Serra chama Frossard para elaborar programa







Serra chama Frossard para elaborar programa
BRASÍLIA. O ministro da Saúde, José Serra, terá um encontro amanhã com a ex-juíza Denise Frossard para discutir a elaboração de um programa de segurança para sua candidatura à Presidência. O presidente do PSDB, José Aníbal (PSDB-SP), ligou para Denise e perguntou se ela poderia viajar a Brasília para conversar com Serra nesta quarta-feira. A juíza, responsável pela condenação de 14 banqueiros do jogo do bicho no Rio, em 1993, não quis adiantar o tema da reunião, mas disse que só poderia ser sobre segurança:

— Afinal, essa é a minha especialidade. De saúde, não entendo nada.

“Quem aplica as leis sempre tem sugestões a dar”

Filiada ao PSDB, ela disse que, se o partido quiser, pode ser candidata. Mas negou a possibilidade de disputar o governo do estado:

— Ofereço meu nome para disputar uma vaga de deputada federal. Quero dar a minha colaboração como legisladora. Afinal, quem aplica as leis sempre tem sugestões a dar.

Apesar de ser tucana, Denise divulga hoje, no Rio, com o pré-candidato à Presidência do PMDB, o ministro Raul Jungmann, uma proposta de programa para a segurança pública. Jungmann encomendara o projeto a Denise. O projeto será lançado no Hotel Glória, às 11h.

Jungmann espera ainda o programa econômico que está sendo elaborado por Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-tucano que se afastou do partido quando deixou o governo, mas que mantém ligações com Serra. O programa social de Jungmann é de autoria do sociólogo Roberto Martins, presidente do Ipea, e muito ligado ao presidente Fernando Henrique — a ponte foi feita por Wilmar Faria, assessor do presidente para a área social, que morreu no ano passado.


Quadrilha internacional
A polícia de São Paulo apresentou ontem os seis primeiros integrantes da quadrilha que seqüestrou o publicitário Washington Olivetto. O chefe do grupo, o único identificado, é o chileno Mauricio Hernández Norambuena, de 43 anos, ex-militante da Frente Patriótica Manuel Rodríguez, condenado à prisão perpétua e foragido desde 1996, quando escapou de helicóptero da cadeia. Sob o codinome Comandante Ramiro, chefiava o braço armado do Partido Comunista antes da redemocratização do país. Em 1986, participou de um atentado fracassado ao ditador Augusto Pinochet.

Além dos seis, presos sábado em Serra Negra, a Polícia Civil estima que entre seis e oito integrantes da quadrilha, entre eles uma brasileira, continuam foragidos.

— É muito pouco provável que alguém promovesse uma ação desse tamanho sem ajuda nacional — disse o delegado Wagner Giudice, chefe da Divisão Anti-Seqüestros (DEA).

A polícia ainda não tem certeza da identidade ou sequer da nacionalidade dos outros cinco presos. Eles tinham passaportes, provavelmente falsificados, com os nomes de Rubem Oscar Sanches, de 30 anos, Carlos Renato Queiroz, de 28, Maite Amalia Bellon, de 23, Frederico Antonio Aribas, de 30, que seriam argentinos, e Rosa Amalia Ramos, de 37, que seria espanhola.

Segundo a polícia, eles entraram no Brasil como turistas e passaram por Minas Gerais, Brasília e Rio. Giudice, porém, nega a existência de uma conexão com organizações criminosas do Rio de Janeiro. O chefe do Departamento de Investigação sobre o Crime Organizado (Deic), Godofredo Bittencourt Filho, tem a mesma opinião.

— Eles saíram da Argentina e aproveitaram para conhecer a Cidade Maravilhosa.

Três dos seis presos moravam há pouco menos de um ano num apartamento na Vila Clementino, Zona Sul. O apartamento, cujo contrato de um ano de locação terminaria no dia 17, tem dois quartos e nele viviam Queiroz, Maite e Aribas, além de Miguel Armando Vilabela, de 39 anos, que saiu do apartamento na quarta-feira e ainda não foi preso.

Para delegados, são criminosos comuns

Apesar do histórico de militância do líder do grupo, os delegados responsáveis pelas investigações acham pouco provável que o objetivo do seqüestro fosse levantar dinheiro para causas políticas.

— Eles disseram que o dinheiro era para eles mesmos. Para mim, não passam de seqüestradores querendo dinheiro — disse Bittencourt.

Giudice concordou.

— Não acredito em crime político, até porque não existem hoje grandes movimentos de esquerda na América do Sul além das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que não têm nada a ver com o caso. Acho que eles usaram a tecnologia que conheciam para ganhar algum dinheiro.

O diretor do Departamento de Estrangeiros do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto, informou que Hernández não poderá deixar o Brasil nos próximos anos. Barreto explicou que o Chile só poderá pedir a extradição do preso depois que todos os recursos da sentença de seu julgamento tiverem se esgotado, o que deve levar de três a quatro anos. A regra vale para outros seqüestradores, mesmo que sejam argentinos.

Barreto afirmou que há um acordo de transferência de presos assinado com o Chile e um semelhante com a Argentina e mais 23 países. Segundo ele, a decisão de conceder a extradição é do Brasil.

— O governo brasileiro pode resolver deixá-lo aqui para dar um exemplo. O Brasil transfere se achar oportuno.


FH conversa por telefone com o publicitário
SÃO PAULO. Muito carinho de amigos e parentes. Foi assim que o publicitário Washington Olivetto passou seu segundo dia de liberdade após ficar quase dois meses em poder de seqüestradores. Durante todo o dia, ele permaneceu em seu apartamento nos Jardins, em São Paulo, recebendo flores, presentes, telegramas e telefonemas, além de visitas. O presidente Fernando Henrique, por exemplo, conversou por 20 minutos pelo telefone com o publicitário.

Segundo o porta-voz da Presidência, Alexandre Parola, Fernando Henrique perguntou sobre a saúde de Olivetto e disse estar contente pelo fim do seqüestro.

De uma empresa de eletrodomésticos, Olivetto ganhou uma pomba branca que, por três vezes, tentou soltar da sacada de seu apartamento. A ave voltou todas as vezes.

Uma das visitas que Olivetto recebeu à tarde foi a do escritor Fernando Moras, que está escrevendo um livro sobre Olivetto e a W/Brasil. Ao chegar, ele explicou por que levava a Olivetto uma garrafa de champanhe.

— Não consegui encontrar coxinha. O Washington fala que coxinha é a melhor comida do planeta — disse.

Olivetto deve dar entrevista para falar do seqüestro

De acordo com a assistente de direção Daniela Romano, da W/Brasil, a agência de Olivetto, ele só deverá falar sobre o seqüestro e os 53 dias de cativeiro em uma entrevista cuja a data ainda não está marcada.

— Ele está bem. Muito bem. E por enquanto vai ficar descansando — garantiu.


Juiz pede ao BC relação de possíveis saques nas contas de Celso Daniel
SÃO PAULO. O juiz federal Casem Mazloum, da 1 Vara Criminal de São Paulo, determinou ontem que o Banco Central informe a relação de bancos nos quais o prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), seqüestrado e assassinado no mês passado, tinha conta corrente. Ele tomou a decisão a pedido da Polícia Federal, que investiga o seqüestro e o assassinato de Celso Daniel, por determinação do presidente Fernando Henrique Cardoso.

Bancos deverão enviar cópias de fitas e de cheques

O juiz pede que os bancos informem se foi feito algum saque nas contas do prefeito a partir do dia 18, data em que ele foi seqüestrado, ao deixar o restaurante Rubayat, no qual jantara com um amigo, o empresário Sérgio Gomes da Silva.

Caso algum saque tenha sido efetuado, o banco terá de enviar à Justiça cópias das fitas de vídeo registradas em caixas eletrônicos ou nas próprias agências com as imagens do momento do saque. Além disso, os bancos deverão remeter cópias microfilmadas dos cheques possivelmente emitidos.

Na mesma sentença, o juiz determinou que as administradoras de cartão de crédito Visa e Credicard informem sobre a possível existência de cartões em nome de Celso Daniel. Nesse caso, o juiz também quer saber se despesas foram feitas a partir do dia 18.

Casem Mazloum, entretanto, esclarece que sua decisão não se trata de quebra de sigilo bancário. O juiz explicou que quer apenas saber se o seqüestro teve motivação financeira ou ainda se o prefeito foi vítima de um seqüestro-relâmpago.

O pedido da Polícia Federal era mais amplo e solicitava a quebra do sigilo bancário do prefeito de Santo André. Dois dias depois do assassinato, a Polícia Federal chegou a divulgar que a Justiça quebrara o sigilo das contas de Daniel, mas teve de voltar atrás e desmentir a informação.


Governo restringe direitos de advogados
BRASÍLIA e SALVADOR. O governo edita hoje medida provisória que obriga advogados e integrantes do Ministério Público a se submeterem a detector de metais na visita a presídios. A medida provisória também tira poder dos juízes de varas de execução penal, transferindo para os diretores de presídios a determinação do local de cumprimento de pena e a autoridade de transferir os presos para outras cadeias.A medida provisória também transfere para os diretores de presídios a aplicação de sanções, desde que ouvido o conselho disciplinar.

— De acordo com a lei, esta tarefa cabe ao juiz. Não acho uma boa medida provisória e tenho dúvida sobre sua legalidade. Já existe a lei de execução penal dando esta prerrogativa ao juiz — afirmou o presidente da AMB, desembargador Cláudio Baldino Maciel.

OAB aprova uso de detectores de metais

Já a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) considerou aceitável a proposta que instala detector de metais.

— Mas um advogado não pode ter revistado bolsos e pastas, porque costuma carregar documentos sigilosos — ressalvou o presidente da OAB, Rubens Approbato.

A medida provisória também prevê sanções para os presos que cometerem delitos como criar tumulto ou agredir outros detentos dentro de uma penitenciária. As sanções vão desde advertência verbal à repreensão e incluem a suspensão de direito, que pode levar ao isolamento em celas individuais.

As sanções disciplinares vão poder durar no máximo um ano e o tempo de permanência em cela de isolamento será de até 16 horas por dia. Durante este período, o presidiário poderá receber visitas semanais de apenas duas pessoas, excluídas as crianças, e em encontros com duração máxima de duas horas.

Além disso, as penitenciárias terão que instalar equipamentos que permitam a realização de interrogatório, sem necessidade de deslocar o preso, para evitar risco de fuga.

Ministro faz alerta contra idéias demagógicas

O ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, alertou ontem, em Salvador, que o crescimento da violência abre espaço para o surgimento de idéias demagógicas de combate ao crime, como a pena de morte.

— Barbárie não se combate com barbárie — disse Aloysio, no lançamento do Programa Global de Prevenção e Combate ao Tráfico de Seres Humanos.


FH deve indicar Gilmar Mendes para o Supremo
BRASÍLIA. O Palácio do Planalto deverá indicar o advogado-geral da União, Gilmar Mendes, para ser ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) a partir de abril. A vaga será aberta com a aposentadoria do ministro Néri da Silveira. Assessores do presidente Fernando Henrique revelaram que ele tomou a decisão no fim da semana passada.

Gilmar Mendes sempre foi o nome preferido no Planalto, mas há uma batalha nos bastidores do Poder Judiciário e do próprio governo pela vaga. Além de Mendes, a lista de candidatos ao cargo incluía o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro; o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira; e até o vice-presidente Marco Maciel, que deverá ser candidato ao Senado.

Segundo assessores do Planalto, Mendes desistiu de se filiar a um partido depois de uma conversa com Fernando Henrique, que lhe teria aconselhado a “aguardar os acontecimentos”. Mas sua indicação tem a resistência de alguns assessores do presidente e até de ministros, que argumentam que suas constantes brigas com o Judiciário inviabilizariam a escolha.

Já defensores de Mendes no governo afirmam que ele assumiu o desgaste e o ônus de defender causas polêmicas e até impopulares no Judiciário e que mereceria como prêmio a indicação para o STF.

— Ele merece o cargo, e a decisão foi tomada — disse um assessor direto do presidente, acrescentando que a nomeação só não se concretizará se houver um imprevisto que obrigue Fernando Henrique a mudar de idéia.

Brigas com o STJ, a OAB, o MP e o próprio STF

Desde que assumiu a Advocacia-Geral da União, Gilmar Mendes já comprou briga com vários setores, entre eles o Superior Tribunal de Justiça, a Ordem dos Advogados do Brasil, a Associação dos Magistrados Brasileiros, o Ministério Público, do qual é integrante, e até com o Supremo.

No primeiro mandato, Fernando Henrique indicou o gaúcho Nelson Jobim para o STF. No ano passado, o presidente escolheu, pela primeira vez, uma mulher para o cargo, a também gaúcha Ellen Gracie Northfleet, que teve o apoio de Jobim e Mendes.


Dono de posto admite assassinato de promotor
BELO HORIZONTE. Um dos donos da rede West de postos de gasolina, o empresário Luciano Farah admitiu ontem à noite, em depoimento à polícia, sua participação no planejamento e execução do assassinato do promotor Francisco José Lins do Rego Santos, no dia 25. Farah contou que conduziu a motocicleta em que, da garupa, o cabo da Polícia Militar Vilmar Ferreira dos Santos disparou mais de dez vezes contra Santos, em frente ao Tribunal Regional Eleitoral, onde o promotor iria se encontrar com a mulher.

O empresário confessou o crime a um grupo de delegados do Departamento de Investigações da Polícia Civil da capital mineira e da Polícia Federal, após um interrogatório de mais de dez horas. Farah só teria cedido após ter sido acareado com Ferreira, que teria admitido sua participação ainda à tarde.

O cabo era segurança da West e estava preso desde a semana passada, com outros três PMs que também trabalhavam na vigilância da rede de postos. Ferreira está preso no 18 Batalhão da Polícia Militar. Farah, após confessar, foi mandado para o Centro de Remanejamento de Presos de Gameleira, bairro da zona oeste de Belo Horizonte.

Moto aumentou suspeitas contra empresário

A situação de Farah se complicou a partir da descoberta pela polícia da motocicleta usada no assassinato. A Suzuki foi apreendida no sábado, em uma oficina da capital mineira. O dono da oficina, Moisés Carlos da Silva, disse que o empresário deixara a moto no local meia hora depois da morte do promotor Francisco Lins, sob a alegação de que ela estava com um defeito.

Os mecânicos, porém, não encontraram defeitos no veículo. Só estranharam o fato de ela estar com a placa virada e de ter as mesmas características da motocicleta usada pelos homens que assassinaram o promotor. A moto foi periciada pela polícia mineira, assim como a pistola semi-automática 380, parecida com a utilizada para assassinar Francisco Lins, encontrada na casa de Ferreira.

A suspeita aumentou depois de o boy Geraldo Barreiras, da rede West, ter dito ontem que recebera a incumbência de fazer o levantamento da vida do promotor a pedido do empresário. A namorada dele, Niomara Gomes, que teria ajudado neste levantamento, também está presa.

Farah havia ameaçado o promotor

À tarde, antes da confissão, o advogado de Farah, Marcelo Ferreira, já havia anunciado que renunciava ao caso. Ferre ira não quis explicar os motivos de sua decisão. Farah , juntamente com outras oito pessoas que tiveram a prisão preventiva decretada, pertence à máfia dos combustíveis, que comercializa gasolina adulterada e era investigada por Francisco Lins.

Em setembro, ele discutiu em frente à imprensa com o promotor, quando Francisco Lins fechou um dos postos da rede West por venda de combustível adulterado, e chegou a ameaçá-lo. Ontem a Agência Nacional de Petróleo (ANP) constatou a adulteração do combustível com solvente em cinco postos de Belo Horizonte. Um dos postos autuados é da rede West.


Artigos

Violento é a mãe!
ANGELA CARNEIRO

O segurança da boate já saiu chutando. O homem não reage. Até o segurança pronunciar a palavra “mãe”. O homem grita: “Mãe não!” E parte para cima do segurança, arrebentando seu enorme e forte oponente.

O debate sobre a violência volta à ordem do dia. O presidente se reúne com Lula e juntos convocam a sociedade para uma cruzada contra a violência. Cruzada? É, aquele negócio que os cristãos fizeram contra os muçulmanos ali pelo início dos anos 1000, uma guerra santa que, na verdade, era econômica mas que, na verdade mesmo, era violência pura de ambos os lados. Pois é, parece conversa de maluco. Mas não é.

Se a gente conversar com qualquer um, saberemos que o problema é a impunidade, a corrupção policial e a falta de preparo da polícia. Para todos a solução é simples: aumentar penas de prisão e presídios; armar a polícia até os dentes e tratar policiais corruptos como os infiéis eram tratados no tempo das Cruzadas. A sociedade só vê um jeito de acabar com a violência: violência.

Mas Deus, que é Deus, mandou dilúvio, pragas, destruiu cidades, deu tábuas da Lei e, até hoje, os mandamentos continuam sendo desrespeitados.

Então, quando falamos em cruzada contra a violência, não basta decorar o número do Disque-Denúncia e ligar. É preciso modificar toda a nossa cultura de violência. Da palmadinha no filho à represália ao atentado ao WTC.

Mas todos acreditam que alguma violência seja válida por uma boa causa! E até mesmo a desejam. Gostamos de heróis. Talvez seja essa a razão da escalada da violência: somos violentos. Gostamos de violência. Só reclamamos quando ela se volta contra nós. Aí, pedimos desarmamento.

Mas, desarmamento de quem? Da polícia? Dos bandidos? Ou do aposentado doido que sai dando tiro nas crianças do prédio que o perturbam? Bandido não se desarma, nem aposentado doido. E aqueles que andam armados sem serem doidos, bandidos ou policiais, talvez pensem que não seja boa idéia deixar o poder de decidir vida e morte nas mãos de doidos, policiais e bandidos. O Governador manda um trator amassar um monte de armas, mas estarão seus seguranças desarmados? O desarmamento é para o outro, pois o outro é que é violento.

A corrupção policial é apresentada como causa visceral do caos urbano. Mas é preciso dizer a verdade: todos nós conhecemos pelo menos uma pessoa que já corrompeu um policial, seja no trânsito ou por outros delitos. Se nosso filhinho for preso com maconha ou cocaína, ou por provocar um acidente, o que queremos é encontrar um delegado compreensivo que veja que o menino é apenas uma vítima das más companhias e que merece ser liberado, mesmo que à custa de corrupção. Mas se nosso filho for atropelado... aí não, aí é pena de morte pra esse motorista tarado que provavelmente estava drogado e merece arder no inferno.

Quando damos uma paradinha para pegar as crianças no colégio, não queremos que o guarda aplique a lei, queremos que ele releve. Mas aquele carro que está atravessado na calçada, nos obrigando a andar com o carrinho do neném no meio da rua, deve ser rebocado! Como disse Getúlio Vargas, aos amigos tudo. Aos inimigos, o rigor da lei.

Hipocrisia, incoerências. Exigimos o fim da violência no trânsito, aprovamos 100km como limite de velocidade. Mas ninguém explica por que fabricam carros cada vez mais velozes. Não estamos prontos para cumprir a lei que escrevemos. Queremos que a festa de 15 anos de nosso anjinho seja interrompida por estar com o som alto demais? Ou só queremos que fechem o bar ou templo em frente a nossa casa, pois não nos deixam ouvir a novela?

Saímos de branco, como santos, pedindo paz. Paz com polícia bem armada. Como se, para acabar com a violência, tivéssemos que possuir mais munição de violência do que o violento. Talvez, se aceitássemos a nossa própria violência, encontraríamos soluções realistas que pouco teriam a ver com esse idealizado cidadão de branco. Parece que não somos contra a violência: o que não aceitamos é que os bandidos sejam mais violentos que a polícia que a gente treina e arma para ser violenta em nosso lugar, enquanto a gente brinca de civilizados.

Reconheçamos nossos limites, assim como o homem expulso da boate que agüenta tudo, menos que xinguem a mãe. Se for para nos unirmos contra a violência, estamos aí, mas só se for contra todas as formas de violência, e não apenas as que nos convêm.


Colunistas

PANORAMA POLÍTICO – TEREZA CRUVINEL

Ideologia zero

Há uma corrente do eleitorado passeando por aí, de um candidato para outro a cada pesquisa, que ainda está longe de se fixar em qualquer um. Quem costuma dizer isso é Duda Mendonça, publicitário do PT. O que o exame das simulações nas pesquisas está indicando é que essas migrações não obedecem a qualquer parâmetro ideológico. Nem mesmo à dicotomia governo-oposição.

Esse eleitorado flutuante, segundo Duda, é de centro, não se inclui entre os 30% que votarão com certeza em Lula nem entre os outros 30% ou pouco mais do que isso que não admitem votar nele de jeito algum. As simulações apresentadas pela última pesquisa CNT/Sensus, jogando com variados elencos de candidatos, não indicam sequer que esse eleitorado flutuante seja de centro. Muito menos de esquerda ou de direita. São apenas eleitores à procura de um candidato que os convença.

A exclusão do governador Itamar Franco, por exemplo, mostra que ele, já tendo sido um fator relevante na disputa, agora é elemento quase neutro. Quando esse opositor do governo é tirado da lista, seus votos migram principalmente para a pefelista Roseana Sarney, que herda 2,1 pontos percentuais. Para Serra, que também é governista, assim como para Lula, Garotinho e Ciro, oposicionistas, sobram migalhas inferiores a 0,9 ponto percentual.

Num quadro sem Serra e sem Itamar (pouco provável relativamente ao primeiro), a migração de votos beneficia principalmente Roseana, que ganha seis pontos. Mas sobram frações dos índices deles para todos os candidatos da oposição, sempre inferiores a 1,7 ponto, destinado a Ciro Gomes.

Num outro quadro, a exclusão de Roseana e Itamar beneficia principalmente Lula (com 6,3 pontos) e Serra (6,6 pontos). Como os índices de Itamar hoje estão muito baixos, e ela é que navega acima dos 20%, o que se verifica é a dispersão de seus eleitores. Eis aí uma razão para os tucanos desejarem que ela permaneça no páreo. Contém Lula no Nordeste.

A incoerência é um direito do eleitor, mas neste momento deve ser debitada principalmente à precocidade da campanha. Recomenda cautela e salto baixo a todos.

O presidente do PFL, Jorge Bornhausen, dirá hoje a FH que a unidade com o PSDB ainda é possível. Mas em Minas o PFL costura um frentão contra os tucanos na eleição estadual.Faz de conta que ninguém viu

Votar e ser votado é um direito do cidadão. O respeito à lei eleitoral por parte dos candidatos é um direito do eleitor. Quando os partidos, como disse Helena Chagas na coluna de ontem, adotam a Lei de Gerson e se calam diante do ilícito porque pretendem fazer o mesmo, cabe ao procurador-geral elei toral tomar uma atitude.

Ouvimos o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, que acumula a função, sobre o desvio dos programas partidários, usados para a propaganda eleitoral de pré-candidatos. A moda foi lançada por Roseana Sarney, do PFL, partido que indicou Brindeiro para o cargo. Sua recondução foi apoiada também pelo senador José Sarney. Brindeiro não viu os programas de Roseana, mas viu o de Garotinho. Concorda que está havendo desvio, mas acha que cabe aos partidos tomar a iniciativa.

— Até para que não pairem dúvidas sobre a isenção do Ministério Público — justifica.

Outra razão que ele aponta para não agir no caso é o fato de outros candidatos, mesmo não tendo feito programas, estarem se movimentando como candidatos. Cita Lula e José Serra. A lei proíbe tanto uma coisa como outra antes de 6 de julho, recorda. Ocorre que há diferença brutal de impacto entre um programa em rede nacional de televisão e uma reunião política ou mesmo um comício.

Brindeiro tem uma sugestão interessante. Suprimir os programas partidários em anos eleitorais. Mas isso diz respeito ao futuro. Quanto ao presente, pelo visto, ninguém fará nada.Racha

Luta aberta no PT gaúcho pela candidatura ao governo do estado. O Ministério Público declarou improcedentes as denúncias de envolvimento do governador Olívio Dutra com o jogo do bicho, que levaram o PT a reconsiderar a conveniência de sua recandidatura. Olívio livrou-se da denúncia mas não de uma disputa com o prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, que se inscreverá hoje como candidato às prévias do dia 17 de março.Unidade

O senador José Alencar é o empresário das esquerdas. O arco das oposições fechou-se ontem em Uberaba (MG) num ato de pré-lançamento de sua candidatura ao governo de Minas pelo PL. Lá estavam PT, PSB, PCdoB e PDT. Cortejado por Lula e Garotinho, que o querem como vice, Alencar dispôs-se a disputar o governo diante dos sinais de que Itamar Franco não disputará a reeleição, ainda que não seja candidato a presidente.AS PALAVRAS e as coisas já não se correspondem. Clinton e Bush, que bombardearam o Kosovo e o Afeganistão, respectivamente, foram indicados para o Nobel da Paz.

VOLTOU a circular ontem o que o líder petista Walter Pinheiro chama de ataque especulativo contra a candidatura Lula. Prognósticos de que ele não chega ao segundo lugar, como o feito pelo deputado Emerson Kapaz, do PPS. Carlos Augusto Montenegro, do Ibope, tem repetido que a única presença certa no segundo turno, por ora, é a de Lula.


Editorial

Caminho a seguir

O desfecho do seqüestro do publicitário Washington Olivetto traz algumas lições e ajuda a enriquecer o debate sobre os problemas de segurança pública que angustiam o cidadão e abalam sonhos eleitorais de candidatos. A primeira, e mais evidente delas, é que a polícia pode vencer o crime, por mais organizado que seja ele.

A vitória da polícia de São Paulo, não apenas nesse caso mas também a obtida com os avanços nas investigações do seqüestro e assassinato do prefeito Celso Daniel, tem de ser aproveitada pelos responsáveis por essa área no governo paulista como forte indutor psicológico de avanços subseqüentes.

É certo que não basta dedicação para garantir vitórias na guerra contra o crime. A crônica desses dois casos ressalta a necessidade de dotar nossas polícias de maior capacidade técnica de investigação. O nome “Patrícia”, escrito em um bilhete apócrifo encontrado no sítio alugado no interior paulista (Serra Negra) pelos seqüestradores do publicitário, foi o elo com Washington Olivetto. Tratava-se do nome da mulher de Olivetto, informação passada por telefone à equipe que havia prendido parte do grupo em Serra Negra. Os responsáveis pela elucidação do crime tinham um mínimo de organização para poder encaixar no lugar certo do quebra-cabeças uma peça à primeira vista desimportante.

Há medidas de grande efeito a serem tomadas na esfera administrativa — sem depender de novas leis, portanto — para melhorar a qualidade da ação da polícia. Se o dinheiro gasto em segurança for bem aplicado no aperfeiçoamento da inteligência e base técnica das investigações, êxitos como os dos últimos dias se multiplicarão.

A polícia precisa ter condições, por exemplo, de, com rapidez, reconstituir a direção dos sinais emitidos por telefones. Foi o rastreamento de tentativas de ligações para o celular de Celso Daniel que permitiu a descoberta do provável cativeiro do prefeito, numa favela paulistana.

Outra importante conclusão refere-se ao papel vital do Disque-Denúncia, sistema utilizado com grande sucesso no Rio e que agora começa a mostrar sua eficiência em São Paulo.

Sem poder receber de maneira ordenada e da forma mais profissional possível denúncias anônimas, a polícia fica à mercê dos velhos esquemas viciados dos alcagüetes.

Pistas passadas pelo telefone sobre o crime cometido contra o prefeito Celso Daniel têm auxiliado bastante a polícia. E se o Disque-Denúncia já estivesse mais difundido em São Paulo, é muito provável que os hábitos estranhos dos inquilinos da casa do Brooklin que serviu de cativeiro a Olivetto tivessem sido comunicados à polícia há mais tempo.

O Disque-Denúncia, porém, depende da divulgação da notícia dos crimes pela imprensa.

Seqüestros têm sido resolvidos porque o fato foi divulgado com destaque pelos meios de comunicação. Está comprovado pelos dois casos: o silêncio da imprensa só ajuda o crime, organizado ou não.


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02/05/2002


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