Serys pede a especialistas sugestão para elaboração de leis
Ao participar nesta terça-feira (3) de debate sobre as causas e conseqüências do avanço da obesidade no Brasil, especialmente entre as crianças, a senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) pediu que os especialistas em Nutrição apresentem sugestões para a elaboração de leis que não somente contemplem soluções para os problemas de nutrição, mas também tenham a capacidade de "pegar", de serem levadas a sério pela sociedade. O debate foi promovido pela Subcomissão de Promoção, Acompanhamento e Defesa da Saúde, que funciona no âmbito da Comissão de Assuntos Sociais (CAS).
Segundo a senadora, leis e campanhas educativas precisam ser feitas de modo a virarem moda e serem adotadas pelos várias segmentos da sociedade. O maior desafio na elaboração legislativa, na avaliação de Serys, é tocar um ponto sensível da população para convencê-la a modificar seus hábitos de consumo de alimentos.
Serys lembrou ser relatora de um projeto de lei que alerta para os riscos de obesidade infantil devido ao consumo exagerado de refrigerantes. Disse que também está relatando outro projeto que proíbe o uso de gordura trans em alimentos infantis.
Para Serys, o Congresso tem o poder de elaborar leis, mas fazer com que as leis peguem, alertou, depende muito das indústrias e dos meios de comunicação. Nada vai mudar se a sociedade inteira não trabalhar em conjunto, disse a senadora.
Para a professora-adjunta da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Olga Maria Silvério Amâncio, há ações que podem minimizar a prevalência e as conseqüências da obesidade infantil. Como exemplo, citou os incentivos à atividade física, conscientizando as famílias de que criança não foi feita para ficar na frente da televisão.
Olga Maria, que é também revisora da Revista de Nutrição da PUC de Campinas e dos Cadernos de Saúde Pública (Fiocruz), lembrou que qualquer ação de curto prazo voltada para combater a obesidade depende da informação. É preciso, segundo a professora, uma propaganda sistemática e constante, feita por profissionais, para convencer a sociedade de que boa nutrição é uma questão de saúde, não de estética, e que qualquer alimento pode ser bom ou ruim, dependendo da quantidade ingerida.
Sedentarismo
O chefe do Centro de Apoio e Atendimento ao Adolescente daUniversidade de São Paulo (USP), professor Mauro Fisberg, lembrou durante o debate que, nas últimas duas ou três décadas, o aumento do sedentarismo entre crianças e adolescentes foi muito maior do que o aumento de comida. Hoje, informou, há 40% de meninos e 23% de meninas acima do peso, mas o sedentarismo atualmente atinge mais de 70% das crianças e adolescentes.
Fisberg afirmou que Santa Catarina foi o primeiro estado a restringir a venda de determinados produtos nas cantinas escolares, há 14 anos. No entanto, as estatísticas mostram que o quadro de obesidade infantil não mudou nada naquele estado pois, segundo o professor, a única mudança correu por conta da multiplicação de barraquinhas, quiosques e ambulantes nas proximidades das escolas.
O senador Augusto Botelho (PT-RR), que presidiu a reunião da subcomissão, observou que, no Brasil, muitas leis são feitas, mas não são respeitadas. Como médico, o parlamentar ponderou que a obesidade na infância e na adolescência é um problema que já compete com a desnutrição infantil, questão ainda considerada grave no Brasil.
No mesmo debate, a secretária do Conselho Federal de Nutricionistas,professora Maria Emília Daudt von der Heyde, defendeu a tese de que a genética é fator importante na definição da obesidade, mas considerou que o ambiente que cerca crianças e adolescentes é ainda mais relevante. A especialista lamentou que esteja havendo, no Brasil, um aumento acentuado da incidência de doenças crônicas não transmissíveis, decorrentes da obesidade.
Maria Emília apontou como causas da obesidade, entre outras, o consumo insuficiente de frutas, hortaliças e vegetais, combinado com a excessiva ingestão de alimentos ricos em gorduras saturadas e açúcar, que resultam em alimentação de alta densidade energética. A professora alertou ainda para o papel dos meios de comunicação no desenvolvimento de hábitos alimentares. Disse, por exemplo, que assistir à TV e exigir a compra daquelas guloseimas exibidas em programas e comerciais são costumes do universo infantil desde os dois anos de idade.
03/07/2007
Agência Senado
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