Senado reverencia memória de Jefferson Péres em sessão especial



Em razão de requerimento dos senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Cristovam Buarque (PDT-DF), o Senado realizou, nesta terça-feira (17), sessão especial para homenagear o senador Jefferson Péres, relembrar sua vida política e, principalmente, a luta pela ética na política, que marcou sua atuação como senador da República. Participaram da cerimônia o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Carlos Ayres Britto; o prefeito de Manaus, Serafim Fernandes Corrêa; o presidente do Tribunal de Justiça de Manaus, Osanar Florêncio de Menezes, além da esposa do homenageado, a juíza Marlídice Péres, e seus três filhos: Rômulo, Ronald e Roger.

Ao abrir a sessão, o 2º vice-presidente do Senado, Alvaro Dias, afirmou que o Parlamento brasileiro ficou menor com o falecimento de Jefferson Péres, que deixou imensa lacuna em razão de sua grandeza no cumprimento do mandato. Alvaro Dias destacou ainda a ação destemida e a prontidão incansável do homenageado em defesa da ética na política.

O senador pelo Paraná lembrou também que, por ocasião da candidatura de Jefferson Péres à Presidência do Senado, o homenageado clamou pela seriedade no cumprimento das ações políticas com o objetivo de resgatar a imagem da Casa. Para Alvaro Dias, Jefferson era um homem combativo e ético até mesmo no teor de suas críticas.

Para Cristovam Buarque, seria muito bom pertencer a um país em que todos se pautassem pela ética, conforme pregava Jefferson Péres. Até mesmo um conceito universal como soberania nacional estaria sendo esquecido no Brasil, conforme avaliou, soterrado pela globalização, que, na verdade, nada mais seria do que "englobação de todos os países sob um país maior e mais forte".

Cristovam lembrou que Jefferson também defendia o conceito de responsabilidade, que se combina com os ideais da ética, para exigir que a política fosse feita com responsabilidade fiscal, respeito às contas públicas e retidão de caráter.

Ditadura

Arthur Virgílio recordou os tempos em que a luta contra a ditadura era a própria razão de ser da política, nos idos de 1978, quando disputou pela primeira vez a eleição para deputado federal. Segundo comentou, Jefferson lhe disse que era preciso mostrar os malefícios práticos que uma ditadura causava aos cidadãos: a concentração de renda, a dificuldade de crescer quando se era um pequeno empresário, as incertezas de pacotes econômicos editados ao bel-prazer dos tecnocratas de Brasília, o desastre ecológico e de política energética que foi a hidrelétrica de Balbina e a irracionalidade da Transamazônica.

Ainda de acordo com Arthur Virgílio, o homenageado era um homem culto e tinha idéias à frente de seu tempo em termos econômicos. Por isso, sua atuação na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) era impecável. Por ser, também, um jurista competente, suas posições e pareceres na CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania) nunca eram contestados. O líder do PSDB no Senado apontou ainda características ocultas pela sisudez do homenageado, tais como grande amor à música e à literatura, e, até mesmo, um gosto pela dança de salão, tendo, em sua esposa, um par perfeito.

- Jefferson Péres entra para a História como um exemplo implacável de combate à corrupção e ao desvio de recursos públicos. O peso de sua ausência, da falta que ele fará ao Senado, o transforma numa figura marcante que tantas lições nos deu na política. É isso que a política precisa resgatar, para o Parlamento obter o respeito que vem perdendo da população nos últimos tempos - concluiu Arthur Virgílio.

Numa quebra de protocolo, um dos filhos do homenageado, Roger, leu as palavras que dedicou ao pai em sua missa de 7º dia. Para Roger, seu pai era um homem sensível e humano, bem diferente de sua aparência sisuda. Segundo assinalou ainda, sua presença física se foi, mas sua influência permanece em seus três filhos, desde a retidão de caráter e sua cultura humanística até seu amor por Manaus, pelo Amazonas e pelo Brasil.

O senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA) louvou a presença maciça de senadores e autoridades na sessão solene, numa demonstração sincera do vácuo que Jefferson Péres deixará na política. O parlamentar pelo Maranhão destacou que a ética foi a marca registrada do homenageado e citou sua freqüente pregação de que educação, saúde e segurança pública são os pilares de qualquer administração pública.

Epitácio Cafeteira considerou ainda que a lucidez dos posicionamentos de Jefferson traduziu o homem digno e honrado que foi o senador pelo Amazonas. As gerações futuras terão respeito pela retidão de seu caráter e pela coragem de enfrentar dificuldades sem temer as conseqüências, disse.

Defesa da Amazônia

O senador Pedro Simon (PMDB-RS), falando em nome de seu partido, disse que Jefferson Péres deixará saudades porque o Brasil vive um momento difícil, em que figuras que são referências de vida política honrada fazem muita falta. Ele registrou sua grande amizade com o homenageado, confessando ter dele "uma inveja cristã", porque, conforme disse, os discursos de Jefferson Péres nunca tinham uma palavra a mais do que o necessário para defender suas idéias.

- Tenho certeza de que ele morreu com a serenidade do dever cumprido. Era um homem que pensava no horizonte amplo, não se apequenava com picuinhas. Esses fatos foram compreendidos pelo povo de Manaus, que foi às ruas para manifestar seu apreço por um homem político que marcava sua presença pela discrição. Nossa grande homenagem será continuar seu trabalho de lutar pelo resgate da ética e da dignidade do exercício da política -- concluiu Pedro Simon.

17/06/2008

Agência Senado


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