Senado: Maciel e Wilson lideram








Senado: Maciel e Wilson lideram
Vice tem 33% na pesquisa Exatta sobre o voto para “primeiro senador”, contra 25% de Carlos Wilson. No “segundo voto”, Wilson ganha de 19% a 15%

O vice-presidente da República, Marco Maciel (PFL), está liderando a corrida para o Senado em Pernambuco, mas se a eleição fosse hoje a outra vaga do Estado que será disputada no dia 6 de outubro, para a chamada Câmara Alta, seria ocupada por um representante da oposição: o senador e candidato à reeleição Carlos Wilson (PTB), da Frente Trabalhista (PDT/PTB/PSL), que faz oposição aos Governos do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e do governador Jarbas Vasconcelos (PMDB).

O favoritismo, hoje, de Maciel e Carlos Wilson – numa disputa que envolve outros dez candidatos, a maioria apenas cumprindo tarefa partidária – é revelada na primeira pesquisa do instituto Exatta sobre as eleições estaduais, exclusiva do JC. Foram feitas, entre os dias 20 a 25 deste mês, duas mil entrevistas em todas as regiões do Estado, o que dá uma margem de erro de 2,24% (para mais ou para menos) e um grau de confiabilidade de 95,5%.

No primeiro cartão apresentado, pedindo ao eleitor para apontar sua primeira opção para o Senado, Maciel lidera a pesquisa estimulada com 33% das intenções de voto, oito pontos percentuais a mais do que Carlos Wilson, que obteve 25%. O vice-presidente ganha do petebista na Zona da Mata (37% a 21%), Agreste (37% a 17%) e Sertão (37% a 14%), mas perde na Região Metropolitana (28% a 37%), onde está concentrada a maior fatia do eleitorado pernambucano (mais de 39%).

O terceiro colocado, com 19 pontos percentuais abaixo de Carlos Wilson e 27 atrás de Maciel, é também da oposição: o vereador do Recife João Arraes (PSB), da Frente Popular das Oposições (PSB/PRTB/PTdoB/PRP), que obteve 6% das intenções de voto.

Em seguida, com 5% das intenções de voto dos pernambucanos – 20 pontos abaixo de
Wilson e 28 atrás de Maciel – aparece o deputado federal tucano Sérgio Guerra, companheiro de chapa do vice-presidente na coligação União Por Pernambuco (PMDB/PFL/PSDB/PPB), liderada pelo governador Jarbas Vasconcelos.

Além dos cinco primeiros colocados, apenas outros dois nomes da extensa lista de candidatos ao Senado obtiveram pontuação. Dilson Peixoto (PT), da Frente de Esquerda (PT/PCdoB/PCB/PL/PMN/PST), ficou com 2% e Nelson Borges (PPS) com 1%.

Os outros concorrentes (veja quadro abaixo) não foram citados ou o número de citações foi insuficiente para alcançar 1% das intenções de voto. O percentual de indecisos na primeira estimulada foi de 16%, enquanto 10% informaram que pretendem votar em branco ou nulo.

Na pesquisa espontânea, sem a apresentação de cartão identificando os nomes dos candidatos, há um empate técnico entre Maciel (com 13% das intenções de voto) e Carlos Wilson (12%). Os outros que conseguiram pontuação foram Sérgio Guerra (PSDB) e João Arraes (PSB) – empatados com 3% – e Dilson Peixoto (PT), com 1%.

Como ocorreu na pesquisa espontânea para governador, publicada ontem pelo JC, chama atenção o grande número de indecisos na espontânea: 72%.


Vice de Ciro é intimado
Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, considera “armação” do PSDB a denúncia de que teria se beneficiado numa operação de compra de uma fazenda em Pirajú (SP), com recursos do Banco da Terra

BELO HORIZONTE – O candidato a vice-presidente na chapa de Ciro Gomes (PPS), pela Frente Trabalhista (PPS, PTB e PDT), Paulo Pereira da Silva, está analisando, junto com seus advogados, se irá ou não depor na próxima sexta-feira sobre as suspeitas de superfaturamento de R$ 1 milhão na compra de uma fazenda no município de Pirajú (SP) com recursos do Banco da Terra, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, quando ele presidia a Força Sindical, conforme representação administrativa instaurada pelo Ministério Público Federal. O advogado Antônio Rozella, que representa o sindicalista, confirmou ontem que Paulinho recebeu, na última segunda-feira, em Marília (SP), uma intimação do procurador da República Célio Vieira da Silva, que apura indícios de irregularidades na negociação imobiliária. A informação foi divulgada na revista Época desta semana.

Rozella justificou a possibilidade de não cumprimento da intimação, afirmando que não teve acesso ao teor da representação administrativa. “Desde que nós saibamos o que está acontecendo, nós não nos furtaremos aos esclarecimentos”, disse. Em nota oficial divulgada no sábado à noite, a Força Sindical afirma que não comprou terras, nem intermediou sua venda, segundo relatório do Ministério.

Paulinho disse ontem que as denúncias sobre irregularidades que envolvem seu nome, quando ele ainda presidia a central sindical, fazem parte de uma “armação” do comitê de campanha do candidato do PSDB, José Serra. “Isso não é de hoje. Eles armaram isso há muito tempo”, acusou. A estratégia de atingir os adversários por meio de uma campanha difamatória na imprensa, segundo ele, vem sendo usada pelo candidato tucano desde o início da campanha. “Ele (Serra) arrumou muitos inimigos e destruiu toda a base aliada do Governo Fernando Henrique Cardoso.”

Paulinho disse ainda ter conversado ontem, por telefone, com Ciro Gomes. O presidenciável do PPS teria também atribuído as denúncias ao comitê de Serra. “Ele me falou que é coisa do candidato oficial e que nós não podemos nos abalar com isso”, afirmou. O dirigente, no entanto, estranhou as afirmações de Ciro de que não terá receio de substituir o vice, caso haja fundamento nas acusações. “Conversei com ele e ele não me disse nada sobre isso.”


Jarbas reforça tom crítico sobre FHC
SERRITA – O governador Jarbas Vasconcelos deu mais uma demonstração de que vem “mudando o tom” com o presidente Fernando Henrique. Em passagem por este município, ele criticou FHC pela declaração de apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e se comprometeu em trabalhar para a eleição de José Serra (PSDB). FHC declarou que, em um eventual 2º turno sem o tucano, votaria no petista. Ontem, porém, almoçou com Serra e rasgou elogios ao ex-ministro.

“Foi um deslize, uma declaração infeliz, despropositada para a dimensão dele (FHC)”, afirmou Jarbas. “Como governador voto em Serra e vou lutar por ele.”

Jarbas negou que tenha criticado o FHC na reunião com os governadores na semana passada. Admitiu, no entanto, a demora na liberação de recursos federais para Pernambuco. “Mas não posso dizer que fui mal-tratado”, ponderou. Sobre o desempenho de Serra na pesquisa Exatta – obteve apenas 16% das intenções de voto – afirmou que a situação será revertida com a propaganda eleitoral (Ciara Carvalho).


PT garante que pesquisa não altera sua estratégia
Humberto Costa considera normal resultado da primeira pesquisa Exatta e atribui ampla vantagem de Jarbas Vasconcelos à sua “forte” exposição na mídia. Os petistas esperam reverter o quadro até o final de agosto

O candidato do PT ao Governo do Estado, Humberto Costa, garantiu que não mudará sua estratégia de campanha em função do resultado da pesquisa Exatta, divulgada ontem, com exclusividade, pelo JC. O petista disse que o resultado já era esperado diante da exposição maciça na mídia do governador e candidato à reeleição Jarbas Vasconcelos (PMDB).

“Jarbas está há quatro anos fazendo propaganda do seu Governo. É claro que sairíamos em desvantagem. Mas a campanha está na rua e só vamos parar com a vitória no segundo turno das eleições”, entusiasmou-se.

O fraco desempenho apresentado por ele e pelos demais candidatos de oposição ao Governo do Estado não intimidou Humberto Costa. Confiante, o petista ent endeu que “será apenas uma questão de tempo e da população conhecê-lo melhor para a diferença entre ele e Jarbas começar a cair”. Humberto aposta todas as fichas no guia eleitoral quando, entende, ficará mais próximo do eleitor. Na pesquisa do Instituto Exatta, Humberto aparece com 13% das intenções de voto, enquanto Jarbas Vasconcelos lidera com 60%.

Sobre o índice de rejeição obtido na pesquisa - 29%, enquanto Jarbas recebeu 14%, a menor entre os candidatos ao Governo – o candidato do PT ao Senado, Dilson Peixoto afirmou que o percentual foi alto porque Humberto é um candidato ainda desconhecido. “Vamos reverter esse quadro”, disse. E nem o fato de o governador ter obtido melhor desempenho na Região Metropolitana – justamente a área onde os petistas são mais fortes – é motivo de desânimo, segundo Dilson.

“Até meados de agosto, continuaremos com as viagens pelo interior. Mas depois vamos centrar fogo na Região Metropolitana para consolidar os votos dos que já nos conhecem e aprovam nossa forma de governar”, prometeu.

Favorito pelos eleitores em todas as regiões do Estado, o governador-candidato Jarbas Vasconcelos também recebeu com naturalidade a pesquisa Exatta. “Não me surpreende porque bate com os números que nós temos visto nas nossas pesquisas”, declarou. Jarbas disse que pesquisa só vai começar a valer mesmo após o início do guia eleitoral. “Aí sim, teremos condições de avaliar melhor os candidatos e o eleitorado pernambucano”, ponderou.


Jarbas rompe silêncio e ataca petistas
Há menos de uma semana da inauguração do seu comitê político, quando dará a largada na campanha à reeleição, Jarbas Vasconcelos (PMDB) quebrou o silêncio e partiu para o ataque. Em visita a Triunfo, no sábado, ele acusou o candidato do PT, Humberto Costa, de “usar linguagem chula e xingar os adversários”. E lembrou que, há poucos dias, o vice-presidente e candidato ao Senador Marco Maciel (PFL) foi chamado de “cínico” pelos petistas.

“Essa é uma linguagem chula em qualquer lugar do País. Eles deviam parar de xingar e apresentar propostas. A população não é boba e percebe a falta de projetos desses candidatos”, criticou.

Os ataques ganharam reforço da aliança. O vice-governador e candidato à reeleição Mendonça Filho (PFL) disse que a postura do PT pode representar um “desespero”. “Se eles querem ser uma alternativa de Poder, que apresentem propostas”, sugeriu.

As críticas foram devolvidas na mesma moeda pelo petista Humberto Costa. “Quem é Jarbas para falar em xingamentos e palavras chulas? Um homem que ganhou uma eleição, em 1985, lançando panfleto anônimo e acusando de assassino seu adversário (Sérgio Murilo), não tem moral para acusar os outros de baixarias”, revidou. “Jarbas é quem usa dessas práticas. Foi ele que apelidou Roberto Magalhães (Roberto Mandioca, em referência ao Escândalo da Mandioca)”, provocou.

Jarbas e Humberto estiveram em Triunfo, no sábado, para acompanhar o Circuito do Frio. O governador assistiu os shows numa tenda, acompanhado dos aliados, enquanto Humberto optou pelo corpo-a-corpo na praça de eventos, seguido da militância.

Ontem, pela manhã, Jarbas e Humberto voltaram a dividir a programação: a Missa do Vaqueiro, em Serrita. Mas quem chamou a atenção no evento foi o padre Remi Vetor que deu um “puxão de orelha” nos políticos presentes. O reverendo fez um apelo para que eles tentassem minimizar a vida dura dos vaqueiros. A mensagem foi um recado direto aos políticos que desfilavam bandeiras e aos que assistiam a missa protegidos por uma tenda.

Por isso, ninguém escapou: petistas, militantes do candidato a deputado estadual José Aglailson Júnior (PSB), o governador-candidato Jarbas Vasconcelos e sua tropa governista. Foi um “carão suprapartidário”.

O governador aproveitou a passagem pelo Sertão para anunciar que cumpre agenda de governador e candidato a partir de segunda-feira (05). Ele antecipou que despachará pela manhã no Palácio e, à tarde, participará dos eventos de campanha que começarão pela Região Metropolitana.


Governistas ignoram adesão de Joaquim ao palanque de Ciro
A aliança governista ignorou o apoio do deputado federal Joaquim Francisco (PFL) ao presidenciável Ciro Gomes (PPS), anunciado na sexta-feira. O governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) resumiu em “normal” a atitude de Joaquim, enquanto o vice-governador Mendonça Filho (PFL) ressaltou que o pefelista “continuará fiel à aliança apesar da troca de palanque nacional”.

“Joaquim não contestou o apoio à nossa chapa majoritária. E se fez essa escolha (Ciro), deve ter se baseado na convicção de que será o melhor caminho político para ele”, interpretou.

Num discurso afinado com a aliança, o candidato ao Senado Sérgio Guerra (PSDB) também não reprovou Joaquim Francisco. E descartou que a atitude do deputado possa dar início a uma debandada de políticos da aliança para o palanque de Ciro Gomes.


Colunistas

PINGA FOGO – Inaldo Sampaio

Entre Serra e Lula
Pelo que se observa nas últimas pesquisas, o “fenômeno” Ciro vem aí, e com muita consistência eleitoral. Basta olhar os números sob o critério geográfico. Tal qual acontece com Lula da Silva, ele está plantado, uniformemente, em todas as cinco regiões do país, e não pára de receber novos apoios. O mais recente deles foi o de Joaquim Francisco, que está desconfortável no PFL e na aliança, e só não se transferiu ainda para a oposição por absoluta falta de espaço.

Diferentemente de Serra, Lula e Garotinho, que subiram nas prévias na hora imprópria, Ciro está crescendo na hora exata, ou seja, a três semanas do guia eleitoral. Depois que este se iniciar, ele terá à sua disposição 4 minutos e 17 segundos de televisão, ao dia, além de 465 inserções em todo o horário eleitoral. É um tempo bastante razoável para tornar-se conhecido pela maioria do eleitorado e, também, para apresentar-lhe o seu programa de governo, que está sendo encampado a cada dia por influentes segmentos das classes médias.

O que se tem notado nos últimos 15 dias é que o ex-governador do Ceará tornou-se, a um só tempo, o candidato dos “governistas” que não querem votar em Serra e também dos “oposicionistas” que se recusam a votar em Lula. Tá pintando, pois, como a bola da vez.

Vivinho da Silva
Pela quantidade de pessoas que compareceram quinta-feira à noite à inauguração do seu comitê, na Torre, Eduardo Campos (foto) concluiu: “Estou vivo!” Segundo sua assessoria, o Palácio fez tudo para destruí-lo, “mas o deputado deu a volta por cima e irá reeleger-se para a Câmara Federal com uma grande votação”. O deputado não confirma, mas correm rumores no próprio PSB de que suas relações com Miguel Arraes já não seriam as mesmas de antigamente.

Fita explosiva
Uma fita de vídeo que tem tudo a ver com a CPI do Orçamento foi parar nas mãos de um marqueteiro que cuida da campanha do PT. Ela estava em poder de um deputado que faz oposição ao governo. Se for usada no guia eleitoral, poderá ter um efeito devastador, semelhante ao da campanha de Jarbas, para prefeito do Recife, em 1985.

Em marcha lenta
Devagar, quase parando, é como se encontram as obras da Adutora de Jucazinho, de responsabilidade do Dnocs. Todos os anos, a bancada federal põe dinheiro no OGU para concluí-la, mas a liberação desses recursos é um inferno. Com o corte de mais R$ 4 bi no OGU deste ano, determinado por FHC, ela só deve ficar pronta em 2004.

Peemedebista ganha prefeita de Arcoverde
A prefeita de Arcoverde, Rosa Barros (PFL), iria votar em José Marcos para deputado estadual. Com a desistência dele, resolveu ficar com Raul Henry (PMDB). O federal dela está mantido: Inocêncio Oliveira (PFL).
Guerra entre os “Guerra” na porta do sertão
A família “Guerra”, de Arcoverde, é que se dividiu nessas eleições. O ex-prefeito Julião Guerra e a vereadora (e também ex-prefeita) Erivânia Camelo (PTB) não irão votar em Israel Guerra (PSDB) para a Assembléia Legislativa.

Tropa de choque 1
Ciro Gomes já tira de letra quando seus adversários o acusam de estar cercado, na campanha, pela “tropa de choque” de Collor de Mello: José Carlos Martinez, Roberto Jefferson, Odacir Soares, Jorge Bornhausen, ACM e Leonel Brizola. Todos, sem exceção, ficaram contra o “impeachment” do ex-presidente.

Tropa de choque 2
Em resposta aos seus críticos, Ciro relacionou os partidários de José Serra que também trabalharam no governo Collor: Renan Calheiros, Antonio Kandir, Pratini de Moraes, Celso Lafer, Armínio Fraga, Pedro Parente e Pedro Malan. O atual “xerife” da economia foi o “negociador oficial” da dívida externa junto ao FMI.

Professora aposentada da UFPE, vereadora em Olinda e candidata à Câmara Federal pelo PT, Ceres Figueiredo promoveu ontem o 1º evento de sua campanha. Foi no Olinda Praia Clube. No seu currículo, a candidata escreveu: “Católica atuante, xiita assumida e discorda da aliança com o PL (do senador José Alencar)”.

O vereador Valério Leite (PMN), que faz oposição, em Olinda, à prefeita Luciana Santos, diz que o governo dela é tão “precário” que a própria bancada oposicionista está disposta a ajudá-la. “Já se diz inclusive na cidade”, disse ele, “que o maior cabo eleitoral de Jacilda (candidata a deputada estadual pelo PMDB) é ela (prefeita)”.

Sob a gestão de Lula ou Serra, a Sudene seria recriada com a mesma força
política do governo JK. Ciro não assumiu o mesmo compromisso porque sempre viu a Sudene com reservas. A empresários do Amazonas, disse: “Hoje, faz vergonha falar em Sudene e Sudam, tantas foram as pilantragens nesses órgãos”.

Um interlocutor que tem acesso fácil ao Palácio do Campo das Princesas, garante: Jarbas não teria ficado nada satisfeito com a reconciliação de Sérgio Guerra (PSDB) com o deputado Carlos Lapa (PSB). É que o líder do PSB não dá trégua ao governo nem ao governador. Dos 49 deputados estaduais, é o que lhe faz oposição mais dura.


Editorial

CASTA SUPERIOR

Há em nosso país, entre muitas outras, uma grave distorção que é a distância que nossos representantes no Congresso e políticos em geral (menos na época de pedir voto) criam entre Suas Excelências e o povo. É nesse povo que está o seu eleitorado, mas a maioria deles só leva isso em consideração em época de campanha eleitoral. E, para evitar que não haja eleitos, por falta de votos, fazem, por lei, que, no Brasil, o voto não seja apenas um direito, mas também uma obrigação, estritamente fiscalizada, com punição aos faltosos. Divulgado o resultado das eleições, fazem questão de muita pose e ostentação. Pior ainda é sua pretensão de pôr-se acima da lei, para além do bem e do mal. Mais de meio século depois da redemocratização que derrubou o Estado Novo e deu ao País a Constituição de 1946, o Congresso Nacional aprovou, após o episódio da ameaça de cassação e da renúncia de ACM, nova legislação, que tirou de deputados e senadores o abusivo privilégio da imunidade por crimes comuns cometidos. Um ano após, alguns parlamentares se mostram arrependidos de sua boa ação e avançam no caminho do foro privilegiado.

Por que? Será que consideram o Congresso, a atividade parlamentar, um valhacouto? Será que optaram pela carreira política para fazer fortuna a qualquer custo, mesmo por meios criminosos? Todos nós, cidadãos comuns e ‘incomuns’, não seríamos “iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”, conforme estabelece a Constituição? O fato é que, aproveitando a distração da “pátria de chuteiras” (como dizia Nelson Rodrigues) com a Copa do Mundo e as comemorações das vitórias da nossa seleção de futebol, foi colocada, no chão legislativo, uma casca de banana para fazer a democracia escorregar. A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou o estabelecimento de foro especial para autoridades no exercício de função, mandato, ou para ex-ocupantes de cargos públicos, como presidente da República, ministros, governadores, prefeitos, senadores, deputados e magistrados; inclusive nos casos de crimes comuns, de responsabilidade e de improbidade administrativa. Isto é, esses cidadãos ‘incomuns’ querem ter direito a um tratamento incompatível com os princípios democráticos e com a multissecular igualdade republicana.

Esse projeto de lei (nº 6.295) muda o artigo 84 do Código de Processo Penal e não precisa ser submetido ao plenário. Mas até o dia 9 de agosto, menos de duas semanas, há prazo para recurso, desde que com 52 assinaturas de parlamentares.

Sem isso, segue para o Senado, de onde será remetido ao presidente da República, para sanção. Para que tanto privilégio? Seria o Estado um condomínio particular em que os condôminos estabelecem suas leis? Por que não reler, e seguir, um clássico da democracia, Jean-Jacques Rousseau, que dizia que, se os dirigentes usam artifícios legais para fugir da igualdade e usurpam o poder soberano, diminuem a majestade do Estado. Quando agem assim, “o grande Estado se dissolve, formando-se um outro no seu interior, composto apenas pelos membros do Governo, e que é, para o resto do povo, somente seu senhor e seu tirano”(em Do Abuso do Governo e de sua Inclinação para Degenerar).

Se quiserem salvar e perenizar a nossa democracia, os políticos precisam é de se aproximar do povo, e não se afastar ainda mais. O poder soberano está com o povo e não cabe aos representantes, que ele elegeu para exercê-lo em seu nome, usurpá-lo, criando um Estado dentro do Estado, uma casta superior, um clone da monarquia absoluta. Os democratas, os políticos conscientes de seus deveres, toda a sociedade, esperam pelo menos aquelas 52 assinaturas, que podem salvar a nossa ainda tão frágil democracia.


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07/29/2002


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