Sigilo de gastos da Presidência da República é o tema mais polêmico



Na reunião desta quarta-feira (12), a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Cartões Corporativos aprovou um requerimento de informações ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão sobre suprimentos de gastos do governo federal (contas tipo B e cartões corporativos), excluídos os dados considerados sigilosos. O requerimento é de autoria do deputado Paulo Teixeira (PT-SP).

O sigilo sobre gastos com cartões corporativos realizados por servidores da Presidência da República foi o tema mais polêmico da reunião. Um acordo definiu que primeiro serão ouvidas autoridades especializadas em segurança da Presidência da República e só depois haverá deliberação sobre requerimento que transfere à CPI Mista dados sobre os gastos desses servidores.

A oposição pretendia aprovar nesta quarta-feira requerimento dos deputados Índio da Costa (DEM-RJ) e Vic Pires Franco (DEM-PA) transferindo (divulgando aos parlamentares, mas não os tornando públicos) para a CPI Mista os dados sigilosos sobre gastos com cartão por parte de funcionários da Presidência da República e suas unidades gestoras, incluindo a Abin. O requerimento pede que sejam informados à comissão a quantidade de cartões distribuída a esses órgãos e o CPF dos usuários e as unidades gestoras às quais pertencem, além de requisitar cópias das notas fiscais dos gastos.

Parlamentares da base de apoio ao governo posicionaram-se contrários à transferência de sigilo e oposicionistas disseram que esses são os únicos dados que não são de conhecimento público, uma vez que todos os outros gastos de cartões corporativos encontram-se à disposição no Portal da Transparência na Internet.

A presidente da CPI Mista, senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), garantiu que a comissão cumprirá todos os ritos para preservar o sigilo das informações, caso venham a ser transferidas para o colegiado. Mas Marisa reconheceu que, mesmo proibindo parlamentares de copiar ou fotografar documentos, não tem como impedir que falem sobre as informações a que tiveram acesso.

- A responsabilidade será de cada um. O parlamentar assinará um termo de responsabilidade e enquanto examinar os documentos sigilosos será acompanhado sempre de um servidor da CPMI. Se forem dados sigilosos eletrônicos, terá que acessá-los com uma senha em um computador na sala-cofre da CPMI - informou a senadora.

O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) destacou que o parlamentar que "vazar" dados sigilosos para a imprensa pode até perder o mandato. O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) acredita que a prioridade da CPI Mista deve ser ter acesso a essas informações sigilosas. Para o senador, a CPI só será bem sucedida se puder ter acesso a essas informações. Ele questionou a necessidade de que sejam mantidas em sigilo. Alvaro Dias disse que não tem receio de que "caia a República se essas informações forem reveladas".

Para o senador Marconi Perillo (PSDB-GO) a CPI Mista só terá credibilidade e respeitabilidade se cumprir sua "missão de Estado" de investigar se houve corrupção no uso de cartões corporativos. Para Demóstenes Torres, discutir se o sigilo será transferido para a CPI é, na verdade, uma discussão sobre se a comissão "vai existir ou se será sepultada agora". Para o senador, o acordo que adiou a votação do requerimento que transferiria o sigilo das unidades da Presidência da República foi "o possível" para conseguir que a CPI não fosse "morta" na primeira reunião.

O relator da CPI Mista, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), afirmou que não é possível "colocar o carro na frente dos bois" e criticou a possibilidade de "divulgar CPFs de funcionários da Abin". O deputado defendeu que primeiro se faça um debate sobre a necessidade de haver ou não sigilo dessas informações e que, só depois, seja votado requerimento transferindo o sigilo.

O senador João Pedro (PT-AM) criticou o desejo da oposição de buscar dados da Presidência da República. "Não dá para ser assim", acredita o senador. Para João Pedro, trata-se de uma tentativa de "politizar a investigação e atingir o governo".

- Não podemos politizar o início dos trabalhos de uma CPMI sobre a qual há grandes expectativas por parte da sociedade brasileira - disse.

A presidente da comissão acredita que a CPI avançou muito na primeira reunião e que o tema da transferência de sigilo será uma questão que balizará todo o trabalho da comissão. Para a senadora, a discussão deverá avançar no decorrer das reuniões.

- Acredito que vamos votar todos os requerimentos e avançar no que for possível, se todos concordarem que o Brasil não seja mais visto como o país da corrupção, do jeitinho, de puxar o tapete - afirmou.

12/03/2008

Agência Senado


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