perseguição política àqueles que se opuseram ao regime militar instituído no Chile naquela data, liderado pelo general Augusto Pinochet. O governo, acusado de ocultar graves violações aos direitos humanos, foi encerrado apenas em 1990, quando Pinochet entregou o cargo.

Após a execução dos hinos nacionais de Brasil e Chile, o senador João Capiberibe (PSB-AP) – que viveu parte de seu exílio no país vizinho no início da década de 70 e vivenciou o golpe – lembrou a trajetória de Allende, primeiro presidente de república e o primeiro chefe de estado socialista marxista eleito democraticamente na América Latina. Ele governou o Chile entre 1970 e 1973.

– A verdade é que Salvador Allende vai ser lembrado sempre. É um exemplo de político que se submeteu ao sacrifício final, sacrificou a própria vida a defender os compromissos firmados com a sociedade chilena – disse o senador, um dos requerentes da sessão.

Contexto histórico

A deputada Janete Capiberibe observou que o golpe militar contou com apoio financeiro militar do governo dos Estados Unidos e da Agência Central de Inteligência (CIA) do governo norte-americano.

- Eles [os Estados Unidos] não podiam permitir que o Chile fosse um país autônomo, onde o seu povo usufruísse com igualdade, com uma bela distribuição de renda, feita igualmente para cada um, cada chileno daquele país – disse a parlamentar, que lembrou a morte de chilenos perseguidos pelo regime militar.

De acordo com o professor e pesquisador Jacques de Novion, do Centro de Pesquisas sobre as Américas da Universidade de Brasília (UnB), a eleição democrática de Allende foi um marco mais incômodo para os Estados Unidos do que a Revolução Cubana de 1959.

-Se já era inaceitável pensar num processo revolucionário armado, como foi o caso de Cuba, mais inaceitável ainda nesse momento seria aceitar uma eleição democrática com um projeto socialista -   disse o professor.

Ainda segundo Novion, após o golpe o Chile se transformou no principal laboratório do modelo econômico neoliberal na América Latina.

Violência

O professor emérito do Departamento de Serviço Social da UnB Vicente Faleiros, que viveu no Chile por quase quatro anos na época da ditadura, conta que Allende tinha um amplo apoio popular, devido à política transformadora que fazia. Faleiros chegou a ser preso e ressaltou que o golpe foi uma guerra contra o povo.

- A cidade foi ocupada e houve alguns tiroteios e o que eu observei é que não foi um golpe apenas, foi uma guerra contra o povo.  No barco onde eu fui preso, a gente sempre se perguntava quando era chamado: vou ser fuzilado, torturado ou liberado? – disse Faleiros ao lembrar da truculência do regime militar no país.

O senador Randolfe Rodrigues (PSOl-AP) pediu desculpas pelo apoio que a ditadura militar brasileira deu ao golpe que levou Pinochet ao poder, no Chile. Já o embaixador do Chile no Brasil, Fernando Schmidt, agradeceu pela homenagem e evocou um minuto de silêncio em memória de todos os que foram vitimados pelos acontecimentos de 1973.  A estimativa é que mais de 3 mil pessoas tenham morrido ou desaparecido durante o período do regime militar (1973-1990).

Para Schmidt, o martírio do ex-presidente Salvador Allende representou um passo doloroso para o desenvolvimento da sociedade chilena, que hoje leva os cidadãos a compartilharem a rejeição por toda e qualquer ideia de ditadura e o horror pela violação dos direitos humanos.

- O homem e a mulher chilenos são livres. Lá, reina um estado de direito, imperfeito, mas respaldado pelo compromisso de toda a sociedade de mantê-lo e melhorá-lo, junto com as condições de vida de todos os cidadãos – disse o embaixador, afirmando que o Golpe de 73, Salvador Allende e o general Augusto Pinochet são ainda presenças constantes nos debates políticos do país.

Também assinaram o requerimento para realização da sessão os senadores Lídice da Mata (PSB-BA), Clésio Andrade (PR-MG), Eduardo Suplicy (PT-SP), Inácio Arruda (PCdoB-CE) e Walter Pinheiro (PT-BA).

Com a colaboração de Iara Gumarães Altafin e Marília Coêlho



09/09/2013

Agência Senado


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