"Serra tem ódio no coração"
'Serra tem ódio no coração'
Acusado, Martinez acusa o candidato tucano de forjar denúncia contra ele
BRASÍLIA E RECIFE - Na tentativa de explicar sua ligação com o tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor, Paulo César Farias, o presidente do PTB, José Carlos Martinez (PR), apresentou ontem à imprensa sua declaração de renda de 1992, relativa ao ano de 1991. O documento confirma que Martinez recebeu dinheiro de PC Farias para a compra da TV Corcovado. Na entrevista, Martinez acusou o candidato tucano, José Serra, de ''carregar o ódio no coração'' e de ser responsável por vincular o candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes (PPS), a Collor.
De acordo com a nota divulgada junto às declarações do IR, Martinez afirma que desde 1993 não declara a dívida. ''Não haveria por que fazer referência a um negócio já concluído.'' O problema é que a dívida não foi quitada, segundo informações de um assessor do deputado Augusto Farias (PPB-AL) - irmão e inventariante de PC. ''O valor foi renegociado e está sendo pago em parcelas'', afirmou o assessor.
A Receita Federal informa que, assim como o patrimônio adquirido, as dívidas devem constar das declarações de renda. Segundo a assessoria da Receita, Martinez deveria apresentar um histórico da dívida a cada ano, com as parcelas pagas. A cada declaração, o valor amortizado do empréstimo deveria aparecer no Imposto de Renda do parlamentar.
Martinez disse que contraiu a dívida com PC em julho de 1991, quando o tesoureiro de Collor era recebido com festa nos principais gabinetes do país. ''Nada se divulgara contra ele.'' Na época, Martinez era filiado ao partido de Collor, PRN. Segundo a nota, o empréstimo foi feito por meio de um cheque administrativo do Banco Rural entregue no mesmo dia aos diretores do SBT, então proprietário da TV Corcovado.
Em 1991, Martinez declarou o empréstimo como sendo de 4.895.722 Ufirs. Essa unidade de valor foi extinta em outubro de 2000 valendo R$ 1,064. A conversão aponta para uma dívida de R$ 5,2 milhões. Depois de dar suas explicações, Martinez se recusou a responder às perguntas dos jornalistas e se disse vítima da imprensa. Segundo ele, as denúncias são fruto de ''uma trama que já atingiu Roseana Sarney, Anthony Garotinho e José Dirceu''.
Em Recife, o presidente do PPS, senador Roberto Freire, tratou de outra denúncia, dessa vez contra o candidato a vice na chapa de Ciro, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho. O sindicalista foi acusado de envolvimento em irregularidades quando presidia a Força Sindical. Segundo Freire, o PPS apóia Paulinho, mas quer que as denúncias sejam esclarecidas. ''Todo mundo está pedindo, a sociedade está pedindo'', afirmou, por telefone.
Segundo o senador, ''vai ser o próprio Paulinho'' quem dirá qual o tempo necessário para os esclarecimentos. E concluiu: ''É evidente, eu acredito, que ele tem todo o interesse em esclarecer isso rápido.''
Jutahy: 'Explicação é acinte'
Líder diz que núcleo de apoio a Ciro está bichado
BRASÍLIA - O líder do PSDB na Câmara, Jutahy Júnior (BA), classificou a nota de José Carlos Martinez de um ''acinte'' à inteligência. ''Quando alguém deseja empréstimo procura um banco, seja ele privado ou público. Por que ele procurou justamente PC Farias?'', perguntou Jutahy, para quem a expectativa de todos até a divulgação da nota era que Martinez pedisse o afastamento da coordenação da campanha de Ciro Gomes.
''Em vez de se defender, ele atacou e mostrou que o núcleo de apoio à candidatura Ciro está bichada e com o rabo preso''. Jutahy disse que todos os que apóiam Ciro - ''o presidente do PDT, Leonel Brizola, o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, o ex-senador Antônio Carlos Magalhães, o líder do PTB na Câmara, Roberto Jefferson, e Martinez'' - continuaram defendendo Collor ''quando todo o país pedia o impeachment''.
Jutahy acusou Ciro de ressuscitar ''os piores métodos de se fazer política no país ao trazer de volta o grupo collorido''. E afirmou que há diferença entre os políticos que apóiam Ciro e os que deram sustentação o presidente Fernando Henrique. ''Mesmo alguns deles tendo feito parte da base, o PSDB sempre teve a hegemonia em áreas-chaves''.
Tucano vai subir o morro
Serra confunde Tim Lopes com o cantor Tim Maia
BRASÍLIA - Para falar de violência, José Serra, vai à favela. Na estréia de seu programa no horário eleitoral, em 20 de agosto, o tucano vai gravar um clipe no Complexo do Alemão, o maior conglomerado de favelas da América Latina. Serra, que fez campanha ontem em Campinas, disse que o local tornou-se simbólico. ''Lá [no complexo do Alemão]tem de entrar bombeiros, polícia e ambulância. Lá foi assassinado o Tim Maia, perdão, o Tim Lopes''.
Serra vai conversar com líderes da comunidade, abordando a questão do combate às drogas e anunciará a plataforma para segurança pública. O candidato falou até em pedir proteção do Exército para fazer as gravações, porque não quer ser acusado de fazer acordo com bandidos, como ocorreu em 1996 com a equipe do cantor Michael Jackson e o traficante Marcinho VP, do morro Dona Marta.
Na época, a comunidade serviu de cenário para o clipe They don't care about us. O filme foi dirigido pelo cineasta Spike Lee. A beleza do Pão de Açúcar e do Cristo Redentor fez o contraponto com os barracos. O comando de campanha quer mostrar que a prioridade é segurança, e não apenas para aumentar a proteção dos ricos, mas também dos pobres.
Serra fala em criar um superministério da Segurança Pública e unidades fardadas da Polícia Federal, além de ampliar as vagas nos presídios. O candidato aposta em sua recuperação nas pesquisas a partir do palanque eletrônico montado pelo marqueteiro Nizan Guanaes no horário eleitoral gratuito. O presidente Fernando Henrique e a primeira-dama Ruth Cardoso serão as estrelas dos primeiros clipes. Serra terá mais de 20 minutos, três vezes por semana no rádio e na TV. É o candidato com mais tempo.
D. Ruth acerta agenda com Rita
BRASÍLIA - A primeira-dama Ruth Cardoso acertou uma agenda comum com a deputada Rita Camata (PMDB), candidata a vice na chapa do tucano José Serra. Iniciada no domingo, quando as duas posaram juntas para a imprensa no gramado do Alvorada, o objetivo é atrair o voto feminino.
Agora dona Ruth vai estar à frente da divulgação das ações sociais do governo. ''É para esperar a onda de setembro'', diz o coordenador da campanha de Serra, deputado Pimenta da Veiga, referindo-se à subida de Serra nas pesquisas, que ele prevê para aquele mês.
Dona Ruth se diz indignada com promessas mirabolantes de outros candidatos e a falta de reconhecimento da obra social do governo federal. Afirmou que vai participar da campanha como ''militante do PSDB'', e não como presidente do Conselho da Comunidade Solidária, cargo que ocupa há oito anos.
Antropóloga, a primeira-dama é respeitada no meio acadêmico e tem vários livros publicados. Ela se somará a Rita no contraponto à atuação da atriz Patrícia Pillar na campanha de Ciro Gomes. D. Ruth não se limitará ao palanque eletrônico e às gravações de clipes para a campanha. Ela discursará em palanques ao lado de Serra e Rita, destacando a importância que a coligação Grande Aliança concede à participação das mulheres na chapa.
Rita e dona Ruth vão comparecer a encontros com artistas, intelectuais, escritores e acadêmicos. Visitarão ainda locais como favelas, para mostrar a preocupação de ambas com a área social .
''Ruth sozinha vale mais do que tudo que eu possa dizer por ela'', declarou recentemente o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Os comandantes da campanha de Serra contam com dona Ruth para dar força à nova fase da campanha de Serra, agora mais colada à imagem de Fernando Henrique.
Outra decisão foi intensificar a presença em Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do país. A idéia é atrelar a campanha nos Estados aos candidatos a governo que o apóiam. O primeiro será Aécio Neves (PSDB), na tentativa de barrar o crescimento de Ciro Gomes (PPS) nas pesquisas.
Ciro e o dragão da maldade
Candidato critica denúncia sem base
Em uma tumultuada caminhada pelo Centro do Rio, ontem, Ciro Gomes reagiu às acusações contra o coordenador de campanha José Carlos Martinez. ''A imprensa tem dever de pesquisar todos, mas, no mesmo passo, tem o dever de ter critério, porque nos comitês o dragão da maldade começa a se apresentar . Quando começam as dificuldades, vem aquela tradição desagradável de tentar destruir reputações sem prova'', criticou o presidenciável, ao lado do candidato da Frente ao governo estadual, Jorge Roberto Silveira e dos candidatos ao Senado, Leonel Brizola e Carlos Lupi, ambos do PDT.
Pressionado pelos repórteres, Ciro manteve a linha defesa de Martinez e do vice de sua chapa, Paulo Pereira da Silva. ''Ele (Martinez) me afirmou que fez esse empréstimo (a Paulo César Farias, ex-tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor de Melo) há 11 anos, quando não tinha mandato e o escândalo PC estava longe de explodir. E declarou ter documentos para demonstrar isso'', disse.
Sem citar nomes, Ciro afirmou que os recentes ataques contra sua candidatura são ''sintoma de deseducação política'' diante da subida nos índices. ''Quando você não consegue afirmar que é o melhor, começa o jogo da canelada, mas o povo é vacinado contra isso e a gente é limpo e agüenta bem''. E negou vinculação entre as candidaturas de esquerda e a alta recente do dólar. ''Isso é fraude. Atribuir essa subida ao Lula, a mim ou às pesquisas é disfarçar o indisfarçável. O Brasil tem um rombo nas suas contas externas este ano de US$ 21 bilhões'', avaliou.
Ao ser questionado sobre a entrada do presidente FH na campanha de José Serra (PSDB), Ciro disse ser uma atitude ''legítima e normal'', desde que FH não confunda apoio com manipulação do orçamento público. Impedido de caminhar até a Cinelândia, por causa do assédio do público, Ciro fez um rápido discurso no Buraco do Lume, ponto tradicional de políticos. Ao deixar o Rio, ele foi a São Paulo, onde encontrou-se com o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL).
Lançado manifesto pró-Lula
Cem empresários divulgam texto
SÃO PAULO - Um comitê de empresários lançou na manhã de ontem, em São Paulo, um documento de apoio à candidatura do petista Luiz Inácio Lula da Silva, à Presidência. O manifesto foi assinado por cem empresários e, até setembro, os primeiros signatários vão tentar recolher mais assinaturas pelo país.
Segundo José Carlos de Almeida, um dos líderes do grupo, o objetivo do documento é organizar pequenos, médios e grandes empresários que manifestaram apoio espontâneo ao presidenciável do PT. ''Resolvemos apoiar Lula porque queremos mudança na política econômica através de iniciativas como melhor distribuição de renda, reforma agrária e outras políticas que tragam transformações ao Brasil. E acreditamos que ele seja o candidato capaz de fazer isso'', afirmou.
O empresário disse que aderiram ao grupo empresários de diversos partidos e não só filiados ao PT. Segundo ele, o manifesto não significa financiamento da candidatura.
Além de Almeida, assinaram o manifesto empresários como Oded Grajew, Michael Haradom, Paulo Feldmann e Lawrence Pih. O grupo é a reedição de outro, surgido em 1994, com cerca de 50 integrantes, que também tornou público o apoio a Lula.
Em Fortaleza, a Polícia Federal prendeu em flagrante o estelionatário Lincoln Nogueira Mendes, que tentou chantagear o presidente nacional do PT, José Dirceu, com um suposto dossiê com acusações contra ele. Dirceu avisou à polícia e, no encontro marcado para o pagamento ao chantagista, este foi preso. O dossiê continha informações sobre a militância política de Dirceu, desde 1968, que nunca foram escondidas pelo petista.
Em São Paulo, o Comitê Sindical Nacional de Lula, que fica no bairro do Brás, foi roubado anteontem à noite por três homens armados. O vigia foi rendido e os assaltantes levaram um scanner de mesa, duas impressoras, dois aparelhos de fax, quatro telefones, um frigobar, uma geladeira, seis computadores e três monitores.
Garotinho apimenta horário eleitoral
PSB tenta arranjar novos candidatos
Os programas eleitorais que o candidato do PSB à Presidência da República, Anthony Garotinho, começou a gravar, ontem, prometem elevar a temperatura dos debates durante os 45 dias em que forem ao ar, durante o horário eleitoral gratuito. A partir da estréia, 6 de agosto, Garotinho marcará presença junto à opinião pública com críticas ao ''candidato do governo (José Serra)'' e às ''forças que estão em outras candidaturas'', afirmou, em uma referência clara ao candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes.
Mas antes de seguir com os ataques aos adversários, Garotinho tentará solucionar até amanhã dois problemas internos da campanhas: as novas indicação de candidatos aos governos de São Paulo e da Bahia.
Jacó Bittar desistiu da disputa ao Palácio dos Bandeirantes alegando que não conseguiu dinheiro nem para reunir uma equipe e planejar sua campanha. ''Não conseguimos apoio nenhum, absolutamente nada. Não dá para fazer uma candidatura de faz-de-conta'', lamenta o ex-prefeito de Campinas. Segundo a direção paulista do PSB, o escolhido vai sair de uma lista com quatro ''pré-selecionados''.
Já a ex-prefeita de Salvador, Lídice da Mata, diz que a questão financeira ficou em segundo plano em sua decisão. ''Já fiz campanhas sem recursos. Mas ao privilegiar um único segmento, Garotinho excluiu o resto do partido. É preciso ter idéias e não apenas citações da Bíblia'', reclama.
Para atender a socialistas e evangélicos, Garotinho abordará programas desenvolvidos pelo governo do Estado, no período em que ocupou o Palácio Guanabara, e apresentará suas propostas em nível nacional, dentro do que ele classifica de ''estilo socialista de governar''.
O fato do discurso tender para o socialismo, na opinião de Garotinho, não deverá atrapalhar o relacionamento com o eleitorado evangélico que apóia sua campanha. ''Socialismo e fé não é incompatível'', afirmou.
Batendo nas mesmas teclas de falta de dinheiro e contra o discurso evangélico, alguns candidatos já admitem que não se esforçam para pedir votos ao presidenciável. ''O PSB está sem alternativa. Deixou de ser uma campanha do partido para ser uma campanha do Garotinho. Eu estou tocando minha campanha de maneira independente'', diz o senador e candidato ao governo do Pará, Ademir Andrade.
Assessor para a área de Marketing do comitê do PSB, Carlos Rayel reconheceu as dificuldades financeiras por que passa a campanha. Ele acredita, no entanto, que a venda dos bônus de campanha, que custam R$ 1, garantirão os recursos para gravar programas destinados ao horário gratuito.
Solange se iguala a Benedita
Plano de segurança é similar ao do PT
Do total de seis pontos do programa para o combate ao crime, proposto ontem pela candidata ao governo do Rio Solange Amaral (PFL-PMDB-PSDB), três se enquadram nos itens apresentados em abril pelo atual secretário de Segurança, Roberto Aguiar. Solange se diferenciou ao propor um novo modelo de sistema prisional, a criação de um Distrito de Segurança na Ilha do Governador e reorganização do processo dos trabalhos de perícia.
A candidata no entanto, focalizou outros três pontos já foram anunciados como prioridade pelo governo petista: a ocupação imediata dos mor ros da área considerada Grande Tijuca (Tijuca, Andaraí, Grajaú), a duplicação da ostensividade - que prevê a contratação de mais policiais e remanejamentos internos -, e a integração das polícias Civil e Militar com a Polícia Federal, além das Forças Armadas, a chamada Força-Tarefa. ''Isso ainda não saiu do papel'', criticou ontem a pefelista, durante a apresentação do plano, num hotel em Copacabana. Procurado pelo JB, o secretário de Segurança Roberto Aguiar rebateu as críticas. ''A Polícia Federal me avisou que estão prendendo a toda hora, em Pernambuco, em Mato Grosso, no Paraguai, diversos criminosos do Rio de Janeiro''.
O plano de Solange foi lançado no hotel onde reside o secretário de Segurança. Ele saía do prédio quando a imprensa se reunia para a coletiva, no salão de eventos. A candidata negou uma provocação e disse não saber.
Solange destacou que a valorização do profissional é o melhor caminho para ações eficazes no combate ao crime organizado. ''Vamos priorizar a concessão de cartas de crédito para os policiais que morem na favela saírem de lá'', disse a candidata. Mal acabou a coletiva, Solange seguiu para o 19º BPM, onde ''panfletou'' o plano para os soldados que encontrou. No Palácio Guanabara, a governadora Benedita da Silva sancionou a Lei 3.901, proposta por Solange Amaral como deputada federal, que proíbe a construção de presídios na Ilha Grande, no litoral Sul Fluminense.
Petistas no banco dos réus
Ex-secretário e empresários são acusados por formação de quadrilha
SANTO ANDRÉ - O juiz da 1ª Vara Criminal de Santo André, Iasin Issa Ahmed, aceitou ontem denúncia do Ministério Público contra o vereador e ex-secretário de Serviços Municipais, Klinger Luiz de Oliveira Sousa (PT), dos empresários Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, Ronan Maria Pinto, Humberto Tarcísio de Castro, Irineu Nicolino Martin Bianco e Luiz Marcondes de Freitas Júnior. Eles são acusados de concussão (extorsão praticada por servidor público) e formação de quadrilha para cobrar propina no setor de transportes.
O juiz determinou o indiciamento dos denunciados e a quebra dos sigilos bancário e fiscal no território nacional e no exterior entre 1997 e 2001. Ahmed pediu, ainda, informações às administradoras de cartões de crédito American Express, Credicard e Diners Club. E determinou à Corregedoria Geral da Justiça de São Paulo e dos demais Estados um levantamento sobre a existência ou não de imóveis em nome dos denunciados.
O despacho intima os denunciados, à exceção de Klinger, para que apresentem em 20 dias as declarações de renda à Receita Federal de 1997 a 2001. José Reinaldo Guimarães Carneiro, um dos nove promotores que assinaram a denúncia, disse que os seis acusados, agora, passam a ser réus. ''A denúncia foi aceita e será instaurada ação. O juiz entendeu que a investigação foi legítima e suficiente''.
O argumento dos acusados de que denunciantes teriam interesses políticos e econômicos não foi aceito. ''A parcialidade do acusador não impede a imparcialidade do fiscal da lei''. Os advogados de Klinger pediram a rejeição das denúncias sob a alegação de que houve ''ilegalidades e abusos'' por parte dos promotores, que não teriam atribuição legal para produzir investigação de caráter criminal.
Para o juiz, cabe ao MP fiscalizar a execução da lei. ''O que era possível alcançou a fase do provável.''
Outro fato que joga mais lenha na fogueira é a ligação de Sérgio Sombra com Dionísio Severo, um ladrão de bancos e seqüestrador. Severo foi resgatado de helicóptero de uma cadeia em Guarulhos, um dia e meio antes do seqüestro do prefeito de Santo André. O helicóptero o deixou num campo de futebol na região do Embu. Perto dali, dias depois foi encontrado o corpo de Celso Daniel.
Nas investigações para prender os envolvidos na fuga de Dionísio, a polícia localizou o Santana azul usado no seqüestro do prefeito. Depois, chegou a Carlos Eduardo Marto, que trabalhou de garçom no restaurante em que Daniel jantou antes de ser seqüestrado. As suspeitas foram reforçadas depois da nova prisão de Dionísio, em abril. O bandido contou que, em 89, namorou Adriana, ex-mulher de Sérgio Sombra. No depoimento, Dionísio disse também que freqüentava festas de empresários de ônibus de Santo André, ocasião em que conheceu também Sérgio.
Sobre o seqüestro de Celso Daniel, Dionísio manteve o mistério: ''O que sei desta história, para preservar a minha segurança, eu só falo em juízo'', afirmou. Mas Dionísio foi morto antes de falar o que sabia.
Poucos dias depois do depoimento, ele foi esfaqueado por um grupo de presos encapuzados no Centro de Detenção Provisória do Belém. O assassinato foi atribuído a uma briga entre facções rivais da cadeia.
Artigos
Privacidade e informações pessoais
Danilo Doneda
Um certo sentimento de impotência do homem ao cogitar de seu futuro e do avanço tecnológico, cada vez mais presente em sua vida, se fez sentir há algum tempo. Um século depois da tecnologia ter parecido trazer consigo a resposta certeira para a maioria das mazelas que afligiam a humanidade, as cartas foram novamente embaralhadas, conforme exteriorizaram Orwell e Huxley em seus 1984 e Admirável Mundo Novo, e ganhou ênfase a preocupação de proporcionar um caráter humanista aos recursos tecnológicos.
Uma das fronteiras do progresso tecnológico é a indústria da informática. Seus avanços resultam sempre em uma maior capacidade de coletar e tratar informações. E é justamente a informação um dos eixos em torno dos quais estruturam-se novas e velhas esferas de poder, político ou econômico, no processo de globalização.
Nesse processo, há um elemento frágil: o cidadão. Torna-se fácil e eficaz coletar informações sobre os mais diversos aspectos da vida de uma pessoa: dados financeiros, situação trabalhista, saúde, opiniões políticas, orientação sexual e por aí vai. Salta aos olhos que a utilização da informática para processar essas informações faz com que se possa saber cada vez mais sobre cada um de nós.
Disso resultam vários problemas, desde a possibilidade de violação da privacidade até as formas de controle e discriminação que então eclodem. Pense-se no exemplo do empregado que, ao tentar um novo emprego, é preterido em favor de um outro cujo histórico médico revela ter ficado menos dias sem trabalhar por motivos de doença em seus empregos anteriores. O perigo aumenta proporcionalmente à lembrança dos perfis genéticos que brevemente farão parte desse rol de informações pessoais disponíveis, e das práticas discriminatórias que podem originar.
Assim a informação pessoal destaca-se da pessoa, tornando-se uma ''sombra'' ou um ''corpo eletrônico'' que serve para identificá-la e representá-la em situações completamente fora do controle dela própria. Em um exemplo atual, tome-se o quanto uma pessoa pode descobrir sobre outra se tiver conhecimento das faturas de seu cartão de crédito durante um razoável período.
Providências para controlar essa situação vêm sendo tomadas por diversos países. No Brasil, temos a ação constitucional de Habeas Data, importantíssima mas que, porém, corre o risco de se tornar ineficaz frente ao grande avanço tecnológico sem o auxílio de um sistema integrado de proteção às informações pessoais. Como lembra o professor Stefano Rodotà, presidente da Autoridade Garante para a proteção dos dados pessoas da Itália, ''como existem infinitas maneiras de esterilizar os direitos proclamados, a regulamentação da modalidade de exercício não é menos importante do que o reconhecimento formal de um direito. Para tutelar a esfera privada de um cidadão, não basta reconhecer-lhe o direito de acesso aos documentos do poder público, é necessária uma nova discipli na da ação administrativa''.
Essa ''modalidade de exercício'' vem se desenvolvendo em toda a União Européia, com a criação de organismos administrativos, as Autoridades Garantes, que atuam na defesa de um direito fundamental, a privacidade, em um mundo no qual a rapidez do avanço tecnológico muitas vezes é veloz demais para proporcionar que formas tradicionais de mediação de conflitos e regulação funcionem a contento. Sua atuação, seja criando regras para o tratamento de dados pessoais pelo mercado, auxiliando a produção de normas deontológicas ou mediando conflitos, é hoje parte integrante do panorama jurídico europeu.
Aproxima-se o momento do Brasil optar por um sistema integrado de proteção dos dados pessoais. Esse sistema poderá ser vizinho do modelo europeu, o que facilitaria a atuação da própria Constituição Federal, ou então pode-se deixar que o próprio mercado estabeleça as diretrizes de proteção, algo semelhante ao que ocorre nos Estados Unidos. Nossa tradição jurídica, a defesa da Constituição e também nossa posição periférica em relação aos grandes centros financeiros, mais avançados no processamento de informações pessoais, aconselham a primeira opção. A demora em enfrentar o problema pode, porém, minar nossa própria capacidade de escolha, se encontrarmos uma situação de fato semelhante à segunda opção já consolidada.
Colunistas
COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer
O valor da palavra dita
Aliados de biografias complicadas todos os candidatos à Presidência da República têm. O que varia é o grau de complicação de cada uma delas, e a forma de os titulares das candidaturas lidarem com seus respectivos constrangimentos.
Para José Serra não há maus companheiros novos. Ao contrário, o tucano até conta com a vantagem da defecção de vários integrantes daquilo que a gíria dos anos 60 chamaria de turma da pesada.
Luiz Inácio Lula da Silva exibe surpreendente desenvoltura nesse campo, não demonstrando o menor desconforto com as alianças menos ortodoxas no que tange ao histórico do PT. Vai de Orestes Quércia a Valdemar da Costa Neto com a tranqüilidade dos justos.
Anthony Garotinho dispensa auxílio no quesito incontinência de estilo, e Ciro Gomes, obediente ao próprio estilo, resolveu assumir a defesa veemente dos seus. Usa tanta veemência que os mais desavisados são capazes de esquecer o conteúdo da acusação, tementes que ficam ante a forma da defesa.
Agora mesmo, diante das denúncias de que seu vice, Paulo Pereira da Silva, usou ''laranjas'' para comprar propriedades e que teria contas a prestar pelo uso irregular de dinheiro do Fundo de Assistência ao Trabalhador (FAT), quando presidente da Força Sindical, Ciro chegou a ser imprudente.
''Eu confio no Paulinho, sei que está sendo vítima disso'', disse o candidato da Frente Trabalhista. Falou tão seguro quanto estava dias atrás ao defender seu coordenador de campanha, José Carlos Martinez, parceiro de Paulo César Farias numa operação de empréstimo.
Neste último episódio, Ciro cometeu dois equívocos: acreditou que Martinez tivesse mesmo declarado o empréstimo ao Imposto de Renda e disse ser ''privado'' o dinheiro que PC usou na transação.
A primeira assertiva revelou-se falsa, pelo exame da declaração registrada por Martinez na Justiça Eleitoral, e a segunda configura-se impossível, dado o caráter público do dinheiro do qual se apossou o ex-tesoureiro de Fernando Collor.
Constatados os erros, o candidato decidiu que não fala mais no assunto. E, quem abordá-lo a respeito, fica decidido também que está a serviço da candidatura de José Serra. Caso Ciro e Lula se encontrem no segundo turno, fica desde já entendido que os questionadores estarão a soldo do PT.
Assim, na base da intimidação, carimbando os outros de antidemocráticos e vendidos, fica razoavelmente fácil o candidato desviar-se de seu compromisso com o que disse há 15 minutos.
No caso de Martinez, a veemência criou-lhe a impossibilidade de voltar atrás. Agora, com Paulo Pereira da Silva, seria prudente que Ciro Gomes passasse um pente-fino nas acusações com paciência, organização e espírito desarmado.
No que diz respeito ao uso das verbas do FAT, por exemplo, não seria aconselhável que assumisse defesa tão entusiasmada de seu vice sem antes conferir todos os aspectos da história.
Personagens para serem procurados não faltam. A título de colaboração, aí vão alguns: o ex-presidente da Força Sindical e hoje aliado de Lula, deputado Luis Antônio Medeiros, o ex-ministro do Trabalho Francisco Dornelles, aliado de Serra, e o tucano ex-líder do governo no Congresso, Artur Virgílio.
Este último é possível que tenha uma contribuição especial a dar, pois foi quem, há dois anos, quis instalar uma comissão parlamentar de inquérito para investigar os caminhos por onde andavam as verbas do FAT nas prefeituras, sindicatos e centrais sindicais.
Consta que Virgílio queria apenas dar um susto no PT. Mas consta também que boa parte da base governista - entre eles Paulo Pereira da Silva, do PTB - não estava disposta a dividir possíveis custos do sobressalto.
Na ocasião, a CPI foi adiada sob a alegação de que havia eleições municipais e isso tumultuaria os trabalhos da comissão. Trabalhos esses jamais retomados e, pelo visto, para sempre esquecidos.
É contra esse desprezo à palavra dita, ao compromisso assumido ou à posição adotada, que está mais do que na hora de o Brasil se declarar definitivamente vacinado.
Para isso contribuiriam muito os senhores candidatos se dessem, senão perfeitas, pelo menos razoáveis demonstrações de compromisso com as próprias convicções. Desde que as tenham, evidentemente.
Distribuição de renda
Durante três anos, de 1997 a 2000, dados oficiais mostram que a Força Sindical recebeu R$ 80 milhões do FAT; a CUT, R$ 60 milhões; a CGT, R$ 23 milhões; a SDS, R$ 20 milhões.
Na Força Sindical, o dinheiro do Fundo representa 80% da receita.
Cada central tem seu candidato na eleição de outubro e este sindicalismo de Estado poderia ser um bom tema para o debate.
Editorial
CASA DE ENFORCADO
O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Paul O'Neill, não prima pela diplomacia. É tão educado e cuidadoso quanto um macaco em loja de louças. Há dois meses, afirmou do alto de sua arrogância que ''despejar dinheiro dos contribuintes americanos num país mergulhado em incerteza política como o Brasil não parece inteligente''. Neste fim de semana, em entrevista a uma rede de TV, voltou a dizer bobagem. Referindo-se à visita que fará ao Brasil e à Argentina na próxima semana, O'Neill fez referência a desvios de recursos públicos na região: ''Eles precisam pôr em prática políticas econômicas que assegurem que o dinheiro que recebem seja bem aproveitado e não saia do país direto para uma conta bancária na Suíça''.
Poucas vezes se viu tamanho despautério. Com gravíssimos problemas a abalar a credibilidade do mercado de capitais dos EUA, o senhor O'Neill se diz preocupado com a corrupção na América do Sul. Age como quem fala de corda em casa de enforcado. Diariamente surgem na imprensa americana notícias sobre grandes empresas que fraudaram os balanços em prejuízo dos acionistas e dos fundos de pensão. As bolsas americanas não param de cair e voltaram aos níveis de 1998. Curiosamente, o secretário do Tesouro não deu um pio sobre a crise de confiança. Fez-se de morto.
Paul O'Neill fala de sociedades que conhece (como o Brasil) e de outras que não conhece mas não enxerga um palmo à frente do nariz. O índice de roubo no Brasil é café pequeno se comparado ao que se vê nas grandes corporações americanas. Que a verdade seja dita: as palavras do secretário do Tesouro sobre corrupção soam farisaicas. Até agora não foram desfeitas as suspeitas sobre membros do governo Bush envolvidos em negociatas no mercado de ações.
Pensando bem, se vem aqui de visita com a prepotência e a falta de modos de um colonizador do século 19, é melhor o secretário Paul O'Neill ficar em casa.
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07/30/2002
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